Objetivo


sábado, 27 de novembro de 2021

ZÉ DA FLORESTA TEM MUITAS HISTÓRIAS PARA CONTAR.

Zé da Floresta envolvido com suas histórias, cachaças
e fotos de suas várias atividades.
Zé da Floresta é uma figura icônica dessas que encontramos em cidades do interior que se prezam. É forte, baixo, meio careca e um exímio contador de histórias de suas caçadas, conquistas e feitos nas trilhas de jipeiro, forrozeiro e tocador de pandeiro, fazedor de cachaça que "levanta defunto". Além de  dono de  bodega onde se fofoca de tudo, fundador de time de futebol e de clube social , pequeno produtor rural, padrinho de mais de trinta afilhados, enfim, vá lembrando de alguma atividade que o nosso personagem estará presente. O seu bar que os amigos e frequentadores  preferem chamar de  bodega ,   tem o nome  oficial de Bar Zé da Floresta, e logo depois que  ele abre por volta das 8 horas da manhã já vão chegando os primeiros cachaceiros que  dormem pensando na primeira dose para abrir o apetite para café da manhã.
Seu nome de batismo é José Alberto César, filho de Quintino Francisco Cezar e Ana Francisca Santos Cesar, casado com Maria Madalena e pai de um casal de filhos Joseilda , "que Deus levou", como ele diz, e Jorgivan , que o ajuda na bodega. Nasceu em 15 de novembro de 1942, portanto,   tem 79 anos de idade. Conta ele que "quando vim pra Ribeira do Pombal trabalhei na bodega de Agostinho , na Rua do Cemitério Velho. Depois saí fui para São Paulo, onde fiquei apenas um ano, e resolvi voltar. Tornei a trabalhar junto com o Agostinho , mas ele tinha dez filhos, e a bodega não vendia o suficiente para sustentar a família grande dele, e eu já tinha vontade de casar. Não dava. Daí fui trabalhar como ajudante de pedreiro . Isto foi no ano de 1970. Quando casei saí de lá e meu amigo seu Tidinho arrumou para comprar este ponto . Ele comprou e ainda me emprestou CR$1 mil . Isto foi em 1º de fevereiro de 1971. Ai vim  trabalhar e até hoje estou aqui. Já quebrei umas três vezes, e me levantei, e assim a vida segue. São 50 anos de luta neste local".
Zé com suas cachaças milagrosas, num acampamento
de trilha e os cartazes promovendo as bebidas e a trilha.
                                                                            CAÇADOR 
Aí começam as histórias de caçador. Lembra que  "tinha uns sete anos de idade quando meu avô conhecido por Zé Cariri me levou para rastrear um peba para a gente comer.Fomos esperar o peba e  ele matou e comemos. Fui crescendo e sempre meu avô me levava nas caçadas . Era  muito respeitado como um bom caçador. Meu pai não queria que eu caçasse, mas meu avô continuou me levando. Meu pai era filho de um caçador conhecido, mas era contra eu caçar. Não teve jeito. Meu avô me levava nas caçadas , e pronto, virei caçador. "
Diz Zé da Floresta " já era bom de bodogue. Levava as balas feitas de barro e contava se  desse 10 balas quase sempre trazia para casa dez caças abatidas. Matava muitos preás e passarinhos também. Aos 13 anos comecei a atirar de espingarda e até hoje só sei atirar o animal no chão. Nunca acertei em nambus e codornas voando. Só no chão. Matei também muitos tatus, e acompanhava meu avô que caçava com um cachorro."
Os caçadores Zé da Floresta , Levinha e Zé do Piso.
 Ai Zé da Floresta lembra de uma história curiosa . "Tomei um choque com uma cascavel enorme que até hoje estou doente". Dá uma gargalhada. "Já era casado. Meu pai foi para Cova eu resolvi  subir numa árvore para esperar um veado para atirar. De repente  apareceu uma nambu então  atirei e matei. Desci para pegar e pelar a nambu, quando acabei de pelar , deitei para descansar. Quando acordei vi uma cascavel grande lambendo minha perna aqui",e aponta o lugar na perna. "Só vi a língua dela aqui. Não vi nada mais. Dei um pulo e me agarrei no tronco da árvore . Olhei ela estava deitada. Ai fiquei olhando e resolvi não matar a cobra. A cascavel  não me mordeu, portanto, não tinha porque matar. Então  resolvi voltar pra casa". A gente não sabe se o destemido Zé da Floresta não matou a cascavel por generosidade ou medo. 
Diz o nosso personagem que matou muitos veados ,"tinha dia que a gente matava dois e até três veados. Existiam  muitos caititus, cotias, cágados, jacus, nambus, perdizes, tatus, tatuis, zabelês,araquãs,dentre outros animais . Outro dia contei 33 araquãs na minha roça, que tem muita comida. Eu chamava e  elas não vinham,  são muito bravas. Desde 1990 que não caço mais ." 
De repente lembra que em 1985  matou uma onça sussuarana na localidade de Muriti,  que fica no tabuleiro entre as cidades de Ribeira do Pombal e Tucano, hoje ocupado por pastagens. E continua: "A onça tinha sido baleada por alguém e quando a encontrei atirei. Quando pesamos tinha 40 quilos!"
Vemos  os fundadores e a atual fachada doVisgueira Clube.

