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O Rei do Baião percorreu o Nordeste.Enfrentou altos e baixos na sua vida de forrozeiro. |
Chamei um repórter e pedi que o entrevistasse com carinho para publicarmos ainda na edição que ora estava preparando anunciando o seu show. Depois de algum tempo ele veio novamente em minha direção , agradeceu e saiu sozinho andando no meio da redação barulhenta, porque à esta altura editores, repórteres já batiam suas matérias nas máquinas Remington, que juntas faziam um forte barulho. Além do barulho das conversas, sempre em voz alta, dos repórteres,redatores , fotógrafos e diagramadores os quais já estavam em seus postos trabalhando.
Sabia que o forró estava em baixa
naquela época. A Música Popular Brasileira – MPB e o rock
nacional ocuparam todos os espaços na televisão, nos teatros e nos shows. Os
forrozeiros de todo o país passaram grandes dificuldades, inclusive o maior de todos os tempos o genial Luiz Gonzaga.
Sou do sertão e sempre curti as
coisas da minha terra, em especial as manifestações culturais, e o forró está em
primeiro lugar. Tenho no carro cds e pendrives com músicas de forró que
ouço, tanto nos curtos trajetos aqui em
Salvador, como também quando estou indo ou vindo do sítio, que fica cerca de
100 quilômetros da Capital. É claro, que o saudoso Luiz Gonzaga sempre esteve
presente desde os primeiros anos de vida de minha infância e juventude em
Ribeira do Pombal, e continua presente com suas músicas envolventes e
inesquecíveis.
Como uma história puxa outra lembrei que neste mesmo período que o forró estava em baixa Luiz Gonzaga esteve em Ribeira do Pombal, distante a 287,2 Km de Salvador, e lá fez um show. Como não existiam muitas atrações na Cidade terminou a noite tomando umas cervejinhas e cachaças com seus músicos na zona, na casa da famosa Palmira, de saudosa lembrança. Lá ela mantinha algumas mulheres que divertiam a rapaziada.
Palmira era querida por todos, inclusive quando era criança lembro de minha mãe vendendo o leite que vinha da nossa fazenda às pessoas que moravam nas ruas próximas da nossa casa. Elas traziam os litros ou garrafas de vidro, e minha mãe com a ajuda de uma funcionária enchiam de leite fresco. O leite era trazido no lombo de um burro, em dois vasos grandes de alumínio. Depois o burro passou a puxar uma carroça com seus velhos pneus de borracha . Diariamente um trabalhador vinha da fazenda, que distava pouco mais de 10 Km da Cidade. As pessoas pegavam o leite e era anotado numa caderneta. Na sexta-feira, dia de feira na Cidade, os clientes viam pagar o leite que pegaram. Bons tempos.
16 comentários:
Valmir Palma Ferreira
Graças a você, também tenho o que contar sobre o meu irmão (assim ele me tratou) o saudoso Rei do Baião. Não recordo as datas. Aos 7.3, a memória já não é tão boa. Mas vamos ao que me lembro: em Exu, municipio pernambucano, integrantes das familias Sampaio e Alencar se matavam em sequência a uma interminável vingança. Os assassinatos sucediam-se, o que levou o Gonzaga, filho mais ilustre da região, a recorrer ao então primaz do Brasil, Dom Avelar Brandão Vilela, em busca de ajuda para por fim à tragédia sequenciada. O nosso saudoso Cardeal exercera o sacerdócio naquela região e era respeitado e querido por todos, inclusive pelas duas familias. Fui designado por você, chefe de reportagem de A Tarde, para cobrir o acontecimento, e nem imagina viver um dos momentos mais emocionantes da minha carreira como repórter. Voamos em pequeno avião inicialmente para Juazeiro ou Petrolina, não lembro ao certo, Dom Avelar, monsenhor Edmilson de Macedo, eu e Marquinhos Moreira (Tribuna da Bahia). A entrada de Dom Avelar na cidade, ao lado de Gonzaga, foi marcante. A população ao longo da estrada de terra, dos dois lados, todos de branco, acenando lenços brancos e entoando a música Bandeira Branca. Durante dois ou três dias acompanhamos as reuniões de Dom Avelar na casa paroquial e os carões (parecia pai e filhos) e tivemos tempo para perambular pela cidade com seo Luiz, que era cumprimentado por todos sem nenhuma deferência especial. Numa birosca, quase sem sermos notados, ele disse, sorrindo "aqui é o único lugar do mundo onde eu sou um sanfoneiro qualquer". No último dia em Exu, Gonzagão ofereceu uma almoço no seu Sitio que naquelo momento, em ato solene, deixou de