Objetivo


sexta-feira, 29 de outubro de 2021

O HOMEM QUE USAVA A HOMEOPATIA PARA CURAR

Uma ilustração de seu Fernando mexendo com seus 
 produtos homeopáticos.
 Vamos relembrar de um homem baixo, magro e   que  usava  óculos na ponta do nariz , era um leitor   atento e através da homeopatia ajudou muita gente a   enfrentar doenças e seguir em frente. Seu nome é Fernando Evangelista dos Santos ou simplesmente    seu Fernando da homeopatia como era conhecido   por todos. Inicialmente, tinha uma loja de ferramentas,  padaria, farmácia  e depois de cereais , uma   espécie de armazém. Também,  fazia seus   comprimidos homeopáticos e vendia ou mesmo   doava quando a pessoa não tinha condições de pagar. O nosso homenageado seu Fernando sempre estava sentado no fundo da loja à espera de seus clientes. Por  ser um leitor assíduo tinha uma cultura geral acima de muitos pombalenses.  Ele era leitor diário de jornal A Tarde e foi o primeiro a ter um aparelho de rádio em Ribeira do Pombal. Dizem que na época da Segunda Guerra mundial as pessoas iam em determinado horário para a casa do seu Fernando para ouvir o noticiário dos últimos acontecimentos no front. 
Ele nasceu em 30 de maio de 1893 em Ribeira do Pombal e faleceu em 22 de dezembro de 1986 , aos 93 anos de idade. Casado com  Hormína Alves dos Santos  , conhecida por d. Priquitinha  tiveram seis filhos sendo cinco mulheres e um homem a saber: Evanice, Elizete Alves Nicodemos, Euni,Eliezer,Elita e Edil Alves Santos , a caçula, e  a única que está viva com 84 anos de idade.  Sua filha Elizete casou e teve três  filhos o Fernando Henrique Alves Nicodemos Neto, que tem este nome em homenagem ao avô , Ronaldo e André Luis .
Vemos ao centro seu Fernando e d. Priquitinha.À esquerda
  Evanice e Eliezer. À direita Euni com os sobrinhos Ronaldo e
 André  Luis , e ao fundo Miranda,que trabalhava na loja
de tecidos .Esta foto data de 24 de fevereiro 1979.
Seu neto Fernando Henrique Alves Nicodemos , nasceu em 31 de dezembro de 1973, portanto tem 48 anos , e  quando fala do avô chega a ficar emocionado. Ele teve uma boa convivência com seu Fernando até os 13 anos de idade , inclusive assistiu sua morte  porque era período de férias e tinha vindo com sua família quando o avô se sentiu mal e pediu que lhe levassem ao sanitário. Depois foi trazido de volta e ao sentar numa cadeira de balanço, que tanto gostava, veio a falecer. Falando do avô Fernando Neto lembra que " era uma pessoa que gostava muito de ler, um homem o que podemos chamar de culto, dentro das limitações de acesso à cultura daquela época. Participava da vida política local e era muito amigo do líder Ferreira Brito. Foi juiz de Paz , realizou muitos casamentos e celebrou várias  conciliações em pequenas disputas de terras e familiares. "
Fernando se emociona até hoje
quando lembra do avô.
E continou "meu avô era um vanguardista . Ele teve o primeiro aparelho de rádio da Cidade, aparelho este que desapareceu juntamente com um belo relógio antigo de parede durante a transferência de minhas tias para Salvador." Uma perda que Fernando Neto lamenta até hoje.
Disse ainda que seu avô tinha muitas amizades em Ribeira do Pombal e até mesmo em cidades vizinhas. " Ele teve  padaria, farmácia e por último uma loja de cereais, e finalmente  ficou sómente exercendo a homeopatia. Lembro que  comprava livros e até mesmo enciclopédias por correspondência. Na época era comum a compra de livros e outros objetos através cupons que eram veiculados em jornais e revistas." 
Sua casa  ficava  na Avenida Oliveira Brito, próxima do Bar O Quitandinha , hoje ocupada parte pela Farmácia Aragão  e a Loja Sebastião, de materiais esportivos.  "Nesta casa ele mantinha um quarto que chamava quarto de hóspedes que estava sempre bem limpo, arrumado e fechado para receber os juizes e até mesmo desembargadores ou outras autoridades do Judicário, quando vinham para Ribeira do Pombal. Ele não permitia que filhas e netos ficassem entrando e saindo do quarto de hóspedes.Como era muito católico mantinha um quadro com o Coração de Jesus onde meu avô  ficava diante da imagem fazendo diariamente suas orações. "

A casa de seu Fernando está hoje
 ocupada por uma farmácia e
  loja de materiais esportivos.

