Objetivo


sábado, 25 de dezembro de 2021

JUAREZ SANTANA UM BOM JUIZ NO COMBATE

Ilustração de Juarez Santana e Mariluce , sua esposa ,
na Fazenda Santa Tereza D'ávila  junto a um novilho.
Conheci o juiz Juarez Alves de Santana através da prima  Mariluce Morais  que morava defronte de nossa casa e fomos crianças juntos. Viemos estudar em Salvador,  e em Ribeira do Pombal ela conheceu o então juiz, terminou casando e tendo quatro  filhos. Tenho uma gratidão especial por ele pelo tratamento que dispensava à minha mãe. Algumas das vezes que vinha para Ribeira do Pombal costumava convidar   mãe e minha irmã Indaiá, e juntamente com a esposa Mariluce davam um passeio pela Cidade, e  depois iam comer uma pizza e papear no bar do meu saudoso amigo Kleber Nascimento. Pelas comarcas onde passou sempre foi considerado um magistrado íntegro e cumpridor das leis. Não costumava transigir , e a sua ascensão ao mais alto cargo o de desembargador deu-se por antiguidade porque não queria se submeter ao então chefe político da Bahia. Conta Saulo Santana  , seu filho, que certa vez um então Presidente do Tribunal de Justiça da Bahia o aconselhara a ir conversar com o chefe dizendo mais ou menos assim: “Juarez, você sabe, para entrar no Tribunal precisa tomar a benção ao homem”. Meu pai silenciou e saiu do seu gabinete. Cabeça erguida, ele se manteve firme em seus propósitos e princípios. Esperou mais uns anos até ser nomeado por antiguidade. "

 Foto 1. Juarez com os filhos na Fazenda Sítio, de Ferreira
 Gama , seu sogro. Foto 2. 
Em sua fazenda , onde se
sentia  mais feliz .
 Foto 3 . Formatura . Foto 4. Na posse
como 
desembargador do Tribunal de Justiça da Bahia. 
O juiz tucanense Juarez Santana fez três concursos públicos. Quando ainda estudava Direito prestou
concurso para os Correios e foi aprovado. Já formado fez mais dois concursos . Chegou antes a advogar junto a Defensoria Pública, mas seu objetivo era ser juiz. Prestou concurso  para promotor, sendo aprovado e  depois para juiz de Direito, optando pela magistratura, onde teve uma carreira de destaque. Lembra ainda seu filho Saulo Santana  que aconteceu algumas vezes  as pessoas lhe avisavam que o já desembargador Juarez Santana, seu pai, estava numa discussão forte no Pleno do Tribunal de Justiça da Bahia defendendo seu ponto de vista. Numa dessas vezes foi sua colega de Assessoria de Imprensa do TJ, Ângela Peroba, que lhe avisara que o debate estava muito tenso. Diz Saulo que pegou sua máquina fotográfica e foi até o Plenário do Tribunal . Lá chegando o debate já estava calmo e dentro da normalidade." 
Nesta época começou a ser discutida a Lei do Nepotismo , proibindo  parentes de funcionário  serem nomeados para o mesmo local. Foi assim que logo que começou a discussão sobre esta lei imediatamente ele providenciou desligar seu filho Saulo Santana, do Tribunal de Justiça da Bahia. 

Numa das sessões do Pleno quando os desembargadores vão julgar e discutir temas jurídicos importantes Juarez defendia que os magistrados que cometessem delitos deveriam ser punidos com rigor. Isto ocorreu porque na ocasião  discutiam sobre uma aposentadoria compulsória de um magistrado por cometer crime. Disse Saulo Santana que seu pai  declarou no Pleno "nós devemos satisfações à sociedade. É  um absurdo , e chega a ser um estímulo , um prêmio, uma compensação ao crime, precisamos lutar para mudar esta lei".

Vemos a família reunida . Minha saudosa amiga
d. Teresa Morais, Juarez e filhos, os cunhados
Benjamin com o filho de  Cristina,  e Cristina
abaixada. Atrás Ferreira Gama, seu sogro
.

No dia 2 de dezembro de 2003 ele publicou um artigo no Diário da Justiça com o título Corporativismo onde mostra sua revolta contra a Lei da Magistratura que garante aposentadoria compulsória com vencimentos integrais ao juiz que comete crime, e critica também o político corrupto ou que tenha cometido outros crimes .  Diz num trecho do  artigo "A isso chamamos Corporativismo palavra originária das ditaduras da vida, o Corporativismo, segundo Aurélio, é a "defesa dos interesses e privilégios de um setor organizado da sociedade, em detrimento do interesse público". Pergunta-se : e o interesse público , onde é que fica nessa história? A ditadura acabou. Estamos escrevendo numa democracia na qual a palavra Corporativismo não cabe mais em nenhum contexto. " E prosseguiu "O cidadão está cansado de ligar a televisão ou ler o jornal e assistir a julgamento, cuja pena não passa de aposentadoria compulsória ou renúncia do mandato. Ora, esses senhores também estão cometendo crimes. O colarinho branco não distingue o mérito da questão. Até quando acolherão os Poderes desta República de cidadãos civilizados, em suas leis, o Corporativismo?"

É verdade que Juarez Santana sempre teve um olhar crítico sobre a realidade da Justiça brasileira e procurava fazer tudo dentro da legalidade . Às vezes era extremamente exigente e disciplinador, e isto assisti logo que assumiu a comarca de Ribeira do Pombal  preocupado com a presença de menores em determinados ambientes como festas de adultos, bares ou locais de prostituição. Fiscalizava para saber se estavam dirigindo, ia até para a porta do cinema para verificar se menores estavam assistindo filmes proibidos para determinada idade. Até no clube social da Cidade  não permitia a entrada de menores sem estarem acompanhados dos pais ou responsável . 

Era filho de uma professora d. Julieta Alves e de um escrivão o João Santana. Juarez   tinha uma forte ligação com a terra. Foi assim que comprou umas terras entre os municípios de Ribeira do Pombal e Caldas de Cipó e deu o nome de Fazenda Santa Tereza D'ávila. Chegou até a comprar um Jeep Willys para ir para sua fazenda. Esta terra lembra Saulo Santana "tinham uns fios de ancestralidade que os ligava". Antes do último dono, as terras pertenceram ao avô materno de Mariluce, sua esposa.

Certamente a sua fazenda era um dos locais onde  mais se identificava e ficava alegre. Lembro que vi por várias vezes Juarez Santana falando de sua fazenda e dos produtos que tinha colhido, e até vendia para alguns aos amigos. O dr. Juarez Alves de Santana nasceu em 26 de setembro de 1936 no povoado de Creguenhem, município de Tucano - BA e faleceu em 13 de julho de 2011, portanto faleceu aos 75 anos de idade. 

Filho de João Cerqueira de Santana e Julieta Alves de Santana, ela natural de Salvador, que foi nomeada para ensinar naquele pequeno povoado.Juarez aprendeu as primeiras letras, como se dizia à época, com a mãe em casa. Aos 9 anos, foi conduzido por seu pai para a casa dos avós paternos em Caldas de Cipó, a fim de ficar sob os cuidados de sua tia Odete, até seguir para o exame de admissão no Colégio Antônio Vieira, em Salvador.Neste colégio, cursou o ginásio até o científico. Prestou vestibular de Direito, na UFBA; nesse período, passou no concurso dos Correios e Telégrafos. Concluído o curso de Direito, foi aprovado em concurso, o mais importante da sua vida, dessa vez escolheria entre a carreira de juiz .

Escolheu a magistratura e, desde o início, já deixou claro a seriedade com que exerceria sua profissão. Passou por quatro comarcas e em todas deixou a sua marca de juiz que dignificou a sua profissão, sem nenhum deslize. A trajetória de Juarez Santana teve início na comarca de Ribeira do Pombal, a partir do final da década de 60 .Ali ele conheceu a professora Mariluce Morais Brito com quem se casou em 26 de fevereiro de 1972, de cujas núpcias tiveram quatro filhos: Saulo Leonardo, Rafael (falecido), Paula e Candice.

