TURISMO
Texto Reynivaldo Brito
Jornal A Tarde ,domingo 18 de março de 1979.
Fotos atuais Divulgação Bahiatursa e Google

Passados esses anos nem todos os baianos e principalmente os brasileiros de outros estados conhecem bem a Baía de Todos os Santos, que é formada por mais de trinta ilhas e ilhotas, algumas de rara beleza e que ainda conservam suas comunidades, toda a pureza, pois não foram abarcadas pela civilização. Em muitas delas o único meio de transporte é a canoa, que é utilizada não apenas para chegar às suas margens, mas também para alcançar qualquer ponto. Tudo gira em torno da canoa que serve para levar o pescador ao alto mar para pescar, como também para transportar as frutas e verduras tão abundantes em todas elas.
Uma riqueza incalculável dos frutos do mar e da terra, que são colhidos com facilidade pelas populações nativas que vivem quase exclusivamente de uma agricultura de subsistência. Nessas ilhas e ilhotas você pode passar umas férias inesquecíveis, longe da barulheira dos carros, do relógio no pulso e outras coisas que saturam os moradores de uma grande cidade. Nelas você sente como estivesse no paraíso, longe de tudo e de todos e convive com gente simples e ingênua, que desconhece a violência e outras manifestações que hoje aterroriza a civilização ocidental.
DESCOBRIR A BAÍA

Saímos do cais da Companhia de Navegação Bahiana e logo encontramos o Forte de São Marcelo, Forte do Mar, ou Forte de Nossa Senhora Del Pólpolo, que é uma das belas fortalezas existentes no país. Está em pleno mar, como uma ilha e sua construção data do século XVII ou XVIII, porém em 1728 sofreu profundas reformas dando-lhe a conformação atual. Foi ali que foi hasteada a primeira bandeira federativa em um de seus mastros. Foi o primeiro reduto brasileiro a reconhecer a nova ordem, isto em 2 de julho de 1923.
Para os gaúchos de modo particular esta fortaleza apresenta uma curiosidade porque nela ficou prisioneiro o lendário Bento Gonçalves, que terminou fugindo com a ajuda de seus irmãos maçons os quais subornaram os guardas permitindo que ele se atirasse no mar nadando até um saveiro que o embarcou e o levou para longe de seus perseguidores.
A pequena lancha vai navegando e de longe descortina a igreja da Boa Viagem construída em 1712, onde todos os anos os baianos realizam a monumental procissão de Nosso Senhor dos Navegantes, sempre no dia 1º de janeiro. Estamos navegando em plena Baía de Todos os Santos, descoberta em 1º de novembro de 1501 por Américo Vespúcio que era um competente navegador italiano, natural de Florença, que aqui chegou a serviço do rei de Portugal. Vamos navegando em busca das ilhas e ilhotas da Baía de Todos os Santos com seus 1.100 Km2 de área. A maior delas, e, portanto a mais conhecida é a ilha de Itaparica e a seguir as ilhas dos Frades, Madre Deus, Maré, Bom Jesus dos Passos, Santo Antonio, Vacas e Maria Guarda, Bimbarra, Fontes, Pati, Coqueiro, Capeta, Cajaíba, Carapituba, Saraíba, Olho Amarelo, Mutá, Matarandiba,. São Gonçalo, Carapeba e outras.
ITAPARICA

Foto da praia da Penha, vendo ao fundo o forte de São Lourenço.
Ao pisar os pés na ilha, seja na cidade de Itaparica, no Terminal de Bom Despacho, em Mar Grande, ou em qualquer praia começa a aventura propriamente dita que só termina com uma nova travessia das águas azuis da Baía de Todos os Santos de volta ao continente.
Itaparica é cortada por várias estradas para atender ao sistema ferry-boat. Com 36 quilômetros de extensão, por 21 de largura, a ilha de Itaparica ainda mantém algumas de suas praias intocadas e o seu folclore é tão especial que guarda intactas manifestações únicas em todo o continente como o balé dos Eguns.
A atração exercida por Itaparica remonta do período colonial quando Von Spix e Frederico Martius, que fizeram um relatório precioso de suas viagens através do Brasil, chegaram na ilha em 1918 e ao regressar escreveram : “ Chegando a Itaparica , desembarcamos no meio da praia do lado do oeste e seguimos a pé, através de lindas regiões , bem cultivadas, até a vila onde encontramos cômodas hospedagens e pudemos gozar da tranqüilidade idílica dessa bela ilha que muito agradavelmente contrasta com o ruído da vizinha capital”.
Também hoje não podemos esquecer seus moradores que são amáveis e prestativos e estão sempre dispostos a abrir a uma infinidade de alternativas que vão de costa a costa. A Fonte da Bica é o local mais visitado e seus poderes medicinais são conhecidos desde o século XVI quando o frei Bernardino de Souza “ sábio e harmonioso fixador dos costumes” dizia que “Há no centro da vila um lugar onde está assentada a fonte de serventia pública. A água é magnífica, correndo por duas bicas em fio que se assemelham na delicadeza macia com que caem”.
Na cidade de Itaparica existe um hotel com 87 apartamentos de luxo, com ar condicionado e salões de jogos, conjunto de piscinas, salões de conferências, etc., além de outros menores. Agora, um grupo francês está implantando o Club Mediterranée. Será um “village” e terá capacidade para receber de 600 a 700 turistas em confortáveis apartamentos.
ILHA DENTRO DA ILHA

