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Foto 1. Integrantes do grupo A Máfia. Foto 2. O grupo Revoltados. Foto 3. Membros do grupo Cangaço. Foto 4. Integrantes do grupo Talibã. |
Muitos ficam procurando identificar as pessoas que estão por trás daquelas máscaras falando palavras desconexas e tentando a todo custo melar os assistentes com farinha de trigo e talco ou distribuir bombons para as crianças . Mas, foi a partir de 2011 que ganhou mais força quando um grupo de jovens resolveu se reunir e alavancar esta tradição que tinha uma característica espontânea sem qualquer organização. Cada um fazia sua máscara e fantasia e saía pegando alimentos nas casas, exibindo animais que não recebiam o tratamento adequado. Eles decidiram proibir este tipo de atividade dentro da festa e resolveram adquirir máscaras de qualidade. A iniciativa se fortaleceu, e já em 2012 o evento veio com nova roupagem resultado da organização .
O sucesso foi grande e chamou a atenção do Secretário de Cultura do município de Ribeira do Pombal, Oswaldo Rocha, que procurou os responsáveis que passaram a participar de feiras culturais locais, as chamadas Cultureiras, onde mostram suas máscaras e fantasias. Em seguida conseguiram doação de tecidos, banner para divulgar o evento e carro de som para animar as apresentações no Domingo de Páscoa. No dia 23 de abril de 2019, na Quadra Esportiva do Povoado Barrocão, foi aprovado pela Câmara Municipal de Vereadores , por unanimidade, o projeto de Lei nº 08 de 22 de abril de 2019, que declara Patrimônio Cultural Imaterial de Ribeira do Pombal, os grupos de Caretas do Barrocão.
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Fotos mostram a tradicional melação dos Caretas. |
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Foi um grande sucesso o desfile dos Revoltados este ano. |
Atualmente existem quatro grupos de Caretas do Barracão: A Máfia, Talibã, Cangaço e Revoltados e cada um desses grupos tem de quinze a vinte integrantes. Ao que tudo indica a tendência é de aumentar o número de grupos porque eles são independentes embora se relacionem entre si. Ficamos sabendo que quem tem acesso ao catálogo mexicano e a compra das máscaras é o líder do grupo A Máfia, e que até existe um comércio de venda e aluguel de máscaras entre os grupos. Por exemplo, o pessoal da A Máfia sai com determinadas máscaras num ano, e no ano seguinte aluga ou vende algumas delas a outros componentes de grupos diferentes.
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O Wilton Reis dos Santos do grupo Revoltados. |
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Gabriel e amigos lideram o Cangaço |
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Daniel Góis do grupo A Máfia |
Durante todo o dia do Domingo de Páscoa os moradores interagem com os Caretas que cometem suas diabruras assustando crianças e adultos numa brincadeira saudável, e vem atraindo a cada ano um bom número de visitantes de outras cidades e povoados. Inclusive por ocorrer durante a Semana Santa, ou seja no Domingo de Páscoa, as famílias locais e das proximidades recebem muitos parentes que vêm descansar ou visitar seus familiares e assim participam do evento. À noite sempre ocorre a queima do Judas, quando são encerrados os festejos.
Ele conta que recentemente tem ocorrido a introdução de novos elementos da cultura de massa, a exemplo as fantasias de monstros de personagens de filmes estrangeiros. Para ele esta apropriação de elementos de fora da cultura local não representa a perda da autenticidade da manifestação os Caretas de Barrocão, mas "sim sobre o modo de criar da cultura popular que é ser versátil e aberta a novos elementos, por isso sempre viva e atual"
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Os Caretas do grupo A Máfia na entrada do Povoado. |
Daniel Góis relata que as dificuldades são muitas e que eles não têm uma sede
social e que recebem algum recurso da Secretaria Municipal de Cultura, porém insuficiente para cobrir a maioria dos custos. Ele adianta que todos os anos alugam um espaço por um período de três meses, onde são confeccionadas e guardadas a maioria das fantasias e materiais diversos. Muitas vezes tomam emprestado aos comerciantes locais e ganham materiais de amigos, vizinhos para a feitura das fantasias.
Disse ainda o líder de A Máfia o Daniel Góis que "não existe um projeto específico para nosso evento. Recebemos ajuda da Secretaria de Cultura municipal, através da doação de um banner para divulgação do tema específico de cada ano da apresentação, carro de som para que no dia do evento possa nos auxiliar na sonorização da dramatização de entrada do grupo e em alguns anos recebemos tecido para confecção das fantasias; recebemos também uma pequena ajuda de alguns setores do comércio local, que disponibilizam uma pequena quantia de dinheiro como patrocínio. Mas, essas ajudas ainda não são suficientes para atender às despesas , pois todos os anos tentamos inovar, com ações que envolvam cada vez mais a comunidade."
