Objetivo


quinta-feira, 6 de setembro de 2018

REYNIVALDO BRITO - JORNALISMO IMPRESSO - ENTREVISTA



REYNIVALDO BRITO

"O jornalismo impresso será um produto mais qualificado para um público intelectualizado"

Entrevista concedida a Andréa Araújo em 2 de agôsto 2018.

                                                                                                 QUEM É
                                                                          



Reynivaldo Brito é bacharel  em Jornalismo
 e em Ciências Sociais pela Universidade 
Federal da Bahia (UFBA). 
O jornalista em seu ambiente de trabalho
Foi professor da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia por quase duas décadas .Embora aposentado Reynivaldo permanece no ofício através da sua empresa de assessoria RB Agência de Notícias e Publicidade Ltda e,  também, mantém seus blogs reynivaldobrito.blogspot.com onde escreve sobre assuntos diversos, especialmente sobre política, e o reynivaldobritoartesvisuais.blogspot.com 
onde escreve sobre os assuntos ligados
às artes. No impresso baiano atuou no jornal A Tarde por 35 anos, e na Revista Manchete, do Rio de Janeiro, por quase 17 anos. Portanto,esta  longa experiência no jornalismo impresso o gabarita a avaliar o conteúdo noticioso dos veículos que circulam em Salvador.

Andréa Araújo: Por quanto tempo trabalhou no jornalismo e quais veículos de comunicação baiano atuou?
Reynivaldo Brito: Os primeiros momentos foram no final da década de 60. E aqui na Bahia atuei somente no veículo impresso do grupo A Tarde por 35 anos. Comecei na função de repórter e terminei como editor geral.

AA: O senhor tem uma história de militância política e já até respondeu inquérito. Acredita que o jornalismo pode sobrepor ao poder político e atuar com independência?
RB: Não existe independência no jornalismo, embora se ensine isso nas faculdades. Historicamente no Brasil os republicanos e monarquistas cada um tinha seus jornais. Era uma briga horrorosa (risos)! A Tarde sempre fez um jornalismo conservador liberal nunca foi independente. O Correio da Bahia é ligado à família Magalhães. Geralmente, os jornais estão nas mãos de famílias ou grupos políticos e econômicos. Então, não existe jornalismo independente na concepção pura da palavra. Atualmente no Brasil 90% da imprensa tem a tendência em ser voltada para à esquerda.

AA: Já atuou em editoria de política?
RB: Não! Sempre escrevi para editoria geral. Entrevistava artista, político, tudo. Já na coluna sobre artes visuais do jornal A Tarde, por exemplo, escrevi durante 25 anos sobre os principais acontecimentos da arte  na Bahia.

AA: Como o senhor avalia a cobertura política dos veículos baianos?
RB: Não tenho muito que dizer. Acho muito fraca. Já li coluna de política que mais parece coisa de fofoca.  Quem escrevia bons textos de jornalismo político aqui era Samuel Celestino, no jornal A Tarde. E tinha também Ivan Carvalho ,na Tribuna da Bahia. Eles já estão fora do mercado. 

AA: No período da ditadura militar o senhor viu de perto aqui em Salvador muitos jornais serem censurados. Muitos desses jornais foram extintos. Em sua opinião, o que ocasionou a falência de muitos jornais impressos?
RB: Quando um jornal desagrada ao governo a primeira coisa que fazem é cortar a publicidade oficial. E sem a publicidade o jornal não sobrevive. E isso serve como um elemento de pressão do poder político contra a imprensa.
Também a relação da publicidade com a redação não é amistosa. A publicidade sempre tem a preferência. Quando não tem é utilizada como elemento de pressão, e até de sufocamento do veículo opositor.
Outros fecharam por problemas de gestão, como acontece com muitas empresas diferentes ramos de atividade.

AA: Todo jornal tem sua linha editorial que exige do jornalista adaptações do seu texto. O senhor já precisou passar informações nas entrelinhas para os leitores?  Em quais situações?
RB: Já precisei sim! O jornal já diz claramente o que você pode e não pode. O A Tarde em certa ocasião brigou com o prefeito Jorge Hage. A briga foi devido uma disputa de pagamento de IPTU. Aí o jornal fez uma campanha terrível contra o prefeito. 
Os jornais defendem  interesses pessoais, empresariais e políticos. E estão ligados a algum grupo político ou empresarial. Onde existe gente existem interesses. Ser ético ou não depende de cada um. Agora, precisamos procurar ser sempre os mais éticos possíveis, e nos aproximarmos da independência o máximo que pudermos.

