Objetivo


quarta-feira, 25 de maio de 2022

JOVENS PERPETUAM OS CARETAS DO BARROCÃO

Foto 1. Integrantes do grupo A Máfia. Foto 2.
O grupo Revoltados. Foto 3. Membros do grupo
 Cangaço. Foto 4. Integrantes do grupo Talibã.

No povoado de Barrocão, na zona rural do município de Ribeira do Pombal, na Bahia,  existe uma tradição que dizem já ter mais de meio século.  São os Caretas do Barrocão que todos os anos no Domingo de Páscoa a população local já aguarda com ansiedade àquelas figuras horripilantes com seus grunhidos característicos que metem medo às crianças e provocam muita curiosidade nos adultos. 

Muitos ficam procurando identificar as pessoas que estão por trás daquelas máscaras falando palavras desconexas e tentando a todo custo melar os assistentes com farinha de trigo e talco ou distribuir bombons para as crianças . Mas, foi a partir de 2011 que ganhou mais força quando um grupo de jovens resolveu se reunir e alavancar esta tradição que tinha uma característica espontânea sem qualquer  organização. Cada um fazia sua máscara e fantasia e saía pegando alimentos nas casas, exibindo animais que não recebiam o tratamento adequado. Eles decidiram proibir este tipo de atividade dentro da festa e resolveram adquirir máscaras de qualidade. A iniciativa se fortaleceu, e já em 2012 o evento veio com nova roupagem resultado da organização .

 O sucesso foi grande e chamou a atenção do Secretário de Cultura do município de Ribeira do Pombal, Oswaldo Rocha, que procurou os responsáveis que passaram a participar de feiras culturais locais, as chamadas Cultureiras,  onde mostram suas máscaras e fantasias. Em seguida conseguiram doação de tecidos, banner para divulgar o evento e carro de som para animar as apresentações no Domingo de Páscoa. No dia 23 de abril de 2019, na Quadra Esportiva do Povoado Barrocão, foi aprovado pela Câmara Municipal de Vereadores , por unanimidade, o projeto de Lei nº 08 de 22 de abril de 2019, que declara Patrimônio Cultural Imaterial de Ribeira do Pombal, os grupos de Caretas do Barrocão.

Fotos mostram a tradicional melação dos Caretas.
Eles começam a apresentação com um desfile do início da rua principal do povoado até à BR-120, depois retornam para o centro. Então os grupos ficam brincando com moradores, e finalmente vão comemorar nos bares mais uma apresentação de sucesso. Existem alguns componentes desta manifestação popular que merecem ser assinalados. Veja que é uma manifestação numa zona rural que surgiu espontaneamente há vários anos. Os primeiros Caretas do Barracão confeccionavam suas máscaras rústicas usando cascas de cocos, cuias de cabaças, papelões de embalagens, roupas velhas dos pais ou dos avós e outros materiais que pudessem ser utilizados. Saíam sem qualquer organização numa brincadeira saudável sempre no Domingo de Páscoa. Porém, a geração mais jovem já na era do advento da internet buscou melhorar a qualidade das máscaras e descobriu que existe uma tradição no México de sair às ruas com máscaras e que podiam adquiri-las. Foi assim que tomaram conhecimento até da existência de um catálogo que todos os anos surge com novidades, e assim foi iniciada a compra das máscaras mexicanas. É bom lembrar que estamos num povoado em pleno sertão da Bahia, distando milhares de quilômetros do local onde as máscaras são fabricadas. 

Foi um grande sucesso o desfile dos  Revoltados este ano.

Atualmente existem quatro grupos de Caretas do Barracão: A Máfia, Talibã, Cangaço e Revoltados e cada um desses grupos tem de quinze a vinte integrantes. Ao que tudo indica a tendência é de  aumentar o número de grupos porque eles são independentes embora se relacionem entre si. Ficamos sabendo que quem tem acesso ao catálogo mexicano e a compra das máscaras é o líder do grupo A Máfia, e que até existe um comércio de venda e aluguel de máscaras entre os grupos. Por exemplo, o pessoal da  A Máfia sai com determinadas máscaras num ano, e no ano seguinte aluga ou vende algumas delas a outros componentes de grupos diferentes.

O Wilton Reis dos Santos do grupo  Revoltados.
Revoltados – O líder dos Revoltados é Wilton Reis dos Santos, solteiro, começou a se envolver com os Caretas do Barracão desde criança. “Existem há mais de setenta anos em nosso povoado. Brincava quando criança aleatoriamente. A gente colocava uma máscara no rosto e saía. Antigamente tinha a queima do Judas, e só recentemente não aconteceu porque os grupos passaram a fazer apresentações nas ruas do povoado e deixaram de lado esta atividade. Eu sou o líder e o formador do grupo Revoltados. Até 2017 brincava com outros amigos sem participar de grupos. Era uma participação espontânea e senti que precisava me organizar e criei Revoltados, que este ano completou cinco anos de existência. Desde 2017 que estamos alegrando o povo. O nosso desfile começa no início da rua no Posto Almeida, de combustíveis, que fica na entrada de Barrocão e damos a volta pelas ruas. Temos sido recebidos com muito carinho pelos moradores do povoado e visitantes.”


Gabriel e amigos lideram o Cangaço 
Cangaço - O Gabriel Santana de Jesus tem apenas 22 anos de idade, é outro jovem que é líder de um dos grupos de caretas. Começou há uns onze anos atrás e entrou para a brincadeira através de um primo. Ele disse “entrei através de um primo, mas ele tinha uns problemas de saúde  e veio a falecer. Na época que comecei tinha uma separação. As crianças se apresentavam pela manhã e os adultos pela tarde. O primeiro ano que brinquei foi pela manhã. Quando fiquei adolescente passei a brincar pela tarde com os adultos. Normalmente as crianças eram proibidas pelos pais de brincarem junto com os adultos por causa da curtição, da bebedeira depois das apresentações. Criamos este ano o grupo  Cangaço. Era uma turma de amigos que não participava com assiduidade de nenhum dos grupos, e decidimos criar um para a gente também brincar. Ai com os mais chegados, mais amigos, decidimos criar e escolhemos o nome e partimos para adquirir as máscaras. Antes alguns já tinham participado de outros grupos. Saímos com apenas treze integrantes e pretendemos admitir mais dois e fechar o grupo com quinze. Decidimos por este número porque fica mais fácil organizar e controlar as ações ".

Daniel Góis do grupo A Máfia
 A Máfia - o representante do grupo A Máfia é Daniel Gois de Farias, funcionário público, de 39 anos de idade, na descrição que enviou para o então Ministério da Cultura  se define como um dos grupos que se organiza anualmente composto de crianças, jovens e adultos , em sua maioria do gênero masculino percorrendo o povoado de Barrocão utilizando máscaras e fantasias que expressam, em sua maioria, características monstruosas e assustadoras. Os participantes buscam ficar completamente irreconhecíveis e suas performances expressam a criatividade popular por meio dos trajes, da dança, da música e da dramatização.