Como é uma manifestação promovida por pessoas de origem da zona rural muitos deles não tem um emprego ou mesmo renda fixa. Na hora de adquirir as máscaras e fantasias eles não dispõem do dinheiro necessário para adquiri-las. Os custos são altos para os padrões locais. Eles mandam confeccionar camisetas estampadas com elementos do evento que são vendidas como souvenir para os moradores e visitantes com o intuito de arrecadar dinheiro para fazer frente às despesas.
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Vemos ai três dos integrantes do grupo Talibã. |
Para garantir a perpetuação dos Caretas do Barrocão eles criaram grupos de jovens e de crianças que se apresentam pela manhã . Por ser uma comunidade pequena ou seja um Povoado, a maioria dos moradores têm laços familiares próximos e " a transmissão de conhecimentos é passada naturalmente através das gerações, pois as crianças crescem vendo seu pai e parentes participando do evento".
Atento à necessidade de divulgar os Caretas de Barrocão Daniel Góis argumenta no documento enviado ao Ministério da Cultura que diante da "importância da cultura popular para o desenvolvimento local, e considerando as manifestações e expressões populares como fator de identidade cultural, o conhecimento da cultura local reforça a valorização bem como o incentivo ao desenvolvimento da região. Daí o seu objetivo é não deixar desaparecer este evento que deixa marcas no imaginário da infância de todas as gerações que tiveram a oportunidade de participar."
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Brincadeira com a Mulher de Madeira que fez o papel de Judas por um curto período . |
Diz Daniel que esta manifestação cultural teve origem em 1958 através um sergipano chamado Raimundo Briba , e que se estabeleceu no povoado de Barrocão até que veio a falecer. No início os mascarados ou encaretados usavam máscaras e trajes muito simples ,sendo confeccionados pelos próprios participantes usando tecidos, papelões e até cabaças". Com o passar dos anos Daniel Gois e Leandro Oliveira descobriram uma fábrica de máscaras de látex no México, que é referência mundial, e aí convidaram alguns amigos e formaram o grupo A Máfia. "Como as máscaras são de alta qualidade e importadas o custo é elevado e por isto eles buscaram algumas parcerias para ajudar nos custos."
Ele disse que por diversos anos tivemos a Queima do Judas e a leitura da sua Carta, que era uma sátira envolvendo personagens da comunidade, mas por algumas divergências decidimos suspender esta parte do evento. No passado durante a chamada melação eram usados o reio - feito com um pedaço de madeira amarrado na sua extremidade com fio de energia ou uma tira de couro de boi- a boanga - sacola onde se colocava cinzas - e o tradicional chocalho. Atualmente, foram adicionados outros elementos, como spray de espuma e farinha de trigo.
Ele considera que o surgimento do grupo A Máfia foi "uma revolução nos Caretas do Barrocão, porque além de importar máscaras, todos os trajes passaram a ser melhor confeccionados, e mais organizado, tendo apoio principalmente da Secretaria de Cultura do Município. Passou a ter também algo novo no evento, que agora sempre é esperado pela comunidade, que são as entradas das turmas em praça pública. Após o surgimento de A Máfia, outros participantes acabaram se inspirando e também formaram suas turmas, entre elas os Revoltados e o Talibã."
O sucesso dos Caretas é comprovado em dois vídeos que estão no canal da TVS (TV Sertão) no Youtube, onde juntos já superam mais de 1 milhão e 400 mil visualizações. Com todo esse sucesso, já houve a expansão do evento para outras localidades do município, como Boca da Mata e Nova Esperança. Os integrantes de A Máfia prometem para o Domingo de Páscoa de 2023, onde o evento completará 65 anos, iremos fazer uma grande festa, onde o grupo A Máfia que tinha 18 componentes, passará a ter 42 integrantes.
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Célio Roberto Góis é um dos líderes do grupo Talibã. |
DEPOIMENTOS
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Vânia Reis curte os Caretas. |
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D. Maria do Carmo lembra como começou. |
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O jovem Mateus Morais integrante da Máfia |
NR- Quero agradecer ao Hamilton Rodrigues, e também a Daniel Góis por sua disposição em colher informações que me foram repassadas para construir este texto. Aproveito para registrar que parte do texto que escrevi e publiquei na semana passada, falando do trabalho de um jovem pecuarista pombalense, foi copiado e publicado em um site sem a citação da autoria. Este tipo de atitude não faz bem ao bom jornalismo, e mostra quem é a pessoa que pratica este tipo de ação.