 |
Ferreira se realizava no meio do povo. |
Para falar de José Domingues Brito e Silva , o Ferreira Brito, é preciso contextualizar o tempo em que viveu para compreender o poder que ele tinha sobre a Cidade de Ribeira do Pombal e nas pessoas que aqui viviam. Nada aqui era feito sem sua anuência porque era o "coronel" que mandava no Executivo, Legislativo, e também no Judiciário . O juiz, promotor e delegado para serem designados necessitavam ter o seu aval. Era uma figura carismática, alto, corpulento, cabeça grande, tinha um riso largo que lhe conquistava em poucos minutos, se vestia muito bem, na maioria das vezes ostentando um blaser, um paletó sem ou com gravata. Quando ia a uma reunião durante a noite de quando em vez ostentava no pescoço um exuberante cachecol, que lhe dava mais elegância e nobreza. Mesmo quando não estava exercendo o mandato de prefeito era o articulador para escolher o novo mandatário da Cidade. Algumas vezes até o mandato de quatro anos era dividido por dois candidatos indicados por ele e cada um governava dois anos, visando conciliar seus seguidores. Portanto, as comemorações do seu centenário de nascimento são mais do que justas pelo legado que deixou no desenvolvimento e na vida política e social da Cidade.  |
Durante um comício Ferreira no meio dos eleitores. |
É claro que no mundo da política não se navega o tempo inteiro em águas calmas. É sabido que àquele indicado ao vencer as eleições muitas vezes procura se desvencilhar do mando de quem foi o responsável por sua vitória. Assim, algumas rusgas e desentendimentos ocorriam de quando em vez e Ferreira Brito com sua habilidade política , quase sempre contornava a situação.Um exemplo desta habilidade foi vivida pelo atual vereador Marcelo Brito. Certo dia trabalhava na EmaterBa e tinha que fazer um curso de vaqueiro . Nesta época houve um rompimento entre o então prefeito dr. Décio de Santana e Ferreira Brito , e Marcelo acompanhou dr. Décio. O curso foi ministrado na fazenda Baixão, de propriedade de Ferreira Brito. Aí o funcionário de nome Zeca que trabalhava na Fazenda Baixão negou o acesso de Marcelo. Diante da negativa decidiu ir até a fazenda Marcação , também de Ferreira, e o encontrou sentado num banco na frente da casa. "Quando cheguei ele foi logo perguntando: "Cadê meu xará?", que é meu irmão caçula, o José Domingues. Minha mãe escolheu este nome em sua homenagem . Quando expliquei o que fui fazer ali a sua atitude foi a seguinte :"Djalma, pegue um papel e uma caneta faça um bilhete pra Zeca liberando a fazenda para o meu primo".Nos dias de hoje soa estranho dizer devido às mudanças de comportamento da sociedade brasileira impostas pelo politicamente correto por este esquerdismo doentio. Mas, ele tinha um jeito próprio de conquistar as pessoas com pequenos gestos como um abraço afetuoso ou um aperto de mão caloroso. Sua casa no Centro da Cidade ficava aberta até tarde da noite, quando a luz dava sinal que iria apagar, com muita gente prosando sobre os acontecimentos do dia na Cidade e assuntos políticos da Bahia e do país. Depois que a luz passou a ser fornecida pela Chesf , com a construção da Barragem de Paulo Afonso, as conversas passaram a se estender até mais tarde. De vez em quando d. Maria Raimunda servia um cafezinho aos presentes.
Outra curiosidade sobre Ferreira Brito é quando vinha para Salvador tratar de algum assunto político ou pessoal sempre dizia : "Vou pra Bahia", e mesmo naquela época de estrada de terra , porque a BR -110 só foi asfaltada no Governo Lomanto Junior, ele se vestia de paletó e gravata.
 |
Reunião de prefeitos vemos Ferreira com Prisco Viana. |
Marcelo Brito conversando com América Passos
(filha de d. Carmita, sua segunda esposa), sobre a elegância de Ferreira Brito ela contou que certo dia ao perceber que ele iria para Salvador todo pronto de paletó e gravata ela disse: "Seu Ferreira, não precisa ir assim todo arrumado, a viagem é longa", no que ele teria respondido: "Minha filha, um nordestino, um tabaréu igual a mim tem que andar arrumado parecendo um Ministro pra chamar atenção".
Ao examinar algumas fotos me deparei com esta ao lado onde estão reunidos dezenas de prefeitos, e Ferreira Brito está logo sentado na primeira fila na frente da Mesa que ia dirigir os trabalhos ao lado do então deputado federal Prisco Vianna, já falecido. Ele se impunha como um verdadeiro líder.
 |
Renato, filho de Ferreira , Celeste sua esposa e as filhas. Da direita para esquerda Evência, Fabrícia e Clarissa. |
Era um homem que nasceu para liderar, e sua influência chegou a se estender pelas cidades vizinhas. Seria facilmente eleito deputado federal, mas preferiu ficar em Ribeira do Pombal.
Nasceu em Ribeira do Pombal em 2 de junho de 1915, sendo o sexto filho de uma prole de doze. Seus pais eram José Domingues da Silva Neto, sergipano da cidade de Estância, e Maria Ferreira de Brito Rabelo ( d. Iaiá). Casou com sua prima Evência de Oliveira Brito ( d. Sinhazinha ) e tem um filho o veterinário José Renato Brito e Silva , que seguiu uma breve carreira política sendo vereador e depois prefeito de Ribeira do Pombal. Teve um segundo casamento com Maria do Carmo Miranda Passos (d. Carmita).
Tinha apenas uma escolaridade básica e iniciou sua vida profissional como tropeiro de um armazem de secos e molhados. Tropeiro era o condutor de uma tropa de burros que transportava cargas as mais diversas. No caso dele transportava alimentos . Em seguida abriu uma loja de tecidos em Ribeira do Amparo. Veio morar em Ribeira do Pombal no ano de 1933 e aqui expandiu suas atividades comerciais em sociedade com outros comerciantes, e em seguida fundou a Junta Comercial da Cidade. Foi também durante duas décadas representante da General Motors com sua loja União Nordestina para os estados de Bahia e Sergipe, além de ter sido gerente de uma agência avançada do Banco do Nordeste, que depois foi fechada. Esta agência ficava próxima à sua casa e vizinha da loja "A Exposição", do casal Pedro Souza e d. Enedina.
 |
Ferreira Brito e Sinhazinha. |
É bom registrar que este magazine era uma espécie de Lojas Americanas daquela época. O casal trazia as novidades da Capital e durante as datas festivas como Natal enfeitava a loja com luzes coloridas e outros enfeites . Lembro que foi a primeira vez que vi carrinhos feitos de madeira para a criançada, pois antes brincávamos fazendo carrinhos de latas de sardinhas ou de óleo. Também, vendia velocipédes,bicicletas Monark , tudo era novidade!
No ano de 1936 foi vereador e membro do Conselho Municipal. Nesta época o país vivia um clima político agitado com vários partidos políticos, até o chamado Estado Novo liderado por Getúlio Vargas. Chegou a ser convidado para assumir o cargo de Interventor - uma espécie de prefeito nomeado - pelo então Interventor (Governador) da Bahia, Antônio Garcia de Medeiros Neto, mas ele declinou do convite.
COMEÇA NA POLÍTICA
Em 1947 decidiu entrar definitivamente para a política e sua liderança se fez presente em Ribeira do Pombal e no seu entorno. Seu primeiro mandato de prefeito foi de 1947-1950 quando iniciou o ordenamento da Cidade, abrindo ruas e avenida largas, doando os terrenos para que as pessoas construissem suas residências e lojas com o objetivo de impulsionar o desenvolvimento .
 |
Ferreira Brito e Carmita ao centro com os filhos dela . Da esquerda para direita:Joaquim,Antônio, Américo, Venâncio (falecido),Oldegar, América, Maria José, Graça , Rita e Bernadete. |
Reeleito de 1954-1957 sua obra de destaque foi a substituição do abastecimento de água que era feito através de dois poços artesianos. Um tinha a forma retangular e outro circular, onde as pessoas levavam latas e baldes presos a uma corda e lançavam esses vasilhames dentro dos poços para pegar a água e encher os barris de madeira, que eram conduzidos em lombos de burros e jumentos. Eram quatro barris por cada viagem. Algumas pessoas tinham esta atividade de pegar água e vender como profissão, e eram chamados de aguadeiros. Ao redor dos poços ficavam mulheres lavando roupas e as estendiam na grama . Esses poços se localizavam nas imediações onde hoje tem o sistema de captação da Embasa. Muitos da minha geração quando cometiam estripulias recebiam como castigo dar algumas viagens para buscar água. A dificuldade era colocar os barris em cima dos animais e depois tirar quando chegava em casa. Portanto, foi Ferreira Brito quem mandou canalizar a água, além de beneficiar vários povoados com pequenas obras de infraestrutura.
