Marta Vasconcelos Marta Rocha
REVISTA: Manchete 3 de fevereiro de 1979.
\Texto Reynivaldo Brito
Está começando mais um concurso mundial de beleza. As rainhas de outras épocas dizem o que pensam
Nenhuma Miss Brasil conseguiu ser tão amada quanto Marta Rocha, a Miss Brasil de 1954. Afastada, por várias razões, dos concursos de beleza, ela acha que as mudanças ocorridas estão diretamente ligadas aos novos interesses da mulher moderna. O exemplo dado por Marta para explicar o seu ponto de vista é o desejo da sua filha Cláudia:
“Ela, como toda jovem do seu tempo, está querendo estudar na Europa ou nos Estados Unidos, coisa rara de acontecer no meu tempo. A mulher, nos anos 50, era mais reprimida, menos livre. Foi para poder viajar, conhecer outros lugares, que me inscrevi no concurso de Miss Bahia. Meu pai só permitia viagens se toda a família fosse. Hoje isso não acontece mais. As jovens desfrutam de uma liberdade que não tínhamos. Por isso, não se sentem atraídas pelo apelo de um concurso de beleza. Quero deixar bem claro: não faço qualquer tipo de restrição ao concurso. Ele foi muito importante para mim e só deixou de ser para outras moças, de 1968 para cá, após a vitória da minha conterrânea Marta Vasconcellos. Foi justamente nessa época que o comportamento da mulher começou a sofrer profunda alteração. Essa é, na minha opinião, o motivo por que os concursos de beleza não causam impacto igual ao dos anos 50 e 60. Mas, como estamos passando por uma fase de saudosismo, talvez eles venham a renascer com a mesma força de antes”.
IEDA VARGAS: "O TÍTULO DE MISS MUDA A VIDA DE UMA PESSOA"
Desde os 14 anos, quando Marta Rocha conquistou o título de Miss Brasil e ficou no segundo lugar no de Miss Universo, Adalgisa Colombo Teruskin sonhava com o título de Miss. E acabou conseguindo, quatro anos depois, realizar o seu sonho. Mas, seis meses após haver conquistado o título – ela foi Miss Brasil em 1958 –, entregou o cetro para poder casar com Jacksson Flores. Hoje, casada com o empresário Flávio Teruskin, o seu segundo marido, Adalgisa é uma ardente defensora dos concursos de beleza:
“Eles só deixaram de ser importantes no Rio, São Paulo e Belo Horizonte, por falta de promoção nos jornais, revistas e emissoras de televisão. Mesmo assim, nas cidades e capitais fora desse eixo, os concursos sendo muito prestigiados, lotando os locais onde são promovidos. Por exemplo, a Rainha das Piscinas, em Porto Alegre, leva uma multidão aos lugares onde é realizado, há mais de 20 anos. O mesmo acontece em todos os lados. Quem tem a oportunidade de participar dos júris por esse Brasil afora, confirma as minhas palavras. No meu tempo, eram poucas as candidatas que cursavam faculdade. De uns anos para cá, várias foram às misses que cursavam medicina, psicologia e outros cursos. Algumas chegaram até a abandonar o cetro para poderem concluir seus estudos. Também, a organização atual é melhor do que a do meu tempo. Quanto aos ataques das feministas, acho que elas são é recalcadas...”
O que Marta Rocha tentou e não conseguiu, nove anos depois uma gaúcha conquistou: o título de Miss Universo. Seu nome: Ieda Maria Vargas. Casada há nove anos com José Carlos Athanásio, tem um casal de filhos: Rafael, com oito anos, e Fernanda, com cinco. Ao contrário das demais misses que se tornaram apenas donas-de-casa após o casamento, Ieda Maria continuou trabalhando. Já foi apresentadora de um telejornal numa das emissoras de Porto Alegre – onde reside – e atualmente é representante de modas, o que a obriga, na ausência de um manequim, a desfilar. Ela resume, ao revelar os sonhos de sua filha, Fernanda, sua posição em relação aos concursos de beleza:
“O grande sonho dela é um dia chegar a ser Miss como eu fui. É apenas um sonho de criança. Acho que tudo tem o seu tempo. Agora o tempo dela é de ser simplesmente criança. Mas se quiser ser Miss mais tarde, não criarei obstáculos.”