Durante todo o dia do Domingo de Páscoa os moradores interagem com os Caretas que cometem suas diabruras  assustando crianças e adultos numa brincadeira saudável, e vem atraindo a cada ano um bom número de visitantes de outras cidades e povoados. Inclusive por ocorrer durante a Semana Santa, ou seja no Domingo de Páscoa, as famílias locais e das proximidades recebem muitos parentes que vêm descansar ou visitar seus familiares e assim participam do evento. À noite sempre ocorre a queima do Judas, quando são  encerrados os festejos.

Ele conta  que recentemente tem ocorrido a introdução de novos elementos da cultura de massa, a exemplo as fantasias de monstros de personagens de filmes estrangeiros. Para ele esta apropriação de elementos de fora da cultura local não representa a perda da autenticidade da manifestação os Caretas de Barrocão, mas "sim sobre o modo de criar da cultura popular que é ser versátil e aberta a novos elementos, por isso sempre viva e atual"

Os Caretas do grupo A Máfia na entrada do Povoado.

Daniel Góis relata que as dificuldades são muitas e que eles não têm uma sede
social e que recebem algum recurso da  Secretaria Municipal de Cultura, porém  insuficiente para cobrir a maioria dos  custos. Ele adianta que todos os anos  alugam um espaço por um período de três  meses, onde são confeccionadas e  guardadas a maioria das fantasias e  materiais diversos. Muitas vezes tomam emprestado aos comerciantes locais e ganham materiais de amigos, vizinhos para a feitura das fantasias. 

Disse ainda o líder de A Máfia o Daniel Góis que "não existe um projeto específico para nosso evento. Recebemos ajuda da Secretaria de Cultura municipal, através da doação de um banner para divulgação do tema específico de cada ano da apresentação, carro de som para que no dia do evento possa nos auxiliar na sonorização da dramatização de entrada do grupo e em alguns anos recebemos tecido para confecção das fantasias; recebemos também uma pequena ajuda de alguns setores do comércio local, que disponibilizam uma pequena quantia de dinheiro como patrocínio. Mas, essas ajudas ainda não são suficientes para atender às despesas , pois todos os anos tentamos inovar, com ações que envolvam cada vez mais a comunidade."

Como é uma manifestação promovida por pessoas de origem da zona rural muitos deles não tem um emprego ou mesmo renda fixa. Na hora de adquirir as máscaras e fantasias eles não dispõem do dinheiro necessário para adquiri-las. Os custos são altos para os padrões locais. Eles mandam confeccionar camisetas estampadas com elementos do evento  que são vendidas como souvenir para os moradores e visitantes com o intuito de arrecadar dinheiro para fazer frente às despesas. 

Vemos ai três dos  integrantes do grupo  Talibã.
Outra dificuldade que enfrentam é a intolerância de alguns grupos religiosos locais que interpretam erroneamente a verdadeira essência da brincadeira, diz Daniel Góis devido a caracterização dos personagens terem traços monstruosos. Os organizadores atuais acham que esta resistência deve-se ao que ocorria antigamente quando os primeiros Caretas  do Barrocão tinham entre suas brincadeiras desfile com animais e retirada  de alimentos em residências. Isto hoje é terminantemente proibido pelos grupos que mostram que o foco "está na dramatização, caracterização das fantasias e a integração com a comunidade através de brincadeiras saudáveis, inclusive com a distribuição de bombons para as crianças como prefere o Célio Roberto Vaz Conceição, do Grupo Talibã.

Para garantir a perpetuação dos Caretas do Barrocão eles criaram grupos de jovens e de crianças que se apresentam pela manhã . Por ser uma comunidade pequena ou seja um Povoado, a maioria dos moradores têm laços familiares próximos e " a transmissão de conhecimentos é passada naturalmente através das gerações, pois as crianças crescem vendo seu pai e parentes participando do evento".

Atento à necessidade de divulgar os Caretas de Barrocão Daniel Góis argumenta no documento enviado ao Ministério da Cultura que diante da "importância da cultura popular para o desenvolvimento local, e considerando as manifestações e expressões populares como fator de identidade cultural, o conhecimento da cultura local reforça a valorização bem como o incentivo ao desenvolvimento da região. Daí o seu objetivo é não deixar desaparecer este evento que deixa marcas no imaginário da infância de todas as gerações que tiveram a oportunidade de participar."

 Brincadeira com a Mulher de Madeira que
 fez o papel de Judas por um curto período
.
O Daniel Gois informa que sua participação começou no ano de 1992 no período matutino que é o horário destinado a participação das crianças e ficou saindo neste período do dia até 1999. Ele é natural de Ribeira do Pombal, filho de Luís Jorge Leite de Farias e de Rita Gois de Farias. Casado com Érica Nascimento dos Santos e tem uma filha a Eloá Santos Gois Farias. No ano de 2000 já participou com os adultos no período vespertino na Máfia do qual é um dos fundadores juntamente com Leandro Oliveira, Thomas Gois, Tico Souza, Jadson Gama, José Andro, Davi Góis e José Luís, que permanecem no grupo desde a versão original.

Diz Daniel que esta manifestação cultural teve origem em 1958 através um sergipano chamado Raimundo Briba , e que se estabeleceu no povoado de Barrocão até que veio a falecer. No início os mascarados ou encaretados usavam máscaras e trajes muito simples ,sendo confeccionados pelos próprios participantes usando tecidos, papelões e até cabaças". Com o passar dos anos Daniel Gois e Leandro Oliveira descobriram uma fábrica de máscaras de látex no México, que é referência mundial, e aí convidaram alguns amigos e formaram o grupo A Máfia. "Como as máscaras são de alta qualidade e importadas o custo é elevado e por isto eles buscaram algumas parcerias para ajudar nos custos."

Ele disse que por diversos anos tivemos a Queima do Judas e a leitura da sua Carta, que era uma sátira envolvendo personagens da comunidade, mas por algumas divergências decidimos suspender esta parte do evento. No passado durante a chamada melação eram usados o reio - feito com um pedaço de madeira amarrado na sua extremidade com fio de energia ou uma tira de couro de boi- a boanga - sacola onde se colocava cinzas - e o tradicional chocalho. Atualmente, foram adicionados outros elementos, como spray de espuma e farinha de trigo.

Ele considera que o surgimento do grupo A Máfia foi "uma revolução nos Caretas do Barrocão, porque além de importar máscaras, todos os trajes passaram a ser melhor confeccionados, e mais organizado, tendo apoio principalmente da Secretaria de Cultura do Município. Passou a ter também algo novo no evento, que agora sempre é esperado pela comunidade, que são as entradas das turmas em praça pública. Após o surgimento de A Máfia, outros participantes acabaram se inspirando e também formaram suas turmas, entre elas os Revoltados e o Talibã."

