Objetivo


quinta-feira, 30 de setembro de 2021

O CARISMA E O PODER DE LIDERANÇA DE FERREIRA BRITO

Ferreira se realizava no meio do povo.
Para falar de José  Domingues Brito e Silva , o Ferreira Brito, é preciso contextualizar o tempo em que viveu para compreender o poder que ele tinha sobre a Cidade de Ribeira do Pombal e nas  pessoas que aqui viviam. Nada aqui era feito sem sua anuência  porque era o "coronel" que mandava no Executivo, Legislativo, e também no Judiciário . O juiz, promotor e delegado para serem designados  necessitavam ter o seu aval. Era uma figura carismática, alto, corpulento, cabeça grande, tinha  um riso largo que lhe conquistava em poucos minutos,  se vestia muito bem, na maioria das vezes ostentando um blaser, um paletó sem ou com gravata. Quando ia a  uma reunião durante a noite de quando em vez ostentava no pescoço um exuberante cachecol, que lhe dava mais elegância e nobreza.  Mesmo quando não estava exercendo o mandato de prefeito  era o articulador para escolher o   novo mandatário da Cidade. Algumas vezes até o mandato de quatro anos era dividido por dois candidatos indicados por ele e cada um governava  dois anos, visando conciliar seus seguidores. Portanto, as comemorações do seu centenário de nascimento são mais do que justas pelo legado que  deixou no desenvolvimento e na vida política e social da Cidade. 
Durante um comício Ferreira no meio dos eleitores.
 É claro que no mundo da política não se navega o tempo inteiro em águas calmas. É sabido que  àquele indicado ao vencer as eleições muitas vezes  procura se desvencilhar do mando de quem foi o responsável por sua vitória. Assim, algumas rusgas e desentendimentos ocorriam de quando em vez e Ferreira Brito com sua habilidade política , quase sempre contornava a situação.Um exemplo desta habilidade foi vivida  pelo atual vereador Marcelo Brito. Certo dia trabalhava na EmaterBa e tinha que fazer um curso de vaqueiro . Nesta época houve um rompimento entre o então prefeito dr. Décio de Santana  e Ferreira Brito ,  e Marcelo acompanhou dr. Décio. O curso foi   ministrado  na fazenda Baixão, de propriedade de Ferreira Brito. Aí o funcionário de nome Zeca que trabalhava na Fazenda Baixão  negou o acesso de Marcelo.  Diante da negativa  decidiu ir  até  a fazenda Marcação , também de Ferreira,  e o encontrou  sentado num banco na frente da casa. "Quando cheguei ele foi logo perguntando: "Cadê meu xará?",  que é meu irmão caçula, o  José Domingues. Minha mãe escolheu este nome em sua homenagem . Quando expliquei  o que fui fazer ali a sua atitude foi a seguinte :"Djalma, pegue um papel e uma caneta faça um bilhete pra Zeca  liberando a fazenda para o meu primo".
Nos dias de hoje soa estranho dizer devido às mudanças de comportamento da sociedade brasileira impostas pelo politicamente correto  por este esquerdismo doentio. Mas, ele tinha um jeito próprio de conquistar as pessoas com pequenos gestos como um abraço afetuoso ou um aperto de mão caloroso. Sua casa no Centro da Cidade  ficava aberta  até tarde da noite, quando a luz dava sinal que iria apagar, com muita gente prosando sobre os acontecimentos do dia na Cidade e  assuntos políticos da Bahia e do país. Depois que a luz passou a ser fornecida pela  Chesf , com a construção da Barragem de Paulo Afonso, as conversas passaram a se estender até mais tarde. De vez em quando d. Maria Raimunda servia um cafezinho aos presentes. 
Outra curiosidade sobre Ferreira Brito é quando  vinha para Salvador tratar de algum assunto político ou pessoal sempre dizia : "Vou pra Bahia", e mesmo naquela época de estrada de terra , porque a BR -110 só foi asfaltada no Governo Lomanto Junior, ele se vestia de paletó e gravata. 
Reunião de prefeitos vemos Ferreira com Prisco Viana.
Marcelo Brito conversando com América Passos  (filha de d. Carmita, sua segunda esposa),  sobre a elegância de Ferreira Brito ela contou  que certo dia ao perceber  que ele iria para Salvador todo pronto de paletó e gravata ela disse: "Seu Ferreira, não precisa ir assim todo arrumado, a viagem é longa", no que ele teria respondido: "Minha filha, um nordestino, um  tabaréu igual a mim tem que andar arrumado parecendo um Ministro pra chamar atenção".
Ao examinar algumas fotos me deparei com esta ao lado onde estão reunidos dezenas de prefeitos, e Ferreira Brito  está logo sentado na primeira fila na frente da Mesa que ia dirigir os trabalhos ao lado do então deputado federal  Prisco Vianna, já falecido. Ele se impunha como um verdadeiro líder. 
 
