Objetivo


terça-feira, 14 de abril de 2020

O GUARDA NOTURNO DE MORAES MOREIRA

Estávamos na década de  70, não sei precisar o ano, e morávamos num velho casarão em pleno Corredor da Vitória . Era um casarão de  três andares e ficava bem próximo à famosa  Boite XK .Lá residiam muitos estudantes universitários oriundos do interior do estado, comerciários , funcionários públicos menos graduados e outros profissionais de menor poder aquisitivo. 
Moraes Moreira ,ainda jovem. Quando chegou
lembro que era mais magrinho.
Era uma espécie de república de estudantes, e o dono do negócio era um senhor chamado Nemias, que também era do interior. Escolhíamos morar nestes pensionatos ,que existiam no Corredor da Vitória,  porque fazíamos nossas refeições - almoço e janta - no Restaurante Universitário, que ficava próximo . Vizinho do Restaurante tinha a Colégio Sophia Costa Pinto, onde belas garotas de classe média alta e ricas estudavam. Já naquela época a gente curtia  saias curtas . Era um frenesi elas correndo com aquelas sainhas de cor azul marinho mostrando suas belas e jovens pernas...
Numa certa noite José Walter, meu colega de pensão me chamou e a outros moradores  para a gente conhecer um irmão que viera de Ituaçu, sua cidade natal, para tentar a vida como compositor e cantor
na Capital.Tenho uma vaga lembrança que ele cursou Engenharia, na UFba, ou era também colega no curso de Ciências Sociais.
Ai a Residência Universitária e no fundo
ficava o Restaurante .
Era um rapaz magrinho, vestido em roupas simples com um violão. Sentamos  nas camas.  Geralmente os quartos que habitávamos  tinham duas camas patentes, e eram separados por paredes feitas de compensado. Dedilhando o violão o então irmão de Zé Walter mostrou  suas composições, e uma delas me chamou a atenção, era "Guarda Noturno" que ele cantou animado. Portanto, foi a primeira audiência em Salvador do excelente compositor e cantor Moraes Moreira. O resto de sua trajetória brilhante o Brasil inteiro conhece.
Lembro da canção, porque também em Ribeira do Pombal , onde passei minha infância tinha a figura do guarda nortuno. Na época a energia era fornecida por um gerador a óleo acionado pelo senhor Zinho, e por volta das 22 horas era desligado .Tudo ficava às escuras. Antes ele dava três sinais de 5 em 5 minutos, apagando e acendendo as luzes. Ao apagar surgiam os guardas noturnos com seus apitos inconfundíveis. Foi ai que o Moraes Moreira resolveu homenagear com a canção esta figura de nossa infância que deveria existir também em Ituaçu. A música não fez sucesso. Nem sei se a gravou. Vi uma vez ele cantando na televisão. Agora, a procurei e ainda não a encontrei.
Quanto ao Zé Walter,  formamos em Ciências Sociais, que era um dos cursos mais disputados na época, e ele foi morar em São Paulo. A última notícia que tive dele foi que era um dos diretores de uma importante multinacional do ramo eletroeletrônico. Não sei se procede a informação, porque nunca mais tive o prazer de estar ou saber do Zé Walter que trouxe seu irmão para tentar a vida, e que depois tornou-se famoso em todo o país. Portanto, seu falecimento ontem, dia 13 de abril de 2020, me tocou e trouxe esta lembrança da sua chegada à Salvador.

Um comentário:

César Rasec disse...

Maravilha Rei. Vivências que nutrem com muita informação um bom texto!
Mestre é sempre mestre. Você foi o meu mestre na Faculdade de Comunicação.