O sucesso dos Caretas é comprovado em dois vídeos que estão no canal da TVS (TV Sertão) no Youtube, onde juntos já superam mais de 1 milhão e 400 mil visualizações. Com todo esse sucesso, já houve a expansão do evento para outras localidades do município, como Boca da Mata e Nova Esperança. Os integrantes de A Máfia prometem para o Domingo de Páscoa de 2023, onde o evento completará 65 anos, iremos fazer uma grande festa, onde o grupo A Máfia que tinha 18 componentes, passará a ter 42 integrantes.

Célio Roberto Góis é um dos líderes  do grupo Talibã.
Talibã - O grupo Talibã tem como um dos líderes o Célio Roberto Vaz Conceição, pai de dois filhos Kiara e Caio Góis Cardoso, este também integrante do grupo. "Dizem que os caretas tiveram início há mais de cinquenta anos atrás pelo senhor Raimundo Briba, que não está entre nós, mas a história dele ficará para sempre. Vou falar do meu grupo. Foi fundado há uns cinco anos atrás o grupo chamado de Talibã, que era liderado por alguns amigos meus como Abel Reis, Alberto Morais de Gois e Gabriel fui convidado e brincamos juntos. Depois eles desistiram e me entregaram. Sou grato a eles, dei continuidade e brinquei o segundo ano com o grupo Talibã. Veio a pandemia e ficamos de fora, parados. Agora voltamos a brincar e o meu filho já começou a participar comigo. Isto é importante por ele pertencer a outra geração. Hoje é um grupo formado de pessoas responsáveis que ajudam a manter a cultura do Barrocão. Juntos com Daniel, da Máfia e Wilton Reis (Tico), dos Revoltados e Gabriel Santana do Cangaço estamos nos organizando para fazer uma bela apresentação no ano que vem. Estou com um amigo que vai me dar uma força grande e assim esperamos fazer mais bonito ainda da próxima vez que sairmos às ruas".

DEPOIMENTOS

Vânia Reis curte os Caretas.

A artista plástica Vânia Reis moradora do povoado do Barrocão disse que ajudava seus irmãos que saíam nos grupos de caretas e também seus primos principalmente os filhos de Joaquim Aleixo Rodrigues Góis e Mariana Rodrigues Góis, sua tia Nenê, o Valdomiro (Valdu), Sebastião, Argemiro, José Miraldo e Raimundo Rodrigues Góis (Raimundinho). "Sempre presenciei que só os rapazes é que brincavam . Teve um ano que eu e mais três amigas saímos, mas foi só esse ano. Quando chegamos nas ruas ninguém tinha nos reconhecido até que a parte do meu cabelo, que era loiro, saiu de dentro da máscara e fui identificada por um primo. Como a gente já estava sentindo um desconforto com as máscaras resolvemos voltar para casa". A brincadeira não durou uma hora sequer". Portanto, a participação delas foi muito curta, e hoje continua sendo uma brincadeira para crianças, jovens e adultos do sexo masculino. Quanto à queima do Judas era bem jovem e lembro que às vezes durante a leitura da Carta segredos eram revelados e também algumas críticas e isto gerava desentendimento e terminou sendo suspenso. A tal "herança" que o Judas deixava passou a incomodar muita gente. Então deixaram o Judas de lado e a Mulher de Madeira, feita por tio Didi, que era um artesão que fazia gamelas e outros utensílios de madeira , passou a ser usada no desfile dos grupos de Caretas. Nesta época os integrantes dos Caretas levavam a Mulher de Madeira escondida de meu tio até que ele não aguentou mais a perturbação e queimou de vez a Mulher de Madeira."

D. Maria do Carmo lembra como começou.
Uma das mais antigas moradoras do povoado d. Maria do Carmo Macedo Góis lembra quando o responsável pela introdução da manifestação cultural dos Caretas no Barrocão chegou. Ele veio sozinho de Sergipe, sabe-se que tem uma filha, mas ninguém conseguiu o contato com ela. Diz d. Maria do Carmo que o Raimundo Briba chegou em 1957 e no ano seguinte começou a brincadeira. Os primeiros que brincaram com ele foram os filhos de Joaquim Aleixo Rodrigues Góis o Valdomiro Góis (Valdu), Benedito, José Miraldo e Toinho. As roupas e máscaras faziam de papelão com uns desenhos e usavam roupas velhas dos familiares. Veio uma irmã e morou com ele uns tempos e depois foi embora. A vida dele era recolhendo restos de comida nas casas que a gente chama de lavagem para dar aos porcos que criava. Andava com uma panelinha de lavagem na cabeça". Ela não se recorda o ano que ele faleceu."

O jovem Mateus Morais integrante da Máfia
O Mateus de Morais Bittencourt de Macedo, tem 20 anos, e atualmente trabalha no comércio como conferente em Ribeira do Pombal e reside no Povoado do Barrocão. "Sempre brinquei por incentivo de familiares e amigos." Ele acha que é uma manifestação importante para todos os moradores do povoado não somente para eles que brincam e levam alegria para os demais moradores que ficam todos na expectativa das novidades que serão apresentadas pelos grupos de Caretas do Barrocão. Disse ainda o Mateus que "esta manifestação eleva o nome do povoado, gera renda e oportunidade de emprego para algumas pessoas. Acho interessante que os jovens tenham este incentivo de manter a nossa cultura e serve para congregar. Por isto peço aos comerciantes, autoridades e também aos moradores que apoiem este evento que muito me orgulho de participar. Já adulto saí na Máfia, a partir de 2019, e a cada ano que passa venho me entrosando mais e incentivando outros jovens a participar. Em 2010 já saía na turma das crianças e sempre foi muito bom participar desta manifestação cultural e espero continuar ."

A HISTÓRIA DOS CARETAS
No município de Mata de São João, na localidade de Praia do Forte, existe também a tradição dos Caretas só que eles saem durante o Carnaval. Nos revela uma publicação do Projeto Tamar que existe uma lenda que diz que os Caretas surgiram no período da escravidão, quando os senhores de engenho permitiam que os escravos se expressassem culturalmente através das máscaras. Assim eles aproveitavam para cultuar seus deuses e divindades africanas, e também para assustar os filhos dos senhores que residiam nas proximidades. 
Lembro que no período momesco por todo o país saem grupos mascarados brincando com os foliões e metendo medo às crianças mais inocentes. Quando era criança em Ribeira do Pombal sempre apareciam os Caretas assustando e brincando com as pessoas e a molecada saía acompanhando e revelando os nomes dos Caretas . Muitas vezes acertavam, mas outras davam nomes errados e a brincadeira continuava com melação, correria e simulação de ataques.
Todos nós temos nossas máscaras no cotidiano  para enfrentar a vida, e nesses momentos de festejos muitos se aproveitam para externar suas vontades de brincar com as pessoas, inclusive com os desconhecidos. Diz uma publicação do Projeto Tamar que "A máscara é sempre um disfarce. Simula e transforma, liga o natural ao sobrenatural. Tem presença marcante nos rituais e cerimônias coletivas que provocam nos participantes uma espécie de iluminação, uma consciência que os transporta para algo além, possibilitando enfrentar melhor as dificuldades do cotidiano. No ímpeto de assustar, os Caretas mudam a voz e fazem movimentos de ataqueTemos notícias que  durante o Carnaval  e na Semana Santa  grupos de Caretas saem anualmente  em várias partes do  país especialmente no Nordeste.  