Renato, filho de Ferreira , Celeste sua
esposa e as filhas. Da direita para
 esquerda Evência, Fabrícia e Clarissa.
Era um homem que nasceu para liderar,  e sua influência chegou a se estender pelas cidades vizinhas. Seria facilmente eleito deputado federal, mas preferiu ficar em Ribeira do Pombal. 
Nasceu  em Ribeira do Pombal em 2 de junho de 1915, sendo o sexto filho de uma prole de doze. Seus pais eram José Domingues da Silva Neto, sergipano da cidade de Estância, e Maria Ferreira de Brito Rabelo ( d. Iaiá). Casou com sua prima Evência de Oliveira Brito ( d. Sinhazinha ) e tem um filho o veterinário José Renato Brito e Silva , que seguiu uma breve carreira política sendo vereador e depois prefeito de Ribeira do Pombal. Teve um segundo casamento  com Maria do Carmo Miranda Passos (d. Carmita).
Tinha apenas uma escolaridade básica  e iniciou sua vida profissional como tropeiro de um armazem de secos e molhados. Tropeiro era o condutor de uma tropa de burros que transportava cargas as mais diversas. No caso dele transportava alimentos .  Em seguida abriu uma loja de tecidos em Ribeira do Amparo. Veio morar em Ribeira do Pombal no ano de 1933 e aqui expandiu suas atividades comerciais  em sociedade com outros comerciantes, e em seguida  fundou a Junta Comercial da Cidade. Foi também durante duas décadas representante da General Motors  com sua loja União Nordestina para os estados de Bahia e Sergipe, além de ter sido gerente de uma agência avançada do Banco do Nordeste, que depois foi fechada. Esta agência  ficava próxima à sua casa e  vizinha da loja "A Exposição", do casal Pedro Souza  e d. Enedina.
Ferreira Brito e Sinhazinha.
 É bom registrar que este magazine era uma espécie de Lojas Americanas daquela época. O casal trazia as novidades da Capital e durante as datas festivas como Natal enfeitava a loja com luzes coloridas e outros enfeites . Lembro que foi a primeira vez que vi carrinhos feitos de madeira para a criançada, pois antes brincávamos fazendo carrinhos de latas de sardinhas ou de óleo. Também, vendia velocipédes,bicicletas Monark , tudo era novidade!
No ano de 1936 foi vereador e membro do Conselho Municipal. Nesta época o país vivia um clima político agitado com vários partidos políticos, até  o chamado Estado Novo liderado por Getúlio Vargas. Chegou a ser convidado para assumir o cargo de Interventor -  uma espécie de prefeito nomeado - pelo então Interventor (Governador)  da Bahia,  Antônio Garcia de Medeiros Neto, mas ele declinou do convite. 
                                  COMEÇA NA POLÍTICA 
Em  1947   decidiu entrar definitivamente para a política e  sua liderança  se fez presente em Ribeira do Pombal e no seu entorno. Seu primeiro mandato de prefeito foi de 1947-1950 quando iniciou o ordenamento da Cidade, abrindo ruas e avenida largas, doando os terrenos para que as pessoas construissem suas residências e lojas com o objetivo de impulsionar o desenvolvimento . 
Ferreira Brito e Carmita ao centro  com os filhos dela .
 Da esquerda para direita:Joaquim,Antônio, Américo,
Venâncio (falecido),Oldegar, América, Maria José,
Graça , Rita e Bernadete.
Reeleito de 1954-1957  sua obra de destaque foi a substituição do abastecimento de água que era feito através de dois poços artesianos. Um tinha a forma retangular e outro circular, onde as pessoas  levavam  latas e baldes  presos a uma corda  e lançavam esses vasilhames  dentro dos poços para pegar a água  e encher os barris de madeira, que eram conduzidos em lombos de burros e jumentos. Eram quatro barris por cada viagem. Algumas pessoas tinham esta atividade de pegar água e vender  como profissão, e eram chamados de aguadeiros. Ao redor dos poços ficavam mulheres lavando roupas e as estendiam na grama . Esses poços se localizavam  nas imediações onde hoje tem o sistema de captação da Embasa. Muitos da minha geração quando cometiam  estripulias recebiam como castigo dar algumas viagens para buscar água. A dificuldade era colocar os barris em cima dos animais e depois tirar quando chegava em casa. Portanto, foi Ferreira Brito quem mandou canalizar a água, além de beneficiar vários povoados com pequenas obras de infraestrutura. 
Foi novamente eleito prefeito de 1962-1965  quando construiu a Praça dos Esportes e o Ginásio Evência Brito ; iniciou a  construção do Mercado Municipal e reformou a Cadeia Pública ( Quartel) e  a Delegacia. 
Seu quarto e último mandato de prefeito foi 1972-1976  quando criou a Escola Mobral com o objetivo de diminuir o analfabetismo de adultos, e também a Escola Agrotécnica  projetada e equipada  para ser uma escola modelo no interior da Bahia, durante o Governo do professor Roberto Santos, recentemente falecido. 
                                                                    BEM RELACIONADO 
Ferreira com Juscelino, em Brasília;com Luiz Viana
e Roberto Santos 
ejunto a  Antônio Carlos Magalhães.
Ele tinha um amplo relacionamento político graças ao seu cunhado Oliveira Brito, que foi Ministro da Educação e Cultura e da Justiça, no Governo de João Goulart , e deputado federal por várias legislaturas, o qual tinha  ampla influência na política nacional. Aqui na Bahia contava ainda com o apoio de seu irmão  Antônio Brito e Silva , que foi deputado estadual  por muitas legislaturas.  Foi amigo dos governadores Lomanto Junior, Luiz Viana Filho, Antonio Carlos Magalhães , Roberto Santos.
Mesmo sem um mandato eletivo desde ano 1982   sua influência política continuou, e assim trouxe vários benefícios para Ribeira do Pombal como as agências do Baneb, Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil e Telebahia. Neste ano disputou novamente a Prefeitura , tendo seu filho José Renato Brito e Silva como candidato a vice. Foram  derrotados por Pedro Rodrigues  e o vice Nilson Brito. Através um acordo político cada um governou a Cidade por um período. 
Esta derrota do grande líder Ferreira Brito mostra que o poder vai se desgastando com o tempo,e isto ocorre porque quem governa sempre desagrada a alguém. Você pode atender os pedidos durante anos, se um dia por alguma razão não atender perde aquele apoio.Também, durante a caminhada muitos dos companheiros e amigos vão morrendo, e com a chegada das novas gerações esta liderança perde a força  .
Esta derrota foi precedida de uma debandada de vários políticos locais, que por alguma razão se aliaram contra ele. A maioria hoje está fora da política. Ele não queria ser candidato. Tentou formar uma chapa para concorrer,  mas não conseguiu nomes de expressividade para enfrentar Pedro Rodrigues  e seu vice  Nilson Brito. Foi feita uma reunião na Fazenda Salgadinho, de Reynaldo Jacobina Brito ( meu pai), com as presenças de Oliveira Brito, Ferreira Brito e outros poucos políticos que permaneceram fiéis. Oliveira Brito declinou dizendo que não tinha condições de vir morar aqui e de ser o candidato. Foi ai que  ele partiu para o sacrifício e se candidatou tendo seu filho José Renato como vice. Foram derrotados. 
Lembra João César que " mesmo assim Ferreira Brito continuou a visitar os líderes dos povoados que o apoiavam . Saía de  noite para não chamar atenção. O motorista Odilon Rodrigues Rocha ( Dilon) me pegava e íamos no Barrocão para casa de João Pèreira dos Santos (João Caboclo); na Boca da Mata  visitava Sisgimundo Souza Macedo e Lúcio Celestino de Santana (seu Lúcio) ; na Mirandela  na casa de Maria Miranda Macedo (d. Tidinha) , dentre outros" .
Sua primeira esposa Evência Brito e Silva (Sinhazinha)  morreu em 13 de maio de  1969 . Depois  em 1972 ele casou com Maria do Carmo Miranda Passos, que tinha dez filhos a saber Joaquim,Antônio, Américo,Venâncio (falecido),Oldegar, América, Maria José ,Graça, Rita e Bernadete. A segunda esposa  veio a falecer  em 9 de fevereiro de 1984. No dia 23 de junho de 1985 sofre um infarto que o levou a morte. Seu sepultamento foi acompanhado por milhares de pessoas, sendo sepultado no Cemitério de Ribeira do Pombal.
                                             
