Uma ilustração de seu Fernando mexendo com seus produtos homeopáticos. |
Ele nasceu em 30 de maio de 1893 em Ribeira do Pombal e faleceu em 22 de dezembro de 1986 , aos 93 anos de idade. Casado com Hormína Alves dos Santos , conhecida por d. Priquitinha tiveram seis filhos sendo cinco mulheres e um homem a saber: Evanice, Elizete Alves Nicodemos, Euni,Eliezer,Elita e Edil Alves Santos , a caçula, e a única que está viva com 84 anos de idade. Sua filha Elizete casou e teve três filhos o Fernando Henrique Alves Nicodemos Neto, que tem este nome em homenagem ao avô , Ronaldo e André Luis .
Seu neto Fernando Henrique Alves Nicodemos , nasceu em 31 de dezembro de 1973, portanto tem 48 anos , e quando fala do avô chega a ficar emocionado. Ele teve uma boa convivência com seu Fernando até os 13 anos de idade , inclusive assistiu sua morte porque era período de férias e tinha vindo com sua família quando o avô se sentiu mal e pediu que lhe levassem ao sanitário. Depois foi trazido de volta e ao sentar numa cadeira de balanço, que tanto gostava, veio a falecer. Falando do avô Fernando Neto lembra que " era uma pessoa que gostava muito de ler, um homem o que podemos chamar de culto, dentro das limitações de acesso à cultura daquela época. Participava da vida política local e era muito amigo do líder Ferreira Brito. Foi juiz de Paz , realizou muitos casamentos e celebrou várias conciliações em pequenas disputas de terras e familiares. "
Fernando se emociona até hoje quando lembra do avô. |
E continou "meu avô era um vanguardista . Ele teve o primeiro aparelho de rádio da Cidade, aparelho este que desapareceu juntamente com um belo relógio antigo de parede durante a transferência de minhas tias para Salvador." Uma perda que Fernando Neto lamenta até hoje.
Disse ainda que seu avô tinha muitas amizades em Ribeira do Pombal e até mesmo em cidades vizinhas. " Ele teve padaria, farmácia e por último uma loja de cereais, e finalmente ficou sómente exercendo a homeopatia. Lembro que comprava livros e até mesmo enciclopédias por correspondência. Na época era comum a compra de livros e outros objetos através cupons que eram veiculados em jornais e revistas."
Sua casa ficava na Avenida Oliveira Brito, próxima do Bar O Quitandinha , hoje ocupada parte pela Farmácia Aragão e a Loja Sebastião, de materiais esportivos. "Nesta casa ele mantinha um quarto que chamava quarto de hóspedes que estava sempre bem limpo, arrumado e fechado para receber os juizes e até mesmo desembargadores ou outras autoridades do Judicário, quando vinham para Ribeira do Pombal. Ele não permitia que filhas e netos ficassem entrando e saindo do quarto de hóspedes.Como era muito católico mantinha um quadro com o Coração de Jesus onde meu avô ficava diante da imagem fazendo diariamente suas orações. "
A casa de seu Fernando está hoje ocupada por uma farmácia e loja de materiais esportivos. |
Outra lembrança de Fernando Neto é que seu avô tinha uma rotina interessante. Logo que acordava e tomava o seu café da manhã lia o jornal A Tarde , depois pegava o grosso volume do livro de Homeopatia e ia ler. Ao terminar sua leitura sempre dizia . "Agora já posso conversar. "
" Minha tia Evanice Alves Santos trabalhava em Salvador, na Receita Federal, e ele sempre pedia a ela comprar revistas, livros e discos que eram enviados e trazidos com certa regularidade para ele, que gostava de música e de estar sempre informado do que acontecia no mundo ", revelou.
Também, relembrou que quando dr. Décio de Santana chegou a Ribeira do Pombal e começou a clinicar não gostou de saber que tinha uma pessoa que estaria prescrevendo remédios de homeopatia. Sendo naquela época um médico positivista talvez não acreditasse no valor da homeopatia, hoje reconhecida mundialmente. Houve de longe um pequeno conflito entre o jovem médico que acabara de chegar e seu Fernando. O tempo passou e dizem que quando dr. Décio não conseguia curar alguém , como último recurso mandava que procurasse o seu Fernando da homeopatia. Foi assim que algumas pessoas se deram bem com os produtos homeopáticos e este conflito foi se desfazendo aos poucos, até que ficaram próximos um do outro. Fernando Neto lembra de ter visto o médico dr. Décio de Santana conversando animadamente com seu avô .