NR- Quero agradecer ao Hamilton Rodrigues, e também a Daniel Góis por sua disposição  em colher informações que me foram repassadas para construir este texto. Aproveito para registrar que parte do texto que escrevi  e publiquei na semana passada, falando do trabalho de um jovem pecuarista pombalense,  foi copiado e publicado em um site sem a citação da autoria. Este tipo de atitude não faz bem ao bom jornalismo, e mostra quem é a pessoa que pratica este tipo de ação.

 


 








sábado, 21 de maio de 2022

UM JOVEM SERTANEJO COM VISÃO DE FUTURO

Foto 1. O Pau de Belota em seu esplendor. Foto 2. Logo
depois que foi encontrada na mata. Foto 3. Zé da Floresta
 com os  frutos. Foto 4. Os frutos vermelhos e aveludados.

 O nosso personagem é um jovem que está tocando a sua vida em busca de melhorar cada vez mais a raça leiteira Girolando em sua fazenda de apenas 400 tarefas e com um rebanho de 150 animais. Os números são realmente pequenos em relação às grandes fazendas onde criam 10, 20 e até mais de 30 mil cabeças de gado, especialmente da raça Nelore, e possuem centenas de hectares de terras. Mas, esta pequena propriedade está se destacando como uma das mais produtivas na seleção de animais, e  hoje estará fazendo o seu segundo leilão com a participação de animais e criadores de várias partes do Brasil. Desses animais criados na Fazenda Pau de Belota, em Ribeira do Pombal, em pleno sertão da Bahia, são tirados diariamente 1300 litros de leite que são comercializados na região. O nome tem origem nesta árvore Belota que pouco se sabe dela. Tem algumas ocorrências na micro região entre os municípios de Ribeira de Pombal e Tucano chamada de Tabuleiro, que possui uma vegetação semelhante à do Cerrado, e sabem apenas que é da família das leguminosas.

 Fabrício  com alguns animais do seu plantel na Fazenda Pau de Belota.
As matrizes que ele cria são resultado do cruzamento de animais da Raça Gir com Holandês que dá o Girolando Leiteiro, portanto animais chamados de meio sangue, ou seja, metade do gado Holandês e outra metade do Gir. Estes animais se adaptam bem às regiões semiáridas, além de ser animais dóceis, de fácil manejo, boa fertilidade, e também têm  longevidade. Seu nome é Fabrício Lima Costa, natural de Feira de Santana, 45 anos, filho de Francisco Ferreira Costa (Chico Costa) e Maria Vilma Pereira Lima, casado com Priscila Jacobina, tem um filho Téo Jacobina Costa. Tem seis irmãos Francisco Carlos (Chiquinho), falecido, Rosângela (Rosinha do Cartório), Rosana, Rogério, Rosenilda e Ana Paula. Seu pai tinha como atividade principal transportar gado de Minas Gerais e outros estados para Feira de Santana, Ribeira do Pombal e outros municípios. Tinha sede na cidade de Feira de Santana e uma pequena representação em Ribeira do Pombal para servir de apoio do seu trabalho.

Vemos aí alguns animais da Fazenda Pau de Belota.
 Fabrício  pouco se lembra do seu pai que  faleceu quando ele tinha apenas quatro
anos de  idade.“ Lembro  vagamente”. As  informações que tenho dele é que era um  homem trabalhador, de bom coração que  gostava de ajudar as pessoas. Teve uma morte  repentina aos 42 anos de idade. Pegou todo  mundo de surpresa, dizem que era amigo, gostava de uma farra e frequentava muito o Bar de Zé da Floresta onde inclusive deixava os seus telefones para contatos de negócios de transporte de gado. Gostava muito de vir para a Fazenda Pau de Belota e seu sonho era comprar esta propriedade que pertencia a José Erasmo. Por destino a fazenda foi vendida por  José Erasmo Santos Silva  a Adriano Rodrigues, e caiu em minha mão, sem criar uma perspectiva de compra. Um dia surgiu a oportunidade e adquiri do então proprietário  Adriano Rodrigues, vejam vocês, concretizando um sonho de meu pai que era adquirir a Fazenda Pau de Belota. Meu pai tinha uma transportadora chamada Rodogado com escritório em Feira de Santana, na Avenida Presidente Dutra, em frente da Rodoviária."

"Vendo tourinhos Girolando, embriões congelados e continuo com a Fertilização In Vitro – Fiv e hoje o meu rebanho é 80% de FIV e 20% de inseminação artificial. Comecei há dez anos  este trabalho com inseminação e depois com FIV. Entrei no Gir Leiteiro e atualmente tenho um bom plantel. Recentemente tive uma referência de preço, pois vendi num leilão na cidade de Itabaiana, Sergipe, metade de uma vaca, Foi no  Leilão Leite do Nordeste e vendi por R$143 mil 50% a Tróia, filha de Brasília, que é minha principal doadora. Tenho gado meio sangue e 3/4  Esta vaca está atualmente em Passo de Minas, Minas Gerais e quem comprou a metade dela foi um criador equatoriano. Meus clientes hoje são de todo o país. Estamos vendendo embriões para uns colombianos, meu gado é comercializado muito para o estado de  Sergipe. Aqui na Bahia para criadores de  Jeremoabo, Feira de Santana, Cícero Dantas, dentre outros municípios. Fiz meu primeiro leilão em 8 de maio de 2021 e vendemos animais da Fazenda  Pau de Belota e de convidados. Apuramos quase 1,4 milhão. Batemos recorde de vendas na época. Só nosso foram R$900 mil divididos com meu sócio Ronei Costa Lovano, que é do Espírito Santo. Temos lá uma base de coleta de embriões em Apiacá, ES. Lá temos algumas receptoras e fazemos este trabalho em parceria. Quando nasce eu trago para cá, porque o laboratório de lá é mais completo."

Foto 1. Fabrício com a esposa Priscila e o filho Téo.
Foto 2. O Francisco Ferreira Costa, seu pai, falecido.
Foto 3.Caminhão recolhendo o leite para a Bethânia.
Foto 4.Fabrício com amigos ao lado de uma novilha.
Foto 5 - Leite da Fazenda Pau de Belota engarrafado.
Foto 6. Detalhe do local da ordenha automática.

Diz Fabrício Costa que “neste leilão de hoje  a quantidade de animais é menor  devido a sua experiência no leilão do ano passado ficou muito grande, começou às 14 horas e se estendeu até mais de duas da madrugada. Até o leiloeiro ficou muito cansado. O ano passado foi online, mas este agora será 50% presencial e 50% online.”.