Foi novamente eleito prefeito de 1962-1965 quando construiu a Praça dos Esportes e o Ginásio Evência Brito ; iniciou a construção do Mercado Municipal e reformou a Cadeia Pública ( Quartel) e a Delegacia.
Seu quarto e último mandato de prefeito foi 1972-1976 quando criou a Escola Mobral com o objetivo de diminuir o analfabetismo de adultos, e também a Escola Agrotécnica projetada e equipada para ser uma escola modelo no interior da Bahia, durante o Governo do professor Roberto Santos, recentemente falecido.
BEM RELACIONADO
 |
Ferreira com Juscelino, em Brasília;com Luiz Viana e Roberto Santos ejunto a Antônio Carlos Magalhães. |
Ele tinha um amplo relacionamento político graças ao seu cunhado Oliveira Brito, que foi Ministro da Educação e Cultura e da Justiça, no Governo de João Goulart , e deputado federal por várias legislaturas, o qual tinha ampla influência na política nacional. Aqui na Bahia contava ainda com o apoio de seu irmão Antônio Brito e Silva , que foi deputado estadual por muitas legislaturas. Foi amigo dos governadores Lomanto Junior, Luiz Viana Filho, Antonio Carlos Magalhães , Roberto Santos.
Mesmo sem um mandato eletivo desde ano 1982 sua influência política continuou, e assim trouxe vários benefícios para Ribeira do Pombal como as agências do Baneb, Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil e Telebahia. Neste ano disputou novamente a Prefeitura , tendo seu filho José Renato Brito e Silva como candidato a vice. Foram derrotados por Pedro Rodrigues e o vice Nilson Brito. Através um acordo político cada um governou a Cidade por um período.
Esta derrota do grande líder Ferreira Brito mostra que o poder vai se desgastando com o tempo,e isto ocorre porque quem governa sempre desagrada a alguém. Você pode atender os pedidos durante anos, se um dia por alguma razão não atender perde aquele apoio.Também, durante a caminhada muitos dos companheiros e amigos vão morrendo, e com a chegada das novas gerações esta liderança perde a força .
Esta derrota foi precedida de uma debandada de vários políticos locais, que por alguma razão se aliaram contra ele. A maioria hoje está fora da política. Ele não queria ser candidato. Tentou formar uma chapa para concorrer, mas não conseguiu nomes de expressividade para enfrentar Pedro Rodrigues e seu vice Nilson Brito. Foi feita uma reunião na Fazenda Salgadinho, de Reynaldo Jacobina Brito ( meu pai), com as presenças de Oliveira Brito, Ferreira Brito e outros poucos políticos que permaneceram fiéis. Oliveira Brito declinou dizendo que não tinha condições de vir morar aqui e de ser o candidato. Foi ai que ele partiu para o sacrifício e se candidatou tendo seu filho José Renato como vice. Foram derrotados.
Lembra João César que " mesmo assim Ferreira Brito continuou a visitar os líderes dos povoados que o apoiavam . Saía de noite para não chamar atenção. O motorista Odilon Rodrigues Rocha ( Dilon) me pegava e íamos no Barrocão para casa de João Pèreira dos Santos (João Caboclo); na Boca da Mata visitava Sisgimundo Souza Macedo e Lúcio Celestino de Santana (seu Lúcio) ; na Mirandela na casa de Maria Miranda Macedo (d. Tidinha) , dentre outros" .
Sua primeira esposa Evência Brito e Silva (Sinhazinha) morreu em 13 de maio de 1969 . Depois em 1972 ele casou com Maria do Carmo Miranda Passos, que tinha dez filhos a saber Joaquim,Antônio, Américo,Venâncio (falecido),Oldegar, América, Maria José ,Graça, Rita e Bernadete. A segunda esposa veio a falecer em 9 de fevereiro de 1984. No dia 23 de junho de 1985 sofre um infarto que o levou a morte. Seu sepultamento foi acompanhado por milhares de pessoas, sendo sepultado no Cemitério de Ribeira do Pombal.