Quando seu Fernando se aposentou e com a idade avançada pediu a sua filha Euni Alves Santos que continuasse praticando a homeopatia. A partir daí ela ficou mais próxima do pai aprendendo a manipular os produtos e a prescrever os medicamentos para as pessoas que os procuravam. Depois do falecimento de seu Fernando a família mudou para uma nova casa na Rua Deputado Antônio Brito .
Casa onde a família de seu Fernando morou após a venda do imóvel da antiga Rua do Tucano. |
Seu sobrinho José Oswaldo de Santana, 89 anos, é casado com d. Maura Ferreira dos Reis, 86 anos. Eles tem um filho o ex-bancário José Bonifácio Ferreira Santana diz que viu muitas vezes seu Fernando doando os produtos que produzia ou mesmo tinha adquirido a pessoas carentes que não tinham condições de pagar." Às vezes como gratidão essas pessoas traziam de suas roças uma galinha, peru, uma dúzia de ovos e doavam a meu tio." Sabemos que os medicamentos da homeopatia sempre são mais em conta que os da medicina alopática.
Segundo a Wikipédia "a Homeopatia é uma forma de terapia alternativa pseudocientífica, iniciada pelo alemão Samuel Hahnemann em 1796. Baseia-se no princípio similia similibus curantur, ou seja, o suposto tratamento se dá a partir da diluição e dinamização da mesma substância que produz o sintoma num indivíduo saudável. "
Também, destacou a dedicação de toda a família para montar todos os anos o grande e belo Presépio que era visitado por muitos pombalenses e até mesmo pessoas que fora que estavam na Cidade."
Aqui em Salvador lembro que quando era Chefe de Reportagem do jornal A Tarde todos os anos ao se aproximar dos festejos natalinos mandava fazer reportagens sobre os presépios que eram armados por famílias nos bairros da Lapinha, Santo Antônio Além do Carmo, na Baixa de Quintas e também em algumas igrejas. Eram belos Presépios que encantavam crianças e adultos. Uma tradição que anda esquecida que os órgãos de cultura da Prefeitura e do Estado poderiam incentivar ao invés de despejar dinheiro para essas festas de pagodões de mal gosto. É uma tradição que poderia ser retomada inclusive pelas famílias em Ribeira do Pombal. Falou ainda José Bonifácio que seu tio "era uma pessoa distinta, nobre . Via ele sentado numa mesa no fundo da loja envolvido com seus medicamentos e de sua alegria ao receber seus clientes e ouvir atentamente o que sentiam ou mesmo algum parente para em seguida dar o produto certo para combater a doença relatada."
José Bonifácio |
Já o depoimento de Rivaldo Oliveira Santana, conhecido por Vadinho de João Irênio, de 65 anos, disse que conheceu o seu Fernando quando tinha por volta de seis anos de idade. "Fui morar em São Paulo e quando retornei estava com uma gnorréia danada . Fui a seu Fernando que preparou uma garrafada , que me causou uma bruta de uma diarréia, mas fiquei curado. Voltei lá e relatei que estava com uma forte diarréia, e sua filha Euni me deu outro remédio e melhorei por completo. "Conta este fato às gargalhadas.
Recorda João Edson Santana Souza, advogado, que seu Fernando morava defronte a sua casa na então Rua do Tucano, atual Avenida Oliveira Brito, e que seu pai sr. Elias Souza mandava ele levar quase todos os dias um exemplar do
jornal para ele. "Era um dos poucos pombalenses que lia o jornal diariamente. Quase sempre o encontrava de pijama na sua espreguiçadeira . Lembro também da casa que tinha um enorme e lindo relógio de madeira. Seu Fernando tinha uma voz suave e andava de passos lentos. A casa onde eles moravam hoje está ocupada por dois estabelecimentos comerciais .Uma párte é a Loja Sebastião e outra parte pela Farmácia Aragão , que no início era só o imóvel da esquina,onde antes funcionou um depósito de madeira de Chiquinho, conhecido por Mão de Onça. "
João Edson Santana Souza |
Acrescentou Edson que " naquela época a rua do Tucano, hoje uma avenida movimentada era totalmente residencial , e quando seu pai Elias Souza resolveu abrir uma loja para vender jornais, revistas, livros, canetas,relógios e até camisas e calças foi chamado de louco. Lembro que até os volantes de Loteria ele levava para Salvador, porque aqui não tinha Loteria", finalizou Edson.