Ele conta como surgiu esta sociedade com o Ronei Costa Lovano. Fabrício foi à Minas Gerais comprar um gado e ele me deu total credibilidade, ocasião em que  decidi iniciar aqui a  inseminação artificial. Comprei uma vaca receptora para fazer Gir meio sangue. Passamos uma semana lá, eu e o veterinário Breno Bezerra, que me dá assistência aqui.  A parceria foi evoluindo e adquiri 50% de uma vaca Gir dele. Daí em diante vieram outros negócios. Ele está presente neste leilão  com um lote de alguns animais e assim vamos tocando a vida. Esta sociedade é mais para embriões e bezerras. Temos as doadoras Gir juntos e comercializamos", adianta Fabrício.

"Tiro o leite na Fazenda Pau de Belota com uma média de 30 litros por cada vaca e pretendo aumentar. Tenho que ter uma escala maior para garantir uma rentabilidade. Atualmente a empresa Betânia, que fica em Nossa Senhora da Glória, no estado do Sergipe faz a  coleta  feita de dois em dois dias. O leite fica  num resfriador com capacidade para armazenar três mil litros de leite."

                                             PAU DE BELOTA 

É uma árvore muito frondosa e foi encontrada por técnicos da Petrobras que estavam fazendo prospecção de petróleo na região . Mas, a árvore já era conhecida por caçadores que na época andavam caçando tatus e outros animais silvestres. Terminou dando o nome a Fazenda Pau de Belota  que fica em pleno Tabuleiro entre os municípios de Ribeira do Pombal e Tucano.  A notícia se espalhou e muitos caçadores e outras pessoas começaram a se interessar em conhecer a árvore que virou um point de encontros de amigos que iam caçar, fazer um churrasco, piqueniques e até mesmo  namorar.

O veterinário Breno Bezerra ao lado de Fabrício Costa.
 Confirma o proprietário da fazenda que   atualmente é muito visitada e virou um ponto   turístico da Cidade. Diz Fabrício Costa que   “meu pai, Zé da Floresta, Valtinho de Teté,   Narcísio, Moacir e outros vinham e traziam   uns   caçadores. Botavam os caras para caçar   tatus e   outras caças e ficavam aqui na farra. Teve um dia que armaram trinta redes neste Pau de Belota. Chegavam ao sábado só voltavam domingo à tarde. Traziam grandes caixas de isopor com cervejas e ficavam aí brincando, conversando e dando umas entradas na mata. Era uma alegria só, ficavam fazendo churrasco o dia inteiro”.

Em seu depoimento o veterinário Breno Bezerra de Melo Costa, 38 anos, dono de a empresa Gestar, disse que Fabrício Costa tinha um rebanho muito heterogêneo. Outra característica dele é que sempre gostou de dar muita comida aos animais para ver as vacas aleitando bem. É uma característica dele e isto é uma das razões porque tem tido muito sucesso. Mas, há anos atrás vinha crescendo de forma lenta acertando aqui e errando ali. Passou a entender que precisava mexer e investir mais na genética dos animais e passou a utilizar a inseminação artificial, algumas vezes com bom resultado e foi assim entendendo melhor do manejo desta tecnologia. Ele já tinha um rebanho de 7/8, 15/16 de Girolando, de 3/8, 3/4 e 5/8. Era um rebanho muito heterogêneo, porém, vacas leiteiras. Foi quando entrou a minha empresa Gestar com a consultoria e assistência técnica da Fazenda Pau de Belota. Ai começamos um trabalho onde solicitava de Fabrício Costa a necessidade de padronizar o seu rebanho com o grau de sangue que acreditava ser o ideal que era o meio sangue Gir e meio sangue Holandês. Foi uma escolha muito acertada, porém para a gente fazer o melhor Girolando meio sangue era necessário ter a melhor base do Gir e do Holandês. Diante deste cenário Fabrício passou a entender que era o melhor gado para a região e passamos a procurar fazer esta transição do rebanho heterogêneo para o meio sangue. Procuramos nos principais rebanhos e fazendas produtoras de genética do país e fomos buscar animais das melhores famílias do Brasil. Buscar embriões de touros consagrados e vacas extremamente produtivas. Viajamos para o Rio de Janeiro  e nos encontramos com Ronei Costa Lovano, da Fazenda Baú. Diante de 400 novilhas selecionamos 16 novilhas meio sangue de excelência em tipo leiteiro e em família, ou seja, em consistência genética, todas originários da Fertilização In Vitro – FIV. Estes animais fizeram a base do gado meio sangue de Fabrício. Porém, ele queria ter seus próprios animais de meio sangue. Então passou a investir na sua base para fazer seu meio sangue. Começou a investir em Gir Leiteiro das melhores linhagens do país dos touros mais consagrados como Sansão, Jaguar, Teatro, Gengis Khan, Jogral e Oscar (de Brasília). Todos esses touros têm filhos hoje na Fazenda Pau de Belota como também de vacas famosas como Fábrica, Enamorada, Noruega. Grandes vacas do cenário nacional. Sendo assim ele vem mostrando a sua força, o seu trabalho nas principais posições. Como aconteceu na ExpoZebu quando apresentou  a Troia, que é irmã de uma das vacas mais importantes da raça no país. “Fabrício é caprichoso, está começando a colher os frutos do seu trabalho, ele merece e acho que vai longe”.

Veterinária e pecuarista Raimara Campos elogia
e reconhece o trabalho de seleção de Fabrício.
A Raimara Campos Vieira é veterinária,  produtora rural e cliente de Fabricio Costa. Ela disse que já vinha trabalhando com a produção de animais de outras raças, mas que resolveu mudar o foco para o gado Gir leiteiro. Decidiu adquirir alguns animais de Fabrício que é seu amigo de infância e vizinho devido ao valor genético e alta produtividade. "Achamos por bem iniciar a nossa produção leiteira já com animais comprovadamente de eficiência produtiva e assim ganhamos vários anos, porque sabemos que ele já vem investindo em genética há mais de dez anos, e os animais que adquirimos dele se provaram de alto valor produtivo. Temos animais que vieram da Fazenda Pau de Belota que produzem mais de 30 litros de leite por dia. Então foram excelentes aquisições, e quem quiser melhorar a sua produção leiteira e o seu rebanho pode adquirir porque ele só tem animais de alta produtividade.”

Foto 1.O professor Paulo sai com dois bocapius para
entregar os queijos coalhos aos seus clientes. Foto 2.
o professor com a esposa Rita de Cássia Oliveira Góis
Costa, e os filhos Paula Beatriz, Ama Rakel e Noemi.
O professor e produtor rural Paulo Roberto Almeida é proprietário da Fazenda Caruara, que tem 80 tarefas e fica na localidade da Tapera, no município de Ribeira do Pombal. Ele se especializou na fabricação de queijo coalho. É uma produção pequena de 900 quilos de queijos por mês. Paulo é professor de Geografia e Sociologia  em escolas municipal e estadual , mas sua origem sempre foi rural onde seus pais Francisco Bittencourt Costa e Osvaldina Miranda, sempre produziram requeijão trabalhando com vacas rústicas que não tinham muita aptidão para o leite. "Ao assumir a fazenda procurei o Fabricio Costa, que já o conhecia pelas referências, há uns cinco anos atrás. Adquiri 18 vacas com boa produção leiteira, hoje temos vacas que no pico da produção tiramos até 40 litros de leite. Isto foi uma decisão muito importante porque economizamos na mão de obra, custo dos insumos para manter muitos animais e ganhamos na produtividade. Temos três ou mais em uma única vaca.  Antes tinha 30 vacas para produzir 300 litros de leite, e hoje com apenas 10 vacas tenho esta produção. Portanto, parabenizo ao Fabrício pelo seu belo trabalho e acho que ainda vêm coisas melhores por ai."

