 |
Ilustração de Kleber com sua cerveja pensando no Vitória. |
Ainda chocado com a morte de meu grande amigo e companheiro de tantas andanças Kleber Nascimento, que morreu sozinho em sua casa na cidade de Ribeira do Pombal. Fomos crianças juntos, moramos em pensões e apartamentos quando estudávamos em Salvador, juntamente com outro querido amigo o Armênio Alves , que carinhosamente chamávamos de Curió, e que também já partiu. Este trio andou muito junto pelas noites de Salvador e de Ribeira do Pombal. É mais um buraco que se abre com a partida deste grande amigo. Diariamente trocávamos mensagens , conversávamos e curtíamos as músicas que ele tanto gostava. O Vitória e as músicas eram suas grandes paixões. Estava feliz por ter se reaproximado dos filhos ,mas andava muito emotivo, e eu sempre preocupado com sua sensibilidade à flor da pele. Morreu dormindo e sozinho como morrem os solitários sensíveis. Vai fazer falta as suas conversas, ,risadas e queixas. Segue em paz meu irmão. |
O print da seu último post que me enviou.
|
A perda de um amigo é sempre dolorosa, especialmente quando temos e vivemos muitas coisas juntos durante
os anos que também já se foram. Vimos juntos o progresso chegar a Ribeira do Pombal, e nossos pais e alguns amigos desaparecerem. Vimos novos moradores chegando e aquele clima em que fomos criados desaparecer com o tempo. O progresso é sempre bom, mas ele apaga nossas pegadas pelas ruas, nossas conversas diárias com os amigos , os botecos viram bares chics, as padarias se transformam em delicatesses, a barbearia com sua simplicidade e cheia de fofocas em salões unisex , pontos e locais que curtíamos não mais existem, e assim por diante.
Mas, nossa amizade foi se fortalecendo com o passar do tempo. Não precisamos estar juntos sempre para manter uma amizade sincera. Ela se alimenta de nossos sentimentos, de nossas lembranças , de nossas visões de mundo, de nossos gostos , da admiração das qualidades e mesmo da compreensão dos defeitos, que todos nós temos. Abaixo Kleber entre seus primos. à direita Benjamim, Kleber, Marcos, Quincas e Zeinha. Esta foto foi feita poucos dias da sua morte.
 |
Kleber com sua inseparável caneca do Vitória em momento de leitura . |
Kleber era amizade e de uma sensibilidade extraordinária. Estava muito preocupado com sua filha caçula procurando dar-lhe uma direção mais segura. Vinha sofrendo com isto e sempre que podia externava suas preocupações. Quando soube que uma prima estava com Covid entubada me mandou um audio aos soluços. Imediatamente , lhe fiz uma ligação mostrando que a prima iria sair desta, e que ele precisava se controlar para não ter um enfarte.
Os que o conheciam na intimidade sabem que ele não gostava muito quando a gente discordava e tentava mostrar outro caminho. Tinha fortes emoções com o nosso Vitória ,que vem claudicando alguns anos , e ele sofria com isto. Sempre evitava falar de política para não discutir com alguns amigos que defendiam conceitos e pessoas que ele não gostava.
Este era meu amigo, e amigo de muitas outras pessoas que partiu no silêncio da noite sem ter a oportunidade de nos despedirmos. Ele me enviou a última mensagem às 22 horas do último dia 17 ,portanto sua morte ocorreu depois deste horário. Nas mensagens me enviou a música A Lista cantada por Renato Teixeira e seu autor o Oswaldo Montenegro, e a foto de duas mulheres lindas, que ele tanto apreciava. "Quantos segredos que você guardava/ Hoje são bobos ninguém quer saber", diz os versos da música, que será por mim sempre lembrada como a despedida do amigo querido. Este é o registro de uma dor imensa da partida de um amigo querido. Sei que é um assunto que não sensibiliza muitos que não o conheceram, mas espero que toque de perto nos que gostavam do Kleber.