NR- Agradeço a todos que colaboraram com mais esta reportagem sobre personagens que ajudaram no desenvolvimento social , cultural e político de Ribeira do Pombal, especialmente a Hamilton Rodrigues.
24 comentários:
Que crônica especial. Uma viagem no tempo até para quem não conheceu a cidade e o Seu Fernando.
Luciana Brito
Fantástico!!Parabéns pai
Leonor Bramont
Maravilhoso!
Maria Das Graças Santana
Bonito como você lembra das pessoas da sua cidade. Eu usei muita homeopatia e meus filhos também.
Graça Gama
Parabéns Reynivaldo Brito, resgatando mais um Pombalense , que contribuiu para os seus conterrâneos , uma bonita homenagem ao Sr Fernando. Como seria bom se muitos seguissem muitos exemplos que você está contando.
Renilde Pedreira
Sr. Fernando. Tiro o chapéu. Que maravilha. Toda semana uma boa lembrança .
Iara Brito
Maravilho!
Edna Silva
Sou adepta a homeopatia.
Domingos Dantas Brito
Linda passagem pela vida desse pombalense genuíno.
Fernando Nicodemos
Reny, sem palavra para agradecer essa grande homenagem ao meu querido e saudoso avô ! Parabéns pelo texto! Você conseguiu retratar fielmente, com as poucas informações que conseguiu, essa bonita história de vida. Muito obrigado! Serei sempre grato! Meu avô Fernando teve uma participação importante na minha formação, sempre ensinando pelo seu exemplo!
Renato Passos
Bom dia ! muito bom !
Acredito em muitos remédios homeopáticos.
Terezinha Tavares
Beleza sua maneira de escrever ! Sabe prender o leitor.
Parabéns!
João EdsonS.Souza
Reynivaldo, mais uma vez , relembrando a trajetória de vida e trabalho de pombalenses, você vai escrevendo a história de nossa Cidade, Ribeira do Pombal.
Sua escolha e dedicação em perpetuar registros de nosssa história protagonizada por nossos conterrâneos é de uma importância que vai além do trabalho jornalístico de um pombalense apaixonado e obstinado a deixar nossa história registrada.
Dalva Ferreira
Belo texto.
História muito bonita.
Inah Santana
Você escava a história, poucos ainda têm o passado na lembrança, sem contar os que se foram. Mas, percebo que lhe faz bem, continue exercitando a memória.
Marilia Gama
Lembro muito do sr. Fernando. Semblante tranquilo , fala calma. Mainha sempre usava seus remédios.
Mário Brito
Acabei de ler em seu blog . Conheci seu Fernando e algumas filhas, o seu filho Eliezer era funcionário do Banco do Brasil, lotado na Cooperativa do BB, no Terreiro de Jesus, em Salvador.
Seu Fernando era famoso por tratar os estudantes da época de doenças venéreas, tinha outro com o mesmo ofício, sr. Josué, irmão do sr. José Leôncio, que tinha uma grande loja de tecidos, na Praça Getúlio Vargas.
Para seu conhecimento seu avô paterno Ioiô Ferreira lia diariamente o jornal A Tarde , e era um dos poucos em Ribeira do Pombal, que tinha assinatura da Revista Seleções, que na época era muito boa,traduzida por Otávio Mangabeira. Muito bom o seu artigo.
Seu Fernando, ah Seu Fernando, tive o prazer em conhece-lo pessoalmente, sua flha Euni, e a historia veridica com o também amigi " Bebeque ".
Você " Grande Rei " sempre nos lembrando dos " CAUSOS" do Pombal ( nossa querida terra)
Maria Antonia Morais Matos
Parabéns Reynivaldo Brito
Amando seus textos
Resgatando nossas raízes
Lembro de Sr Fernando e toda família
Jose Aurelino Borges Aurelino
Fantástico o seu texto. Parabéns.
Marluce Maria Morais Brito
Reynivaldo, parabéns por mais.um pombalense homenageado, merecidamente. Mamãe recorria muito à homeopatia de Sr. Fernando
Elizabete Lopes Johansen
Que legal amigo Reynivaldo, recordar e viver! abs de Portugal e meu pra vcs!!
Maria Cely Valadares Macedo de Souza
Parabéns,mais um pombalenses, homenageado por suas boas obras.
Edicarlos Santana
Parabéns
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