REVISTA: Manchete
Em Salvador, uma grande convenção poderá marcar um novo passo na reaproximação entre as instituições maçônicas e a Igreja Católica
Reportagem de Reynivaldo Brito
Fotos de Arlindo Félix
Para todos aqueles que acompanham de perto o desenvolvimento da maçonaria no Brasil, tanto iniciados quanto profanos, a Segunda Convenção Nacional do Rito Brasileiro poderá ter resultados apreciáveis para o futuro imediato da instituição. Realizada neste fim de semana, em Salvador, sob o patrocínio do Supremo Conclave do Brasil e sob a responsabilidade da Loja do Grande Oriente do Estado da Bahia, esta Convenção foi encerrada com uma solenidade pública que sensibilizou a população de Salvador: os 500 convencionais desfilaram paramentados pelas ruas centrais da capital, visitaram a estátua do poeta Castro Alves e a cripta de Rui Barbosa, na sede do Tribunal de Justiça do Estado.
Segundo os observadores que acompanham mais de perto a evolução da maçonaria nestes últimos anos, esta Convenção Nacional deverá ter uma influência decisiva em dois domínios muito especiais: congraçamento cada vez mais estreito das duas grandes correntes maçônicas existentes no Brasil e normalização do relacionamento com a Igreja Católica.

O coordenador geral da Convenção, Murilo Fernandes Gandra, referindo-se às origens históricas do Rito Brasileiro, lembrou que desde sua instalação legal por Lauro Sodré, em 1914, só em 1968 é que ocorreu a oficialização normal, quando o irmão Álvaro Palmeira nomeou uma comissão de 15 membros para promover a reestruturação dos princípios específicos que deveriam reger a liturgia e o cerimonial da maçonaria brasileira. Para Murilo Fernandes Gandra, o que constitui a essencial da maçonaria é a preocupação de fraternidade que reúne homens livres e de boa vontade, sem distinção de raça, crença ou nacionalidade e sem discriminação de qualquer espécie.
No que se refere às relações entre a maçonaria e a Igreja Católica, é necessário lembrar que, apesar dos progressos realizados nos últimos anos em certos países da Europa, principalmente França e Itália, no Brasil ainda subsistiam certas dificuldades, decorrentes principalmente de conflitos do passado. As sucessivas condenações que penalizavam os cristãos decididos a aderir ao código maçônico se exacerbaram ao tempo da famosa Questão Religiosa e acabaram envenenando as relações entre as duas instituições. Depois que o então bispo auxiliar de Aracaju, Dom Luciano Duarte, aceitou, há alguns anos, o convite para fazer uma conferência na loja maçônica da capital, as tensões diminuíram consideravelmente. Durante a 2. Convenção Nacional, a alta cúpula da maçonaria brasileira decidiu condecorar o cardeal-arcebispo de Salvador, primaz do Brasil, Dom Avelar Brandão Viela, com o diploma de benemérito. O cardeal não só aceitou a distinção, como fez questão de enviar á Convenção uma mensagem de agradecimento na qual deixa bem claro que a Igreja respeita todos aqueles que, “no mundo de hoje, tão cheio de problemas, procuram iluminar as mentes na busca da verdade sem preconceitos, para o aconchego dos corações que anseiam por fazer o bem em todas as direções”. E o cardeal continua: “A Igreja sente-se mais do que nunca mãe e mestre... procurando ver e sentir os problemas dos outros através de um diálogo fraterno e bem fundamentado, procurando examinar sempre as ilhas de convergências, que são tantas, e tentando compreender as posições específicas de cada instituição ou sistema político e social”.
Para os iniciados que desejam realmente ter aberto um acesso ao espírito de ecumenismo que paira sobre o mundo depois do Concílio Vaticano II, estes resultados da 2. Convenção Nacional do Rito Brasileiro podem ser considerados como históricos.
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