Em Ribeira do Pombal foi se integrando à sociedade local e se mostrando aquele ser humano simples e até humilde, mas firme, imparcial e extremamente defensor das leis e da justiça no exercício dessa sua principal missão. Além de magistrado, Juarez Santana exerceu outra nobre função que foi a de professor de Língua Portuguesa, no Ginásio Evencia Brito, onde deu mais uma importante contribuição.Dessa vez, formando jovens não só pelo ensino em si, mas sobretudo por seu exemplo de retidão, de caráter e valores morais.A sua passagem pela vida deles até hoje é lembrada sempre com demonstração de amizade, respeito e gratidão.Após Ribeira do Pombal, Juarez Santana foi promovido para a comarca de Jacobina, onde permaneceu de 1975 a 1977, quando pediu transferência para a comarca de Amargosa. 

Saulo Santana, filho de Juarez
Escreveu Saulo Santana , seu filho que "cada vez mais experiente, foi se firmando como um juiz exemplar, àquele que nunca se rendeu aos afagos dos políticos e poderosos nas várias cidades por onde passou.Por isso, era admirado por muitos e não amado por alguns, mas respeitado pela maioria das pessoas que o conheciam.Depois de Amargosa, onde permaneceu por mais tempo, finalmente, foi promovido para Salvador.Em 2001, teve a coroação de sua carreira, com a promoção para Desembargador, por antiguidade, aos 65 anos de idade. Cinco anos depois, ao completar 70 anos aposentou-se compulsoriamente."

Escreveu ainda Saulo Santana que Juarez "ficou no exercício da função no Tribunal de Justiça da Bahia , portanto, por cinco anos. Foi um tempo curto, porém, exercido com a mesma energia do início da carreira, que significava sua plena realização profissional. Juarez Santana era uma pessoa de hábitos simples, despojado de qualquer vaidade e se alegrava com as coisas da corriqueiras da vida, como ir à Feira de São Joaquim, e escolher frutas e verduras naquele vaivém entre barracas, sempre cumprimentando os vendedores que já o tratavam com familiaridade. Após se aposentar, passou a curtir e se dedicar mais à família e à sua fazenda que fica entre Caldas de Cipó e Ribeira do Pombal.Gostava muito da vida da roça e do interior. Apreciava curtir a sua casa em Ribeira do Pombal, que construiu com muito capricho.Gostava ainda daquela conversa boa, de uma prosa com as pessoas da terra, e era muito querido. "

Disse ainda Saulo que seu pai "não deixava de acompanhar a esposa Mariluce nas visitas a Dona Nivalda e Indaiá, por exemplo, nossas queridas primas, respectivamente mãe e irmã de Reynivaldo Brito . Nesses encontros divertidos, estava muitas vezes presente dona Teresa Morais, sua sogra que muito o admirava e fazia a alegria do encontro.Dr. Juarez era como um irmão para os seus cunhados, participando do dia a dia e muitas vezes orientando em determinados momentos.Mas, naquele 13 de julho de 2011, pegou a todos de surpresa deixando um grande vácuo em nossas vidas. "

Mário Brito foi aluno e amigo do dr. Juarez.
Em seu depoimento o advogado Mário Brito disse que foi aluno de dr. Juarez Alves de Santana nos anos de 1967 a 1969,integrante da segunda à quarta série ginasial em Ribeira do Pombal onde lecionava a matéria Língua Portuguesa."Vale ressaltar, disse Mário Brito, que além de professor, exercia com eficiência a nobre função de juiz com destemor e honestidade,coisa rara para os dias atuais. Prova do que estou falando é que só foi promovido a desembargador, pelo critério de antiguidade, pois nunca seria por merecimento, por exercer a profissão sem atender pedidos de amigos e políticos, o que normalmente acontece nesta época ."

Vamos falar um pouco sobre o professor de Língua Portuguesa que sempre tratava seus alunos com urbanidade, mas, severo e exigente tanto nas notas como na cobrança de nosso comportamento onde eu era um dos mais inquietos alunos da turma que concluiu o curso em 1969.

O dr. Juarez possuía um fusca que poucos alunos tinham o privilégio de pegar carona, o que acontecia comigo, Zé Morais, Vandinho e Gabriel, causando ciúmes de outros alunos que não tinham o privilégio de gozar da amizade do professor. Amizade entre o aluno e o professor se consolidou quando ele veio ser juiz na Capital entre o advogado e o referido juiz,amizade só desfeita com o seu falecimento" .

NR- Quero agradecer a Hamilton Rodrigues, a Saulo e Marluce Morais e outras pessoas que contribuíram para a publicação deste texto por mim finalizado falando sobre o saudoso Juarez Santana.

sábado, 18 de dezembro de 2021

SEU ELIAS DA BRASILEIRA

O seu Elias era um sonhador e tinha uma vida  pautada
 no trabalho, na cultura  e na sua  visão humanista .
Onosso personagem era muito conhecido dos   pombalenses como seu Elias, da loja A Brasileira,   uma pequena livraria que além de livros e materiais   escolares vendia vários outros produtos . Embora   não tenha tido chance de seguir seus estudos  e tirar   um diploma superior era um homem que lia tudo que   lhe chegava às mãos, e capaz de discutir muitos   assuntos  da atualidade,  inclusive da política e    economia do país. Tinha um jeito manso de chegar e   conversar. Lembro que por várias vezes quando   tinha uma fazenda em Ribeira do Pombal e durante a  noite costumava ir até o Bar de Kleber tomar uma cervejinha e comer uma pizza feita pelo meu saudoso amigo, sempre aparecia seu Elias, e batíamos um papo. Mostrava-se interessado nos problemas da educação, e além de muito religioso e amante do  futebol. Era líder dos congregados marianos e chegou a reformar uma velha casa para servir de sede da Congregação Mariana, quando era presidente da irmandade. Era também um devoto de Santa Tereza D`ávila, e no futebol foi um incentivador deste esporte em Ribeira do Pombal sendo o fundador e mantenedor do Flamengo juntamente com outros amigos amantes dos esportes. Outro grande incentivador do futebol em nossa Cidade foi Antônio de Jonas.

 Elias Venâncio com  mais novo Elias Júnior na sua loja .

Seu nome completo era Elias Venâncio de Souza ,  nasceu na Fazenda Alecrim, em 1º de abril de 1924,    era casado com d. Iracema Macêdo de Santana de  Souza, mais conhecida por d. Irá e juntos atendiam  seus clientes na A Brasileira. Iniciou na atividade  comercial na década de 50 Sapataria Elite ,que  ficava  na esquina, num imóvel que foi  desapropirado, e depois demolido , pela Prefeitura  para  o alargamento da Rua João Fernandes da Gama, a antiga Rua da Ribeira. Na parte dos fundos do  imóvel, próximo onde hoje fica a agência do  Bradesco, seu Elias implantou uma fabriqueta de  sandálias de couro. Com o passar dos tempos os  insumos ficaram caros e chegaram as sandálias havaianas, e ele teve que desativar sua fabricação artesanal. Chamou seus funcionários e doou as máquinas e ferramentas. 

O Flamengo Pombalense, o dominó com amigos, com
 o Padre Emílio e Zequinha Barbeiro, e na procissão
porque era um devoto fervoroso de  Santa Tereza.
Mas, sua vida no comércio  começara antes. Logo que chegou da zona rural aos 17 anos de idade seu primeiro emprego trabalhou na alfaiataria de Joaquim Costa onde aprendeu a cortar e costurar camisas, passando para oficial de camisas e depois de calças e por último a cortar e costurar ternos. Levou alguns anos nesta profissão de alfaiate até que comprou uma barbearia e aprendeu a cortar cabelo e fazer barba dos clientes. Nos anos 50 iniciou sua atividade comercial fazendo parte do comércio local juntamente com os donos das loja de tecidos  São José , de Antônio Nascimento ( onde funcionou o Baneb); a Casa Chaves , também de tecidos de  José Leôncio;loja de ferragens de Irenio Souza, Loja Imperiolar, de tio Rogaciano Reis ; o comércio de meu pai o Posto Esso, a Loja de Peças e o Abrigo; a loja A Expositora, de Pedro Souza , no local onde chegou a funcionar a Loja Ricardo Eletro, até recentemente. Esta loja era de um casal Pedro Souza e d. Enedina que moravam na Rua da Santa Cruz, hoje, Avenida Evência Brito, próximo ao cinema, que existia ali . Este casal era de Salvador. dentre muitas outras lojas. Ribeira do Pombal sempre teve uma vocação para o comércio e serviços, além da agricultura e pecuária. Elias Venâncio era casado com d. Iracema Macêdo de Santana de Souza e tiveram sete filhos  José Renato, assistente social;Antônio Renildo,professor de Economia na Universidade Federal da Bahia; João Edson, advogado e procurador jurídico do Estado da Bahia; Maria Ivone, farmaceutica; Maria Eliane, assistente social;Vilma Maria, dentista, já falecida, e Elias Junior, jornalista, que mora em Roraima. Como vemos ele conseguiu formar todos os filhos, que já lhe deram 17 netos. 