NR- Quero agradecer a Hamilton Rodrigues e a todos que contribuíram para que escrevesse este texto mostrando o exemplo de Fabrício Costa que é sempre possível  melhorar o que nos propomos a fazer.


 

 



sábado, 14 de maio de 2022

O MAESTRO RAIMUNDO JACARÉ AGORA HARMONIZA CHIPS

O Raimundo Jacaré deixou a música e atualmente está
harmonizando os chips nos aparelhos que conserta.
 Vamos falar hoje de Raimundo Jacaré um   pombalense que foi dono e maestro   das bandas Los   Tiernos e  Gibson que se   apresentaram em   Salvador  e em muitas   cidades do interior do Estado   da Bahia   animando os carnavais, eventos e outras   festas   promovidos pelos mais variados motivos. Ele   também  foi maestro da Filarmônica XV de   Outubro,   professor de Física no colégio e de   Legislação no curso de Contabilidade. "Sempre   foi   uma peça fundamental no setor musical   em Ribeira   do Pombal, diz a cantora Orelana   Sturaro, e merece   ser homenageado, é culto e conhece   muito de   música. É filho único e era querido dos pais."

O Raimundo Araújo de Andrade tem quatro filhos Rubem, Fábia, Líbia e July. É casado com Djalva Nascimento Araújo. Nasceu na localidade de Maria de Matos, que fica na divisa entre a Bahia e Sergipe, há cerca de seis quilômetros da cidade sergipana de Tobias Barreto. Ainda criança seus pais foram morar em Tobias Barreto e em seguida vieram para Ribeira do Pombal onde ele foi registrado, portanto é cidadão pombalense. Filho de João Batista Araújo e Maria Virgens de Andrade. Ao chegar foi trabalhar de vendedor ambulante com seus pais nas feiras livres de Ribeira do Pombal e cidades da região. “A gente vendia miudezas nas feiras livres, vivíamos viajando nos caminhões de feira cada dia numa cidade onde tivesse feira livre. Neste período comecei a estudar à noite através um aparelho de rádio que meu pai tinha pelo Instituto Universal Brasileiro. Aprendi a estudar com as válvulas e hoje estou trabalhando na nano tecnologia com chips e microchips consertando aparelhos eletrônicos. “

O maestro agora harmoniza os chips.

Certo dia o professor Edilson Monteiro  ,que era dentista e diretor do Colégio  Industrial Evência Brito - CIEB me  encontrou em  frente à Farmácia de  Wilson  Brito e perguntou  se eu estava  estudando. Respondi que não.  Neste dia  estava com meu amigo Antônio  Costa  (Toinho, já falecido), que era filho da  professora Adélia Costa. Foi quando o  professor Edilson disse; mas você tem que  estudar. Procure a professora Adélia Costa e  diga que eu mandei para ela dar um atestado  para que você comece a estudar. Respondi que  não tinha nem o primeiro ano primário formal  e  ele insistiu foi quando o Toinho disse que ia comigo falar com a mãe. Lá chegando expliquei o meu caso e ela disse: “Como você quer que lhe dê um atestado se não tem nada como comprovar? Depois de conversarmos e eu dizer a verdade ela perguntou se eu sabia ler, escrever e contar. Respondi que sim e então foi me dado o Atestado e foi assim que entrei no Ginásio. Prometi a ela que ao terminar o curso viria chama-la para a formatura. Naquela época tinha festa de formatura na conclusão do Curso Ginasial. Assim fiz, e a professora Adélia Costa foi comigo para a festa e só disse que não iria dançar comigo, foi aí que dancei com uma namorada que tinha que era de Cícero Dantas”.

Na verdade, o Raimundo Jacaré tinha frequentado algumas escolas particulares inclusive a das irmãs Maria e Teresa Freire, que era conhecida como Pedra Preta, fazendo referência a um presídio que existia em Salvador que tinha suas instalações muito precárias e a disciplina era  rigorosa. Durante o curso conta Raimundo Jacaré que sofreu muito builling de colega e até mesmo de professores, mas que contou com o apoio da professora Maria Cruz, já falecida. "Segui estudando e me formei em Magistério. Fui o único aluno do sexo masculino na sala de aula.“

Prossegue Raimundo Jacaré. Como gostava muito de música resolvi criar o Grupo Musical 007 composto por Brei (irmão de Pedrinho), Viana, Zé de Tê (Zé Silvestre), uma sobrinha de Neto da Manteiga era a baterista. Depois criei a Banda Los Tiernos com a  participação dos músicos Jurandir Rodrigues (contra baixo)  Lourival  (guitarra) , Pedrinho  Leôncio  (trompete ),  Jaime ( sanfona), Expedito Bernardo da Costa (tecladista), Paulo Ribeiro (trompete), Agnaldo Brito foi contrabaixista da primeira formação da banda, e  Aurelino (trombone). Já cantora Orelana, depois José Bernardo Costa (Zé Dudu) e José Domingos Santana  (Cuia) cantaram na Banda Gibson. Viajamos muito e tocamos em vários lugares “.

Foto 1. Walmir Ferreira na época da Banda Gibson.
Foto 2. Walmir ( Wigú) com Zezé de Camargo.  Foto 3.Os
integrantes da Banda Gibson em momento de descontração
.

Fomos para Salvador e alugamos uma casa na Cidade Baixa onde ficamos por uns quatro anos. A decisão de ir para a Capital foi porque alguns dos componentes da banda precisavam continuar seus estudos e em Ribeira do Pombal não tinha curso de segundo grau. Passamos muitas dificuldades porque o dinheiro que ganhávamos com as apresentações não era suficiente para as despesas de tanta gente que compunha a banda. Os pais de todos nós ajudavam com alguma coisa, mesmo assim foi muito difícil. Por isto voltamos”.

Ele recorda da disputa entre os grupos e bandas musicais da época. “Tinha um ciúme e uma disputa acirrada. Lembro que arranjamos para tocar em Tobias Barreto e lá tinha uma banda Los Royales. Os caras vieram até aqui quando souberem que tinham nos contratado para se certificar se sabíamos tocar. Mas, suspendemos o ensaio para eles não ver. Perderam a viagem. Fomos, tocamos e agradamos tanto que o presidente do clube já queria antecipar nossa contratação para a próxima festa. Eu não aceitei porque planejava parar quando retornasse porque meus pais reclamavam muito que estava atrapalhando a minha vida e que precisava trabalhar. Foi assim que paramos.”

