ESTUDANTES

ADESÕES PAULISTAS
Em São Paulo e Campinas, os estudantes tiveram uma preocupação prévia: ajustar o horário da passeata ao do encerramento do expediente do comércio e das repartições públicas. Paralelamente, o secretário de Segurança Pública, Coronel Antônio Erasmo Dias, cumpria sua promessa, mobilizando todos os recursos disponíveis para enfrentar a situação. Logo no início da tarde, o centro de São Paulo foi tomado por vinte mil policiais fortemente armados e que horas depois se envolviam em múltiplas perseguições aos blocos de estudantes que irrompiam de vários locais, empunhando cartazes e gritando palavras de ordem. O Largo Paissandu, para onde estavam marcadas as principais manifestações, transformou-se numa praça de guerra e foi prudentemente evitado pelos estudantes, que preferiram dividir-se e aproveitar ao máximo as vantagens que o próprio movimento da cidade oferecia à hora do rush. Assim, misturados a tranquilas donas-de-casa e a distraídos escriturários, os universitários incluíram o maior número possível de pedestres nas passeatas e conseguiram ainda a adesão da população em geral: as portas se abriram para que eles fugissem dos policiais e do alto dos edifícios eram saudados com palmas. Mas, não eram só palmas que desciam dos edifícios: em São Paulo, como em Porto Alegre, das residências e escritórios jogaram garrafas e sacos com detritos sobre os policiais. Na capital paulista, chegaram a ocorrer fatos inesperados durante os tumultos. O Capitão Dércio Chiconello, por exemplo, foi agredido por um policial e levou treze pontos no supercílio esquerdo, enquanto uma bomba estourava nas mãos de um soldado da Polícia Militar. Dois dias depois, os estudantes presos durante as passeatas foram soltos e reincorporados à vida universitária, ao contrário dos seus colegas da UnB, cujas punições foram mantidas no final da semana passada. Os universitários passaram a se preocupar, então, com a criação da União Estadual dos Estudantes, entidade oficialmente proibida, como o atual DCE-Livre da USP, que foi, aliás, o principal organizador das manifestações em São Paulo.
PRISÕES NO SUL
No Rio Grande do Sul, as manifestações tiveram proporcionalmente as mesmas dimensões de São Paulo. Também em Porto Alegre, o secretário de Segurança Pública, Rubem Moura Jardim, deu ordens expressas para terminar com qualquer passeata e seus servidores assim o fizeram. Mais de cem pessoas foram detidas e uma balconista teve as duas pernas fraturadas ao ser atropelada por um camburão. Para conter os estudantes, a polícia usou cassetetes, jatos de água e bombas de gás lacrimogêneo, mas nem sempre os soldados da PM foram felizes: alguns deles tropeçaram nas mangueiras e caíram no chão estrepitosamente, enquanto populares cantavam slogans pitorescos.
Em Salvador, os universitários não tiveram que enfrentar as mesmas dificuldades. Eles fizeram o seu despacho contra o reitor José Carlos de Azevedo, desfilaram com um sapo verde e discursaram sob a estátua de Castro Alves. Por fim, ouviram uma declaração do cardeal-arcebispo de Salvador e primaz do Brasil. Dom Avelar Brandão Vilela, defendendo a necessidade de um entendimento entre os estudantes e as autoridades, encerrando uma crise que se arrasta há quinze semanas.
(Marina Wodtke/Porto Alegre, Reynivaldo Brito/Salvador, Pane Baruja/Rio de Janeiro e Júlio Bartolo/São Paulo)
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