 Outra lembrança de Fernando Neto é que seu avô tinha uma rotina interessante. Logo que acordava e tomava o seu café da manhã  lia o jornal A Tarde , depois pegava o grosso volume do livro de Homeopatia e ia ler. Ao terminar sua leitura sempre dizia . "Agora já posso conversar. "
" Minha tia  Evanice Alves Santos trabalhava em Salvador, na Receita Federal, e ele sempre pedia a ela  comprar revistas, livros e discos que eram enviados e trazidos com certa regularidade para ele, que gostava de música e de estar sempre informado do que acontecia no mundo ", revelou.
Também, relembrou que quando dr. Décio de Santana chegou a Ribeira do Pombal e começou a clinicar não gostou de saber que tinha uma pessoa que estaria prescrevendo remédios de homeopatia. Sendo naquela época um médico positivista talvez não acreditasse no valor da homeopatia, hoje reconhecida mundialmente.  Houve de longe um pequeno conflito entre o jovem médico que acabara de chegar e seu Fernando. O tempo passou e  dizem que quando dr. Décio não conseguia curar alguém , como último recurso mandava que procurasse o seu Fernando da homeopatia. Foi assim que algumas pessoas se deram bem com os produtos homeopáticos e este conflito foi se desfazendo aos poucos, até que ficaram próximos um do outro. Fernando Neto lembra de ter visto o médico dr. Décio de Santana conversando animadamente com seu avô .  
Quando seu Fernando se aposentou e com  a idade avançada  pediu a sua filha Euni Alves Santos que continuasse praticando a homeopatia. A partir daí ela ficou mais próxima do pai aprendendo a manipular os produtos e a prescrever os medicamentos para as pessoas que os procuravam.  Depois do falecimento de seu Fernando a família mudou para uma nova casa na Rua Deputado Antônio Brito . 