AA: Atualmente existem novas formas de distribuição e consumo de notícias em razão das novas tecnologias de comunicação. O impresso perdeu para a velocidade de informação da internet. Os jornais conseguirão sobreviver por mais quanto tempo?
RB: Eu acho que o jornalismo impresso vai ser um nicho. Um pequeno nicho. A grande saída será os textos de bons articulistas, bons comentaristas. Com o cara da política, da economia, do humor. E um jornalismo com informação mais qualificada. A revista Veja é um exemplo dessa tendência. Está cheia de articulistas e ainda traz grandes reportagens. O que vemos nas redes sociais, por exemplo, é uma coisa quase telegráfica. Porque o leitor de rede social tem pressa, e dois parágrafos já são muita coisa. Então, o jornalismo impresso será um produto mais qualificado para um público intelectualizado. Os menos alfabetizados vão  ficar naquele jornalismo de sangue que custa R$ 0,50 um exemplar.

AA: Sites noticiosos como o El País e o Carta Maior trazem em suas plataformas textos aprofundados, crônicas, artigos de especialistas que possibilitam leitores num clique a criticidade e formação de opinião. Que importância o impresso tem hoje?
RB: Às vezes eu pego o jornal e nem abro porque as notícias que estão aqui (aponta para o jornal) eu já vi aqui (aponta para o notebook). O jornalismo impresso sobrevive hoje com a publicidade oficial. Até os classificados estão diminuindo muito porque temos como divulgar gratuitamente na internet.
Porém, como já enfatizei acima, os veículos impressos continuarão sendo buscados por seus leitores de acordo com sua formação educacional,  convicções políticos, filosóficas etc.

AA: Como classifica a qualidade do conteúdo noticioso dos jornais impressos que circulam em Salvador?
RB: Eu acho fraco. A cobertura poderia ser melhor. Fatos importantes estão acontecendo em Salvador e eles não dão nada. às vezes vão pautar no dia seguinte. Aqui na Bahia o impresso perdeu a mobilidade de cobrir os fatos no Estado. Talvez isso seja pelo enfraquecimento econômico, e a consequente falta de investimento nas reportagens. Eu cansei de pegar avião alugado pelo jornal A Tarde para fazer as coberturas em vários municípios baianos.   Hoje vejo muito o feijão com arroz. É o que a pessoa (fonte) diz a ele (repórter) copia e transcreve.  
AA: Num ranking como o senhor posiciona os impressos baianos?
RB: O Correio da Bahia com o formato tabloide, com as imagens mais abertas e melhor qualidade gráfica do que o Tribuna da Bahia fica em 1º lugar. A estratégia de marketing de distribuição de CDs de artistas e outras promoções vem ajudando nas vendas. Depois vem o A Tarde em 2º lugar. E por fim, o Tribuna da Bahia na última posição. Embora muitas edições da Tribuna sejam de melhor qualidade . 

AA: O jornal com mais tendência de esquerda e que realiza uma cobertura política local distanciada de acordos políticos seria o A Tarde ou o Tribuna da Bahia?
RB: Aqui não tem nenhum.Todos eles estão de alguma forma  atrelados ao Governo. Eles não batem muito no Governo como deveriam. Por exemplo, o Centro de Convenções desabou resultado de má administração. O dinheiro público sendo jogado fora. E não teve quase nada de denúncia. O que eu li foi algo telegráfico do tipo: Caiu! Desabou! O governo vai fazer outro. Só fazem reportar! Não têm contundência. É um jornalismo do conformismo. 

AA: O senhor declarou em entrevista a José Otávio M. Badaró em 2003 que se lê pouco na Bahia. Quem é o público que gosta de ler jornais?
RB: Quem sempre leu jornais foi a classe média. Ninguém ia para casa sem o jornal debaixo do braço. Mas, esse público devido o empobrecimento e da internet deixou de comprar jornais, e está lendo cada vez menos. O que é um fenômeno mundial! Hoje, quem ler jornais são as pessoas que trabalham nas repartições públicas, geralmente onde tem assinatura, os políticos, os educadores,profissionais liberais etc.  
A leitura do impresso será para pessoas mais intelectualizadas. Lemos muito pouco no Brasil. Mas, quando tivermos uma política forte de educação até os jornais impressos serão lidos com mais frequência. Temos um grande número de analfabetos funcionais. Pessoas sem opinião formada. E são exatamente essas pessoas que acreditam na ideologia de esquerda e votam sem criticidade. Antes eram os currais eleitorais da direita, hoje, são da esquerda através de benefícios sociais. O voto de cabresto continua firme.Apenas mudaram as formas de manter esta gente dependente. E o jornalismo é uma das formas de educar o povo.

AA: O jornalismo é uma profissão promissora?
RB: Não. O mercado de trabalho será muito pequeno para essa multidão de gente que está se formando aí. Outra questão, o jornalismo sempre remunerou mal. Aqui na Bahia e no resto do país historicamente não é diferente. Evidente que existem exceções, especialmente os que militam nos veículos eletrônicos.




Nenhum comentário: