
Origens
No entanto, a consciência traiu um dos fanáticos, que passou a “ouvir vozes e chamados” e deu a pista à polícia. Foi Godofredo Oliveira, 58 anos, que para seguir o profeta abandonara seus treze anos como administrador de uma grande fazenda de gado e entregara ao sacrifício a sua filha de dois anos. O profeta José Maurino de Carvalho, o Matota, apesar de impor a morte dos filhos de seus adeptos, poupou, porém o seu da morte. Preso, na Delegacia de Homicídios, de Salvador, ele explicou: “O menino foi castrado pelo Cristo. É primogênito e filho de Deus. Por isso não precisava morrer. Já os outros eram pecadores. Batiam e xingavam os pais. Portanto, não eram de Deus. Tinham que morrer.” José Maurino, 28 anos, nasceu em Santo Antônio de Jesus, cidade do Recôncavo Baiano, Onde frequentou inicialmente a matriz católica e alguns templos protestantes. Foi ali que reuniu precários ensinamentos bíblicos e começou a ouvir “vozes que ditavam um novo mandamento”. Mas, antes de começar seu proselitismo, esteve em Salvador, sempre pensando em fundar uma igreja “que reunisse todas as igrejas”. Ele afirma: “Deus não quer a desunião dos seus verdadeiros filhos. Deus só tem uma igreja, que é a Assembléia Universal dos Santos.” Em Feira de Santana, onde vendia de porta em porta plásticos coloridos para botar nas telas de televisões em preto e branco e transformá-las em aparelhos de “se ver em cor,” conheceu Maria Nilza Oliveira Pessoa. Ela foi sua primeira crente e também sua mulher, passando a se chamar Marata. E nessa altura – em que os demais membros da seita já demostram arrependimento pelo destino que deram aos filhos e sentem medo da Justiça – Marata é a única que ainda acredita totalmente no seu marido e profeta. Em seu interrogatório, José Maurino, magro, com aparência de débil mental, interrompe a conversa todo instante perguntando por Marata e mostrando-se inquieto com o destino da mulher.
Todos os membros da seita estão recolhidos em diferentes delegacias de Salvador. Essa medida foi adotada devido à revolta do povo, que ameaçava linchá-los na 1ª. Delegacia, para onde tinham sido levados. O professor de Medicina Legal e Social, Estácio de Lima, a quem foi permitido conversar com o profeta, declarou: “Não posso dizer que problema psiquiátrico é o dele. Matota esteve comigo poucas horas, logo que foi preso e recolhido à Delegacia de Homicídios. Então, ele me narrou as alucinações visuais e auditivas que por vezes o acometem. Cristo lhe aparecia prometendo benefícios e felicidade a quem o seguisse por seu intermédio. Acredito que é o Manicômio Judiciário e não uma penitenciária que deve guardar este fanático.”
2 comentários:
Infelizmente ideias desse tipo continuam latentes, algumas se alastrando. Triste!
Terrível essa história
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