                 DEPOIMENTOS 

O padre Emílio Ferreira Sobrinho falando de seu Elias disse "estar lisongeado por ter sido escolhido
para dar um depoimento sobre uma pessoa simples e marcante na história recente de  Ribeira do Pombal. Conhecido por seu Elias de A Brasileira a maioria dos pombalenses lembrará dele com carinho. Foi um incentivador do esporte ajudou muitos jovens a crescer como cidadãos. Sobre a sua família  deixou seus filhos todos formados e transferiu a sua amizade para muitos de seus amigos. Tenho uma amizade especial com Renato Souza, seu filho mais velho. Na educação seu Elias contribuiu muito na reconstrução da nova séde da Congregação Mariana quando colocamos a Escolinha de São Vicente que marcou época como sendo uma das primeiras escolinhas da Cidade.
Seu Elias falando na séde da Congregação Mariana da 
 qual participava e foi seu presidente.
Depois foi reconhecida e doada a Prefeitura, e posteriormente  o Estado assumiu. Ensinando às crianças,  formando e encaminhando em todos os setores, inclusive a parte artística e para o trabalho. Levou os seus filhos para Salvador e conseguiu formá-los, e hoje estão todos encaminhados". O padre Emílio Sobrinho lembrou ainda "dos passeios que fizeram para fazendas no interior do município e até para Sergipe onde todos se encontravam , se congratulavam , e o esporte também sempre estava presente. "

Todos que conheceram de perto seu Elias guardam boas lembranças disse o advogado Pedro Morais e acrescentou  "falar dele é certamente correr o risco de pecar pela omissão ainda que muito seja lembrado desde grande pombalense. Toda a adjetivação seria cabível para anunciar as virtudes do grande amigo e mestre. "

Seu filho Edson preservou o nome de
A Brasileira ao abrir sua loja de sapatos
.
 Já Ivete Valadares, bancária, falou do imenso carisma que   possuía e da" imensa ternura que dele transbordava. Vem-me à   mente a livraria, início das aulas , cheiro de livros e cadernos   novos, lápis lindos e coloridos".

 O Ivanildo Regis, que é servidor municipal e comerciante    destacou que o primeiro lápis que recebeu foi das mãos de seu   Elias, e que na época ficou chocado com o seu falecimento.

 O servidor público aposentado Américo Passos Conceição lembrou que seu Elias   "foi o maior incentivador do esporte nesta terra e destacou a sua   contribuição para a educação e cultura da Cidade. Foi dele a   primeira livraria e papelaria , além de trazer os jornais e as   primeiras revistas semanais e mensais para Ribeira do  Pombal. "

O seu Elias Venâncio ao lado de
sua esposa d.Iracema 
 O produtor rural e político   Nilson Brito destaca  que o seu   "Elias era um homem que tinha cultura, amante da boa música e apaixonado pela nossa Filarmônica XV de Outubro. Contribuiu decisivamente no resgate das nossas festas populares como o reisado, bumba meu boi,  juninas, corrida da argola, dentre outras. Colaborou e participou das grandes micaretas aqui realizadas , organizou e  reativou com seu espírito desportista a liga de futebol, os campeonatos levando muita gente para assistir os jogos.  Entendia que uma forma de combater a violência era incentivando a prática de esportes  e lazer. "

Lembra ainda Nilson que certo  dia foi surpreendido com o convite feito por seu Elias, que era seu compadre , para presidir o Clube Flamengo, que criara. "Mesmo sendo torcedor do Fluminense, do Rio de Janeiro, aceitei o convite e fortalecemos o Flamengo e fomos campeões. Ele vivenciou toda a minha trajetória política com a sua  sabedoria,sensatez e experiência de vida".

Outro traço na personalidade de seu Elias é que ele ajudou muitas crianças a estudar doando livros ou facilitando que seus pais pagassem quando pudessem. No seu depoimento Altamiro Freire, Oficial de Justiça, relembrou que ele defendia o direito a educação, que é dever do Estado, e isto nos foi assegurado por seu Elias "que permitia que eu e meus irmãos adquirissimos todo material escolar do ano inteiro , sem nada pagar ou assinar, naquele momento, apenas na confiança que meu pai iria honrar aquela dívida. E este tratamento não era apenas com minha família, mas com todas cujos pais residiam na zona rural e povoados. Era sempre assim. Seu Elias foi o responsável direto pela educação de muitos pombalenses, sem ele, muitos seriam analfabetos ou apenas alfabetizados".

Para João Edson  " meu pai, Seu Elias, da A Brasileira, deixou muitas saudades do amor que nos deu e dos exemplos de comportamento em casa e na loja, da simplicidade a fidalguia no trato social com todos. Era um gentleman por natureza aliada a uma bondade infinita. Nunca presenciei um grito com minha mãe, d. Irá, ou com os filhos que nunca receberam uma palmada.  Como presidente da Congregação Mariana  construiu a sua sede, amava Santa Tereza D'ávila e o Flamengo, do Rio de Janeiro, time que o fez fundar e manter o Flamengo, em Ribeira do Pombal, dito por todos como o maior incentivador do esporte amador em nossa terra.  Tinha outra paixão, os livros que lia diariamente, daí a levar os sete filhos para estudarem em Salvador foi uma sequência lógica da importância que dava à  educação, e todos estudaram e concluíram o curso superior. "

NR- Quero agradecer a Hamilton Rodrigues por colher alguns depoimentos e fotos para a publicação deste texto sobre seu Elias uma das figuras saudosas e queridas de Ribeira do Pombal. 





sábado, 11 de dezembro de 2021

O COMERCIANTE QUE VIROU FAZENDEIRO

Aí uma ilustração de meu pai na Fazenda Salgadinho
ao lado de um bezerro. Adorava ficar perto dos animais.

Confesso que hesitei muito para escrever  este texto falando de meu pai. Porém, mesmo depois de ouvir de alguns amigos e parentes que deveria falar  sobre ele  ainda passei algum tempo com esta dúvida se deveria, e como as pessoas cujos antepassados ainda não foram lembrados como iriam reagir. Até que num domingo pela manhã senti muita saudade de meu pai , como se me faltasse algo de referência. Foi aí que passei a lembrar de sua luta e de suas andanças em busca de prover a sua sobrevivência e da família. Durante a Segunda Guerra Mundial muitos jovens fugiam do Alistamento Militar obrigatório com receio de serem convocados e enviados para os campos de batalhas na Europa, que tinha sido invadida pelos nazistas de  Hitler . Foi assim que meu pai terminou indo para a casa de seus parentes no estado de Sergipe, em 1942 , e lá conheceu Nivalda Dantas Brito, minha mãe, sua prima carnal, e terminaram casando. Nasceu em Ribeira do Pombal em 29 de abril de 1916, filho de João Ferreira de Brito e Beatriz Vieira Jacobina Brito, que o batizaram como o nome de Reynaldo Jacobina Brito. Tinha um total de 19 irmãos e irmãs fruto três dos relacionamentos  de seu pai, e de dois de sua mãe. Media 1,97 e pesava mais de cem quilos. Quando era jovem sempre foi magro , mas com a idade avançando ficou corpulento e as pessoas o chamavam de Reinaldão, devido ao corpanzão e sua voz grave. Aparentemente parecia uma pessoa sizuda  daquelas que procuramos guardar distância , mas para os que o conheceram na intimidade sabem que embora tivesse um temperamento explosivo, era uma pessoa dócil e sensível. E tinha qualidades que hoje reconheço a cada dia que passa. Que eram a gratidão,  solidariedade, sinceridade e lealdade  com os amigos. Nas horas de dificuldades nunca os faltou. Sempre foi um empreendedor quando manteve seu comércio gerando emprego e renda para o município. Quando decidiu ser produtor rural se destacou como criador de gado leiteiro, trazendo para o município matrizes de outros estados para melhoria do rebanho, e também dando emprego a muitos da zona rural.
                                    TRAJETÓRIA 