Porém, tempos depois o Raimundo Jacaré foi chamado pela música e criou a Banda Gibson com Jurandir e Manelinho (que moravam em Salvador), Joãozinho, Orelana. Walmir, Mesquita e com outros remanescentes da Banda Los Tiernos. Dizem que esta banda era melhor que a primeira e disputava com Los Guaranis, Lordão e outras que se destacaram naquela época. Ele relembra que até Antônio Motor que tinha uma pequena banda foi chamado para ser o segundo trompetista. Ele tocava trombone e era de outro grupo político os Bocas Brancas e eu era Boca Preta. Mas, ele veio e tocamos muitas vezes juntos. Na Gibson tocaram Jurandir Rodrigues ( teclado), Walmir Ferreira (Wigú, na guitarra e depois contra baixo), Jackson ( trompete), Hermiro Crueira (trombone), Ademar ( bateria), Joel Cruz. 

Disse Orelana Sturaro que começou "na banda Gibson  com Raimundo Jacaré e Walmir Ferreira, o Wigú, que é natural da Boa Hora.  "Ela ficou contente quando Hamilton Rodrigues a procurou e disse que em breve terá um encontro com o Walmir para gravar umas músicas para um cd que pretende distribuir com os amigos mais íntimos. O pouco que entendo de música, ritmo e harmonia agradeço a eles dois. Raimundo Jacaré  sempre foi muito certo, tinha horário para os ensaios e ele exigia que chegasse todo mundo no horário predeterminado. "

                                      MAESTRO DA FILARMÔNICA

A Filarmônica XV de Outubro tinha excelentes instrumentos
 Conta Raimundo Jacaré que quando " o médico dr. Décio de Santana foi eleito   prefeito de Ribeira do Pombal e certo dia estava   dormindo quando bateram em minha porta por volta   das três horas da manhã. Era o Mário Véio que   acompanhava o dr. Décio. Abri a porta e foi aí que   dr. Décio disse: Estou vindo do Jorro e sigo viagem   para Salvador, mas vim lhe fazer um convite. Você   vai ser o maestro da Filarmônica XV de Outubro.   Vou comprar os instrumentos. Eu? Não quis aceitar   e  falei o capitão Abel e do major, ambos da PM que   são maestros. Foi aí que passei a estudar todos os instrumentos, harmonia e execução. Terminei sendo o maestro e fiz muitos arranjos. Ele me trouxe um livro com as partituras das músicas da Banda de Fuzileiros Navais do Rio de Janeiro, que me serviu muito para ensaiar a Filarmônica. Os instrumentos que dr. Décio adquiriu eram de qualidade e não faltou nada para a Filarmônica enquanto ele esteve à frente da Prefeitura Municipal. Foi um desafio que aceitei e exigiu de mim muita dedicação. Mas, acho que cumpri bem a missão que dr. Décio de Santana me confiou”.

Foto 1. Orelana cantando ainda criança. Foto 2 . Ao lado
de Raimundo Jacaré. Foto 3. Orelana, Joãozinho e mais dois
componentes não identificados no cover de Secos &
 Molhados. Foto 4. Orelana Sturaro cantou na Banda Gibson.
A cantora que mais se destacou na Banda Gibson foi Orelana Borges (Sturaro) que revelou ter sido Raimundo Jacaré  o mentor de tudo. Lembrou que "era de menor e ele procurou meu pai para autorizar entrar na banda. Fui uma das primeiras mulheres a entrar numa banda nesta região. Era um ambiente dominado pelos homens, lembro que tinha apenas uma na Banda RC 7, de Sergipe. Entrou eu e Maria Tereza, que demorou pouco tempo e voltou para Ribeira do Pombal, quando a gente já estava em Salvador. Não sei se você sabe, mas houveram muitos percalços e dificuldades. Viver só de música para quem estava iniciando naquele tempo era muito difícil, e Raimundo Jacaré não conseguiu segurar a onda porque tinha aluguel de casa, alimentação, transporte, vestuário e todas as despesas que envolve um coletivo de pessoas. Raimundo Jacaré sempre foi muito rigoroso nas coisas dele com horário dos ensaios etc. Lembro que num dia muito estressado numa festa de outubro onde a gente ia se apresentar durante três dias no Grêmio Social  de Ribeira do Pombal. Os rapazes tomaram umas cervejinhas e chegando lá, o Walmir Ferreira (Wigú)  e o  Manelinho erravam os toques . Raimundo reclamou muito, e o  Walmir jogou a guitarra no meio do palco e ainda pegou em mim. Muita gente viu a cena . Mas, depois ficou tudo bem e começamos a tocar e a festa foi linda. "
"Também, a nossa estreia em Salvador foi muito estressante para Raimundo Jacaré porque a divulgação era pelas rádios AM e ficamos hospedados num pensionato no Dique do Tororó, que foi o Jurandir Rodrigues , que era o tecladista que arranjou este lugar. Fomos nos apresentar em Periperi e até Roberto Carlos se apresentava por lá, em meados da década de 70. Eu namorava com Arnaldo Lobo (Arnaldinho de Altair) e saí da banda. Um ano depois nos separamos e voltei para a banda. Na época o Joãozinho, filho  de Milton Jacobina  também cantava e tinha uma música que ele queria cantar, mas havia o preconceito forte e Raimundo Jacaré insistia que a música era para ser cantada por uma mulher e não por um homem. Então o Joãozinho terminou saindo da banda por causa deste preconceito. Fiquei até balanceada querendo sair também porque ele era um parceiro que gostava muito. Mas, como era muito ligada à música terminei ficando. Fizemos o cover de Secos & Molhados, enchemos o Centro Recreativo São Vicente de Paula, tinha as Manhãs de Setembro, no Grêmio Social de Ribeira do Pombal. Na banda Gibson  passaram vários componentes saiu Jaime entrou o Batera, entrou Walmir , Caboclinho no teclado, quando o Jackson saiu indo embora para São Paulo. Sempre ocorreram estas mudanças e eu e Walmir Ferreira sempre ficando, "conta Orelana.
Foto 1. A Banda Los Tiernos fez sucesso na época.
Foto 2. A Banda Gibson,  era mais refinada, e tinha como
cantor o Bento Daniel .

O ex-componente da Banda Los Tiernos e que ainda toca na Filarmônica XV de Outubro, José Aurelino Borges, de 70 anos de idade, fica emocionado ao lembrar de sua participação e da convivência com os demais integrantes. Relembra que quando estudou no CIEB o aluno tinha as matérias curriculares obrigatórias e as opcionais entre elas música, cerâmica, carpintaria, marcenaria e tipografia. Eu escolhi e música e em 1966/7 entrei na Filarmônica XV de Outubro tocando trombone e o Raimundo Jacaré que era meu amigo desde a infância já estava lá. O primeiro maestro foi o sargento Bernardo e depois o tenente Geraldo. Tocavam na Filarmônica o Jaime, Cardoso (que hoje mora em Alagoinhas), Zé Pinto, Lourival, Roberto Moraes, Mário e Aguinaldo Brito, Euclides (filho do professor Erofilo) Paulo Ribeiro (que era um dos melhores), Pedrinho, de Alagoinhas, bom pistonista.