                                                 OPOSIÇÃO  DO CUNHADO

Teve durante quatro décadas como adversário político o cunhado Paulo Cardoso de Oliveira  Brito, seu Cardoso, que era um seguidor do então interventor da Bahia,  Governador e depois  Chanceler, o general  Juraci Magalhães . Na medida que Cardoso foi envelhecendo seu filho Nilson Brito assumiu a oposição, terminando sendo eleito vice-prefeito em 1982 .
Nilson Brito continua na política.
Nilson Brito continua na política e em 1988  se candidata e vence o médico Dr. Nelson Gonçalves Cardoso e Edval Calazans de Macedo, seu Divá. Em 2000 se candidatou novamente agora  contra Edvaldo Cardoso Calazans , o Dadá ( filho de Edval) , e perdeu a eleição. Moveu uma ação contra o Dadá através a Câmara Municipal que o cassou, mas  a Justiça devolveu o mandato a Dadá. Aí já está a Bahia sob o comando dos partidos  de esquerda.
Muita gente em Ribeira do Pombal não sabe, principalmente as novas gerações,  porque o Paulo Cardoso, permaneceu sendo oposição ao seu irmão Oliveira Brito e ao cunhado Ferreira Brito por várias décadas. Os partidários de Cardoso eram chamados de Boca Preta e os de Ferreira Brito de Boca Branca. Lembro que era uma oposição ferrenha e as famílias não se davam. Num determinado ano, que ainda não consegui apurar, houve um comício em Banzaê que terminou em tiroteio entre eles , e até meu pai, que era um pouco avesso à política , estava lá e se envolveu nesta disputa. Procurei saber de Nilson Brito o que realmente ocorreu para o pai dele sustentar esta oposição por tanto tempo. 
Coronel Britto com as filhas Pureza, Evência, Marocas
 e Zelita
.
Nilson me disse que  seu pai Paulo Cardoso, Oliveira Brito e Pureza Brito Costa  são realmente irmãos, filhos do primeiro casamento de Antônio Ferreira de Brito , o  coronel  Brito, que era casado com  Evência (Yayá) , natural da Cidade sergipana  de Riachão dos Dantas. Com a morte dela  casou com a irmã da falecida de nome Ana de Oliveira Brito e teve   Emanuel Oliveira Brito (Elzito) , Adelino de Oliveira Brito (Britinho), Evência de Oliveira e Silva ( Sinhazinha ) , Maria Guadalupe Brito Maia ( Marocas)  e Josefa Brito Maia (Zelita). O velho Brito era o proprietário do belo sobrado em estilo colonial ,que infelizmente foi demolido em 1977 para dar lugar a agência do Banco do Brasil. Depois da igreja matriz de Santa Teresa era o prédio mais antigo da Cidade. 
Disse ainda Nilson Brito que seu pai Paulo Cardoso e Oliveira Brito faziam  Direito . Meu pai queria seguir a carreira militar. Ai seu avô o coronel  Brito ,  levou Cardoso para Ribeira do Pombal em 1928 para ser Intendente , e não voltou mais a estudar . Em 1944 a 1945 era Indentente.
Vieram as eleições, e para Ferreira Brito ser candidato era necessário que  Cardoso renunciasse seis meses antes. Fizeram um  acordo e seu pai  renunciou .Coube Joaquim Gama,  tio de América Gama , esposa de  Cardoso, assumir a Intendência, que era uma espécie de prefeito nomeado. 
Cardoso era da UDN , enquanto Oliveira Brito e Ferreira Brito  se uniram ao PSD, do coronel  João Sá e ao  PRP, que vem a ser o partido de Plínio Salgado,  integralista, os chamados camisas verdes. Cardoso era adversário dos integralistas e aí começou o desentendimento entre eles. Haviam na época os  partidos UDN,PRP,PSD e PTB. Os Brito eram ligados aos Pinto Dantas, de Itapicuru (UDN) e João Sá, de Jeremoabo (PSD) era o adversário.No decorrer dos anos Oliveira Brito foi por várias legislaturas deputado federal pelo PSD. Esta é a versão que Nilson Brito conhece,mas pode  ter havido outros motivos para esta desavença. Deixo ai para os futuros historiadores desvendar.

                                                       DEPOIMENTOS
José Renato Brito
Tenho feito estas crônicas sobre personagens que marcaram a história de Ribeira do Pombal, e na medida do possível trazendo alguns depoimentos de pessoas que têm algum parentesco ou que mantiveram relação de amizade ou trabalho com os personagens.
Para Josè Renato Brito e Silva, filho de Ferreira Brito,   "dentre as pessoas importantes da minha vida, meus pais, sem dúvida foram as minhas maiores referências de amor e caráter. Meu pai, Ferreira Brito, em especial, me ensinou na prática cotidiana os valores da moral e da integridade como premissas fundamentais para a formação de qualquer jovem adolescente, e que carrego por toda a vida. 
Além de uma conduta irreparável, meu pai ainda tinha uma sabedoria nata e um carisma inigualável, que o fizeram um homem público admirado e respeitado por todos. Na fé, era devoto de Santa Tereza, nossa padroeira. Na carreira política, foi transparente e fiel aos propósitos e ao bem do nosso povo. Como amigo, foi querido e leal a todos que tiveram o privilégio de com ele conviver. Ribeira do Pombal teve a sorte de ter um cidadão e um líder como Ferreira Brito. Eu, além de tudo, tive a felicidade de tê-lo como pai".
D. Maria Raimunda 
A sergipana de Estância, d. Maria Raimunda dos Santos trabalhou  com ele algumas décadas. Veio paraRibeira do Pombal ainda menina para a casa de uma família onde ficou pouco tempo. Depois foi morar  na casa de Ferreira Brito."Tinha cerca de uns onze anos, foram muitos anos e depois da morte de madrinha  Sinhazinha   fiquei comandando a casa. Passamos  a comer de pensão , mas as comidas estavam fazendo mal a padrinho Ferreira. Mudamos para receber comida de outro hotel. O problema continuou ai eu disse:padrinho vou preparar a nossa comida. "
Na realidade d. Raimunda nunca foi batizada por Ferreira Brito que   a chamava de "minha menina", e  quando se zangava, dizia  fale ai com d. Raimunda. "Ai passei a cozinhar um bifinho grelhado, carne de sol etc. Ele era um homem muito simples . Não era  exigente. Não podia comer tudo. Tinha algumas restrições por problemas de saúde.  Logo que acordava, por volta das oito horas mandava  abrir todas as portas e janelas, até o portão dos fundos. Logo depois começava a chegar os amigos ,compadres e pessoas do povo."
 
Joaquim de M. Passos 
O filho de Carmita Passos , sua segunda esposa, Joaquim de Miranda Passos lembra que sua mãe e Ferreira Brito " se conheceram no final dos anos 60 e se casaram em 1972. Fui morar com eles em Ribeira do Pombal, onde passei parte da infância e adolescência. Tenho lembranças da sua dedicação à Cidade e aos pombalenses . Logo que acordava, se barbeava, e  após tomar o seu café da manhã, as portas e janelas da casa eram abertas . Isto acontecia de domingo a domingo. A casa fica na Avenida Evência Brito, 94. Por estar no centro da Cidade tinha acesso fácil das pessoas, que o procuravam com todo tipo de demanda: a mãe precisava de um medicamento ou material escolar do filho; vizinhos  que se desentendiam e pediam sua intermediação;outro que queria migrar para São Paulo e precisava de uma passagem de ônibus,dentre outras demandas."
Diz Joaquim o que lhe impressionava "era ver aquele homem com a saúde debilitada , por conta do diabetes e problema cardíaco, enfrentar aquela maratona diária das 8 horas até as 21 ou até 22 horas, sempre com alegria . Acho que era isto que o mantinha vivo.Quando casou com minha mãe, que já tinha  dez filhos,  muitos pensaram que  estava louco. Mas,  nada disto. Minha mãe foi sua companheira que esteve ao seu lado todos os momentos desde que se conheceram. Cuidava dos medicamentos, da alimentação, da sua agenda política e até ajudava  a redigir os discursos."
Antônio Cledes  sente  muita falta. 