Meu pai depois    resolveu mudar para a cidade de Jacobina, para ficar junto a seu tio, cujo nome lhe foi dado ao nascer em homenagem a ele. Seu tio Reinaldo Vieira Jacobina era um criador de gado de destaque, foi Intendente da  Cidade . Lá foi trabalhar em Jacobina  e por estas coisas do destino nasci naquela que é a porta de entrada da Chapada Diamantina. Pouco tempo depois meu pai mudou para a cidade de Caldas de Cipó, onde nasceu minha irmã Indaiá. Nesta época estavam sendo realizadas  várias obras  importantes como o Grande Hotel de Cipó, dentre outras, e com seus caminhões chegou a transportar materiais como cimento , tijolos etc. Voltamos para morar em Ribeira do Pombal ,onde meu irmão Nirvan nasceu, e depois fomos para a Cidade de Riachão dos Dantas, no estado de  Sergipe . Ficamos morando entre a cidade e a fazenda Cambui, que minha mãe  herdou de seus pais. Ainda criança viemos morar novamente em Ribeira do Pombal , onde passei minha infância e juventude , cresci e nasceu minha irmã Iara. Meu pai teve mais dois relacionamentos, portanto, além dos quatro filhos do primeiro casamento, tenho ainda mais quatro irmãos,e nos relacionamos muito bem : Juscy, e Ronaldo, Edson  (Bebé ) e Magda, sendo que os dois últimos já falecidos. 

Meus pais Reinaldo e Nivalda, à esquerda  Indaiá ,  à direita
Iara e Nirvan na  casa  na Avenida  Evência Brito. 
Nesta época nos anos 40 e 50 meu pai labutava com caminhão, e foi um dos primeiros que ia até a distante capital paulista comprar e trazer para Ribeira do Pombal. Naquela época os caminhões vinham sem a carroceria, que eram feitas em Alagoinhas e no estado de Sergipe , se não estou enganado na cidade de Estância. Não possuía  muitos caminhões, normalmente eram dois, e chegou a ter três deles. Foi num desses caminhões que meu pai providenciou uns bancos de madeira na carroceria e vários amigos e amigas se juntaram e fomos ver o Presidente Getúlio Vargas, que desceu no aeroporto de Caldas de Cipó para inaugurar o Grande Hotel e outras obras na Cidade no dia  em 23 de julho de 1952. Tinha gente de todas as cidades do entorno , e lembro que o aeroporto de Cipó ficou lotado de pequenas aeronaves. Foi uma festa inesquecível. Era criança, mas recordo  das pessoas entusiasmadas esperando o velho caudilho. O hotel floresceu e foi logo inaugurado Rádio Hotel e um anexo onde funcionava o cassino que tinha belas pinturas do médico cirurgião Genésio Salles e também de Sinézio Alves, este último o conheci na redação do jornal A Tarde.  Os afrescos estão aos poucos desaparecendo devido ao abandono a que foi relegado todo o conjunto arquitetôinico da estância como também o belo Balneário. O jardim foi construido em estilo francês, inclusive os postes vieram da França. Hoje, está completamente desfigurado, basta comparar as fotos antigas com as de agora. É hora dos moradores se movimentarem para salvar estes importantes prédios que marcaram a história e o desenvolvimento da Cidade.

Neste dia ocorreu um fato interessante que  se transformou quase numa lenda para alguns . Um jovem pombalense foi até Caldas de Cipó com o intuito de pedir a Getúlio Vargas uma bolsa de estudos. Seu nome é Guido Mariano de Santana . Ele conseguiu furar o sistema de segurança do Presidente  que o atendeu e até o convidou para morar no Rio de Janeiro, que era a Capital da República. Mas, talvez ficara com receio, e não aceitou. Getúlio chamou um de seus auxiliares que tomou todos os dados de Guido  que ganhou  uma bolsa de estudos indo estudar como interno no Liceu Salesiano do Salvador. Ele é irmão de Manoel Hugo de Santana, o Manoelito, ( falecido) que foi esposo da tia Orádia Jacobina Santana . Atualmente  atua como advogado  principalmente de entidades sindicais. 

Quando moramos em Caldas de Cipó a cidade recebia muitos turistas e os hóteis davam grandes festas. Lembro que ainda tinha o hotel de Manoel Paiva , se não me engano chamava-se Hotel Guanabara ,que também ficava próximo ao jardim. Este jardim foi mandado fazer pelo general Juraci Magalhães  ele tinha sido nomeado Intendente pelo Getúlio Vargas. Certo dia veio visitar a Cidade e viu a beleza do Grande Hotel, e a praça era um areal. Então,  encomendou a um arquiteto italiano que fizesse um projeto do jardim. Dai o italiano fez baseado em jardins franceses.

Naquela época a estâncias hidrominerais bombavam porque era permitido o jogo de azar , como acontece em cidades como Las Vegas,nos Estados Unidos; Punta Del Este, no Uruguai e o Cassino de Monte Carlo, no Principado de  Monâco, só para citar alguns exemplos.   Caldas de Cipó, na Bahia,  era frequentada por turistas do mundo inteiro. Quando o Presidente Gaspar Dutra assumiu houve uma  pressão da igreja católica e de sua mulher . Ele terminou proibindo o jogo de azar no Brasil. Em pouco tempo  as estâncias hidrominerais do país entraram em decadência. Atualmente, existe um movimento pela volta do jogo de azar , mas tem uma forte corrente de parlamentares cristãos contra. 

                                                                  O COMERCIANTE

O comércio de meu pai onde vemos seu Posto Esso com as bombas
de óleo diesel e gasolina , a loja  de peças de veículos e o Abrigo,na
Praça Getúlio Vargas .Ele aparece com o braço numa das bombas
Logo depois meu pai começou a se estabelecer como comerciante montando uma loja de peças de automóveis e caminhões, onde tinha duas bombas, uma de  gasolina e outra de  óleo díesel, e um bar anexo que a gente chamava de Abrigo. Naquela época os carros eram movidos apenas por estes dois tipos de combustíveis, que eram transportados em tambores de metal, e quando chegavam, através de uma grande mangueira adaptada ao tambor eram transferidos   para os tanques subterrâneos. Era um serviço perigoso e penoso. Hoje, o caminhão tanque é conduzido por um motorista, e ele mesmo faz a transferência do combustível para os tanques subterrâneos. Uma operação bem mais fácil. Meu pai teve ainda uma farmácia e uma casa de móveis. A farmácia funcionava  próximo a casa de Ferreira Brito, a qual foi cedida para meu tio João Jacobina, (Joãozito)  e depois foram proprietários dr. Décio de Santana e Wilson Brito. 

Nesta época estavam sendo construídas as usinas de Paulo Afonso e tinha grande movimentação de caminhões especialmente transportando peças e maquinário . As estradas  não eram asfaltadas e muito mal conservadas. Com isto ocorriam acidentes e também muitos defeitos nos caminhões. Lembro que um dia estava com meu pai conversando na sua casa de peças quando parou um carro vindo do sul do país, e o senhor que o dirigia tinha vindo com a família seguindo o roteiro traçado num mapa do Guia Quatro Rodas , que era o GPS da época. Ele estava indignado porque o trecho entre Tucano e Ribeira do Pombal estava assinalado como sendo asfaltado, e ao contrário, era uma pista horrível com grandes "camaleões" de areia e ele quase não consegue passar. Desde àquela época que a corrupção já existia. Dizem que por diversas vezes desviaram o dinheiro do asfaltamento daquele trecho de  estrada. 