OPOSIÇÃO DO CUNHADO
Teve durante quatro décadas como adversário político o cunhado Paulo Cardoso de Oliveira Brito, seu Cardoso, que era um seguidor do então interventor da Bahia, Governador e depois Chanceler, o general Juraci Magalhães . Na medida que Cardoso foi envelhecendo seu filho Nilson Brito assumiu a oposição, terminando sendo eleito vice-prefeito em 1982 .
 |
Nilson Brito continua na política. |
Nilson Brito continua na política e em 1988 se candidata e vence o médico Dr. Nelson Gonçalves Cardoso e Edval Calazans de Macedo, seu Divá. Em 2000 se candidatou novamente agora contra Edvaldo Cardoso Calazans , o Dadá ( filho de Edval) , e perdeu a eleição. Moveu uma ação contra o Dadá através a Câmara Municipal que o cassou, mas a Justiça devolveu o mandato a Dadá. Aí já está a Bahia sob o comando dos partidos de esquerda.
Muita gente em Ribeira do Pombal não sabe, principalmente as novas gerações, porque o Paulo Cardoso, permaneceu sendo oposição ao seu irmão Oliveira Brito e ao cunhado Ferreira Brito por várias décadas. Os partidários de Cardoso eram chamados de Boca Preta e os de Ferreira Brito de Boca Branca. Lembro que era uma oposição ferrenha e as famílias não se davam. Num determinado ano, que ainda não consegui apurar, houve um comício em Banzaê que terminou em tiroteio entre eles , e até meu pai, que era um pouco avesso à política , estava lá e se envolveu nesta disputa. Procurei saber de Nilson Brito o que realmente ocorreu para o pai dele sustentar esta oposição por tanto tempo.  |
Coronel Britto com as filhas Pureza, Evência, Marocas e Zelita. |
Nilson me disse que seu pai Paulo Cardoso, Oliveira Brito e Pureza Brito Costa são realmente irmãos, filhos do primeiro casamento de Antônio Ferreira de Brito , o coronel Brito, que era casado com Evência (Yayá) , natural da Cidade sergipana de Riachão dos Dantas. Com a morte dela casou com a irmã da falecida de nome Ana de Oliveira Brito e teve Emanuel Oliveira Brito (Elzito) , Adelino de Oliveira Brito (Britinho), Evência de Oliveira e Silva ( Sinhazinha ) , Maria Guadalupe Brito Maia ( Marocas) e Josefa Brito Maia (Zelita). O velho Brito era o proprietário do belo sobrado em estilo colonial ,que infelizmente foi demolido em 1977 para dar lugar a agência do Banco do Brasil. Depois da igreja matriz de Santa Teresa era o prédio mais antigo da Cidade.
Disse ainda Nilson Brito que seu pai Paulo Cardoso e Oliveira Brito faziam Direito . Meu pai queria seguir a carreira militar. Ai seu avô o coronel Brito , levou Cardoso para Ribeira do Pombal em 1928 para ser Intendente , e não voltou mais a estudar . Em 1944 a 1945 era Indentente.
Vieram as eleições, e para Ferreira Brito ser candidato era necessário que Cardoso renunciasse seis meses antes. Fizeram um acordo e seu pai renunciou .Coube Joaquim Gama, tio de América Gama , esposa de Cardoso, assumir a Intendência, que era uma espécie de prefeito nomeado.
Cardoso era da UDN , enquanto Oliveira Brito e Ferreira Brito se uniram ao PSD, do coronel João Sá e ao PRP, que vem a ser o partido de Plínio Salgado, integralista, os chamados camisas verdes. Cardoso era adversário dos integralistas e aí começou o desentendimento entre eles. Haviam na época os partidos UDN,PRP,PSD e PTB. Os Brito eram ligados aos Pinto Dantas, de Itapicuru (UDN) e João Sá, de Jeremoabo (PSD) era o adversário.No decorrer dos anos Oliveira Brito foi por várias legislaturas deputado federal pelo PSD. Esta é a versão que Nilson Brito conhece,mas pode ter havido outros motivos para esta desavença. Deixo ai para os futuros historiadores desvendar.
DEPOIMENTOS
 |
José Renato Brito |
Tenho feito estas crônicas sobre personagens que marcaram a história de Ribeira do Pombal, e na medida do possível trazendo alguns depoimentos de pessoas que têm algum parentesco ou que mantiveram relação de amizade ou trabalho com os personagens.
Para Josè Renato Brito e Silva, filho de Ferreira Brito, "dentre as pessoas importantes da minha vida, meus pais, sem dúvida foram as minhas maiores referências de amor e caráter. Meu pai, Ferreira Brito, em especial, me ensinou na prática cotidiana os valores da moral e da integridade como premissas fundamentais para a formação de qualquer jovem adolescente, e que carrego por toda a vida.