Outro que conviveu de perto com Ferreira Brito foi  Antônio Cledes  Valadares Macedo  , que chegou em Ribeira do Pombal em 1962 com seu pai Sizimundo Souza Macedo , e passaram a acompanha-lo. Quando seu pai morreu Antônio foi chamado por Ferreira Brito que o fez o terceiro vereador mais votado na legislatura de 1976 a 1983, porque teve dois anos de prorrogação dos mandatos. "Ele foi o maior político da região em sua época. Éramos muito amigos. Ferreira Brito foi um dos construtores de Ribeira do Pombal, e seu cunhado Oliveira Brito o ajudava muito através de verbas para fazer obras.  Se ele tivesse estudado teria ido muito longe. Era muito inteligente. Sinto  falta do homem e do amigo. Até hoje  faz falta a muita gente."
 O professor João César Matos , conhecido por João Cesar, lembra que ao chegar com seu pai em 1962 se aproximaram de Ferreira Brito. Logo depois ele adquiriu o primeiro aparelho de televisão de  Ribeira do Pombal . Daí em diante acompenhei toda a política porque eu era o locutor oficial, e o motorista era o  Dilon. Ele foi o maior político de toda esta região . Um dia perguntei por que o senhor faz as construções tão longe do Centro da Cidade? Ele me respondeu: " é porque Ribeira do Pombal vai crescer muito, pode ter certeza". Quando construiu o Colégio Industrial Evência Brito ficava distante do Centro. Ele enxergava longe . Após a construção do Colégio  trouxe  de fora pessoas para dirigir o estabelecimento  e outros profissionais para ministrar as aulas, contribuindo no desenvolvimento social da Cidade. Os alunos que sairam do Ginásio Evência Brito muitos tiveram sucesso profissional. Um irmão José  Cesar Matos  foi até Diretor da Petrobras.  Ele também justificou a construção das agências dos bancos no Centro da Cidade dizendo que era para o pessoal vinha da roça ter  acesso mais fácil  aos bancos.  
João César  guarda suas lembranças com zelo. 
Sobre o Colégio Agrícola lembrou  que  foram construídos na Bahia 16 colégios agrícolas, com dinheiro doado pela Alemanha. Era o ensino profissionalizante chegando à Cidade. Lembro dele sentado com o prefeito Edval Calazans e o governador Roberto Santos . Este colégio ia ser construído em Paulo Afonso. Quando o governador  Roberto Santos revelou dizendo :"Ferreira tenho uma novidade para você. Estamos trazendo um colégio agrícola para sua região que será construído em  Paulo Afonso". Ai ele reagiu imediatamente: "O senhor vai construir um colégio que vai servir ao estado de  Pernambuco, que está a 500 metros, basta atravessar a ponte? "Aí começaram a conversar, e o colégio terminou sendo construido aqui .
 Logo depois de iniciar a construção teve  um concurso para escolha dos professores para ensinar no Colégio.  Foram escolhidos 80 professores de todo o Estado da Bahia  para ensinar nos 16 colégios agrícolas. Daqui só passaram três professores :Eu, Maria de Lourdes Rabelo (Lourdinha) e Vilma Reis, os demais  vieram de várias cidades.Fizemos um curso de pós-graduação de três anos, tudo pago pelo Governo alemão."
Outro fato que mostra a habilidade de Ferreira Brito foi quando da realização aqui de uma grande esposição agropecuária  . Nesta  exposição  foram vendidos muitos  animais, e na hora de concretizar os negócios faltou financiamento porque os gerentes dos bancos  do Brasil  e do Nordeste se recusaram a financiar. Fomos a ele, que telefonou imediatamente para deputado federal Prisco Viana, e no dia seguinte os animais foram financiados, como também tratores e até caminhões. "
Continuia João César com seu depoimento:"Era um homem educado. Se algum amigo  passasse uma semana sem aparecer ele mandava buscar. Eu era locutor e sempre nos  recomendava  não ofender , nem xingar ou falar mal de  ninguém. Ele me dizia: "Política passa, e o  inimigo de hoje pode ser o amigo de amanhã. Temos que pensar nisto". Lembro ainda que quando surgiu o Funrural trabalhamos muito para trazer as pessoas da zona rural para se aposentar." 
Durante as construções dos prédios públicos ele sempre chamava os melhores mestres de obras da Cidade que eram  Antônio Alves dos Santos (Antônio de Mundinho) e João Irênio de Santana . Veja que até hoje estas construções estão aí firmes, porque eram bem construidas, muito diferentes das de hoje que quase todos os anos precisam de reformas"Outra coisa, " a  igreja daqui tem uma arquitetura moderna, e é inspirada numa de Brasília . Foi através de Oliveira Brito, que conseguiu uma planta arquitetônica elaborada pela equipe de  Oscar Niemeyer.  Ele tinha uma visão de futuro". 
Para finalizar, publico parte de um depoimento feito na ocasião do Centenário do seu nascimento por sua neta Clarissa, filha de José Renato Brito Silva. Ela escreveu:"Achei que seria bom escrever algo para ser dito neste dia, já que não poderia estar aí para colocar as palavras em presença. Não tem problema - acredito na máxima que diz que "para estar perto, não precisa estar junto", e é assim que me sinto neste momento: perto. Hoje, estamos nos sentindo muito felizes e acalentados de uma data tão importante para nossa família, o aniversário daquele que não abandonou nossas memórias, mesmo após tanto tempo... Essa homenagem é apenas a confirmação do nosso sentimento e de todos aqueles que reconhecem , até hoje o valor de seu legado"...
NR- Agradeço a Aguinado Brito, Marcelo Brito , ao Osvaldo Rocha ( Secretário de Cultura ) , e a todas as pessoas que contribuiram para a publicação desta crônica, especialmente a Hamilton Rodrigues, este incansável colaborador.











quarta-feira, 22 de setembro de 2021

DR DÉCIO DE SANTANA DEDICOU 40 ANOS A SALVAR VIDAS

Vemos uma ilustração de Dr. Décio de Santana  em sua
chácara, que tanto gostava.
Dois anos depois de formado em medicina Décio de Santana veio residir em Ribeira do Pombal no ano de 1947. A Cidade tinha menos de dois mil habitantes e era carente de tudo. Na época meu pai acabara de construir uma nova casa, na então Rua da  Santa Cruz,  hoje Avenida Evência Brito, número 281, onde passamos a viver , e que se encontra até hoje ocupada por minha irmã Indaiá  Brito. 
Logo que mudamos coincidiu com a chegada de dr. Décio, e meu pai cedeu a antiga casa de número 404, onde passou a residir e clinicar. 
Um ano depois casou-se com Maria Perpétua Socorro Jacobina de Brito,  (Santinha) , com quem teve duas filhas Lícia Maria e Delcy,ambas falecidas. De outro relacionamento nasceu José Wilson Santana , que reside em Salvador. Já o quarto filho levou o nome do pai Décio de Santana  e sua mãe Josefina Freire, residem em Maceió. Tentamos pegar um depoimento deles, mas não responderam até agora aos telefonemas. 
Dr. Décio com suas filhas Lícia Maria e Delcy.
 Concluiu seu curso de Medicina  em dezembro de 1945 pela Faculdade de Medicina da Bahia, ainda não existia a Universidade Federal da Bahia, que foi criada em 8 de abril de 1946. Foi nomeado médico da Penintenciária Lemos de Brito, pelo então Secretário de Segurança Pública do Estado da Bahia, o pombalense dr. Antônio de Oliveira Britto. Vindo dois anos depois  residir em Ribeira do Pombal. 

Nos anos 50 se alastrou por todo país uma doença na época era de difícil cura que é  a tuberculose . Esta doença já vinha vitimando muita gente desde os final do século XVIII até meados do século XX , e mata até hoje. Em Ribeira do Pombal morreu muita gente de tuberculose o que levou o município a patrocinar sua viagem ao Rio de Janeiro, que era a Capital da República, e só foi perder esta condição em 1960, com a inauguraçãio de Brasília. Lá  permaneceu por seis meses se especializando em Tisiologia, que é um ramo da medicina que estuda a tuberculose. Quando retornou iniciou seu trabalho de combate à tuberculose, e assim salvou muitos pombalenses e pessoas residentes no entorno livrando-as desta terrível doença. 