 Casa onde a família de seu Fernando morou após a venda 
 do imóvel da antiga Rua do Tucano.
 Seu sobrinho  José Oswaldo de Santana, 89 anos,    é casado com  d. Maura Ferreira dos Reis, 86 anos. Eles tem um filho  o ex-bancário  José Bonifácio Ferreira Santana   diz que viu  muitas vezes seu Fernando  doando os produtos que produzia ou mesmo tinha adquirido a pessoas carentes que não tinham condições de pagar." Às vezes como gratidão essas pessoas traziam de suas roças uma galinha, peru, uma dúzia de ovos e doavam a meu tio." Sabemos que os medicamentos da homeopatia sempre são mais em conta que os da medicina alopática.
 Segundo a Wikipédia  "a Homeopatia é uma forma de terapia alternativa pseudocientífica, iniciada pelo alemão Samuel Hahnemann em 1796. Baseia-se no princípio similia similibus curantur, ou seja, o suposto tratamento se dá a partir da diluição e dinamização da mesma substância que produz o sintoma num indivíduo saudável. "
Também, destacou a dedicação de toda a família para montar todos os anos o grande e belo Presépio que era visitado por muitos pombalenses e até mesmo pessoas que fora que estavam na Cidade."
José Bonifácio
Aqui em Salvador lembro que quando era Chefe de Reportagem do jornal A Tarde todos os anos ao se aproximar dos festejos natalinos mandava fazer reportagens sobre os presépios que eram armados por famílias nos bairros da Lapinha, Santo Antônio Além do Carmo, na Baixa de Quintas e também em algumas igrejas. Eram belos Presépios que encantavam crianças e adultos. Uma tradição que anda esquecida que os órgãos de cultura da Prefeitura e do Estado poderiam incentivar ao invés de despejar dinheiro para essas festas de pagodões de mal gosto. É uma tradição que poderia ser retomada inclusive pelas famílias em Ribeira do Pombal. Falou ainda José Bonifácio que seu tio "era uma pessoa distinta, nobre . Via ele sentado numa mesa no fundo da loja envolvido com seus medicamentos e de sua alegria ao receber seus clientes e ouvir atentamente o que sentiam ou mesmo algum parente para em seguida dar o produto certo para combater a doença relatada."
Rivaldo O. Santana
Já o depoimento de Rivaldo Oliveira Santana, conhecido por Vadinho de João Irênio, de  65 anos,  disse que conheceu o seu Fernando quando tinha por volta de seis anos de idade. "Fui morar em São Paulo e quando retornei  estava  com uma gnorréia  danada . Fui a seu Fernando que preparou  uma garrafada , que me causou uma bruta de uma diarréia, mas fiquei curado.  Voltei lá e relatei que estava com uma forte diarréia, e sua filha  Euni me deu outro remédio e melhorei por completo.  "Conta este fato às gargalhadas. 
Recorda João Edson Santana Souza, advogado, que seu Fernando morava defronte a sua casa na então Rua do Tucano, atual Avenida Oliveira Brito,   e que seu pai sr. Elias Souza mandava ele levar quase todos os dias um exemplar do
João Edson Santana  Souza
 jornal para ele. "Era um dos poucos pombalenses que lia o jornal diariamente. Quase sempre o encontrava de pijama na sua espreguiçadeira . Lembro também da casa que tinha um enorme e lindo relógio de madeira.  Seu Fernando tinha uma voz suave e andava de passos lentos. A casa onde eles moravam hoje está ocupada por dois estabelecimentos comerciais .Uma párte é a Loja  Sebastião e  outra parte pela Farmácia Aragão , que no início era só o imóvel da esquina,onde antes funcionou um depósito de madeira de Chiquinho, conhecido por Mão de Onça. "
 Acrescentou Edson que " naquela época a rua do Tucano, hoje uma avenida movimentada era totalmente residencial , e quando seu pai Elias Souza resolveu abrir uma loja para vender jornais, revistas, livros, canetas,relógios  e até camisas e calças  foi chamado de louco. Lembro que até os volantes de Loteria ele levava para Salvador, porque aqui não tinha Loteria", finalizou Edson. 
NR- Agradeço a todos que colaboraram com mais esta reportagem sobre personagens que ajudaram no desenvolvimento social , cultural e político de Ribeira do Pombal, especialmente a Hamilton Rodrigues.





quarta-feira, 20 de outubro de 2021

SEIS IRMÃOS DEDICADOS À EDUCAÇÃO

As irmãs professoras, da esquerda para direita Salomé
Semírames, Francisca Alice, Maria José e Enide. 
Cinco irmãs e um irmão pombalenses da família Dantas Costa passaram grande parte de suas vidas  preparando os jovens para enfrentar a vida transmitindo conhecimento. Eram filhos de Pedro Alexandrino da Costa e Alice Costa Dantas. O casal   teve treze filhos : Waldemir,Waldemar, Francisco, Enide, Maria José, Francisca Alice, Salomé, Semírames, Bertino, Pedro, Salomão, José e Antônio Dantas Costa, este último, conhecido por Tonho Costa ,  é o unico que continua vivo.
Seis deles abraçaram a nobre missão de professor e realmente transmitiam conteúdo, ensinavam aos jovens a ser cidadãos e ter espírito crítico. Bem diferente do que assistimos hoje por este Brasil afora com muitos  militantes travestidos de professores que não têm as mínimas condições de transmitir bom conteúdo porque são despreparados. Evidente, que a maioria  do magistério é composta de bons professores que fazem de sua profissão uma missão de fé. Devemos sempre venerar esses mestres que continuam fiéis à nobre missão de ensinar. A Bahia hoje ocupa um dos últimos lugares do índice que mede a educação em nosso país.
Capitaneada pela professora Enide as suas irmãs Salomé, Francisca Alice , Maria José , Semírames  e seu irmão  José Dantas Costa  transmitiram para várias gerações seus ensinamentos, contribuindo para o desenvolvimento social e cultural  de nossa Cidade. Este aprendizado significou um capital social importante que certamente resultou em ações através de seus beneficiários que transformaram o que nossa Cidade no que  é hoje.
O presente é sempre resultado do somatório de tudo que aconteceu no passado. Os que tentam apagar o passado queimando estátuas, desprezando seus atores e escondendo os feitos históricos são uns bárbaros movidos por ideologias extremadas. Temos sempre que enaltecer àqueles que ajudaram a construir o nosso país e os irmãos Dantas Costa são um exemplo da importância do seu trabalho.