Quando perguntado por quê do nome Zé da Floresta lembra  que antes era chamado de Zé de Quintino ou Zé de d. Azinha, meus pais, que eram do sertão. Mas, os amigos que trabalhavam aqui no Banco do Brasil  o Palmeira e o  Paulo quando vinham me procurar cadê o Zé? Voltavam: cadê o Zé? E a resposta era sempre a mesma  : Foi pro mato caçar. Ai resolveram colocar este apelido de  Zé da Floresta. 
Quando abri o comércio  eles quase me obrigaram a colocar este nome de Bar Zé da Floresta , e assim mandei fazer a placa com o nome escolhido pelos amigos. O Palmeira  fez até uma música que tem esses versos: "É Lídia, Margarida ou Guiomar?/Como chamamos o dono deste bar? /faz putaria usando força bruta!/Zé da Floresta é um homem ou uma puta? / O bar de Zé da Floresta tem de tudo, só falta moral / É o lugar mais devasso de Ribeira do Pombal. "E em seguida dá uma gostosa  gargalhada .
Com relação ao Visgueira Clube e Lazer  tudo começou no bar de José Américo Souza Silva, que era conhecido por Bebequé, já falecido , que ficava na Avenida Evência Brito, vizinho a casa de Sebastião Costa, seu Basto Costa. Certo dia ele vendo que diariamente vinham àqueles mesmos fregueses inclusive alguns  bancários ,  e só saiam "puxando fogo". O Basto Costa um dia disse;" Eta visgueira braba! "
"Acontece que  no dia 11 de outubro de 1982 resolvemos criar um time de futebol de society e quando
chegou  a hora de escolher o nome lembraram da expressão de Basto Costa . Então  batizamos o time de Visgueira . A  ideia de criar o time foi de Nazareno . Nos reuninos e foi formado  time que jogou nos anos seguintes. Depois alguém teve a ideia de comprar um terreno para fazer as instalações do clube. Tinha o filho do prefeito Américo Pàssos,  ai o prefeito era Pedro Rodrigues que foi procurado e decidiu comprar o terreno.
O time de futebol society comemorando 30 anos.
A Prefeitura comprou e nos  doou  o terreno e fomos em frente. ", conta Zé da Floresta .Antes já tínhamos olhado um terreno de Pedro Tiburcio,depois surgiu este outro terreno à venda que o prefeito comprou e fez a doação.  Convidamos o Ubiratan César Rocha para fazer parte do grupo. Ele aceitou ser o presidente do clube e fomos vender títulos. Eu vendi uns cem títulos, e nas férias dele ficou trabalhando para levar a ideia do clube adiante. Iniciamos a construção em 1984, levantando um banheiro e algumas  paredes. Como não tinha dinheiro para cobrir, fizemos uma cobertura de palha de ouricurizeiro. "
Adianta Zé da Floresta  que "os membros do grupo sugeriram que eu tomasse um empréstimo em meu nome . Tomei o empréstimo por  dois anos , mas como era pouco não deu para terminar a construção. Foi ai que Antônio Choque também colocou uma parte do dinheiro. Trabalhamos em 1984 e 1985 na maior amizade do mundo . Em 1986 o presidente do Visgueira  foi reeleito e vendemos mais títulos. Cheguei a vender mais 300 títulos. No final de 1986 peguei mais 100 e sempre vendia no mês. Numa sexta-feira , quando terminava o prazo estipulado para acabar a venda dos títulos  consegui vender mais três. Ai fui entregar a ele os cheques das vendas  . Ele olhou pra mim e disse " hoje é o último dia não recebo cheque, só dinheiro." Diz Zé da Floresta que " expliquei que um dos cheques era do colega e primo dele, funcionário do Banco do Brasil , onde trabalhavam. Mesmo assim, não recebeu. Então fui devolver os cheques contrariado. Sabe qua sou azuado! Decidi deste dia pra cá não querer mais negócio com ele. Em princípio de 1987 o Ubiratan Cesar Rocha  renunciou e assumi o clube." 
Depois deste episódio ,   marcou uma convocação e contou com a assinatura de vários sócios.   Quando chegou a hora da reunião João de Alfredo indagou o por quê da intervenção? O Zé da Floresta roubou? Não, responderam, então pronto! João de Alfredo não permitiu que a reunião prosseguisse e deste dia pra cá nunca mais pisei por lá".
O FORROZEIRO
Os forrozeiros Guaxinim, Albertino Gonzaga, José Luis 
 e o pandeirista Zé da Floresta.
Quanto aos Amantes do Forró  o   Zé da Floresta após  deixar o  clube Visgueira no ano 2000,  não tinha mais andado em festa. " Ai apareceu  um amigo que gostava de sanfona e eu de pandeiro. Isto  foi em 3 de junho de 1996 .Ele me convidou para a gente organizar uma festinha de São João. Convidamos  Antônio José Borges, o Coió; Narciso,Zé Eronildes e formamos uma diretoria, e saímos andando com 15 pessoas. Já  em 1997 arranjamos um caminhão de Daniel e saímos com 30 pessoas. No ano seguinte arrumamos um trenzinho e aumentamos para 50 pessoas..Muita gente queria. Fizemos até 2008. Em 2009 foi Coió que assumiu e dai em diante outros saíram . Ai resolvi registrar em 2012 e daí organizavam com minha autorização em 2009 foi o filho do Ronaldo que organizou. Em 2010 e 2011 foi Zé Carrara e de 2012 foi o Gilmar. Em 2019 tinha uma audiência e não pude providenciar os papéis e ele se aborreceu. Preparei tudo para sair em 2020, mas veio a pandemia e tivemos que suspender. Em 2022 espero retomar a festa. Já tenho 52 inscritos querendo sair. Espero a ajuda da Prefeitura e dos comerciantes. Para os amigos o Zé da Floresta é um exímio pandeirista .Leva a noite inteira batendo o bandeiro dentro do rítmo."