Esta foto mostra bem como era meu  pai.
Lembrei de um triste acidente com um dos rapazes que faziam o serviço de transportar o combustível dos tambores para os tanques subterrâneos. Ele tinha acabado o serviço e gostava de tomar umas cachaças . Deitou para descansar nos fundos do Abrigo quando uma pessoa veio brincar colocando um "mosquitinho" no dedo do pé dele. Ao acender o fósforo para ativar o "mosquitinho" pegou fogo na roupa do rapaz que dormia e veio a falecer. O "mosquitinho" era feito de um fósforo queimado , até virar  um carvão fininho. Este palito queimado é colocado entre os dedos de uma das mãos ou pés , e em seguida  é  aceso. Ai vai queimando até encontrar a pele do coitado. Dá uma dor terrível, e a pessoa acorda muito assustada.
Teve uns anos de muita seca no Nordeste e ocorreu uma grande fuga de nordestinos famintos de vários estados em busca de sobrevivência no sul do país , especialmente em São Paulo. Eram os chamados paus- de- araras que eram transportados ilegalmente  em caminhões com bancos de madeira improvisados em suas carroceriais e uma lona servia de cobertura. Um desconforto e um sofrimento que duravam dias até chegarem em São Paulo, e lá serem despejados como uma mercadoria de segunda linha. Eles viajavam sem qualquer referência, poucos tinham parentes ou conhecidos  na capital paulista. Numa certa noite um desses caminhões parou em frente ao Abrigo, que era o bar de meu pai , uma espécie de lanchonete, e pediram tudo que tinha de mercadoria. Comeram, beberam sucos, refrigerentes, cervejas  e em seguida saquearam até os bolos que minha mãe fazia com tanto carinho e lá colocava para vender. Os empregados foram acuados, mas não praticaram violência contra eles. Lembro que meu pai disse mais ou menos assim: " É a fome! Os desgraçados saem de suas rocinhas e  dos povoados em busca de algum trabalho para viverem São Paulo. Vamos limpar tudo e tocar a vida".
Noutra ocasião chegou na sua casa de peças um caminhoneiro se passando por maçon. Tinha pouco tempo que ele entrara para a Loja de Maçonaria de Alagoinhas. Foi ele e vários pombalenses. O caminhoneiro malandro cumprimentou-o com o sinal de maçon e inventou que seu carro quebrara e ele estava sem um tostão sequer para prosseguir viagem. Na época a comunicação era muito difícil, e não sei porque não buscaram e aguardaram  informação da Loja Maçônica que ele dizia  pertencer , no Rio Grande do Sul. O fato é que os maçons se juntaram mandaram consertar o caminhão do sabidório e deram dinheiro para seguir viagem. Quando conseguiram contato com a Loja que ele disse que pertencia descobriram que era um estelionatário. Ai os maçons ficaram bravos e foram esperar o tal caminhoneiro algumas vezes na estrada durante a noite , inclusive veio gente de fora ajudar  . Mas, felizmente nunca o alcançaram.

                                           FAZENDA SALGADINHO
Anos depois com o falecimento de meu avô João Ferreira de Brito, Ioiô Ferreira, como era mais conhecido  através uma movimentação de tio Milton Jacobina , de saudosa memória,  reuniu os irmãos e irmãs e os convenceu a vender as partes de cada um a meu pai . Foi assim que ele comprou as outras partes dos herdeiros e passou a administrar a Fazenda Salgadinho. Já possuía  algumas terras nas localidades de Bodó e Pinto  inclusive acompanhei de perto a sua luta para derrubar a mata e transformar em pastagens. Portanto, paulatinamente  foi se afastando  do seu comércio para ser produtor rural. Ai  fez algumas viagens para Minas Gerais e Itapetinga , na Bahia, outros locais visando melhorar o seu rebanho. Gostava de vacas leiteiras , embora tivesse alguns de engorda . E de plantar feijão e milho . 
Nilson Brito relembra das várias
viagens que fizeram em busca
 de melh
ores matrizes de gado .
Falando outro dia com Nilson Brito, ele lembrou de uma viagem que fizeram para a cidade de Curvelo, em Minas Gerais, onde meu pai comprou algumas vacas de leite de boa linhagem. Nilson Brito e Antônio Pereira Costa, o Antônio Chorão, e Mário Luz, já falecido, foram comprar em Governador Valadares, também no estado mineiro, e trouxeram para a melhoria do rebanho em Ribeira do Pombal. "Reinaldo foi muito meu amigo e viajamos  juntos várias vezes para Itapetinga, Mundo Novo,Itaberaba , dentre outros lugares. Foi um lutador no comércio e na pecuária em Ribeira do Pombal. Dos anos 1970 até seu falecimento mantivemos uma forte amizade. Era o maior fornecedor de leite daqui . Lembro que um dia ao chegarmos de uma dessas viagens quando paramos  o carro em frente de minha casa ele disse a Lúcia minha esposa: D. Lúcia o seu marido é uma grande pessoa. A gente só conhece bem a pessoa viajando ou sendo vizinho". 

Nas fazendas Salgadinho e Pinto meu pai sempre labutou com gado de leite e alguns para engorda. mas, principalmente gostava de mexer com leite. Inicialmente, o leite vinha no lombo de burro, depois numa carroça, e finalmente, numa camionete.  Me contou meu irmão Nirvan , que é médico e reside na cidade de  Santo Estevão, na Bahia,   que um certo dia a caminhonete de meu pai deu problema e teve que providenciar outra  com um amigo, enquanto a sua consertava .Surgiu um problema teve que viajar até Feira de Santana para resolver.  Estacionou o carro e quando retornou alguém havia batido na camionete do amigo e evadiu-se. Chegando em Ribeira do Pombal  foi logo procurar o amigo e disse mais ou menos assim: "Não trema o beiço e nem fungue . Quanto você quer pela camionete ? " Aí chegaram ao preço que lhes convinham,  e o negócio foi fechado.Na realidade a camionete era sub utilizada pelo amigo. Então ele  revelou  o que tinha acontecido, e a amizade continuou sem nenhum arranhão.  

Certo dia estava sentado num grande banco de madeira  que ficava na varada da frente da Fazenda Salgadinho conversando com ele quando chegaram dois funcionários de destaque da agência do Banco do Brasil .Vieram lhe oferecer um empréstimo para plantio de milho e feijão. A seca estava terrível e meu pai com a sua experiência explicou que naquele ano não era aconselhável plantar. Teria que esperar o clima melhorar. Foi ai que um dos funcionários disse-lhe: "Se não chover e perder o plantio o seguro cobre o prejuízo". Aí lembro que ele respondeu : Mas, não é honesto plantar sabendo que não vai colher. Prefiro não plantar".  Então o outro respondeu: "Este dinheiro do empréstimo para plantio o senhor aplica em outra coisa". Ele agradeceu e recusou o empréstimo. Depois fiquei sabendo que vários tomaram  empréstimos e o seguro pagou os prejuízos e ainda tiveram lucro.

Meu pai em seu mundo que tanto gostava. Sem camisa
prendendo parte do gado no curral no Salgadinho.

Meu pai tinha uma coisa que sempre o admirei  que chama-se gratidão. Ele não abria mão de
sempre agradecer aos que de alguma forma lhe ajudaram , serviram trabalhando em seu comércio ou em suas terras. Basta lembrar que quando aconteceu a debandada de muitos amigos que acompanhavam na política por vários anos seu primo  Ferreira Brito , ele continuou dando seu apoio. Por seu jeito de ser  nunca foi um agregador de centenas de votos. Os poucos que conseguia  eram de parentes, funcionários e de muitos compadres  da zona rural. Lembra Zé Grilo " que algumas  reuniões  para composições políticas e até  para a busca de um candidato foram realizadas na sua Fazenda Salgadinho com as presenças de  Oliveira Brito e Ferreira Brito, dentre outros. Gostava de contribuir com as festas da padroeira da Cidade , Santa Tereza D'ávila , sempre que possível doando um garrote ou um ovino para que fosse leiloado em benefício das obras da Paróquia. Também , cedia seus animais, quando solicitado , para a realização das inúmeras vaquejadas pombaleses. " Ele lembrou ainda a forte  ligação de seu avô Oliveira Brito com meu pai e " que muitas vezes quando vinha de Salvador, para sua fazenda que fica no municpio de Cicero Dantas e chamava-se Fazenda Salvador, ele entrava na Fazenda Salgadinho para conversar com Reinaldo. Ele tinha realmente muita ligação com Reinaldo, que era o filho mais querido entre todos do seu Ioiô Ferreira".

Em 1973  foi prefeito por um dia de Ribeira do Pombal substituindo seu sobrinho Antônio Bernardo da Costa Filho que era o presidente da Câmara e tinha assumido a Prefeitura em substituição ao titular. Como precisou se ausentar coube a meu pai assumir o cargo de prefeito por ser o funcionário mais antigo do Município . De acordo com a ata que me foi enviada por meu primo Aguinaldo Brito, datada de 31 de janeiro de 1973 ,  às 19.30 ele assumiu o cargo e no dia seguinte  transmitiu para Antônio Bernardo. 