Amoreiras, Gameleira, Jaburu, Duro, Ilhota, Gamboa, Penha, Berlink e muitos outros são os lugares mais procurados e todas essas vilas são próprias para o descanso. Parece até que a preguiça dos trópicos encontrou refúgio nesses locais. O sol forte, o mar azul batendo na areia branca e os negros pescadores navegando sem a preocupação com o tempo, reflete exatamente esta hipótese. Para ajudar o ambiente, os frutos do mar e da terra são fartos.
A QUARTA

Navegando durante a noite pela Baía de Todos os Santos você tem um belo quadro a admirar. São os fogachos vigorosos da Refinaria de Mataripe, que estão acesos desde o início da operação desta refinaria. Ela está localizada onde antigamente floresceu um dos maiores engenhos de açúcar do Brasil, de propriedade da família Calmon. Esta refinaria foi construída com capacidade de 2.500 barris/dia e hoje já dobrou a sua capacidade.
ILHA DOS FRADES


ILHA DE MADRE DE DEUS

Dentro ainda da Baía de Todos os Santos existe uma elevação que possibilita ver da Ilha de Madre de Deus um total de 13 ilhas desenhadas no mar parecendo com objetos de armar, segundo palavras do mestre Vasconcelos Maia.
Seguindo a viagem deparamos com o Boqueirãozinho, que também é um canal fundo, com fortes correntes marinhas que divide as ilhas de Bimbarra e Maria Guarda; esta apresenta ao visitante uma beleza singular com suas casinhas populares construídas à beira mar. Defronte de cada casinha uma canoa,(que variam de tamanho), pois é o meio de transporte individual dos moradores da ilha. Nela habitam pescadores, saveiristas e operários da Petrobrás.
Surge outro canal que divide agora as ilhas de Maria Guarda e das Vacas além da Ilha do Capeta, que é desabitada e tem este nome por se parecer segundo os moradores da Baía de Todos os Santos, com um diabo agachado, com uma enorme cabeça erguida. Bem próxima dela está a Ilha de Bom Jesus dos Passos, que ao contrário é bem populosa, em relação ao seu tamanho, a qual já teve grandes estaleiros de saveiros e lanchas, desempenhando assim importante papel no desenvolvimento do transporte marítimo pela Baía de Todos os Santos. Nela estão a ponte, a pracinha, a linda igrejinha branca de Bom Jesus dos Passos, que data de fins do século XVII. A imagem do padroeiro é de autoria do escultor Félix Pereira.
Outra grande atração são as inúmeras mulheres que guardam a tradição da renda de bilrro.
À esquerda da ilha de Bom Jesus dos Passos encontramos a ilhota dos Coqueiros e a Ilha de Santo Antônio, que é famosa pelas lendas de seus tesouros enterrados, e de quando em vez aparecem moedas de ouro nas escavações que se fazem em suas terras, especialmente naquelas próximas às ruínas da majestosa igreja que ali existiu. Os pescadores, que gostam de estórias, contam que já viram em suas pescarias noturnas, padres andando pelas praias e gemidos de almas do outro mundo. Tudo isto serve para enriquecer esta ilha com sua magia, e Vasconcelos Maia conta estórias fantásticas que aprendeu em sua vivência pela Baía de Todos os Santos.
Por falar em alma existe a Ilha do Medo. Desde o século XVI que ela foi batizada assim e ninguém até hoje se atreve a passar uma noite por lá. Conta o falecido historiador Ubaldo Osório que graças a tal horror, salvaram-se certa ocasião, dezenas de índios do Rio Paraguaçu que brigaram com os tupinambás da Ilha de Itaparica e não lhes restou outra alternativa a não ser fugir para a Ilha do Medo. Lá ninguém apareceu em seu encalço. Não faltam marinheiros e pescadores que afirmem existir fantasmas e prisioneiros exilados. Outros falam da existência de bichos enormes. Mas esta ilha foi escolhida, por sua localização estratégica, durante muitos anos como depósito de pólvora das guarnições militares, e com isto aumentou ainda o medo. Mas ela já teve um visitante ilustre porque em 1859 D. Pedro II resolveu conhecê-la e de lá para cá outros mais afoitos têm visitado com certa freqüência.
Portanto, essas são algumas das principais ilhas e ilhotas que formam um arquipélago dentro da Baía de Todos os Santos. Muitas estão ainda por serem descobertas por visitantes e principalmente por aqueles que gostam de aventuras.
Aqueles que responderam à pergunta de Caymmi “Você já foi a Bahia?” afirmativamente, digo que não conhecem os seus pontos naturais mais importantes, belos e quase desconhecidos. Vale a pena conhecer a Baía de Todos os Santos, com suas ilhas, ilhotas, praias quase virgens, povoadas de gente simples e ingênua. São locais indescritíveis e só indo lá para saber como são belas.
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