O JIPEIRO DAS TRILHAS 
Tem Jeep desde 1990 quando comprou de João Santo. Sempre rodando com o Jeep por ai."Quando foi em 2018 resolveu juntamente com alguns amigos  fazer uma trilha. Lembra Zé da Floresta que passou algum tempo sem  viajar com o Jeep. "Mesmo assim decidi fazer a trilha e completei o percurso de  100 km. Fizemos a segunda e a terceira. Chegamos a reunir uns 30 carros.Tinha fusca, carros  de 4 x 4 dentre outros veículos . Na última vez fomos até o Raso da Catarina num local chamado de Ralatinha, onde tem uma estação de energia eólica.  A gente fez o acampamento lá. Fizemos a primeira em 17 e 18 de novembro de 2017 e  a terceira foi 14 e 15 de dezembro de 2018. "

O seu amigo Narciso Cardoso Rodrigues, de 74 anos de idade, tem uma amizade forte com Zé da Floresta desde o ano 1970. "Começamos andando pelo mato caçando, naquela época não era proibido . Caçamos muito juntos e assim a amizade foi se fortalecendo. Pegávamos e matávamos alguma caça, mas era coisa pouca, só mesmo para nosso consumo. Nunca vendemos caça. Muitas vezes saímos daqui na sexta-feira e só voltávamos na terça-feira ou quarta-feira. Ia eu, ele, Espinosa,Waldemarzinho e Nono de Zé Ernestino. na maioria das vezes consumia ali mesmo o que caçava. "
Narciso Rodrigues.
"O bar dele sempre foi bem frequentado e tem muito respeito, nunca houve confusão", afirma Narciso.Portanto, os versos da música feita pelos amigos é apenas brincadeira , nada de negativo  acontece no bar de Zé da Floresta .
"Outra coisa, muitas das vezes íamos caçar sem levar espingarda. Levávamos enxada e uma pá  para cavar e tirar areia dos buracos dos tatus e outros animais que se escondiam em tocas. Quase nem usávamos espingarda. Eles cavavam e eu tirava a terra. Sempre a gente caçava mais durante à noite caçando tatús.Uma vez numa noite pegamos cinco tatus, lá na localidade de Bom Jardim. O cachorro aquava e a gente começava a cavar até encontrar de dois  a três metros de fundura.  Algumas vezes o formigueiro onde o tatu fez a toca era fundo demais e ele conseguia fugir" , diz Narciso Rodrigues.
João Evangelista.
Já o João Evangelista Silveira de Oliveira , que é escrivão da Vara Cívil, de 58 anos, também amigo e frequentador do Bar de Zé da Floresta . Quando a gente chega no bar e ele está ocupado fazendo alguma coisa , e ai pedimos algo. Ele diz  "vá lá e pegue." A gente pega a cerveja, a cachaça , anota, e quando quer pagar paga., e  pega o troco. Ai começamos a tocar o violão, e o Zé da Floresta vem com seu pandeiro animar o ambiente. Ele bota o cotovelo e a cabeça no pandeiro, faz suas pataquadas .O Zé da Floresta é um cara muito animado e querido por seus amigos. "
De repente, João Evangelista lembra que foram convidados no último dia 16 de outubro deste ano  para ir a um forró de um amigo , e ele tocou pandeiro daqui até lá e voltou tovando. Voltando não! Garanto que foi tocando daqui até lá. Na volta deu uma cochiladazinha legal", e dá uma boa rizada. 
Tem uma lenda conta o amigo que "quando alguém está preocupado que tem muita cobras na roça e quer espantá-las chama o Zé da Floresta. Ele vai nos quatro cantos da roça e faz uma reza, e no outro dia não fica uma cobra na roça. Tem gente que sai de Canudos, de Uauá . O dr. Antônio Fernandes de Oliveira , o ex- juiz daqui, que tem roça no Uauá, veio buscá-lo  para rezar a fim de espantar as cobras.  Não ficou uma sequer ". 
NR - Agradeço a Hamilton Rodrigues por sua busca constante pelas histórias destes personagens que identificamos e vamos reunindo dados e depoimentos, além de fotos. Aproveito para solicitar a compreensão e ajuda de parentes e amigos das pessoas focadas. Isto é importante, porque fica registrado para sempre,  e fará parte da História social e econômica da nossa Ribeira do Pombal. 




sábado, 20 de novembro de 2021

A CHEGADA DE UM NOVO PADRE NA CIDADE

Padre Emílio Ferreira deixa um legado importante.
Depois de várias décadas da administração religiosa da Paróquia de Santa Tereza, em  Ribeira do Pombal, ser conduzida pelo padre Epifânio da Costa Borges  chegou o momento de sua aposentadoria, e é aguardada com expectativa a chegada de um  novo padre.  Ele foi ordenado sacerdote em 17 de dezembro de 1967,  em Itapebi,  e rezou sua primeira missa na cidade de Glória, ambas na Bahia ,  em 6 de janeiro de 1968,sua cidade natal. Já  no dia 25 de fevereiro do mesmo ano foi empossado na Paróquia de Santa Tereza, em Ribeira do Pombal. Na época a Paróquia pertencia  à Diocese de Senhor do Bonfim,sendo bispo d. Antônio Monteiro Mendonça , e  padre Emílio  chegou quando a Paróquia foi desmembrada para a Diocese de Paulo Afonso. Relembra padre Emílio Ferreira Sobrinho que " ao chegar tudo era surpresa. Me inspirei no grande pároco o padre Epifânio da Costa Borges.  Encontrei aqui as congregações deixadas por ele . Coloquei todas para funcionar e as ampliei . A Congregação Mariana, na pessoa do sr. Elias Souza , da Loja a Brasileira; Filhas de Maria, Vincetinos, Coração de Jesus. Incluí os jovens  Carismáticos que muito ajudaram e fortaleceram a nossa caminhada. E mais ainda, confirmei os nossos Sacramentinos ou seja o amor ao Santíssimo Sacramento."