Na primeira foto vemos Enide, Bertino, Waldemir,(Vadito)
Maria José , Francisca Alice, Antônio e Salomé. 
Sentados :Pedro Costa e D.Alice, e  ao lado
José Dantas.Na foto 2 o casal Pedro Costa e  D.Alice.
Na foto 3 a casa do Brejo, hoje, murada e modificada
.
Lembro que moravam no Brejo que  hoje está praticamente incorporado ao desenho da Cidade, mas naquela época ficava um pouco distante . Quando jovens  tinham que vir a cavalo ou numa carroça por uma estrada vicinal para vir para a Cidade. As meninas cresceram e foram estudar em Senhor do Bonfim e Josè Dantas em Salvador.  Depois de formados  Salomé e José Dantas   constituiram suas famílias e passaram a morar aqui.  As professoras Enide, Francisca Alice e Maria José  não casaram, mas também se transferiram para a Cidade. 
A professora Semírames casou  com Miguel Moraes e foi morar em Conceição de Feira e depois em Feira de Santana. Era  mimada pelo pai. Elegante e de comportamento calmo sempre conseguia com seu jeito fraterno controlar os alunos quando ministrava suas aulas .Dizem que ela chamava seus alunos de "meus pequenos " e  "minhas pequenas", quando precisava chamar a atenção para que fizessem silêncio e prestassem atenção ao que estava explicando. Gostava do poeta Castro Alves e de quando em vez em suas aulas recitava um dos poemas do bardo baiano que sabia de cor.

José Dantas e Perpétua com os filhos Gandhi e Carla.
Afirma Maria Perpétua , esposa  de José Dantas, que " cinco  filhas  e um filho   do casal Pedro  Alexandrino e d. Alice Costa foram nobres educadores , dedicados a serviço da Educação em Ribeira do Pombal, e tiveram sua formação em Senhor do Bonfim, no Colégio  da Sacramentina. A professora Enide, não obstante os cargos administrativos que eficientemente ocupou, incansável com a Educação,foi também fundadora e Diretora de duas escolas infantis a saber: a Escolinha Menino Jesus, que era particular, e que se transformou numa das melhores da Cidade,senão a melhor. Paralelo a esta ela fundou com recursos próprios , com o mesmo nível de educação, destinada  às crianças carentes a Escolinha Monsenhor dr. Benigno de Brito Costa,  que era irmão do seu paí. "E contnuou : " Grande foi a nobreza da professora Enide e suas irmãs, pois sabemos que só a Educação faz com que o homem se liberte.Portanto, o trabalho dessas eficientes professoras deve ser avaliado com muito amor,gratidão e reconhecimento!"
Já José Dantas Costa formou-se em Direito pela Universidade Católica de Salvador - UCSAL, e casou com Maria Perpétua Dantas e  tiveram três filhos : Gandhi Almeida,Carla Giovana e Indira Dantas Costa Araújo. Zé Dantas também ensinou por vários anos no Ginásio Evência Brito. Portanto , além de se destacar como advogado  exerceu também a nobre missão de professor. 

Em pé as estagiárias Celeste, Carla, Perpétua, Cristina e 
Márcia . Sentadas - as professoras Enide, Maria Cruz
(diretora), Salomé, Nivalda, Lourdinha, Gilda,
Maria do Carmo e Cecília. em 15-10-1985. Escola
Rui Barbosa .
A professora Enide Dantas Costa era uma mulher esguia, de cerca de 1,70 de altura e de fala calma e doce. Lembro da última vez que a vi quando ela se dirigiu a mim para saber como estava se comportando  o jovem Ronaldo Castro, que anos antes ela tinha me solicitado a levá-lo para Salvador para que ele pudesse continuar seus estudos "porque é um menino muito interessado em crescer como gente decente". Assim, trouxe o Ronaldo para Salvador onde matriculei no Colégio  Serra Valle , na Pituba. Mas, o tempo passou, o Ronaldo ficou adulto. O coração falou mais alto e ele abandonou seus  estudos e foi constituir sua família. 

