UM MESTRE NA ARTE DA CONSTRUÇÃO

O mestre de obras João Irênio deixou um legado que ajudou
no crescimento e desenvolvimento social e econômico
da nossa Cidade.

Ao terminar seu trabalho de construção o mestre   de  obras João Irênio de Santana, o João Irênio, vestia  paletó, sem gravata   ou um blaser  e colocava um chapéu de feltro Prada   comprado na loja do seu Antônio Nascimento, e se   dirigia para a casa de Ferreira Brito ou mesmo para   conversar com seus amigos, no então posto de   gasolina de Godofredo. Ele era um verdadeiro   inglês na forma de se vestir e também no trato diário   com as pessoas. Gostava de ler jornais, revistas e era   capaz de conversar sobre vários assuntos, além de   contar casos que tinha vivenciado ou ouvira falar.   Foi em sua época o  responsável por comandar a construção dos principais prédios   públicos e privados de nossa Cidade. Cerca de 10 e  até 15 trabalhadores eram liderados por ele nessas obras que estão aí até hoje. Embora de poucas posses era um homem que andava nas principais rodas de conversa de Ribeira do Pombal e quando faltava obra para trabalhar ia buscar nas cidades vizinhas para sustentar sua imensa prole de quinze  filhos.  Desses  quinze nem todos chegaram a idade adulta os seguintes: João Batista Oliveira de Santana, o Batista e  José

São raras as fotos de João Irênio. Aí uma de lambe-lambe
e outra descontraída em sua residência.

Raimundo, o Mundinho ( falecidos); Rivaldo, o Vadinho; José Marlon, Gilmar, Joselitom, Deuzari, Diraêr, Doralice , a Dora; Gilsomar, o Gilson e Doraci. Todos os filhos homens seguiram a profissão de pedreiro do pai e três deles conduziram ou conduzem  equipes Gilmar, Zelito e Gilson, portanto são mestres de obras.

Conta seu filho Gilsomar, o Gilson, que seu pai"era natural de Cícero  Dantas, onde nasceu em 17 de novembro de 1918. Desde jovem foi  trabalhar na construção, inicialmente como ajudante de pedreiro e  depois de pedreiro, e como não tinha muitas obras para trabalhar  naquela cidade decidiu ainda jovem ir para  Euclides da Cunha onde  permaneceu alguns anos. Lá conheceu Maria de Lourdes Oliveira com  quem terminou casando. Depois foram para o estado de Sergipe para as  cidades de Simão Dias e em seguida para  São Cristovão sempre  buscando  obras para trabalhar. Ali nasceu a  filha Doralice Oliveira de  Santana, e finalmente, resolveram vir morar em Ribeira do Pombal,  onde permaneceram até a morte. Ele faleceu em 27 de abril de 2001."

Aqui começou a trabalhar nas obras públicas durante os mandatos de Ferreira Brito e de outros prefeitos que o sucederam. Foram 40 anos trabalhando na Prefeitura, deixando um legado importante porque era um mestre de obras cuidadoso e suas obras são tão bem feitas que duram muitas décadas. Não trabalhava em calçamento  de rua e sim na construção de hospital, colégios, postos de saúde, mercados municipais, escolas, cemitérios ou seja nos principais prédios privados e públicos. Também, trabalhou muito nos povoados de Mirandela, Banzaê, na Boca da Mata, dentre outros.

Gilson e sua mãe d. Maria de
Lourdes Oliveira . Ela teve 15 filhos.

 Trabalhou fazendo as residências  de Pedro   Rodrigues e de Manoel Rodrigues,   Manoel de Ernestino, no   Talho Municipal   (açougue antigo), no prédio da Câmara Municipal,   na  construção do antigo Hospital, do posto de   Saúde, casa de   Vadinho  da Passos Nobre, a Loja  Passos Nobre, casa de José   Fontes, os colégios Silvia   Brito e  Hildete Lomanto. Esses são alguns   imóveis   construidos pelo mestre de obras João Irênio, porém   tem   muito mais.  

"Lembro que meu pai era um homem honesto, disciplinador, cumpridor de suas obrigações e que trabalhou muito para sustentar sua família. Quando não tinha trabalho aqui ele ia procurar serviço fora, nas cidades vizinhas. O pessoal de Ribeira do Pombal sabe como era a índole de João Irênio. ", diz seu filho Gilson orgulhoso do legado do seu pai. Gilsomar, o Gilson, é casado com Arivalda Souza Costa de Santana e tem um casal de  filhos: Eduardo e Joice Costa de Santana.

Vemos a antiga Prefeitura, a Cadeia Pública , Hospital
Santa Tereza e a Lavanderia . Obras comandadas pelo
mestre João Irênio e sua equipe de pedreiros e ajudantes.

Uma faceta desconhecida por muitos pombalenses é que o mestre João Irênio  gostava de caçar e saía para essas caçadas com João Santo e Zelino, "com este pessoal mais velho, conta Gilson.  Costumavam caçar na fazenda de Manoel de Antônio  Grande e iam até as bandas de Euclides da Cunha .  Muitas vezes estas incursões aconteciam  nos finais de semana, e às vezes  passavam a semana inteira caçando. Gostava de  caçar  tatu e o João Santo era o cavador, "parecia  um trator e cavava sem luvas", e dá uma boa  gargalhada  o filho Gilson ao relembrar as histórias  do pai. É bom lembrar que naquela época não havia  esta consciência de hoje da importância da  conservação da fauna e da flora. Muita gente caçava  por distração nas cidades do interior do país afora. 