Padre Emílio Ferreira

E prosseguiu o Padre Emílo  "na educação fui fundador e diretor da  Escola Normal, tendo como prefeito  dr. Décio de Santana. Professor  do Pombalense e vice-Diretor e professor do Colégio Agrícola com  indicação de Ferreira Brito. Também, ensinei no  Colégio Evência  Brito , sem desprezar o movimento que fizemos com a caridade  através dos Vicentinos, com a liderança das figuras como  Hildebrando Borges, Tota Rodrigues e João Bitencourt.  Não  podemos esquecer  as pessoas marcantes nos trabalhos da nossa  Paróquia na voz firme do grande  amigo e compadre Raimundo  Sacristão, e outros tão importantes,  e o apoio  das  rádios FM  Educadora. Posso afirmar que durante 45 anos doei a  esta Paróquia o  anos de minha juventude e esta Paróquia me ensinou  a ser padre."  Estas palavras  foram pronunciadas com muita firmeza e  emoção pelo  padre  Emilio Ferreira  Sobrinho, que ficou conhecido  em  todo o  município por padre Emílio, hoje aposentado. E para  finalizar ele  disse "Sou cidadão pombalense com muito orgulho!"

Padre Emílio Ferreira comemorando 25 anos de sacerdócio.

 Padre Emílio, como é mais conhecido, nasceu em 13 de janeiro de 1938, portanto, assumiu a Paróquia  com apenas 30 anos de idade. Alto,  risonho,brincalhão e corpo atlético se deslocava com muita facilidade, e no momento dos atos religiosos se transformava num sacerdote austero e conscio de suas responsabilidades perante milhares de pessoas seguidoras da igreja católica e devotos de Santa Tereza. Quando passava pelas ruas deixava as mulheres curiosas com os olhos em seus movimentos e nos passos firmes  na esperança de um olhar mais afoito. Mas, o padre Emílio seguia o seu caminho para a  velha matriz de Santa Tereza e de lá para a casa paroquial onde se recolhia . É filho de Arthur de Moura Ferreira e d. Antônia Gomes Ferreira , que tiveram onze filhos, sendo Emílio Ferreira Sobrinho o quinto. Os demais são Alzira, Dalva, Elivar,Carlos Afonso, Raimundo, Maria Júlia, Neuza,Antônio, Marta e Gorete. Ingressou em 1955 no Seminário São José, no Crato, estado do Ceará, onde fez o ginásio e segundo grau , e neste mesmo ano sua família mudou para Itapebi, onde reside até hoje. No ano de 1959 foi transferido  para Salvador entrando no Seminário Maior da Bahia, onde concluiu os cursos de Filosofia e Teologia. Em 29 de novembro de 1964 fez a Tonsura Clerical, na Catedral Basilica de Salvador, pelo bispo Auxiliar da época  D. Adriano Hipólito. Em 10 de junho de 1967 recebeu o Diaconato, e em 17 de dezembro do mesmo ano foi ordenado sacerdote. 

                             SEUS COLABORADORES 

Raimundo Sacristão 30 anos de amizade.
O sr. Raimundo Domingos dos Santos, mais conhecido por  Raimundo Sacristão  trabalhou com o padre Emílio durante 30  anos. Nasceu em 26 de janeiro de 1951 , casado com Marlene  Dantas Nascimento Santos e tem cinco filhos, entre as quais  Maria Alexandra Nascimento Santos que é afilhada do padre  Emílio. Todos os filhos foram batizados e casados pelo padre.  Depois Raimundo Domingos  foi morar em Aracaju para  formar  os filhos,  e  fez uma declaração de gratidão  dizendo  que "devo tudo a padre Emílio. Ele é meu ídolo e meu mestre  até hoje ".

Disse ainda Raimundo Sacristão  "que  era menino e Ribeira do  Pombal uma cidade pequena quando conheci o padre  Epifânio  da Costa Borges,  o vigário da Paróquia de Santa  Tereza. Com  sua liderança e  a participação dos corinhas que o  ajudavam  nos  trabalhos da igreja  formamos  um Coral . Ele nos  ensinou  o  Latim. As missas e algumas orações  eram rezadas  em    Latim.  Tinha uma missa às 6 e outra às 7 da manhã. De tarde não tinha missa porque  as pessoas tinham que comungar em jejum. Sómente nas festas  de Natal , Ano Novo e na Páscoa que eram celebradas missas à  meia noite. Enquanto isto, o povo rezava o terço, mas eram devotos fiéis. "

E continuou :"Daí o padre Epifânio  criou as associações como Congregação Mariana, São Vicente de Paula, Irmandades do Carmo e do Santíssimo Sacramento, Irmandade de Maria , Irmandade Apostolado da Oração, que reunia muita gente. Foi assim que ele foi projetando a fé no povo. O que aconteceu foi que ele já estava idoso, mesmo assim  continuava fazendo tudo certinho. Chegou um momento que o padre Epifânio já estava  fraquinho, e então o bispo D. Antônio Monteiro , da Diocese de Senhor do Bonfim , a qual pertencia a Paróquia da Ribeira do Pombal,  resolveu mandar um padre novo pra cá."