 Ela nasceu em 2 de maio de 1921  e colou grau na Escola Rural de Feira de Santana em 1945, juntamente com sua irmã Maria José. Numa reportagem do jornal a  Tribuna do Nordeste está escrito : "Isto numa época em que ser professor era autoridade importante  do município, dividindo os loiros com o padre". Em 1946 foi lecionar na Cidade de Cícero Dantas, na Escola Desembargador Sílvio Martins,onde permaneceu por dois anos. Logo em seguida é nomeada professora estadual e veio lecionar no distrito do Raso, município de Ribeira do Pombal. 

As professoras Enide e Francisca Alice com seus alunos.
Já chegou trazendo nova metodologia de ensino e também introduzindo ensinamentos religiosos , mostrando como se comportar na igreja, como se relacionar com a família. Fez uma campanha, inovadora na época, para conseguir roupas e sapatos para seus alunos carentes. O seu trabalho teve boa repercussão e ela foi convidada a ocupar o cargo de Delegada Escolar do Município.Criou uma biblioteca e promoveu eventos culturais, religiosos e jogos recreativos  para os estudantes. 

Com a obrigatoriedade do fardamento escolar fez outra campanha junto aos políticos e comerciantes para conseguir roupas e sapatos para os alunos carentes. Em 1955 deixa a Delegacia Escolar, que é um cargo de confiança do prefeito local, e vai ministrar aulas na Escola Rui Barbosa, onde ficou até se aposentar em 8 de dezembro de 1977. Gostava de dar palestras sobre religião, bons modos, sobre viagens e conhecimentos gerais.  

Mas, a professora Enide Dantas Costa não cruzou os braços. Em 1967 quando ainda trabalhava criou a Escolinha Meninos de Jesus onde recebia crianças de todas as classes sociais . Em pouco tempo a Escolinha foi reconhecida como uma escola modelo onde os alunos recebiam aulas de civilidade, postura e como se comportar na mesa. Com a chegada de novas escolas públicas e privadas no município ela transforma em Associação Alice Costa e abre a Escola Monsenhor Benigno Costa ,com séde própria, onde contava com 55 crianças num trabalho sem fins lucrativos. Foi firmado um convênio com a Prefeitura  que passou a pagar duas professoras,uma auxiliar e uma zeladora . Sua luta contionuou sempre apelando aos políticos e aos comerciantes locais para manter as crianças com dignidade.

O tempo passou e a professora Enide Dantas Costa sofreu uma isquenia em 26 de março de 1993, paralisando parcialmente o seu corpo. Sua sobrinha Laurinete Dantas assumiu a escola  . As dificuldades aumentaram  e numa matéria publicada pelo jornal A Tarde em junho de 1994  sob o título "Professora adoece e escola poderá fechar" previu  o que infelizmente aconteceu.  Nem mesmo os ex-alunos já adultos não se sensibilizaram,  e a Escola Monsenhor Benigno Costa teve que fechar as portas. 

A professora Salomé e Neto Cruz com os filhos Cláudio,
Flávio, Jorge, Carlos e Pedro. As filhas Alice e Adelaide.
Já sua irmã Salomé Dantas Costa Cruz , nasceu na Fazenda Sossego do Paiaiá em 8 de março de 1931, municipio de Nova Soure, e foi registrada em Ribeira do Pombal. Formou-se em Magistério no Colégio Sacramentina, em Senhor do Bonfim em 1950. Casou-se com seu primo em segundo grau  Antônio Menezes Cruz, conhecido por Neto Cruz,  e tiveram nove filhos Jorge Thadeu,Maria Adelaide, Pedro Antônio,Cláudio, Analice, Flávio Luiz e Carlos Henrique, dois filhos faleceram. Lecionou durante 25 anos na Escola Rui Barbosa e sempre ministrava aulas particulares de reforço . Eu mesmo fui um desses alunos que teve o privilégio de receber os ensinamentos da professora Salomé Dantas que me preparou para prestar o Exame de Admissão em  Caldas Cipó, na Escola Getúlio Vargas.  