Ernesto Santana, seu neto, que hoje reside na chácara.
Era um cidadão consciente e atuante participando de cerimônias cívicas , religiosas e políticas com muita competência. As pessoas já ficavam aguardando a fala de dr. Décio de Santana, que sempre tinha alguma experiência, um ensinamento para expor com clareza e sabedoria.  Sempre que vinha de férias uma das primeiras pessoas que ia procurar era dr. Décio para dar um abraço e mostrar minha gratidão pelo que ele representava para minha família e para a nossa Cidade.

Exerceu os mandatos de vereador de 1963 a 1970,tendo sido no último mandato Presidente da Câmara.Foi eleito prefeito e governou apenas  de 1971 a 1972,em decorrência de um acordo político. Neste pouco tempo que esteve à frente da Prefeitura focou nos setores da Educação e Saúde . Na Educação criou a Escola Normal para formação de professoras, fundou a Biblioteca Pública,que recebeu o seu nome; criou a Filarmônica XV de Outubro; distribuiu bolsas  para estudantes que frequentavam  faculdades em Salvador, e promoveu a distribuição de merenda escolar. Na Saúde  instalou 1270 metros de rede de esgoto na séde do município; criou a Comissão de Saúde Municipal para promover o levantamento de portadores de tuberculose ,e posterior encaminhamento para tratamento no Hospital Ramiro de Azevedo ,em Salvador. Canalizou a água no então distrito de Banzaê, hoje, município emancipado. 

Ao deixar a Prefeitura continuou a clinicar, e seus atendimentos se estendiam às pessoas que vinham das  cidades vizinhas de Tucano,Cipó, Cícero Dantas e até Caldas do Jorro, para onde foi transferido. Residia na Rua João Ferreira de Brito , número 104, clinicava ao lado na sua residência que dá para a Rua Nossa Senhora da Saúde

A casa de Dr. Décio e embaixo a clínica onde
abrandou  dores e salvou muita gente.
Como membro fundador do Lyons Clube deu início nos anos 80 a uma nova campanha de combate a tuberculose,dando assistência médica e social às pessoas e seus familiares acometidos pela doença. Após um assalto que sofreu em sua chácara nas margens da Br-110, próximo a Cidade,  ficou com a saúde abalada, principalmente devido a violência dos assaltantes . Contam que ele  teria reconhecido um dos  criminosos. Corre uma versão, que este bandido teria sido salvo por dr. Décio de Santana durante o trabalho de parto de sua mãe. Morreu em 1985 de um enfarte fulminante durante um procedumento de parto em seu consultório .
Foram 40  anos de dedicação a curar as pessoas, sendo que 38 anos em Ribeira do Pombal.Tinha  uma paciência que deixava a gente curioso de onde ele tirava aquele seu jeito calmo, inclusive de enfrentar uma situação de doença grave que acabara de chegar ao seu consultório.

Hoje, quem reside na chácara é seu neto Ernesto Santana que é filho de Delcy, inclusive acabou de nascer sua filhinha , que vem a ser a mais nova  bisneta de dr. Décio e chama-se Maria Eva Góis Santana Santos. Já   Milena Brito Santana Santos, também filha de Delcy, está  residindo no imóvel onde funcionava a clínica. Lícia teve dois filhos Rogério e Rafael  Santana.Após sua morte  em 2004 por indicação de sua colega dra. Maria Walquíria Moreira Nunes ele é o patrono de uma das cadeiras da Academia de Letras do Município de Tucano . 

Tony Alfredo
Em 2005 a Prefeitura de Ribeira do Pombal denominou o Posto de Saúde : Complexo Municipal de Saúde dr. Décio de Santana, ele que foi o primeiro médico residente no município,tendo prestado relevantes serviços aos pombalenses. Homenagens mais do que justas pelo que ele representou e representa. 
Deixou em cada pombalense que o conheceu, saudade e o reconhecimento pela sua dedicação de curar as pessoas . Foi homenageado com uma Rua com seu nome e também uma escola no Povoado de Curral Falso, e mais recentemente com a denominação do Centro de Cultura da Cidade  de Centro de Cultura Dr. Décio de Santana. 

Um depoimento simples, mas emocionante foi do ex-vereador , o senhor Antônio Alfredo Bittencourt, o Tony Alfredo, de 90 anos,que fez questão de escrever do próprio punho quando lembrou as dificuldades que dr. Décio enfrentava  para atender as pessoas, nas décadas de 50 a 70. Muitas vezes montava num cavalo percorrendo longas distâncias   até a fazenda onde uma senhora estava sofrendo  para fazer o trabalho parto ou mesmo quando ia atender  uma pessoa acometida de alguma outra doença, e não tinha como ser removida até sua clínica. Ele enfrentava sol e chuva e lá ia atender, sem a preocupação se seria ou não remunerado. O seu Alfredo lamenta que hoje "as coisas mudaram muito  e ninguém preencherá o seu lugar." 

Uma das pessoas que mais conviveu com dr. Décio Santana foi  Ângela Maria de Santana Linhares, hoje com  82 anos,  a Anjinha. Ela é natural  da cidade de Chorrochó, e ao chegar em Ribeira do Pombal no ano de 1961 foi trabalhar com ele . Anos depois devido ao trabalho intenso e sua fraca compleição física Anjinha  adoeceu  acometida de  tuberculose.  Foi ai que a então esposa do médico  Mária Perpétua ( Santinha)  interviu e  decidiram que   ela precisava descansar e se tratar. "Quando voltar você coloca outra pessoa para ajudá-la porque é muito trabalho" , disse d. Santinha para o dr. Décio. " Foi assim que passei três mêses me tratando e nada me faltou. Quando terminou o tratamento voltei e continuei o trabalho até quando ele faleceu. Foram mais de 24 anos de trabalho diário".

Anjinha hoje, e quando jovem segurando uma criança que
dr. Décio fez o parto, e o Mário Véio cozinhando .

 Anjinha relembra que o médico  atendia gratuitamente uma vez por semana, das 7 às 10 horas da manhã. Depois íamos  para o Posto de Saúde onde continuava o seu atendimento, e eu como auxiliar de enfermagem. 

"Dr. Décio  me ensinou a atender numa  emergência , se ele pór acaso não estivesse na clínica,  e uma  mulher chegasse em serviço de parto. Cansei de fazer  parto na sua ausência, e quando ele chegava finalizava o procedimento . Também, na sua clínica fazía pequenas e até grandes cirurgias  como por exemplo, cirurgia de garganta e parto cesariano. O que mais me surpreendia é que se tivesse ou não dinheiro dr. Décio atendia do mesmo jeito, com a mesma dedicação. Foi um médico muito bom, atendia bem a pobreza." 

Já o Mário Cândido Linhares, o Mário Véio,  servia como  motorista de dr. Décio de Santana , depois que acabava o expediente da Câmara Municipal onde ele era funcionário. Também, é bom lembrar que o Mário era um exímio baterista  e que tocava na banda de Antônio Motor ( trompete)  , Lito  (saxofone) , Carlito (trombone de vara) e outros que animaram muitos bailes no Clube Social e  Recreativo de Ribeira do Pombal. Nesta convivência terminou casando com Anjinha , e assim o casal trabalhava com ele. Depois que  Mário Véio se aposentou da Câmara Municipal ai passou a ser motorista em tempo integral.  