Rafael, o filho, apesar de achar maravilhoso a sua mãe ter sido Miss Universo, diz não entender como ela conseguiu o título sem ter olhos verdes – na sua opinião toda Miss Universo deve ter olhos verdes. Mas entre os sonhos e opiniões dos filhos, Ieda Maria Vargas Athanásio é também uma defensora dos concursos de beleza:
“O meu caso aconteceu com muita moça. Antes do concurso , elas alimentavam apenas sonhos. Quando se tornaram misses – municipais, estadual ou brasileira – ganharam chances que antes não tiveram. Sua maneira de pensar e o cotidiano das suas famílias sofreram transformações para melhor. Este é um dos aspectos positivos do concurso.”
MARIA RAQUEL: "O CONCURSO PERDEU PRESTÍGIO PORQUE A MULHER DE HOJE É DIFERENTE"
Maria Raquel de Carvalho – ela usava o sobrenome Andrade, quando foi Miss Brasil, em 1965 – tem a aparência calma e a fisionomia tranquila, mas se confessa nervosa. Sem ela admitir, jamais alguém iria perceber, pois seu sorriso é leve, o jeito é suave e a voz não se altera. Aos 32 anos, casada há oito anos com o empresário Carlos Fernando de Carvalho, mãe de dois filhos – Carlos Fernando e Carlos Felipe –, ela é uma das locomotivas da sociedade carioca, recebendo citação quase diária nas colunas sociais. Maria Raquel é, hoje, totalmente diferente daquela menina tímida e discreta, que na escola preferia ficar em segundo e não no primeiro plano:
“É bem possível que eu não fizesse outra vez, mas não me arrependo. O saldo foi positivo. Conheci muita gente durante todo o tempo em que fui Miss Brasil e muitas delas eu gostaria de reencontrar e saber o que foi feito das suas vidas. Quanto ao fato do concurso não ser hoje, em termos de prestígio, o que era antes, várias são as razões. Uma delas é a mudança de comportamento atual. Acredito que ela, agora está buscando outras coisas e não apenas a valorização da sua beleza física. Não são todas, concordo. Muitas ainda gostam de participar de um concurso de beleza, visando à ascensão social, uma carreira de modelo ou manequim e outros propósitos. A falta de promoção, também, reduziu muito a participação do público. Recordo que, na época, os jornais, revistas e a televisão falavam constantemente no assunto. Hoje não se lê nada sobre os concursos regionais e nacionais.”
MARTA VASCONSELOS : "ACONSELHO AS CANDIDATAS A PASSAREM PELA EXPERIÊNCIA "
Loura, olhos azuis, 1,71m de altura, corpo bem feito, Mara Raquel conserva todos os traços da beleza que a tornaram Miss Brasil, em 1965. Não concorda, porém, quando se pretende atribuir ao nível das moças que se apresentaram nos concursos de beleza como uma das principais razões para o seu desprestígio:
“Alguém pode negar que a Lúcia Peterle é uma mulher bonita? E as outras que participaram e venceram igualmente eram lindas. Esse argumento não pode ser aceito como válido, por ser mentiroso. Acredito, até, que o concurso possa volta aos seus bons tempos, já que estamos vivendo uma fase de saudosismo.”
Marta Vasconcellos Loureiro foi à segunda brasileira a conseguir o título de Miss Universo em 1968, cinco anos depois da conquista de Ieda Maria Vargas. Contrariando os costumes da época, Marta entrou no concurso noiva e, no dia seguinte ao da entrega do cetro de Miss Universo, em 1969, voltou a Salvador para se casar com engenheiro Reinaldo Loureiro.
Com os filhos já crescidos, Marta preferiu montar uma academia de estética feminina, projeto que não teve continuidade. Ela gosta de rever os lugares onde esteve, quando era Miss Universo:
“Foi um ano de muitas viagens e compromissos que não me permitiam conhecer as cidades por onde passei. Mas eu não tenho queixas do que me aconteceu. Aconselharia qualquer candidata a passar por essa experiência, que amadurece a pessoa e lhe dá oportunidade de conhecer outros costumes e de fazer novas amizades. O concurso sofreu alterações determinadas pela mudança de costumes do nosso povo. Continua, no entanto, sendo uma experiência válida para as candidatas. Sendo boa observadora, não se deixando levar pela glória, ela consegue sair enriquecida, como gente. Por isso eu não sou contra e dou o meu apoio aos que continuam a promovê-lo. Mal ou bem, está sendo vendida uma imagem do Brasil”.
Reportagem de Tarlis Batista, Reynivaldo Brito e Bernardete Schmidt Fotos de Antônio Rudge, Aristides Baptista e Paulo Franken
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