Como tinha uma admiração e amizade com Oliveira Brito e Ferreira Brito quando foi criado o Partido da Frente Liberal ( PFL) em 24 de janeiro de 1985, por dissidentes do Partido Democrático Social (PDS) ele foi escolhido como presidente do partido em Ribeira do Pombal. Como tinha um temperamento forte , coincidiu que estava na Cidade e foi realizada uma convenção do partido para a escolha do candidato a prefeito da agremiação. Aí resolvi acompanhá-lo e fiquei sentado ao lado dele para interferir de alguma forma, caso fosse necessário. A todo instante  virava para mim com aquele vozeirão grave e dizia: "Meu filho, não voto nesta peste". Eu sempre lhe respondia. Que nada pai, o senhor tem que votar sim no candidato do seu partido. Deveria ter  alguma razão, que não procurei saber para não acirrar sua discordância . Era muito verdadeiro.

Por trás de seu jeito sizudo se escondia uma pessoa sensível .Vi muitas vezes sensibilizado com o
nascimento ou com o sofrimento de algum animal . Fazia tudo para que os animias não sofressem e sempre procurava dar-lhes algum conforto. Apreciava muito as mulheres . Não gostava de mulher com roupas largas  especialmente com aquelas calças folgadas. Gostava de ver a cantora sertaneja Roberta Miranda porque vestia umas calças apertadas, e dava uma rizada gostosa. Lembrei de um fato muito engraçado que presenciei. Estávamos no velório de um parente quando uma 
Ex-prefeito José Lourenço
Morais da Silva Jr
.
prima de segundo  grau  que ele acabara de conhecer  tinha se aproximado  dele e começou  a conversar com entusiasmo. Todo descontraído ia contando suas proezas e fazendo elogios, quando a prima perguntou a sua idade. Encheu os pulmões e disse "Setenta e três !". Imediatamente a prima desinteressou e respondeu: "Pensei que tivesse pouco mais de cinquenta !". O papo esfriou e em poucos segundos se separaram. Foi ai que  desiludido saiu e foi conversar com outros amigos e parentes,  contando o fato disse mais ou menos assim: "Não sei porque diabo no mundo fui dizer a minha idade?  A criatura estava interessada!".  Em seguida deu uma gargalhada. 

Outra história que me veio a mente foi quando criança um certo dia ao passar pela Praça Getúlio Vargas  achei uma moeda que não lembro o valor. Saí contente e quando cheguei mostrei a meu pai. Imediatamente, me levou até a porta da casa e apontou em direção da praça e ordenou. "Volte e coloque a moeda onde você diz que achou. Vou ficar daqui olhando ". Saí espumando  e  quando dobrei a esquina atirei a moeda para lá. Sentei na calçada e dei um tempo. Depois resolvi voltar . Chegando, fui abordado por ele ."Deixou a moeda  no mesmo lugar ? " Aí tive que mentir, para não ter que voltar, e respoindi deixei. "Nunca pegue no que não  é seu".

                                                     SUA MINI REFORMA AGRÁRIA

Meu pai em seu cavalo que o serviu por muitos anos e
 com seu revólver percorrendo a Fazenda Salgadinho.
Fez também uma mini reforma agrária a seu jeito. Quando adquiriu as terras da Fazenda Salgadinho
que pertenciam ao meu avó haviam várias casas de agregados dentro da propriedade. Isto coincidiu com a construção e asfaltamento da nova BR-110 que cortou a sua propriedade. Lembro que na época  não exigiu nenhuma indenização do DNER  ( hoje DENIT) porque entendeu que fora beneficiado com a construção da rodovia federal. O governador da Bahia era Lomanto Junior  que governou a Bahia de 1963-1967, mas a obra era federal. Então, entrou em contato com cada uma das famílias e concordaram que daria cinco tarefas de terra para cada família e ajudaria na construção da casa. Assim, foi feita a transferência  , sem maiores traumas, embora algumas pessoas acostumadas a morar naquele lugar há vários anos se sentiram incomodadas com a mudança, mas não houve qualquer resistência e continuaram trabalhando na Fazenda Salgadinho. Receberam o título de propriedade, e hoje estas  glebas são ocupadas pelos descendentes dessas famílias e alguns já passaram adiante. 
NR- Quero agradecer mais uma vez a Hamilton Rodrigues este amigo e companheiro nesta jornada  que vem buscando colher informações para que eu possa escrever sobre estas pessoas que contribuiram de alguma forma para o desenvolvimento de nossa Ribeira do Pombal. 









sábado, 4 de dezembro de 2021

O CRIADOR DA VAQUEJADA DE RIBEIRA DO POMBAL

Sigismundo foi o idealizador e organizador da primeira
vaquejada no Estado da Bahia em 1961.
Foi graças a um sergipano do município de Tobias Barreto que Ribeira do Pombal teve durante anos  a realização de uma das mais importantes  vaquejadas do sertão. Anualmente  no mês de outubro durante os festejos da padroeira Santa Tereza acorriam vaqueiros de vários estados em busca de troféus e outros prêmios oferecidos pela Prefeitura Municipal , comerciantes e fazendeiros. Seu nome é Sigismundo de Souza Macêdo , cuja família migrou de Sergipe e aqui se estabaleceu, inicialmente no povoado da Boca da Mata , onde exercia a profissão de pequeno agricultor. Mesmo sendo de origem  rural nunca foi daqueles que  puxava uma enxada de sol a sol. Gostava mesmo era de negociar com animais e outras coisas de fazenda. Ele sempre andava com seu inseparável chapéu de couro , o que muita gente já o reconhecia de longe. 

Rogaciano Brito , Padre Emílio Ferreira,
o prefeito Pedro Rodrigues, Sigismundo
Macedo, e Edmundo  que tirou o
  primeiro lugar na vaquejada de 1968
.
A maioria dos nordestinos sabe que a vaquejada consiste em dois vaqueiros montados a cavalos com o objetivo de derrubar um boi puxando-o pelo  rabo. São feitas duas faixas com cal no parque da vaquejada e conta ponto quem derrubar o quanto antes entre as duas  faixas. A última  vaquejada foi realizada em  2019 , a de número 51, portanto, está na hora dos amantes deste esporte e as autoridades locais se unirem e retomarem esta atividade que tanto alegrou os pombalenses e servia de divulgação do nome de Ribeira do Pombal  e tornou a Cidade conhecida em outros estados brasileiros. A decisão do ex-prefeito Ricardo Maia de transferir  o Parque da Vaquejada, e em seu lugar doou o terreno para o Governo do Estado construir uma policlínica para  atendimento a pacientes de 16 municípios pode parecer uma medida correta e indiscutível , mas é questionada por alguns pombalenses . Argumentam que poderia ter instalado a Políclínica  em outro local, porque não falta espaço em qualquer Cidade do interior para construção de um equipamento como este. Como primeira  opção decidiu transferir o Parque da Vaquejada para onde funcionava a  Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola S.A.-Ebda que infelizmente o governador Rui Costa extinguiu em 2014, deixando este vácuo enorme para a Bahia que é um Estado que tem forte presença na agricultura , e a empresa prestava inestimáveis serviços especialmente no semi-árido. Lembro quando tinha fazenda no município fui visitado algumas vezes por técnicos da
Ai vemos a construção do novo Parque da Vaquejada
 e a Policlínica que ocupou o lugar do antigo parque.

Ebda  para dar  orientações. Explicou oo ex-Chefe de Gabinete que durante a gestões de Ricardo Maia  que " de 2013 a 2019 ocorreram as vaquejadas no antigo parque  . Com relação a mudança  foi porque tivemos dificuldades em encontrar um terreno próximo à sede  do tamanho necessário para a construção da Policlínica , e também os  moradores  próximos do Parque da Vaquejada reclamavam do barulho dos carros de som e da movimentação de veículos e  pessoas . Quando foi construído na década de 60 ficava afastado do Centro mas, atualmente estava cercado de muitas moradias . Então, por isto prefeito de então  decidiu transferir para o terreno onde funcionava  a Ebda , que
   é uma área muito maior. Acreditamos que em 2022 o atual prefeito Eriksson Santos Silva  vai inuaugrar o novo parque com a realização de uma grande vaquejada.", garantiu o ex-chefe de Gabinete e Darivaldo Francisco da Silva, o Bebé .