Ai Raimundo Sacristão fala com entusiasmo da chegada do novo padre. " Chegou o padre Emílio Ferreira Sobrinho com garra, com fé. Com a força de homem novo e então ele pegou todo este pessoal que integrava estas associações e irmandades e deu uma injeção de fé e de ânimo. Levantou todo mundo e todos vieram a trabalhar e participar mais . Foi a época do Concílio  Vaticano II, que determinou que a missa fosse rezada na língua de cada país. Aí então o padre Emílio  mandou construir um altar no centro da igreja matriz e passou a celebrar  a missa em Português.Com isto o povo se animou mais ainda com as procissões e Via Sacra . Ele liderou a reformulação da igreja matriz, que foi restaurada com a ajuda do povo. Com o passar do tempo conseguiu algumas verbas com políticos  e iniciou o trabalho de construção da nova igreja. As obras estavam há muito tempo paralisadas .Então  ele convocou todos os pombalenses . Inicialmente, foram colocadas toneladas de barro e areia para nivelar o terreno. Quando ele foi celebrar a primeira missa na nova igreja só tinha areia no piso,  mas   o povo cobriu de folhas e palhas. Foi uma festa grande e linda "

Foto 1-A igreja nova vista externa. Foto 2- no centro o
Cristo que foi entronizado por padre Emílio Ferreira.
Continua Raimundo Sacristão "depois vieram as campanhas do reboco, das pastilhas e aquele belo Cristo que está no centro da igreja nova padre Emílio Ferreira  arranjou uma cruz de jacarandá no sul da Bahia, e aí pegou o Cristo que ficava num caixão na igreja matriz, e colocou  na nave central da igreja nova.  Hoje, temos uma igreja bonita e moderna , com a bela e sagrada  imagem do Cristo . " Relembrou ainda que " a procissão  antes era feita retirando o Cristo do caixão, que ficava na igreja antiga , e  o colocavam num estrado, e assim percorria as ruas da Cidade.  Ele acabou com esta procissão que chamavam de Procissão Senhor do Caixão , e tinha o Altar da Amargura. Atualmente,  temos o Altar do Santíssimo Sacramento, e também substituiu   a antiga  procissão pela atual que começa à meia noite percorrendo as ruas da Cidade até quase o dia amanhecer anunciando a Semana Santa. Tudo isto ele fez para melhorar a fé em Ribeira do Pombal".E continuou " também no terreno onde fica a Associação  de São Vicente só tinha um abrigo pequeno. Sabe o que ele fez? Construiu aquelas  casas que hoje existem no São Vicente e salão de festas , que fica do outro lado.  Por outro lado, podemos dizer que padre Emílio Ferreira  é um homem de fé. Quantas vezes o vi com os joelhos dobrados rezando e orando para Nosso Senhor. Lembro de uma vez que fizemos da quarta para quinta-feira de Corpus Christi, uma Noite de Vigília.  Fizemos separado, cada associação uma hora. Haviam ainda  os grupos de jovens Cristo Com Você ,dentre outros mais que ele tinha criado. Sabe o que aconteceu? O padre  não arredou o pé , ficou a noite inteira cantando e orando com a gente. Durante as celebrações ele sentava no confessionário e só levantava quando atendia o último fiel, principalmente nas Quintas-Feiras Santa e na  Sexta-feira do Coração de Jesus. É um religioso que gostava de viver seu ministério sacerdotal. Quando celebrava uma missa  celebrava com fé, com o coração,com toda a força, com toda a  garra. E, assim  fui aprendendo tudo isto com ele e graças a Deus até hoje sou um homem animado pela fé."

João ressalta a obra pelos
mais necessitados.
Outra lembrança que fez questão de assinalar Raimundo Sacristão era a disposição de padre Emílio Ferreira em  atender o pessoal de fora, que reside nos povoados ou mesmo na área rural.  " Lembro-me de uma vez que era a primeira sexta-feira do mês. Ele já tinha confessado desde cedinho até umas 10:30 .  No dia anteior, portanto, na quinta-feira até à noite . Há um decreto da Confraria da Irmandade Coração de Maria que diz que uma pessoa que confessar e comungar nove vezes nas  primeiras sextas-feiras de cada mês terá a salvação. Ai um senhor   se sentiu mal na roça e só faltava uma sexta-feira para completar as noves vezes. Ele pediu ao filho que viesse até a Cidade  chamar o padre Emílio. Quando o rapaz chegou e abordou o padre já  estava muito cansado devido aos dois dias de confissões . O filho apelou e ele resolveu ir. Entramos no carro e quando chegamos perto da casa do velho o filho disse que tíhamos que andar no mato . O padre estava com uma batina amarela que ele tinha. O mato era muito fechado e a trilha estreita .Tinha lugares que quase passávamos nos  arrastando. Daí  o padre Emílio  tirou a batina e ficou de calça,  colocou a batina na cabeça e continuou caminhando . Lá chegando encontramos o senhor sentado numa rede. Confessou e deu a comunhão.  Quando estávamos voltando e chegamos numa cancela, vem um dos filhos do velho correndo, e disse "Padre, meu pai acaba de falecer." Ai o padre Emílio  voltou e foi encomendar o corpo daquele pobre homem. Portanto, o que ele fez na Paróquia de Ribeira do Pombal foi, e será muito importante pela vida afora".  