Uma das testemunhas ainda viva do crescimento em  Ribeira do Pombal é o seu José da Cruz de Jesus,  nascido em 30 de março de 1917, portanto, está com  105 anos de idade, ainda lúcido e no próximo mês estará comemorando mais um aniversário. Trabalhou com o mestre João Irênio por mais de cinquenta anos e quando perguntamos quais os prédios que construiram juntos em Ribeira do Pombal, nos povoados e nas cidades vizinhas ele dá uma boa risada de satisfação e responde: "foram tantos que é difícil contar." Realmente seu Da Cruz trabalhou na construção dos prédios onde está hoje a Câmara dos Vereadores; na Cadeia Pública, que foi demolida para a construção do prédio do Tribunal Regional Eleitoral; em várias escolas e colégios públicos. Ele  é parte de uma história viva das edificações públicas e privadas construídas em nossa Cidade. Trabalhou na construção do campo de futebol, hospital, muitas casas particulares, galpões e armazens. Enfim, um exemplo de um homem que na sua simplicidade contribuiu e muito para o desenvolvimento de Ribeira do Pombal. "Considero, João Irênio meu  segundo pai. Quando ele pegava uma obra já me chamava para a gente iniciar os alicerces. Se orgulha de dizer que fazia de 30 a 35 metros de reboco por dia. Era uma fera para trabalhar.", aí seu Da Cruz dá outra boa risada. 

A homenagem da Cidade ao mestre de obras João Irênio
com o nome desta praça .

Lembra que João Irênio tinha acesso aos bancos e que muitas vezes "ele tomava emprestado para pagar seus funcionários". Acho que na realidade como trabalhava muitas vezes na construção de prédios públicos o dinheiro tinha que ser repassado através dos bancos, e talvez seu Da Cruz pensasse que foram empréstimos.  Disse ainda o longevo Da Cruz que era jogador de bola atuando na ponta direita .

Perguntei a Nilson Brito se tinha alguma relação de amizade com João Irênio e ele me respondeu que "as grandes obras feitas em Ribeira do Pombal naquela época passaram por suas mãos. Conheci muito o mestre João Irênio e lembro que ele gostava de ler jornais e revistas . Era um homem de bem e educado".

Seu Da Cruz trabalhou
nas grandes obras .

O funcionário público Agnaldo Bastos  lembra que conheceu nosso personagem por volta de 1967 quando sempre depois das 19 horas costumava ir para a Praça Getúlio Vargas bater um papo com os amigos e saber das novidades. A Cidade era acanhada e tudo se concentrava na praça principal. Numa dessas noites ao passar na frente do posto de gasolina que existia ao lado do Bar Quitandinha, de propriedade de Godofredo Fernandes da Gama ,  já tinha notado que sempre via uns senhores sentados na parte interna do posto conversando animadamente. Então um dia resolveu ficar observando e o que lhe chamou mais atenção foram as gargalhadas que davam depois que algum deles acabava de falar. Se aproximou e notou que eles contavam casos que tinham vivenciado durante suas vidas ou que alguém mais velho os transmitiu, e que o seu João Irênio era um dos mais animados, e que contava muitos casos enquanto os demais riam muito. Os seus companheiros  eram o Godofredo, dono do posto; Antônio Bernardo, o Totinha, pai de  Tonho Pinguim e de Marcelo Brito.Também   Quelé, que era dono de uma oficina mecânica, integrava o grupo de amigos, dentre outros. Na época seu Totinha também trabalhava na Prefeitura, enquanto João Irênio era mestre de obras também do município. 

Agnaldo Bastos relata legado e
 bom humor de Joâo Irênio.

Agnaldo Bastos disse que  no decorrrer dos anos foi  trabalhar na Câmara Municipal  e tomou  conhecimento das grandes obras da Cidade que  foram  construidas sob o comando de João Irênio. Ele  relacionou algumas delas como o Colégio  Evência Brito,o Estádio Ferreira Brito,o Hospital  Santa Tereza, antigo Açougue, hoje ocupado pelo  INSS, o primeiro pavilhão da Escola Hildete  Lomanto, o prédio escolar Calazans Guerra. Depois  com o passar dos anos liderou muitas reformas  em prédios públicos, além de diversas  construções nos  povoados  entre eles o açougue e  praça no Barrocão;  prédio escolar em Nova  Esperança;  mercado  municipal em Curral Falso;  cemitério na  Tapera; mercado,açougue e posto  médico no  Banzaê;  cemitério na Marcação; prédio  escolar e  mercado na  Feira da Serra; açougue, mercado e posto médico na Boca da Mata e o prédio escolar no Tamboril.  Fez ainda muitos prédios comerciais e residências particulares em Ribeira do Pombal. Em reconhecimento a este legado através a lei número 736 datada de 19 de novembro de 2018 foi homenageado com o nome da Praça João Irênio , que fica na Rua Deputado Antônio Brito, em frente a atual Secretaria de Saúde do Município.

NR-Quero agradecer a Hamilton Rodrigues e a Agnaldo Bastos pela colaboração para que pudesse escrever este texto que é dedicado a um homem simples, mas que deixou um legado importante  que contribuiu e ainda contribui para o desenvolvimento de Ribeira do Pombal.