                                   VAQUEJADA AMEAÇADA NO BRASIL

A vaquejada no Brasil andou ameaçada porque alguns ambientalistas  entendem que os animais sofrem maltratos porque ficam confinados em currais próximos a aglomeração de pessoas e com isto ficam estressados, além de sofreram danos físicos durante  as quedas nas arenas das vaquejadas . É verdade que de vez em quando  acontece que o vaqueiro ao enrolar a cauda do boi na mão  termina quebrando a cauda do boi, e também ocorrem acidentes durante a queda como quebra de patas e até do pescoço do animal. Os ambientalistas  argumentam ainda que os cavalos sofrem . Porém, a reação da bancada nordestina no Congresso Nacional conseguiu vencer os ambientalistas militantes e através da Emenda Constituciuonal nº 96  acrescentou um parágrafo ao artigo 225 da Constituição Federal que" determina que as práticas desportivas e manifestações culturais com animais não são consideradas cruéis." 

Abelardo Gama, João Almeida ( João Soldado) Joza,
vaqueiro e aboiador, Pedro Rodrigues, Ferreira Brito,
Padre Emílio Ferreira e Tenente Zezito, numa das
vaquejadas de Ribeira do Pombal. .

Como sabemos a vaquejada é uma forte atividade ligada à cultura do nordestino, que dizem ter origem no México como esporte. Mas, desde criança que conheci grandes vaqueiros na cidade e guardo especialmente a imagem do vaqueiro Antônio Miligildo, montando em seu cavalo arisco ele ia buscar o boi desgarrado em qualquer lugar da caatinga inóspita e cheia de árvores e arbustos com espinhos . Era negro , alto forte, falador, destemido e sempre o via com seu chapéu , perneiras, jaleco , luvas, proteção nos pés e com uma chibata, tudo feito de couro de boi. Tinha orgulho de sua profissão e dali tirava o sustento da família. Gostava de uma boa pinga e tinha paciência com as crianças para contar suas andanças pela caatinga atrás de boi bravo. Muitas vezes passava dois a tres dias procurando seguindo rastro e pistas até conseguir laçar , colocar uma careta de couro e trazer para o fazendeiro que lhe contratara..

Este belo troféu foi oferecido a Sigismundo por
 Oliveira Brito agradecendo pela organização 
na 1ª Vaquejada de Ribeira do Pombal, em 1961
.
O nosso personagem o sergipano Sigismundo de Souza Macêdo, que depois se tornou cidadão pombalense, é filho de Pedro de Souza Macêo e Elisia de Aquino Cézar, teve três irmãos Edmundo, Elizabete , Bernadete e  Tereza Varjão. Nasceu em 1º de maio de 1923. Chegou em Ribeira do Pombal  por volta do ano de 1953 , afirma  Antônio Cledes Macêdo, seu filho, que seus pais casaram no ano de 1947 e tiveram seis filhos Antônio Clebes,José Valadares, Maria Cely,Maria Ceny, Semires e Maria Suely. Foi vereador com apenas um mandato, principalmente com votos de moradores do povoado de Boca da Mata. Em 1962 veio morar em Ribeira do Pombal  até seu falecimento em 26 de maio de 1974 aos 51 anos de idade.

Lembra Antônio Cledes que juntamente com  Antônio Manoel dos Reis , conhecido por Toinho da Boca da Mata, eles foram a cidade de Caruaru, em Pernambuco, ver como funcionava uma vaquejada. Ao voltarem fizeram uma pequena vaquejada na Boca da Mata, e assim   começou esta atividade esportiva em terras do município de Ribeira do Pombal. Foi aí que partiram para a realização da primeira vaquejada na Cidade , que eles asseguram ser a primeira no estado da Bahia. A vaquejada pombalense foi  realizada em 1961 . A famosa Vaquejada de Serrinha teve sua primeira edição em 1967. Para realizar a vaquejada em  Ribeira do Pombal foram convidadas outras pessoas como Antônio Rodrigues dos Santos ,( o Tota Santos) , Godofredo Fernandes Gama  , Argemiro Gonçalves , AbelardoVieira  Gama, que era fiscal de pista Valdemar do Incó, Edmundo Macêdo, Zé Benício de Poço Verde e contaram com o apoio de Ferreira Brito. Já na 4ª Vaquejada de Ribeira do Pombal que ocorreu de 12 a 14 de outubro de 1968 vieram vaqueiros de vários estados nordestinos e daí em diante passou a ser uma das mais importantes do calendário de vaquejada da Bahia. 

Semires  com os troféus do pai  .Abaixo  ela com a filha
  Isis,que vem a ser  neta de Sigismundo, em frente a
casa onde morou a família no povoado da Boca da Mata
.


Um ano antes dele falecer o seu compadre Ferreira Brito lhe dirigiu uma pequena carta redigida do próprio punho em 14 de outubro de 1973 a qual transcrevo: "Compadre Sigismundo. Boa tarde! A gripe não permite ir aí pessoalmente , muito grato pelo convite. Faço chegar através de  José Costa que em meu nome lhe agradece e demais pessoas da Comissão da Vaquejada. Amanhã pode trazer todas as notas que tenho a pagar pelo Município, que pagarei na hora que forem apresentadas. Mandei o tenente ( Zezito) chamar o sargento para comparecer ao encerramento com a música. Deus lhe ajude sempre em tudo na sua vida e pelo que fez nesta festa. Um abraço de gratidão. Ferreira Brito."

Sua filha Semires Macêdo , a Mirinha, revelou  que ninguém no início ganhava prêmios em dinheiro. Eram estipuladas premiações com um garrote, uma ovelha . Um dos que mais trabalhou na organização das vaquejadas foi seu irmão  Antônio Cledes.Ele chegava cedo para iniciar o trabalho e muitas vezes não conseguia participar da disputa porque não tinha tempo ou ficava responsável pelas inscrições  para cobrir os custos da festa.  Era um sonho de meu pai. Ele trabalhava o ano inteiro, e na realidade na vaquejada ele se divertia. Frequentava  outras vaquejadas para a procurar introduzir as novidades que por acaso aparecessem. Ele foi organizar  a Vaquejada de Poço Verde e Antônio Cledes, meu irmão, correu com meu avô Pedro  que era o Vaqueiro Mais Velho e Antônio Cledes, seu filho, o Vaqueiro Mais Novo. Com isto ele ia agregando mais gente, mais modalidades de disputa, e assim as vaquejadas se fortaleceram. "

Antônio Cledes ajudou muito
na realização das vaquejadas
.