ser Asa Branca para se tornar Sitio Dom Avelar. Registrei tudo com a minha maquina Pratika e esse foi o motivo do meu terceiro e último encontro com o Rei do Baião. Em Salvador em conversa com os irmãos, na Oficina, fiquei sabendo que Luiz Gonzaga era membro atuante da nossa Ordem. Pouco tempo depois, também pautado por Reynivaldo Brito, fui cobrir uma visita de Gonzaga a Dom Avelar, na casa do Cardeal. Chegamos, eu e o fotógrafo Valdir Argolo, quase no final da visita que, na verdade, era um show especial do Rei do Baião para o Cardeal e alguns poucos religiosos. Não era o seo Luiz que andou comigo em Exu, era o astro em ação, paramentado com todo requinte. Esperamos, e quando fui entrevistá-lo me identifiquei com um sinal e ele respondeu indagando: "tão novinho assim e já é cabra safado" . Riu. E acrescentou, sério: "Mas não lhe perdoo. Você foi recebido como um estranho na casa do seu irmão"
No final da tarde daquele mesmo dia fui com Valdir Argolo, entregar as fotos que tinha feito no batismo do Sitio Dom Avelar. Conversamos pouco mais de meia hora no saguão do Hotel Baía do Sol, perto do Campo Grande, e fomos interrompidos algumas vezes por um cara elegantemente trajado no estilo country. Com um copo de uisque em uma das mãos ele chegava dizia "sou seu fã". Como notei o incomodo de Gonzaga e o fato dele não demonstrar conhecer o cara, me apressei em informar que se tratava de Raul Seixas e ele , confirmando que não estava reconhecendo, apenas indagou o que estaria acontecendo com ele "está tào magrinho".
Nos despedimos e Gonzaga dirigiu-se ao grupo onde estava Raul. Antes de deixar o hotel pude observar o aperto de mão entre os dois astros. Foi a última vez que vi os dois, ao vivo e a cores!
Teresa Oliveira
Bom tempos. Quem tem o pé cor de terra, também tem a alma da mesma cor.
Anna Georgina Rocha Cardoso
Tempo bom
Edna Silva
Que bonito!
Domingos Brito
Que privilégio heim Rei , conhecer essa grande celebridade da musica nordestina, tempos que não voltam mais.
Maria Das Graças Santana
Que previlegio faz reportagem e ser amigo do Rei do Baião. Como ele encantava o nosso nordeste com suas músicas maravilhosas
Darcy Brito
Quando garota lembro de uma notícia que saiu nas rádios dizendo que Luiz Gonzaga tinha morrido. Uma fã dele que trabalhava de doméstica pra minha mãe chorava o tempo todo. Mas felizmente a notícia era falsa. E logo depois surgiu a música "Luiz Gonzaga não morreu". E a fã dele como todos na minha casa vibraram de alegria.
Darcy Brito
Quando garota lembro de uma notícia que saiu nas rádios dizendo que Luiz Gonzaga tinha morrido. Uma fã dele que trabalhava de doméstica pra minha mãe chorava o tempo todo. Mas felizmente a notícia era falsa. E logo depois surgiu a música "Luiz Gonzaga não morreu". E a fã dele como todos na minha casa vibraram de alegria.
Eduardo Piñeiro
Darcy Brito Luiz Gonzaga não morreu, nem a sanfona dele desapareceu, seu automóvel na virada se quebrou, seu zabumba se amassou mais o Gonzaga não morreu. Essa é a música.
Obs: sou afilhado dele.
Jorge Nascimento Silva Nascimento
Nossa. Imaginem a surpresa!! Eu que vivi longos anos naquela Redação, imaginei a chegada, a saída do velho cantor genial! Lembrei-me da Presença de Jorge Amado, ali TB, em prosa com Adroaldo Ribeiro Costa. E eu estava com um exemplar de Tieta...comprado bem barato no sebo Brandão, alí na Rua Rui Barbosa( era meu point!) e na oportudade, solicitei um autógrafo, que foi seguido por largo sorrisos, e afagos do velho Adroaldo!! Inesquecível!!!!
Benjamin Brito Gama Junior
Falar de Luiz Gonzaga e lembrar que o mesmo teve o privilégio também de conhecer a ilustre pessoa Sra. Palmira nas terras de Santa Tereza,que beleza!!!
Você Rei é mesmo um privilegiado ter vivido todos esses momentos.
Edson Passos Brito
Grande história, parece que estava assistindo um filme, bem relatado, brilhante jornalista e escritor... a saudosa Palmira era um patrimônio de Pombal, era minha amiga e eu adolescente já era seu admirador, você conta a história com muita realidade, parabéns.
Alice Campos
Gostei muito do texto, que honra conhecer Gonzagão.
Liane Katsuki
Quanta recordacao destes lindos tempos!!!
Liane Katsuki
Quanta recordacao destes lindos tempos!!!
Um belo miniconto, gostei da narração envolvendo tudo o que há de bom.
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