NR- Os depoimentos e fotos foram feitos por Hamilton Rodrigues. Juntos estamos resgatando a História recente e os personagens que tiveram papel relevante na vida social e no crescimento de nossa Cidade. 






quarta-feira, 15 de setembro de 2021

WILSON DA FARMÁCIA, O "MÉDICO DOS POBRES "

Uma ilustração de Wilson por trás do balcão de
sua Farmácia São Luiz.
V
amos relembrar hoje a figura de Wilson da Farmácia. Quem é do interior sabe que muitas vezes a identificação de um morador  nem sempre é a verdadeira. Costumam chamar as pessoas acrescido do nome do pai, da mãe ou mesmo pela atividade que exercem. Pedro de Chico, Maria de Anfilófio, Zito de Abelardo,  Artur do Bar, e Wilson Brito  era conhecido por Wilson da Farmácia. 
Desde jovem sempre esteve ligado ao ramo farmacéutico daí Wilson incorporou o apelido de Wilson da Farmácia. Era um prático capaz de diagnosticar uma doença e prescrever o remédio adequado para combater àquele mal. Muitos anos de atividade por trás do balcão lhe deu um conhecimento amplo de várias doenças que acometiam as pessoas  . Ele era curioso , lia as bulas escritas com aquelas letrinhas miúdas, e acompanhava seus clientes com atenção e respeito. Na ausência de médico em Ribeira do Pombal fazia até alguns pequenos procedimentos, livrando muita gente de sofrimento de um tumor, uma unha encravada, um espinho no pé, aplicação de injeções ou de soro. 
 Enfim,Wilson da Farmácia sempre e estava disposto a ajudar as pessoas.Primeiro ouvia atentamente as queixas dos clientes e quando lhe pediam um remédio já sabia que aquela medicação fazia tal e tal efeito. Era batata! A pessoa melhorava e muitos voltavam para agradecer e até presentear com algum produto de sua roça e dar um filho para ele batizar em sinal de gratidão. Muita gente confiava mais no Wilson da Farmácia que no médico novo que acabava de chegar na Cidade. 
Uma prescrição (receita) de autoria de Wilson.Ele
escrevia em pedaços de folhas de caderno escolar.

Wilson da Farmácia.
Seu nome completo era Antônio Wilson Brito Almeida . Nasceu em 01 de janeiro de 1938 e faleceu em 6 de dezembro de 2010. Era filho de Júlio Guerra de Almeida e Marieta Brito Almeida. Foi casado a primeira vez com Desauri Dantas e tiveram três filhos Luiz ( médico),Júlio e João de Almeida . Anos depois casou com Antonieta Oliveira e teve mais quatro filhas Adelúcia,Adriana,Luciana e Luana Santos Almeida , dessas duas filhas e uma neta são farmacéuticas bioquímicas .
Ele trabalhou  na Farmácia que era de meu pai, depois foi  transferida para meu tio João Jacobina, o Joãzito, que vendeu a dr. Décio Santana. 
No início dos anos 80 Wilson começou a atender sua clientela, que fez durante os anos que trabalhou nesta primeira farmácia, na garagem da casa de sua mãe Marieta , na rua Major Francisco Calazans. Em 1985 abriu a Farmácia São Luiz na Rua José Calazans, número 47. Em seguida foi transferida para o imóvel de número 94, que pertencia a Salvador Costa, esposo de Josefa Jacobina ( tia Sinhá). Foi rebatizada  com o nome de Farmácia Pires, que vem ser o sobrenome de Josefina Pires Cardoso,  (Nenê), esposa de meu saudoso tio Milton Jacobina, que hoje tem uma pousada na Cidade. Finalmente, mudou de nome para Farmácia São Luiz e  na esquina da Praça Getúlio Vargas, imóvel pertencente a Renato Brito,onde funciona até hoje, com novo proprietário.

A Farmácia São Luiz na Praça Getúlio Vargas.

Quero aproveitar para esclarecer que quando me proponho a falar de algum personagem que conheci e convivi não se trata de uma biografia autorizada, apenas são impressões minhas, e de outras pessoas ouvidas, que tiveram alguma convivência. Não estamos falando de santos, estamos falando de homens e mulheres com suas qualidades e defeitos. Evidente, que estou relembrando e enaltecendo suas qualidades, mas não são puras ao ponto de não apontar um defeito sequer. Todos temos defeitos. 

Seria hipocrisia minha como jornalista esconder certos fatos. Por exemplo, no caso de Wilson da Farmácia, que era meu primo carnal, não posso deixar de registrar que ele teve um período difícil em sua vida envolvido com o alcoolismo, que quase o levou a falência, e sua família sofreu muito com isto. Felizmente,  superou e seguiu em frente. Os parentes e as pessoas que gostam dos personagens que escrevo devem ler sem hipocrisia e curtir por  lembrar com respeito de seus entes queridos. Não escrevo pela ordem de importância das pessoas. Escrevo pelas lembranças que fluem na minha mente, e pretendo escrever sobre pessoas simples e até sobre outras que exerceram atividades consideradas menos nobres, mas que marcaram com suas presenças  a História recente da Cidade. Minha escrita é livre , e sempre será, mesmo neste momento em que o Judiciário brasileiro se transformou em Censor.

Outro coisa, é bom que fique claro que  estou escrevendo estas crônicas  por prazer e amor a Ribeira do Pombal, e às pessoas que conheci e ainda conheço. Não recebo e nem receberia qualquer remuneração por isto. Neste momento luto em algumas frentes pela liberdade de expressão em nosso país. Não vou escrever sobre pessoas que não tenho alguma admiração e respeito. 

Amigo Osmar Barbosa.
Voltando ao personagem desta crônica o  morador de Ribeira do Pombal,  Osmar Barbosa da Silva, disse que chegou  em 1976 e logo depois conheceu Wilson da Farmácia. "Vi de primeira que  era uma pessoa muito prestativa. Sempre me acolheu com  amizade . Não era médico formado, mas fazia muito bem o papel de médico. Quando alguém não tinha dinheiro ele deixava levar o remédio. Não precisava comprar na farmácia dele. Atendia sempre . Dia de feira ( às sextas-feiras) a casa dele ficava  cheia de gente da roça. Suas "consultas" eram gratuitas e sempre feitas com todo zelo. "

Já o José Clodoaldo Rodrigues, filho de Nenéu do Barrocão, é  casado com Adriana uma das filhas de Wilson da Farmácia. Ele trabalhou diretamente com Wilson. "Em 1993 casei e fui trabalhar com ele na parte financeira e ajudar nos atendimentos aos clientes, que eram muitos na Farmácia São Luiz. Atendia de 80 até 100 pessoas por dia, gastava dois a três cadernos escolares de 200 folhas por semana.  Até hoje só vi uma pessoa  acabar caneta Bic de tanto escrever. Mais ninguém . 
O genro Clodoaldo Rodrigues.
Usava a caneta até a última gota. Pessoas com gripes fortes, pneumonia. e muitas outras doenças foram curadas por ele . Quando era um caso mais grave  mandava procurar um médico. E, muitas dessas pessoas retornavam  para mostrar a receita e perguntar se estava certo. Enquanto  atendia um, o outro estava do lado conversando. Wilson ficava numa mesa rodeado de pessoas. Quando chegava a vez desse que estava conversando mais perto enquanto ele estava atendendo  Wilson  já sabia o que ia passar. Se não tivesse dinheiro levava o remédio de qualquer jeito." Disse ainda Clodoaldo que "lembro que um médico de Caldas de Cipó trouxe o filho para Wilson da Farmácia receitar. Ele disse : Wilson, confio em você." 

