ARTES VISUAIS
REVISTA NEON MARÇO/ABRIL 2001
REVISTA NEON MARÇO/ABRIL 2001
Desde cedo que demonstrou tendência para as artes. Nasceu no bairro da Soledade e viu a movimentação que acontecia no Queimadinho.
Adulto, lutou até o fim pela restauração e criou, juntamente com outros abnegados, o Museu da Água na Bahia.
Infelizmente, a falta de continuidade administrativa que reina em nosso sistema de governo, o esforço de Astor terminou sendo incompreendido e ele não viu seu projeto ser concretizado a contento: Agora, fala-se na venda ou privatização da Embasa, cujos dirigentes anteriores haviam se sensibilizado pelo projeto.
Lembra Astor que, aos 7 anos, já criava seus próprios brinquedos. Eram aviões, carros e barcos em bambu e mais automóveis, marinetes e caminhões, tudo feito com bizarras ferramentas: faca de cozinha e batedor de carne, o que deixava sua mãe preocupada.
Aos 15 anos cursava o ginásio no Colégio Severino Vieira, tendo como colegas de sala, Alfredo Fontenelle (jornalista), Carlos Anísio Melhor (poeta) e Carlos Augusto Bandeira (pintor) que por sua influência ingressou na escola de Belas Artes, freqüentando de maneira não formal as aulas de pintura de Presciliano Silva e Mendonça Filho, entre as aulas de desenho e esculturas do seu curso.
Diz Astor que, naquela época, com o aprendizado das técnicas de pintura, e utilizando, com tinta, tabatinga, alvaiade, roxo-terra e outros pigmentos, adicionado às óleo de luz e com pincéis rústicos por ele fabricados reproduziu na parede do seu quarto três modelos nus de mulher, em tamanho natural.
Permaneceram nesse lugar até o dia em que o senhor Alfredo, seu pai, descobriu; taxando-o de imoral, pois quilo era uma incidência para suas irmãs.
Tentando remediar a situação, Astor recortou em papel, sutiãs e calcinhas, mas em vão. O senhor Alfredo mandou raspar e pintar a parede, dando-lhe em seguida um corretivo. Ato contínuo, Astor deixa a Escola de Belas Artes.
Amante das artes, freqüentava rodas de artistas e intelectuais pois, após meteórica passagem pela Escola de Belas Artes aspirava fazer teatro e cinema, àquela época também censurados pela maioria dos pais. Seu universo artístico incluía, Geraldo Del Rey, Adriano Lisboa, Helena Ignês, Glauber Rocha, Rex Schindler, Ildásio Tavares, e Calasans Neto, Nilda Spencer entre outros. Com esses planos somados às idéias socialistas, acabou por ser deportado pelo seu pai a curtir um exílio no internato do Colégio Jackson de Figueredo, em Aracaju-SE, onde ficou por dois anos.
Retornando a Salvador, concluiu o curso de ginásio e foi ser bancário, depois corretor de seguros, de títulos, de ações, de imóveis e empresário da construção civil. Casou-se e hoje é pai de quatro filhos.
Retornou suas atividades artísticas na década de 70, tendo como incentivador o pintor e crítico “ Papito” (Bráulio Aquino), passando a freqüentar ateliers de artistas como Calazans Neto, Mario Cravo Jr., Carlos Augusto Bandeira, Arlindo Gomes, Sérgio Sampaio entre outros. Com sua produção artística estreou a sua primeira exposição coletiva na Panorama Galeria de Arte, onde, em sua abertura, conseguiu comercializar uma obra chamada de “Marlin”, que é uma escultura em metal, utilizando técnica mista sobre suporte de madeira.
Estreou individualmente com a exposição “Alados”, no Museu de Arte da Bahia,em 1985, tendo sido bastante comentada nos meios artísticos. Conta hoje com algumas obras em acervos de museus nacionais e estrangeiros. Recebeu alguns prêmios, inclusive em bienal, tendo seu trabalho divulgado em alguns jornais da Europa. Participou como escultor da mostra “Geração 70”, e conta hoje com a participação em inúmeras mostras individuais e coletivas, dentro e fora do Estado.
Deixando a iniciativa privada na década de 80, ingressou na Embasa, em 1984, com o objetivo de criar na empresa um espaço cultural, que era para isto contava como apoio da professora Olívia Barradas, então presidente da Fundação Cultural do Estado da Bahia, possibilitando-o a iniciar uma pesquisa bibliográfica e iconográfica voltada para o primitivo abastecimento de água da Cidade do Salvador e do Estado da Bahia, como um todo, tendo como idéia inicial a criação do “Museu da Água”, que teria como finalidade a preservação dos mananciais, como: represas, lagos, rios, fontes e chafarizes, enfim, equipamentos do primitivo serviço de água de nosso Estado, monumento da nossa história.
Produzindo arte e pesquisando sobre os primórdios do abastecimento de água, fundou em 1989, juntamente com artistas e intelectuais o Centro da Memória da Água na Bahia, contando como sócios fundadores personalidades como: jornalista Jorge Calmon, historiador José Calazans Brandão da Silva, professor Cid Teixeira, deputado federal Fernando de Santana, senador Juthay Magalhães e o então vereador João Henrique Barradas Carneiro, a museóloga Gilka de Santana, o pintor Calazans Neto, a professora Consuelo Pondé de Sena, o desenhista Edson Calmon, entre outros.
À frente de Memória da Água, como seu presidente, promoveu alguns eventos, como a restauração de pontes e chafarizes da nossa cidade. Conseguiu o tombamento pela União do nosso importante sítio histórico da antiga fazenda Santo Antonio do Queimado, sede da percursora Companhia do Queimado, primeira concessionária mercantilista do Brasil ( 1852). Com sua então famosa água da fonte do Queimado, que assim compõem Parque Fonte do Queimado, elevado a patrimônio cultural do país através da Resolução número 185 do Ministério da Cultura de 28 de novembro de 1996.

Ele acredita ser protegido dos orixás Oxalá e Xangô. Sua maior inspiração, no entanto o orixá Oxum, deusa das águas doces. Suas esculturas em sua maioria tem inspiração neste orixá.
Escultor autodidata, pintor, fotógrafo, designer,pesquisador e agora historiador,pois há muito trabalho para publicar o seu livro “ Fontes e Chafarizes de Salvador”, tendo como subtítulo Roteiro Histórico das Águas em Quatro Séculos e Meio”.
Este é o Astor que conheço.
Intransigente, às vezes com os objetivos que almeja, torna-se assim incompreendido, e isto o angustia. No afã de concretizar o seu sonho de ver o Museu da Água funcionando a todo vapor. Astor Lima fica até mesmo agressivo e isto dificulta o seu trabalho de convencimento.
Tenho informações, que ainda carecem de confirmação de que o Museu seria desativado e que o imóvel teria outra destinação. Se isto acontecer será mais um atentado à cultura baiana e aqui estaremos para denunciar esta estupidez, caso venha a se concretizar.
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