No  depoimento sobre a professora Salomé Dantas  feito por sua ex-aluna Maria Ivete Santana Valadares ela  escreveu: " Numa época na qual a grande maioria das mulheres simplesmente cuidava do lar  em Ribeira do Pombal, uma mulher se destacava das demais. Ela chegou ao mundo em 8 de março de 1931, na fazenda Paiaiá, município de Nova Soure, Bahia . Em 29 de novembro de 1950 formou-se em Magistério , no Colégio das Sacramentinas, em Senhor do Bonfim, Bahia. Foi uma grande mulher e uma grande mãe. ...Dotada de uma personalidade marcante , é um exemplo a ser seguido por nós mulheres. Obrigada professora Salomé Dantas Cruz  por ter sido uma semeadora de sonhos para os seus alunos. Ribeira do Pombal se tornou mais brilhante por ter acolhido alguém tão especial como filha. Neste momento, rememorando a existência dela , ouço  ao longe sua voz poderosa e sinto saudade dela ..."

A professora Francisca Alice Dantas Costa trabalhou muitos anos no Distrito da Mirandela, e talvez tenha sido uma das pioneiras em ministrar aulas para os índios da tribo Kiriris . Era uma educadora que levava seu trabalho muito a sério, e tida como exigente. O bom professor tem que transmitir conteúdo  e cobrar o resultado para que os seus alunos realmente aprendam e tenham responsabilidade. Quando se aposentou veio da Mirandela e passou a morar com sua irmã Enide, em Ribeira do Pombal.

Uma historinha curiosa foi relatada por Mário Brito  que morava juntamente com seu irmão Agnaldo, José Dantas, Antônio Jorge , Josè Moraes e outros pombalenses na pénsão de d. Clores, no bairro do Tororó. Quando vinha para Salvador a profesora Francisca Alice costumava se hospedar nesta pensão. Um dia conversando com a professora Francisca ela disse que não tinha se casado porque Ferreira Brito  lhe transferiu para ensinar em Mirandela, onde só tinha índio. Aí o Mário respondeu: A senhora poderia ter se casado com um índio, e ficaria famosa". Ela deu muitas risadas. 

A família de Zé Dantas. Gandhi, Indira, Maria Pérpetua
e Carla Giovana Dantas Costa.

Seu irmão José Dantas Costa, formou-se em Direito e também lecionava no Ginásio Evência Brito qual Mário Brito foi um de seus alunos durante dois anos. Em seu depoimento que me enviou por escrito Mário recorda com emoção daquela época  quando foi convidado por Zé Dantas para fazer o papel de Chico na peça o Auto da Compadecida, de autoria do paraibano  Ariano Suassuna, que ele montou com seus alunos. Coube ao professor Zé Dantas fazer o papel do personagem João  Grilo, que é o mais importante da trama . Esta peça foi apresentada em Ribeira do Pombal e  Caldas de Cipó, e toda a arrecadação com os ingressos vendidos foi revertida para os alunos da 4a. série de 1969 , que usaram este dinheiro para realização de uma excursão pelas cidades de Recife, Aracaju e Jorro.

Antônio Dantas Costa , o Tonho
 Costa , hoje com 83 anos.
Escreveu Mário Brito que " Zé Dantas era amigo de todos os alunos,  exigente nas notas, principalmente com seus alunos mais chegados. Era um advogado brilhante ,  inteligente, e amigo de todos os clientes sem distinção entre pobres e ricos".

"Depois do curso ginasial em 1969 até sua morte prematura aos 37 anos de idade em 4 de junho de 1974 sempre fomos amigos. Lembro dos carnavais de 1973 e 1974  juntamente com os amigos Vadinho e José Morais, e na Quarta-Feira de Cinzas íamos almoçar em sua residência". 