Outro que teve boa conviência com padre Emílio foi João Almeida Bittencourt , de 82 anos, nascido em 14 de junho de 1939, em Ribeira do Pombal. Desde o povoado da Mirandela que ele  teve contato com o padre Emílio que fez seu casamento em 29 de setembro 1973, e veio morar em Ribeira do Pombal. Aí passou a trabalhar com ele na Associação Legião de Maria  e depois nos Vicentinos, onde contnua até hoje trabalhando dando ajuda aos velhinhos. "Tenho uma carreira grande com ele passando a visitar as casas de doentes, e também no hospital levando o padre Emílio para confortar, confessar os doentes. Ele é um padre que para nascer com a dedicação igual  é muito difícil  porque durante 45 anos ele celebrou missas diariamente aqui e nos povoados . Tem uma grande história de vida aqui em Ribeira do Pombal. É muito brincalhão e até quando ia visitar os doentes sempre procurava confortar e até ensinava remédios." João Bitencourt é casado com Erivalda Santos Bittencourt há 48 anos e tem quatro filhas . 

NR- agradeço a Hamilton Rodrigues sua inestimável colaboração e aos depoentes que se propuzeram a falar do nosso querido Padre Emílio Ferreira Sobrinho. Este é o primeiro personagem homenageado e que ainda vive. Defendo que as homenagens devem, preferencialmente, serem feitas com as pessoas vivas. Caberá a outro jornalista ou historidador complementar acrescentando fatos que podem ter sido omitidos ou que ainda não aconteceram.





domingo, 14 de novembro de 2021

A INFLUÊNCIA DE UM POMBALENSE NA POLÍTICA BRASILEIRA

O pombalense  Oliveira Brito na Câmara Federal , Brasília. 
O pombalense Antônio Ferreira de Oliveira Brito,   conhecido por dr. Oliveira Brito,  teve uma influência   importante na política nacional durante as décadas     de 50 e 60 tendo por duas vezes ocupado a função   de  Ministro de Estado no Governo do Presidente   João Goulart. Mas, antes disto foi juiz em Cícero   Dantas, Jeremoabo e Valença, e prefeito de Ribeira   do Pombal.  Era  um líder importante na Câmara   Federal e respeitado pela sua capacidade de   conciliação. Foi deputado federal de 1951 a 1961;   em 1962 é nomeado Ministro da Educação     permanecendo até 1962 , quando reassume seu mandato de deputado federal até 1963. Logo depois foi nomeado Ministro de Minas e Energia onde ficou até 1964. Neste ano retorna à Câmara dos Deputados atuando de 1964 até 1968, quando licenciou-se para assumir a pasta da Secretaria de Minas e Energia, no Governo de Luiz Viana Filho. Em setembro de 1969 teve seu mandato cassado com base
no Ato Institucional nº5 pela Junta Militar    formada pelos ministros  militares, general Artur da Costa e Silva, da Guerra; almirante Augusto Rademaker Grünewald, da Marinha, e o brigadeiro Francisco de Assis Correia de Melo, da Aeronáutica. Lembro muito bem deste dia porque era o Assessor de Imprensa, da SME e trabalhava diretamente com ele, sendo substituido por Wilson Rocha.
Foto 1.Da esquerda para direita. Evência Mariuche com os filhos Antônio (falecido), Paulo e Zé Grilo. Foto 2. Oliveira Brito e esposa D. Edith. Foto 3. As irmãs Evência Mariuche e Therezinha. e no centro  o sr.Frank May , esposo de Therezinha. Foto 4. Oliveira Brito. 

Ele foi cassado juntamente com o Secretário de Educação  Luis  Navarro de Brito ,que era natural da cidade de São Félix, na Bahia. Foi Secretário da Fazenda no governo de Juraci Magalhães ( 1959-1963).Luiz Viana Filho o nomeou para  subsecretaria  da Casa Civil do governo do general Castelo Branco . Luiz Viana concorreu indiretamente e foi nomeado governador da Bahia ( 1967-1971), eleito escolheu Navarro de Brito para ser o Secretário de Educação , que foi cassado pela Junta Militar. Ele estava cotado para assumir o cargo no governo de Waldir Pires,mas faleceu a bordo do avião em que viajava de Paris a Nova Iorque em 15 de dezembro de 1986, onde ia participar de uma reunião da Organização dos Estados Americanos (OEA).

Voltando ao nosso personagem Oliveira Brito  em 1981 após a extinção   do bipartidarismo chegou a ensaiar sua volta à vida pública ,sendo   convidado pelo senador Tancredo Neves a ingressar no Partido Popular   ( PP). De 1985 até 1990, no Governo do Presidente José Sarney, foi   presidente da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco ( CHESF).   Depois passou a se dedicar ao seu escritório de advogacia tratando   especialmente de questões ligadas ao Direito Civil e Constitucional.   Faleceu em 3 de julho de 1997, em Salvador.
Foto 1.Therezinha filha de Oliveira Brito ao centro e seus filhos À sua direita Cláudia e Marcos. À  sua esquerda  Mônica e Frankinho ,  e seu esposo Frank May. Foto 2. Da esquerda para direita José Lourenço e esposa Evência Mariuche ,d. Edith  e seu esposo Oliveira Brito.Sentados os filhos do casal (Mariuche x José Lourenço) Zé Grilo,Paulo e Antônio  (falecido). Foto 4. Oliveira Brito discursando numa solenidade. 
Em 1986 Oliveira conversa com  trabalhadores rurais, que
saíram pacificamente desocupando o canteiro de obras.