Neto,trabalhou com
Wilson nove anos.
Para  João Reis de Andrade , conhecido por Neto da Farmácia , hoje proprietário da Farmácia Santa Maria,  começou a trabalhar com Wilson em agosto de 1971. "Trabalhamos juntos durante nove anos até quando ele dividiu a sociedade com o tio  Milton Jacobina . Ele era chamado o médico dos pobres. Prestou um grande serviço aos mais humildes . A carência da Cidade naquela época levou  a fazer este importante serviço. Foi uma experiência válida, e até hoje continuo no ramo farmacéutico." 

Maria Dantas, a Mara.
Outro depoimento interessante é de Maria Dantas, conhecida por Mara : "Wilson foi um homem iluminado por Deus, tinha o dom de curar as pessoas. Um exemplo que jamais esquecerei foi quando meu filho caçula teve uma infecção intestinal, levei ao pediatra , e não melhorava. Procurei Wilson da Farmácia e ele passou uma nova medicação .Horas depois meu filho já apresentava melhora". Lembrou também que em certa época o Hospital Santa Teresa ficou parado e as pessoas recorriam a Wilson da Farmácia."

Wilson da Farmácia foi vereador por três legislaturas de 1992-1996,1997-2000 e 2001-2004,  quando se candidatou a vice-prefeito na chapa de Nilson Rabelo, que foi derrotada e logo depois  teve um AVC. Se submeteu a  muitas seções de fisioterapia e recuperou parte dos movimentos. Em novembro de 2006 perdeu sua companheira Antonieta ( Dieta) . Aí  passou a ficar mais em casa e indo para sua fazenda Caruara onde cuidava dos animais . Veio a  falecer em 2010. Wilson da Farmácia tinha muitos afilhados dados por seus compadres em gratidão aos atendimentos gratuitos que  tinha feito. Quando  faleceu, Clodoaldo Rodrigues, seu genro, vendeu a farmácia, e aí finda  a história de Wilson da Farmácia, que agora relembro a vocês.

NR- Os depoimentos e a maioria das fotos foram feitos por meu amigo Hamilton Rodrigues.




sexta-feira, 10 de setembro de 2021

ABELARDO GAMA O AMIGO DOS ANIMAIS

Tenho viva na memória a imagem de Abelardo Gama sempre montado num cavalo a caminho de uma roça para atender um chamado de algum fazendeiro para cuidar de uma vaca, um cavalo, uma ovelha ou cabra que estava acometido de alguma doença. Ele teve alguns  cavalos , mas os chamados Gaúcho e Brasileiro eram os seus preferidos, e nas festas ou mesmo nas sextas-feiras sempre tomava umas cervejinhas quando  desfilava pelas ruas e até subia nas calçadas mostrando as habilidades de sua montaria. Por anos a fio ele era o prático em realizar atendimento veterinário na região. Tinha uma disposição que metia inveja aos jovens e nunca dizia um não mesmo sabendo que poderia não receber qualquer remuneração ou  que o pagamento por seu  serviço iria demorar a se concretizar. Tinha sempre um riso quando encontrava com algum amigo ou conhecido para falar de algum trabalho realizado ou da saúde de algum animal que lhe tinham solicitado atendimento.
Adelardo Gama na
procissão.
 Durante as vaquejadas sempre estava presente participando da organização, sendo juiz de pista, da saúde dos animais, enfim era também um amante deste esporte que é tão presente no sertão. Também, costumava participar das procissões nas festas de Santa Teresa e das missas que sempre atraiam muita gente , inclusive dos povoados. Não podemos esquecer que era uma pessoa alegre que gostava de festas, inclusive de dançar no Grêmio Social de Ribeira do Pombal. Ele atendia os chamados dos principais fazendeiros como de Ferreira Britto ( José Domingos Britto e Silva), Adelino de Oliveira Britto ( Britinho), Paulo Cardoso de Oliveira Britto ( seu Cardoso), Orlando Rodrigues de Souza ( seu Vivi) Sisimundo Valadares de Macedo, Lúcio de Santana (seu Lúcio, da Boca da Mata),Reynaldo Jacobina ( meu pai, Reinaldão),Walter Brito ( Waltinho de Teté ) ,Ioió Ferreira de Britto  (meu avô, seu Ioió) os irmãos Manoel e Pedro Rodrigues, Joaquim Américo dos Reis ( seu Santinho, de Tanque Novo) , Elzito Britto, Sebastião Costa ( Basto Costa) , Ferreira Gama, Godofredo Fernandes da Gama, Manoel Ernestino Santana , Antônio Bernardo da  Costa (Totinha),   e também de muitos  pequenos proprietários de terra do entorno do município. 

O Zé Bagaço
Cito estes nomes para relembrar destas figuras que marcaram com suas presenças, e nas atividades comercial,  pecuária e agrícola  contribuiram com seu trabalho  com o  desenvolvimento de Ribeira do Pombal. 
Seu nome é Abelardo Vieira da Gama, mais conhecido por Abelardo Gama . Nasceu em Ribeira do Pombal em 20 de agosto de 1911, portanto se vivo fosse estaria com 110 anos. Era filho de Francisco Archios da Gama e de Maria Vieira da Gama . 
Lembram os pombalenses que Abelardo Gama era conhecido por sua competência e pelo amor que tinha aos animais , e pela  sua disposição. Podia estar chovendo ou fazendo um sol forte que ele montava em seu cavalo, subia na gabine ou mesmo na carroceria de um caminhão, de uma camionete ou num jeep e  seguia para atender o animal que estava doente. Era funcionário estadual , casado com d. Judith Fonseca Gama .Teve quatro filhos, José  ( o Zito ), já falecido, Maria das Graças,Tereza e Creuza Maria Fonseca Gama .
Ele veio a falecer em 7 de setembro de 1978, aos 67 anos de idade, deixando para as futuras gerações o seu exemplo de dedicação ao trabalho e aos animais. 
Graças a iniciativa do ex-vereador José Martins de Carvalho, conhecido por Zé Bagaço, foi dado o nome de uma importante via da Cidade  de Avenida Abelardo Gama . O autor da lei foi  então vereador de 1982 a 1988. Para ele  " Abelardo Gama  foi um grande veterinário sem estudar. Me sinto honrado em ter tido esta iniciativa",  disse  Zé Bagaço . Lembrou ainda das pegas de bois e da vacinação do gado. "Ele ia de qualquer jeito. Fez  festas no Areial quase  sozinho, também na Carnaíba, Mirandela, onde ele andava." Quando perguntado  o que era pega de boi explicou : "Pegar o boi na mata , correr encouraçado  e trazer o animal para o tão esperado  churrasco da festa. Ele tinha uma alegria díficil de descrever. E nunca negava atender a um chamado, seja lá de quem fosse, rico ou pobre. O Ferreira Brito tinha muito respeito pelo trabalho dele na região".
NR - Quero agradecer a Hamilton Rodrigues que colheu  depoimentos e fez a maioria das fotos. Sem a ajuda dele seria impossível escrever este texto.







sábado, 4 de setembro de 2021

A SAGA DAS IRMÃS FREIRE PELA EDUCAÇÃO

 
Maria Freire exigia muita atenção de seus alunos.
As irmãs Maria e Teresa Freire ensinaram as primeiras letras e  a Tabuada  a cerca de três ou quatro gerações na cidade de Ribeira do Pombal nos anos 40 a 60. Suas aulas , evidente não eram baseadas na didática moderna, e nem tampouco na apregoada por Paulo Freire e dissiminada pela esquerda . Este método contribuiu para colocar o Brasil no 57º lugar, portanto,  entre os mais atrasados no Pisa, que é o índice que mede o nível de educação dos países. ( O Programa Internacional de Avaliação de Alunos - em inglês: Programme for International Student Assessment - PISA- é uma rede mundial de avaliação de desempenho escolar, realizado pela primeira vez em 2000 e repetido a cada dois anos.) Estávamos nos anos 40 e a Cidade não tinha nem  2 mil habitantes . A praça Getúlio Vargas era tomada por um grande areal de cor entre o amarelo e o marron, e durante o verão queimava os pés de quem ousasse andar descalço.