Diz ainda Semires Valadares que agradece a " Deus por ser filha de Segismundo de Souza Macêdo,  (são  do 2 grafias do nome de meu pai, com e sem a preposição de ) um homem que teve uma vida breve , faleceu aos 51 anos de uma cirurgia para retirada da vesícula e contraiu uma infecção hospitalar deixando 6 filhos e uma esposa que ele amava profundamente, minha saudosa mãe a quem reverencio e prometo contar a história , Rosalva Valadares Macêdo, não existe testemunho de um desentendimento entre eles , jamais brigaram , nossa residência tanto na casa da Boca da Mata quanto na de Ribeira do Pombal,- Ba era um lar de amor e paz."
Já foram realizadas 51 vaquejadas.Foi suspensa
devido a pandemia. É preciso retornar com força!
 Lembra Semires da  rotina de pai : "acordava às 05 horas da manhã na casa da rua na Boca da Mata e ia para a roça ( que até hoje nos pertence) há  cerca de 800 m , ai ele tirava o leite , tomava um zupi ( leite fresco tirado  do peito da vaca , adicionando a farinha de mandioca) e mandava para casa de mainha em Ribeira do Pombal através de um menino montado num jegue, conhecido por Jeruzé. O leite  vendido na  porta de casa e de onde era tirado aproximadamente 90% do nosso sustento.  Tinha dois ajudantes fixos : Mané Fala Fina e Zezé Bonitinho, ambos já falecidos , além de Coelho e Zé de Apolônio ,que faleceu reecentemente. Comercializava bois para Recife , Fortaleza e Sergipe de onde trazia um corte de mescla azul que usava para se vestir  quando vinha pra Ribeira do Pombal . Na Boca da Mata estava sempre com uma calça surrada , uma camisa de manga curta, o jaleco  e o seu inseparável chapéu de couro ."
Eduardo Carvalho Pinto grande vencedor de vaquejadas.
         GRANDE CAMPEÃO
No seu depoimento o famoso vaqueiro , um ídolo entre os amantes da vaquejada,  Eduardo Carvalho Pinto ou  simplesmente Eduardo Pinto, 75 anos, era estudante.Estudou em Salvador 12 anos, quando deixei de estudar vim para as fazendas de meu pai que ficavam em Simão Dias, e no Pinhão, em Sergipe. Comecei a gostar de cavalo e me dediquei às vaquejadas. Ia muito correr em Alagoas, , em Governador Valadares, Minas Gerais e na Bahia. Comecei com 19 anos . fui para a primeira vaquejada de Serrinha,em 1967 para a de Ribeira do Pombal,] em 1961,e não parei mais , enquanto pude.  Gostava muito de participar da vaquejada de Ribeira do Pombal porque era uma gente muito boa e a festa muito animada. Todos os anos o pessoal de Lagarto, Simão Dias e Pòço Verde, todas do estado de Sergipe, íamos participar.  Ele sempre vinha com seu amigo Haroldo Goes, cada um com um caminhão para trazer os cavalos . Vinha também Jorge de   Dorinha, mas ele gostava de bagunçar, só foi umas duas vezes.  Ganhei muitos troféus, 12 carros em vaquejadas em Serrinha, Euclides da Cunha e Valente. Agora tenho quatro filhos Alexandre, Nelson,Felipe e Eduardo e um neto Felipe Pinto  participando de vaquejadas.  Eu tenho uns 10 anos que parei. Quase todo mês viajam para participar. .Ganhamos em Lagarto Campeão Potro do Futuro.em 2017, meu filho Nelson ganhou em 2019, em Pernambuco. Já ganhamos três campeonatos nacionais. O maior vaqueiro que vi Quando ele fala do Jorge ele protagonizou um episódio curioso é que não satisfeito com a premição que lhe foi concedida pegou um pinico que então Hotel São José, onde estava hospedado, e amarrou numa corda juntamente com os dois troféus que ganhara e saiu arrastando pelas ruas da Cidade. Já na saída foi alcançado por alguns organizadores da vaquejada e populares que tomaram os troféus e proibiram de nova participação. 

D. Rosalva com as filhas Ceny, Maria Cely,Cemires e Suely.
Abaixo  Elizabete Souza Costa ,  irmã de Sigismundo
.

Falando sobre o irmão Sigismundo Macêdo , a costureira  d. Elizabete Souza Costa, 83 anos, lembra que " primeiro morou na Boca da
Mata, em 1957 onde já exercia a profissão de costureira. Meu irmão Sigismundo chegou primeiro veio a pedido de seu tio Irineu Valadares para  para a Boca da Mata, que tinha mais gente, e melhores condições de sobrevivência. Ai eles compraram um caminhão e depois de algumas viagens resolveram carregar com latas de  mel com destino ao sul do pais, no trajeto o caminhão virou . Quebraram o nariz ", brinca d. Elizabete.  Devido o acidente resolveram vender o caminhão . Mas, relembra que a história começa quando "ele veio em Ribeira do Pombal fazer uma cirurgia de sinuzite com dr. Décio de Santana. Nesta época era difícil uma Cidade do interior aqui por perto ter um médico. Aqui conheceu Rosalva e começaram a namorar. "

E continua : "Vivíamos na Várzea , próximo a Mirandela  em nossa fazenda, ai os índios Kiriris  nos atacaram e tomaram nossas terras . Tínhamos todos os documentos . A Funai retificou os documentos e só ficamos com 60 tarefas de terra. Eles tomaram terras de muita gente ! Os índios naquela época paravam onde queriam. Nem os advogados aceitavam causas contra a Funai. Compramos a fazenda Árvore , viemos morar na Cidade por causa da idade, não podíamos mais ficar na roça. "

Francisco Passos que assumiu a vaquejada após a morte
de Sigismundo de Souza Macêdo em maio de 1974.
Já o Francisco Passos Conceição, 63 anos, o Galego Manga Rosa , filho do ex-prefeito Pedro Rodrigues da Conceição .reconhece que " foi o Sigismundo que me colocou na vaquejada. Ele comprou um cavalo e ficamos passeando por ai. Eu tinha pouco mais de 13 anos , ai meu pai não quis pagar o cavalo, e assim começou. A nossa vaquejada foi a primeira da Bahia .Comecei a correr com 15 anos, e aos 20 anos já ganhei prêmios. Ganhei em 2003 em  dos Palmares, Pernambuco, e com Celso Vitório ganhamos um carro e duas motos , ele mora em Alagoas. Quando Sigismundo Macêdo  morreu a vaquejada ficou seis anos sem ser realizada. Ai em 1983 retomamos a vaquejada e reformamos  o Parque da Vaquejada, que já rodou os quatro cantos deste complexo esportivo, até que o Ricardo Maia resolveu transferir de local "
"Na época resolvemos colocar o nome de Sigismundo Macêdo no Parque da Vaquejdada em homenagem pelo que tinha feito. O melhor vaqueiro que conheci era João Batista, de Campina Grande.Lembro que seu Argemiro tinha amizades em Pernambuco e trouxe muitos vaqueiros de fora. Ele não participava da organização . Ele trazia os vaqueiros importantes para prestigiar a vaquejada.Numa dessas vaquejadas ele trouxe um neto de Edmundo e tinha cinco prêmios a serem disputados, e ele ganhou quatro. Fiz vaquejada 20 anos seguidos. Quando parei foi que a Vaquejada de Serrinha passou a de Ribeira do Pombal .  
Na primeira foto vemos Zé Roberto jovem com o pai.
Abaixo foto atual, e ao lado, seu pai Argemiro montado
.
O José Roberto Gonçalves de Souza , de 57 anos, que reside atualmente em Teixeira de Freitas,na Bahia .  é filho de Argemiro Gonçalves , conhecido por Argemiro dos Buracos ( povoado de Cícero Dantas ), que era natural de Cícero Dantas, Bahia. Zé Roberto  foi o primeiro Vaqueiro Mais Novo que correu nas vaquejadas em Ribeira do Pombal. Tinha por volta de  10 anos e já servia de esteira .Na vaquejada, o vaqueiro secundário é chamado de bate-esteira ou esteira que ajuda o primário, chamado de puxador, a derrubar o boi na faixa. Sua função é passar o rabo do boi para o puxador e manter o boi entre ele e o vaqueiro primário.

 Ele participou da primeira vaquejada em 1961 . Lamenta que a vaquejada esteja parada em Ribeira do Pombal . Meu pai participou muito das vaquejadas e ajudou  a desenvolver. Ele era fã de vaquejada e levou  muitos vaqueiros pernambucanos para correr em Ribeira do Pombal. Meu pai andava muito em Pernambuco porque comprava burros aqui na Bahia e ia vender para os proprietários de fazendas de cana-de-açúcar no estado vizinho porque os tratores na época tinham dificuldade de andar nas terras mais altas, montanhosas, e os burros é que carregavam a cana cortada. Daí ele fez muitas amizades e trouxe vaqueiros e até donos de fazendas. Muitas vezes em nossa casa ficavam mais de 20 pessoas hospedadas. "

Continua José Roberto "lembro que corri várias vaquejadas e numa realizada em Ihambupe, Bahia, ganhei em primeiro lugar como o Vaqueiro Mais Jovem. Disputei com um garoto de Serrinha que também tinha 10 anos, mais eu era poucos dias mais novo do que ele. Foi a primeira taça que ganhei na minha vida. Corri em Sergipe e em outros estados . Em Tobias Barreto, Sergipe,  ganhei juntamente com Haroldo Goes o primeiro lugar e  rachamos o prêmio. Também, corri sendo o Vaqueiro e o Galego Manga Rosa  o esteira. Aqui em Teixeira de Freitas e região ainda corri. Tive que  parar, e passei a me dedicar ao comércio. "

NR - Como sempre  venho agradecer a Hamilton Rodrigues este parceiro de todas as horas, e também a Semires Macedo, a Mirinha, que muito nos ajudou a coletar material sobre seu pai. Continuamos na nossa busca constante por novos personagens e agradecemos a todos que estão cooperando para registrarmos a históra política,ecnômica e social de nossa Cidade