Além de uma conduta irreparável, meu pai ainda tinha uma sabedoria nata e um carisma inigualável, que o fizeram um homem público admirado e respeitado por todos. Na fé, era devoto de Santa Tereza, nossa padroeira. Na carreira política, foi transparente e fiel aos propósitos e ao bem do nosso povo. Como amigo, foi querido e leal a todos que tiveram o privilégio de com ele conviver. Ribeira do Pombal teve a sorte de ter um cidadão e um líder como Ferreira Brito. Eu, além de tudo, tive a felicidade de tê-lo como pai".
 |
D. Maria Raimunda |
A sergipana de Estância, d. Maria Raimunda dos Santos trabalhou com ele algumas décadas. Veio paraRibeira do Pombal ainda menina para a casa de uma família onde ficou pouco tempo. Depois foi morar na casa de Ferreira Brito."Tinha cerca de uns onze anos, foram muitos anos e depois da morte de madrinha Sinhazinha fiquei comandando a casa. Passamos a comer de pensão , mas as comidas estavam fazendo mal a padrinho Ferreira. Mudamos para receber comida de outro hotel. O problema continuou ai eu disse:padrinho vou preparar a nossa comida. "
Na realidade d. Raimunda nunca foi batizada por Ferreira Brito que a chamava de "minha menina", e quando se zangava, dizia fale ai com d. Raimunda. "Ai passei a cozinhar um bifinho grelhado, carne de sol etc. Ele era um homem muito simples . Não era exigente. Não podia comer tudo. Tinha algumas restrições por problemas de saúde. Logo que acordava, por volta das oito horas mandava abrir todas as portas e janelas, até o portão dos fundos. Logo depois começava a chegar os amigos ,compadres e pessoas do povo."
 |
Joaquim de M. Passos |
O filho de Carmita Passos , sua segunda esposa, Joaquim de Miranda Passos lembra que sua mãe e Ferreira Brito " se conheceram no final dos anos 60 e se casaram em 1972. Fui morar com eles em Ribeira do Pombal, onde passei parte da infância e adolescência. Tenho lembranças da sua dedicação à Cidade e aos pombalenses . Logo que acordava, se barbeava, e após tomar o seu café da manhã, as portas e janelas da casa eram abertas . Isto acontecia de domingo a domingo. A casa fica na Avenida Evência Brito, 94. Por estar no centro da Cidade tinha acesso fácil das pessoas, que o procuravam com todo tipo de demanda: a mãe precisava de um medicamento ou material escolar do filho; vizinhos que se desentendiam e pediam sua intermediação;outro que queria migrar para São Paulo e precisava de uma passagem de ônibus,dentre outras demandas."
Diz Joaquim o que lhe impressionava "era ver aquele homem com a saúde debilitada , por conta do diabetes e problema cardíaco, enfrentar aquela maratona diária das 8 horas até as 21 ou até 22 horas, sempre com alegria . Acho que era isto que o mantinha vivo.Quando casou com minha mãe, que já tinha dez filhos, muitos pensaram que estava louco. Mas, nada disto. Minha mãe foi sua companheira que esteve ao seu lado todos os momentos desde que se conheceram. Cuidava dos medicamentos, da alimentação, da sua agenda política e até ajudava a redigir os discursos."
 |
Antônio Cledes sente muita falta.
|
Outro que conviveu de perto com Ferreira Brito foi Antônio Cledes Valadares Macedo , que chegou em Ribeira do Pombal em 1962 com seu pai Sizimundo Souza Macedo , e passaram a acompanha-lo. Quando seu pai morreu Antônio foi chamado por Ferreira Brito que o fez o terceiro vereador mais votado na legislatura de 1976 a 1983, porque teve dois anos de prorrogação dos mandatos. "Ele foi o maior político da região em sua época. Éramos muito amigos. Ferreira Brito foi um dos construtores de Ribeira do Pombal, e seu cunhado Oliveira Brito o ajudava muito através de verbas para fazer obras. Se ele tivesse estudado teria ido muito longe. Era muito inteligente. Sinto falta do homem e do amigo. Até hoje faz falta a muita gente."