 A nossa Cidade de Ribeira do Pombal e muitas outras da região   Nordeste do Estado da Bahia devem muito a dr.Oliveira Brito, onde ele   tinha sua base eleitoral, pois sempre estava trabalhando para trazer   novos recursos com  vistas a implementar o desenvolvimento da região.   Muitas das obras aqui realizadas foram possíveis graças aos recursos de emendas parlamentares   que ele conseguia destinar para o município . A igreja nova tem esta arquitetura moderna   porque Oliveira Brito conseguiu uma planta elaborada pelo escritório   de   Oscar Niemeyer, o grande arquiteto de Brasília . Juntamente com   Ferreira Brito, seu cunhado, eles foram os principais responsáveis pelo desenvolvimento de Ribeira do Pombal, que ultrapassou várias outras cidades de nossa região. Sei que alguns vão torcer o nariz quando ler esta parte do texto, mas não podemos concordar com a ingratidão e nem apagar o passado.

ATIVIDADES POLÍTICAS 

 Segundo o Centro de Documentação  - CDOC - em   outubro de 1950 foi eleito deputado federal pela   legenda PSD ( Partido Social Democrático), PRP (   Partido de Representação Popular) e PST  (Partido   Social Trabalhista ) . Assumiu em fevereiro do ano   seguinte, após deixar a Assembléia Legislativa   baiana. Foi reeleito em outubro de 1954 com a   coligação PSD,PRP e o PL ( Partido Liberal) ,sendo   eleito para presidir a Comissão de Constituição e   Justiça da Câmara Federal. Em outubro de 1958 foi   eleito novamente pela Aliança Democrática Popular que reunia os partidos PSD e PRP. Em 1959 concorreu a Presidência da Câmara com  o apoio do presidente Juscelino Kubitschek, mas foi derrotado por Pascoal Ranieri Mazzilli. Em maio de 1961 foi eleito vice-líder da maioria   naquela casa. 
Vemos à esquerda Oliveira Britto num evento político em
 Brasília mostrando serenidade que o caracterizava.
Com a renúncia de Jânio Quadros em   25 de agosto de 1961, assumiu o então Presidente da   Câmara já que o vice João Goulart estava numa   missão na China. Ai veio uma crise institucional   porque os ministros militares não queriam que   Jango  assumisse. Oliveira Brito foi escolhido como   relator de uma Comissão Mista composta de seis   senadores e seis deputados para estudar o pedido de   impedimento de João Goulart. Ele propôs em seu   relatório final que devido " a profunda anormalidade   das instituições republicanas sob o regime   Presidencial  outra alternativa não nos resta senão a de mudarmos de sistema fazendo a experiência do regime Parlamentar". Já em setembro de 1961 a emenda parlamentarista foi aprovada pela Câmara e pelo Senado. João Goulart tomou posse e formou seu gabinete tendo à frente Tancredo Neves. Oliveira Brito foi nomeado Ministro da Educação e Cultura  ficando de setembro de 1961 a junho de 1962, quando reassumiu seu mandato de deputado federal. 

Em 1962 foi eleito mais uma vez deputado federal pela legenda da Aliança Democrática Trabalhista, formada pelo PSD, PDC ( Partido Democrata Cristão) PTN ( Partido Trabalhista Nacional), PSP  (Partido Social Progressista ) e o PSB ( Partido Socialista Brasileiro). Em 6 de janeiro de 1963 veio o plebiscito que resultou em ampla maioria na revogação do Parlamentarismo , quando foi escolhido Líder da Maioria.  Veio outra crise institucional e Goulart destituiu todo o ministério, e Oliveira Brito foi nomeado Ministro das Minas e Energia. 

Coube a ele tomar medidas no sentido do desenvolvimento da indústria nacional, ampliou o parque
siderúrgico, criou a Centrais Elétricas Brasileiras ( Eletrobrás), reformulou o Fundo de Eletrificação. Incentivou a Companhia Vale do Rio Doce a construir o Porto de Tubarão, em Santa Catarina, para exportar minério de ferro. Autorizou a Petrobras a promover atividades no setor de distribuição de derivados e estabeleceu o monopólio no fornecimento aos órgãos públicos . Inaugurou três usinas siderúrgicas:Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais (Usiminas), Companhia Siderúrgica Paulista  (Cosipa) e Ferro e Aço, de Vitória . Deixou a pasta em 1º de abril de 1964, após a deposição do presidente João Goulart. 

A Fazenda Salvador, no município de Cícero Dantas,
que ele herdou da mãe que faleceu quando Oliveira
Brito tinha apenas 8 meses de idade.
 
Reassumiu seu mandato de deputado federal no mesmo mês, passando a ser o Vice-líder do PSD. Com a extinção dos partidos políticos pelo Ato Institucional nº 2, em 27-10-1964, e a posterior instauração do bipartidarismo filiou-se ao MDB   (Movimento Democrático Brasileiro ), partido de oposição ao regime militar . Em 1966 ingressou na  Arena (Aliança Renovadora Nacional) que apoiava o governo. Foi reeleito deputado federal nas eleições de novembro do mesmo ano . Licenciou-se em abril de 1967 a novembro de 1968 para ocupar a Secretaria de Minas e Energia, no governo de Luiz Viana Filho, até ser cassado em setembro de 1969 com base no Ato Institucional nº 5. 