Maria Freire e Francisco
Costa, com Antônio em 1930,
e ela jovem,quando teve um
namorico com Oliveira Britto
.

A escolinha  das irmãs Freire ocupava dois cômodos  da residência das professoras. Este imóvel era localizado na esquina onde hoje funciona a agência do Banco do Brasil, e tinha saída para a rua da Ribeira. Lembro que no quintal havia um coqueiro. A casa era simples , tinha quatro portas e duas janelas de frente , e a escolinha era o sustento nas irmãs Freire. Não lembro exatamente quanto era a mensalidade, mas tenho uma vaga lembrança que era baratinha. Depois elas alugaram a lateral para Miguel Valério e a frente da casa a Antônio Pelanca , que instalou ali um bar e uma mesa de  sinuca , onde os desocupados passavam o tempo jogando,além de conversa fora tomando cachaça.  Ana Ferreira de Brito , conhecida por  d. Sinharinha ,era vizinha onde também ficava  a agência dos Correios, do qual ela era funcionária.
Elas viviam uma vida muito simplória , vestiam vestidos longos e de tecidos baratos,não cuidavam muito da aparência,eram católicas e iam à missa todos os domingos . Quem   mais se destacava  era Maria Freire, uma senhora magrinha, de pulso   forte, e que se fazia respeitar em suas aulas usando uma régua de   madeira ou uma grossa palmatória. Para os que não conhecem a   palmatória é uma peça de madeira de forma circular e tem um cabo   para  segurar. Tem em média de 4 a 5cm de espessura e é feita de   madeira de lei, pesada, e servia para 
A casa das irmãs ,a primeira à direita, tinha duas
janelas e quatro portas. Esta é Lúcia Morais, quando
criança no jardim .
castigar alunos desobedientes,   desatentos, e nas prisões para  quem cometesse  crimes. Quando   alguma  criança não queria estudar, gazeteava aulas na escola   municipal  os pais costumavam apelar para as irmãs Freire. Lá o   traquino tinha que se enquadrar. Muitos fugiam nas primeiras aulas,   porque elas exigiam muita disciplina e atenção.
  Seu nome completo era Maria Souza Freire Filha nasceu em 28 de fevereiro de 1901 e faleceu em 12 de dezembro de 1968, e no jazigo está escrito: "Uma lembrança inesquecível de seu filho adotivo Francisco Costa". Ela na realidade adotou informalmente dois irmãos o Antônio e o Francisco Costa, filhos de Joaquim Costa, que vem a ser seu irmão. Como era muito católica conseguiu através de um bispo de sua época colocar o Antônio no seminário, mas depois de alguns anos ele abandonou , fez concurso para coletor estadual  , casou com uma protestante ( crente).e foi morar no sul do Estado

D. Maria José Pereira
 Outro depoimento é de d. Maria José Pereira de Carvalho  ,68 anos  ."Quando   cheguei em 1963 conheci Aécio Costa , com que me casei, ele me falou de suas tias   Maria e Teresa Freire   que moravam numa casa que tinha quatro portas. Elas   alugaram a Antônio   Pelanca, era um bar, uma espécie de bodega.Foi o   Francisco Costa que negociou   a casa com o Banco do Brasil. Ele alugou uma   casa na Rua da Ribeira onde   colocou Maria Freire. A irmã Teresa já tinha   falecido."
 Segundo me informou Marília Brito, que morava vizinha as irmãs Maria e   Teresa  Freire não se falavam , embora morassem na mesma casa, inclusive cada   uma preparava sua refeição. A Maria Freire num fogão improvisado  e a Teresa   numa trempe no chão. Tia Sinharinha que  criou  Marília, a quem ela  chama de   mãe  proibia dela ir na casa das vizinhas porque não se cuidavam e gostavam de   dar beliscões e cascudos nas crianças, além da palmatória na sabatina da taboada. Todos lembram que elas não cuiidavam bem da aparência e até mesmo da higiene pessoal.

Segundo , Terezinha Ferreira da Costa , conhecida por d. Tela, irmã de Francisco Costa, criado por Maria Freire ela foi estudar com as irmãs Freire, mas o pai ficou contra porque era muito mimada . O pai disse se você chegar aqui chorando vai apanhar. "Ele sabia que Maria e Teresa batiam  nos meninos de palmatória. É importante dizer que ela nunca triscou ( tocou) em Antônio e nem no Chico,nunca bateu neles. Passei uma semana mais ou menos, mas, quando ela quis fazer qualquer coisa comigo eu fugi. Ela usava palmatória estas coisas... Ai meu pai disse: Não vou lhe bater porque você chegou só com o olho grande e não chorou. Por isto que não vou lhe bater". Diz ainda d. Tela que  Maria Freire  namorou quando novinha  com Oliveira Brito, parece que foi o único namorado. Depois não andava mais arrumada..." Ao lado d. Terezinha, a Tela, que foi sua aluna por apenas uma semana. 

Já  d. Alaide Rodrigues, de 85 anos, lembra que a recomendação  da época era: "Coloque em Maria Freire que ele aprende a ler, escrever e somar." Ela confirmou que a palmatória funcionava diariamente. Ao lado esquerdo d. Alaide que tem lembranças da fama da palmatória das irmãs Freire.

Também fui aluno de Maria Freire e minha mãe me colocou lá juntamente com uma menina que  criava chamada de Teresa. Confesso que não sei o paradeiro de Teresa, que depois que ficou moça foi embora para o distrito de Buracos.  Lá ficamos uma temporada e sempre atento aos ensinamentos e muito preocupado, com medo de sua temível palmatória. Depois de estudar as primeiras letras e a Tabuada ela marcava o momento de fazer uma sabatina para testar se realmente a turma tinha aprendido ou não. Colocava os alunos em círculo e ficava com a palmatória na mão. Ai começava a perguntar 2 + 2,  9 +7 e assim por diante, e depois mandava que os colegas fossem perguntando.Quem errasse o que perguntou dava com a palmatória na mão. Doía muito, provocava pequenos tumultos, que ela controlava com gritos fortes. 

Homenagem feita por
Francisco Costa.
Já o  Aurelino Borges, de 70 anos  declarou "fui  aluno de Maria Freire e quando errava levava umas batidas de palmatória. Lá a palmatória comia no centro o dia inteiro. Eu acho que a palmatória hoje não surtiria grande efeito, mas vejo que estão cometendo um grande erro, porque não estão limitando os filhos. Está uma bagunça, os pais não estão sabendo administrar seus filhos". Ao lado direito o Aurelino que também aprendeu a ler e Taboada com as professoras Maria e Teresa Freire.

 Este método das irmãs Freire certamente não é o recomendável, mas funcionava.  Hoje, seria considerado um crime, e assim entraria em ação o Ministério Público, Conselho Tutelar , e outras coisas do exagero de proteção, e o que vemos aí são gerações de mimimi que não estudam, não obedecem,não trabalham, e nem respeitam os pais, idosos, professores , e instituições.
NR - Quero agradecer a Hamilton Rodrigues que colheu  depoimentos e fez a maioria das fotos.