Na Foto I ao  lado vemos uma das formações da Banda Los Tiernos no contra baixo Jurandir Rodrigues de Souza, (trompete) Pedro Leôncio (Pedrinho), percussão Osmário Nobre , baterista Jaime Oliveira , Sanfona o Expedito, sax alto Paulo Ribeiro, trompete Lourival e na guitarra Raimundo Araújo ( Jacaré).

Foi nesta mesma época que foi criada por Raimundo Jacaré a Banda Los Tiernos com Pedro Leôncio (Pedrinho), Lourival, Eu, Jurandir Rodrigues, Cardoso, Expedito, Décio, Caboquinho e Jaime, que era o baterista. A gente ensaiava muito de segunda à sexta-feira num imóvel que fica hoje nos fundos da loja da Honda. Quando nos apresentávamos tocávamos cinco horas, ou seja, das vinte e três horas às cinco da manhã, com intervalos de quinze  minutos para beber água e ir ao banheiro. Hoje as bandas tocam apenas de uma hora e meia a duas horas e ganham muito mais. Posso afirmar que Raimundo Jacaré era um maestro competente e rigoroso que aprendeu praticamente sozinho a tocar vários instrumentos, a ler partituras e fazer belos arranjos que a gente executava na Banda Los Tiernos. Tocávamos desde músicas de Roberto Carlos, Santana, The Fevers, The Beatles e muitas outras porque o nosso repertório era vasto. "

José Aurelino e sua esposa Sandra Borges, e com seu
trombone de vara que lhe traz boas recordações.

 Confirma Aurelino que a ida para Salvador ocorreu em busca de estudar porque em Ribeira do Pombal não tinha segundo grau e Lourival e Jurandir já tinham concluído o ginasial. Chegamos lá em 30 de dezembro de 1969 e fomos morar numa casa que alugamos no bairro Jardim Cruzeiro, na Rua das Nações, 185, a na Cidade Baixa. Começamos a tocar em pequenos clubes e o que a gente ganhava não dava para cobrir as despesas. Passamos muitas dificuldades, comemos feijão por várias vezes. Lembro que um dia só tinha uma lata de sardinha que dividimos por cinco pessoas. Mas, insistimos porque não queríamos voltar atrasávamos o pagamento do aluguel por quatro e até cinco meses, e quando a gente recebia pagava uns três e o seu Jorge, dono do imóvel não nos pressionava. Também seu Bené que era dono da padaria vendia o pão fiado e quando a conta estava alta ele avisava e no primeiro dinheiro a gente ia lá e pagava. Somos gratos a seu Jorge e a seu Bené que nos ajudaram muito. O importante é que éramos honestos e ninguém usava droga. "

 Disse ainda Aurelino Borges que "conheceram um vizinho que tinha sido maestro da Banda da Polícia Militar o sargento Nelson Machado. Ele tinha conhecimento e arranjou vários locais para a gente tocar e ainda nos transportava numa Kombi de sua propriedade. Foi através dele que tocamos várias vezes no Clube dos Oficiais da PM, nos clubes do Exército, Marinha e Aeronáutica, em Candeias, Periperi, Santo Amaro, Serrinha, Colégio Costa e Silva na festa da Miss Seliba, Pojuca, Alagoinhas, Euclides da Cunha, Tucano , Delmiro Gouveia , Inhambupe, Jorro , Cícero Dantas." Aurelino tomou nota e tem até hoje todos os locais e datas em que se apresentaram.  "Fiquei na banda Los Tiernos de 1968 a 1976. Depois toquei na Banda Diamantes, de Periperi,  e na Super Som, de Salvador.  Depois Raimundo Jacaré montou a Banda Gibson e fui tocar com ele. Esta banda era melhor que a Los Tiernos e competia com Los Guaranis, Lordão e outras bandas consideradas tops da época”.

Sua esposa Sandra Borges morava nas proximidades  onde os componentes  a banda estavam residindo e disse que ficava curiosa porque eles repetiam muito as mesmas músicas. Ela tinha por volta de 14 anos e não tinha noção de que eles estavam ensaiando. Foi quando um irmão dela fez amizade com os pombalenses e ela se aproximou de José Aurelino Borges, conhecido por Tio, em homenagem ao tio Paizinho, que ele tanto gostava. Passou a ver as dificuldades que passavam e quase diariamente fazia uma sopa de verduras e mandava ou levava escondida para eles. A sopa era tão forte que ficou conhecida por Sopa Arranca Toco. Dizem que quando a turma tomava a sopa dava uma moleza no corpo. Ela lembra que entravam pessoas oferecendo drogas e eles nunca aceitaram. Ela mandava frutas quando a mãe fazia mercado e muitas vezes que eles iam tocar em algum clube e ofereciam alimentos costumavam trazer o que sobrava dentro dos próprios instrumentos para comer depois. Tempos depois ela descobriu que era prima de Aurelino, e hoje estão casados em têm dois filhos e netos. 

Baixista e produtor musical Walmir Ferreira, (Wigú) com o
sanfoneiro Mahatma Costa, premiado na Itália.

 Finalmente, o Walmir Ferreira de Oliveira,   conhecido  hoje no meio musical como Wigú, que   tem um estúdio em Aracaju, Sergipe, onde já gravou   inúmeros artistas regionais e é um destacado   produtor musical que sempre está sendo chamado   para realizar trabalhos em outras capitais. Ele é filho   de José Antônio de Oliveira e Maria Neuza dos Reis,   falecida. Casado com Maria José da Silva (Gil),  e o   casal tem três filhos Diógenes Franklin, Marjorie e   Endel. Walmir  antes tocava guitarra,  mas como o baixista da banda tinha falecido num acidente ele passou a se interessar pelo baixo e até hoje toca este instrumento. Esteve morando em São Paulo quando foi levar sua mãe para a cidade de Guarujá e  trabalhou numa loja de vendas de discos. Mas, recebeu uma carta de Raimundo Jacaré convidando para participar da banda, e assim decidiu voltar para Ribeira do Pombal para tocar na Gibson. Quando a banda acabou foi para Sergipe e em Itabaiana tocou na Banda Vênus, depois na Banda Nômades e até na famoso Los Guaranis, ocasião em que era o mais novo instrumentista desta banda. Tocou com muitos artistas regionais e nacionais como Alceu Valença, Aguinaldo Timóteo e  em seis  carnavais de Recife. Gravou as Bandas Calcinha Preta, Gatinha Manhosa, Menina Faceira, Raio da Silibrina e muitos cantores regionais. Diz que "vivo socado no meu estúdio gravando jingles políticos e comerciais, cds de artistas de vários lugares ".
NR- Quero agradecer mais uma vez ao parceiro Hamilton Rodrigues pela sua dedicação e entusiasmo para a concretização deste projeto. Hoje chegamos no 40º homenageado . Vamos em frente com a ajuda de vocês.