Finalmente, lembrou que Zé Dantas lhe dizia: " Mário estou esperando você terminar seu curso de Direito para a gente trabalhar juntos em meu escritório aqui em Ribeira do Pombal".Infelizmente ele faleceu antes de minha formatura. "

Para Marcos Moraes que foi aluno das irmãs Enide e Francisca Alice , na Escola Menino Jesus  lembra que "eram boas professoras, levavam a profissão com muita seriedade. Se não estudasse e se dedicasse tinham algumas punições e recebia  castigos até tomar jeito. Elas eram tão dedicadas que se preocupavam até com a higiene pessoal dos seus alunos. Quando percebiam que por algum motivo o menino não estava limpinho providenciava um banho. Elas contribuiram muito para o desenvolvimento social de Ribeira do Pombal. "
Marcos Moraes foi aluno das irmãs .


Acrescentou Marcos que  Zè Dantas "foi meu professor no Ginásio Evência Brito era muito comunicativo e bem humorado. Quanto à professora Salomé fomos vizinhos e eu criança via a luta e dedicação dela à Educação. Lembro de sua mãe d. Alice Dantas Costa já com idade avançada , com cerca de 90 anos, sentada na frente da casa de d. Salomé com um jornal  nas mãos. Ela lia da primeira a ultima página. Era bem informada. 

Quanto à  Maria José era professora e exercia um cargo de Coordenadora, sempre estava  viajando  na região para fiscalizar escolas . Não ficava durante suas férias  em Ribeira do Pombal. Gostava de viajar , de fazer turismo . A professora Maria José adotou uma menina de nome Laurinete que  casou e tem netos. 

Marluce Brito Gama teve um bom relacionamento principalmente com a professora Maria José.Lembra  que gostava de passar suas férias numa pousada no Jorro. Chegou a ir com ela por duas vezes . Maria José  era uma pessoa muito antenada e aberta para os novos acontecimentos.  A história delas  é muito significativa. Eram cinco mulheres lutadoras, todas empenhadas em transmitir conhecimento para os jovens e ajudar na sua formação como cidadãos . Sempre pensei nelas como mulheres à frente do seu tempo. Eram independentes sem aquele ranço de feministas. Sua mãe já era uma mulher diferenciada. Elas tinham este lado forte de d. Alice Dantas. Lembro que d. Alice aos domingos colocava as meninas numa carroça  e vinham do Brejo  assistir a missa na matriz de Santa Teresa. Escolhia sempre deixar as crianças logo perto da lateral da nave da igreja e trazia merenda para que não faltasse nada às crianças . Elas cresceram com uma formação religiosa sólida e sempre em suas aulas procuravam transmitir a seus alunos.

Além dos irmãos Dantas Costa outras professoras  contribuiram para o desenvolvimento social e cultural de nossa Cidade a saber: Maria Menezes Cruz Conceição,Aurezi Ribeiro de Santana,Terezinha Rodrigues Vieira de Brito, Marialva Brito Gama, Umbelina Conceição, Maria América Passos, Celeste Silva, Maria Dilma Brito Costa e Maria Perpétua  Dantas Costa, dentre outras. 

NR - Sempre ouvimos dizer que fazer biografia de pessoas vivas é muito difícil porque todos só desejam ver registradas as boas ações, as vitórias. Nada de algum fato  que venha desagradar , mesmo que este acontecimento tenha sido importante em suas vidas, mas se tiver alguma conotação negativa deve ser esquecido. Por isto, que alguns biógrafos alertam que as biografias que escreveram são ou não  autorizadas, ou seja se  foram ou não censuradas pelos biografados e seus descendentes. 

Não estou fazendo biografias , apenas relembrando as  pessoas que contribuiram para a formação de nossa Cidade e muitas das quais conheci ou  convivi. Tenho evitado os fatos negativos, por razões óbvias, mesmo assim as dificuldades de colher informações tem sido significativas . Uns alegam que não gostam de aparecer. Não se trata de aparecer. O que faço é apenas um registro para que as futuras gerações lembrem e saibam o que aconteceu com seus antepassados, e para que os pombalenses possam sempre valorizar àqueles que contribuiram para o desenvolvimento social, cultural e econômico desta Cidade. Portanto, deixo aqui um apelo para que contribuam com este trabalho que está apenas começando. 

Agradecimento especial  a Hamilton Rodrigues por seu trabalho incansável em  tomar alguns dos depoimentos e fotos aqui publicados.