O professor João César Matos , conhecido por João Cesar, lembra que ao chegar com seu pai em 1962 se aproximaram de Ferreira Brito. Logo depois ele adquiriu o primeiro aparelho de televisão de Ribeira do Pombal . Daí em diante acompenhei toda a política porque eu era o locutor oficial, e o motorista era o Dilon. Ele foi o maior político de toda esta região . Um dia perguntei por que o senhor faz as construções tão longe do Centro da Cidade? Ele me respondeu: " é porque Ribeira do Pombal vai crescer muito, pode ter certeza". Quando construiu o Colégio Industrial Evência Brito ficava distante do Centro. Ele enxergava longe . Após a construção do Colégio trouxe de fora pessoas para dirigir o estabelecimento e outros profissionais para ministrar as aulas, contribuindo no desenvolvimento social da Cidade. Os alunos que sairam do Ginásio Evência Brito muitos tiveram sucesso profissional. Um irmão José Cesar Matos foi até Diretor da Petrobras. Ele também justificou a construção das agências dos bancos no Centro da Cidade dizendo que era para o pessoal vinha da roça ter acesso mais fácil aos bancos.
 |
João César guarda suas lembranças com zelo. |
Sobre o Colégio Agrícola lembrou que foram construídos na Bahia 16 colégios agrícolas, com dinheiro doado pela Alemanha. Era o ensino profissionalizante chegando à Cidade. Lembro dele sentado com o prefeito Edval Calazans e o governador Roberto Santos . Este colégio ia ser construído em Paulo Afonso. Quando o governador Roberto Santos revelou dizendo :"Ferreira tenho uma novidade para você. Estamos trazendo um colégio agrícola para sua região que será construído em Paulo Afonso". Ai ele reagiu imediatamente: "O senhor vai construir um colégio que vai servir ao estado de Pernambuco, que está a 500 metros, basta atravessar a ponte? "Aí começaram a conversar, e o colégio terminou sendo construido aqui .
Logo depois de iniciar a construção teve um concurso para escolha dos professores para ensinar no Colégio. Foram escolhidos 80 professores de todo o Estado da Bahia para ensinar nos 16 colégios agrícolas. Daqui só passaram três professores :Eu, Maria de Lourdes Rabelo (Lourdinha) e Vilma Reis, os demais vieram de várias cidades.Fizemos um curso de pós-graduação de três anos, tudo pago pelo Governo alemão."
Outro fato que mostra a habilidade de Ferreira Brito foi quando da realização aqui de uma grande esposição agropecuária . Nesta exposição foram vendidos muitos animais, e na hora de concretizar os negócios faltou financiamento porque os gerentes dos bancos do Brasil e do Nordeste se recusaram a financiar. Fomos a ele, que telefonou imediatamente para deputado federal Prisco Viana, e no dia seguinte os animais foram financiados, como também tratores e até caminhões. "
Continuia João César com seu depoimento:"Era um homem educado. Se algum amigo passasse uma semana sem aparecer ele mandava buscar. Eu era locutor e sempre nos recomendava não ofender , nem xingar ou falar mal de ninguém. Ele me dizia: "Política passa, e o inimigo de hoje pode ser o amigo de amanhã. Temos que pensar nisto". Lembro ainda que quando surgiu o Funrural trabalhamos muito para trazer as pessoas da zona rural para se aposentar."
Durante as construções dos prédios públicos ele sempre chamava os melhores mestres de obras da Cidade que eram Antônio Alves dos Santos (Antônio de Mundinho) e João Irênio de Santana . Veja que até hoje estas construções estão aí firmes, porque eram bem construidas, muito diferentes das de hoje que quase todos os anos precisam de reformas"Outra coisa, " a igreja daqui tem uma arquitetura moderna, e é inspirada numa de Brasília . Foi através de Oliveira Brito, que conseguiu uma planta arquitetônica elaborada pela equipe de Oscar Niemeyer. Ele tinha uma visão de futuro".
Para finalizar, publico parte de um depoimento feito na ocasião do Centenário do seu nascimento por sua neta Clarissa, filha de José Renato Brito Silva. Ela escreveu:"Achei que seria bom escrever algo para ser dito neste dia, já que não poderia estar aí para colocar as palavras em presença. Não tem problema - acredito na máxima que diz que "para estar perto, não precisa estar junto", e é assim que me sinto neste momento: perto. Hoje, estamos nos sentindo muito felizes e acalentados de uma data tão importante para nossa família, o aniversário daquele que não abandonou nossas memórias, mesmo após tanto tempo... Essa homenagem é apenas a confirmação do nosso sentimento e de todos aqueles que reconhecem , até hoje o valor de seu legado"...
NR- Agradeço a Aguinado Brito, Marcelo Brito , ao Osvaldo Rocha ( Secretário de Cultura ) , e a todas as pessoas que contribuiram para a publicação desta crônica, especialmente a Hamilton Rodrigues, este incansável colaborador.