HOMEM SIMPLES 

Quando era presidente da Chesf em 1986 houve um movimento de trabalhadores rurais que iam ser relocados de suas terras e exigiam que o reassentamento fosse concluido para que eles se mudassem e continuassem suas atividades agrícolas. Depois de quase uma semana de ocupação e paralisação  das obras da Barragem de Itaparica eles tiveram algumas reuniões com os técnicos e exigiram que o presdidente da Chesf fosse pessoalmente conversar  para então desocupar o canteiro das obras. Oliveira Brito com seu jeito educado, paciente e conciliador desceu de um helicopetero e conversou com os trabalhadores que se sentiram prestigiados e confiantes na palavra do pombalense, e  voltaram para suas casas. O reassentamento foi concluido e todos se mudaram para suas novas residências.  A Barragem de Itaparica pertence ao complexo de barragens da Chesf, no rio São Francisco e fornece energia para milhões de nordestinos. As águas do  Velho Chico cobriram a cidade de Petrolândia, deixando parte de  sua igreja à mostra. A barragem foi rebatizada pela Chesf com o nome de Barragem Luiz Gonzaga, em homenagem ao Rei do Baião.

Sua filha Mariuche
e Zé Grilo,seu neto.
 Embora tenha pássado grande parte de sua vida entre os homens do Poder, junto   àqueles que tomavam decisões que iam repercutir em todos os cidadãos   brasileiros o que dr.Oliveira Brito mesmo gostava era de estar em sua pequena   fazenda de nome Salvador, localizada  no município de Cícero Dantas. Lá ele   ficava deitado numa rede observando a paisagem com  os grandes morros e seus   paredões de arenito. Sempre estava conversando com pessoas simples que   vinham prosar ou tomar alguma orientação sobre pequenas questões de terra e   familiares. Era um  homem de fala mansa e um adepto da conciliação. 

Oliveira e o bisneto Guilherme Brito Costa Morais da Silva.
  Lembra seu neto , que já foi prefeito de   Ribeira do Pombal, conhecido por Zé Grilo, filho de Mariuche sua filha mais velha ,"meu avô era uma pessoa afável, carinhoso que gostava muito das pessoas simples. Uma vez ele me disse que o homem vale pelo caráter que tem e não pelo poder ou dinheiro que possa ter !"

Certa vez - disse Zé Grilo - uma pessoa queria tomar  um pequeno empréstimo para fazer uma plantação de  feijão e milho e nada do empréstimo ser liberado.  Então apelou para Oliveira Brito conversar com o então  presidente do Baneb, que era o Clériston Andrade. Foi  quando dr. Oliveira Brito respondeu: "Vamos  falar  com o gerente. Não é preciso falar    com o Clériston Andrade," e assim foi com a pessoa  ao  gerente do Baneb , que depois do proponente  atender às formalidades legais o empréstimo foi liberado".

Ele deixou duas filhas do seu casamento com d. Edith de Oliveira Brito  que são  Evência Mariuche de Oliveira Brito e Therezinha Oliveira Brito May. Teve um relacionamento antes do casamento e teve uma filha que morava em Euclides da Cunha de nome Nice Ferreira de Souza Brito.Esta filha lhe deu   onze netos . Mariuche teve três filhos e Therezinha  quatro , portanto Oliveira Brito deixou ao falecer  18 netos. 

Nice foi a primeira das filhas.
 Outras histórias que José Lourenço Morais da Silva Júnior, seu neto,     conhecido por Zé Grilo, conta é que quando era juiz de Jeremoabo   coube a   Oliveira Brito, na qualidade de juiz da comarca de julgar   alguns   remanescentes do bando de Lampião . Num desses   julgamentos ele   decidiu pela absolvição de Dadá, mulher de Corisco,   o braço direito de   Lampião. Ela foi levada por Corisco quando tinha   apenas 13 anos de   idade . Portanto, era  uma jovem e fora atingida pela polícia perdendo uma perna. Ele entendeu que esta mutilação já era um castigo grande para uma jovem e ai fundamentou sua decisão. O promotor era o Tarcilo Vieira de Melo,  foi promotor da comarca de Jeremoado de 1937 a 1938, que apelou da sentença, mas que terminou sendo confirmada. Depois foi transferido ao ser aprovado no concurso de juiz de direito  para a comarca de Macaúbas, ambas na Bahia. Também. depois o Tarcilo Vieira de Melo se transformou num poítico de renome na Bahia. 
Outra historinha que Oliveira Brito gostava de contar é que foi acompanhando o presidente João Goulart a uma viagem à França , e o governo francês oferece um jantar aos brasileiros. Era um jantar muito chic e vieram como entradas muitos queijos e alguns com aquela cor esverdeada devido ao  mofo. Ele provou  e não gostou. Disfarçou , enrolou num lenço e colocou no bolso para depois jogar fora os caros queijos franceses . Ele contava isto dando gargalhadas. 
E para finalizar, o Presidente Juscelino Kubischeck o convidou para ser ministro do Supremo Tribunal Federal, mas ele agradeceu e recusou o convite alegando que acabara de ser reeeleito deputado federal pela Bahia, e não podia abdicar do mandato que os eleitores lhe confiaram. Naquela época quase ninguém sabia os nomes dos ministros do STF porque eles faziam seu trabalho em defesa da Constituição e não tinham este protagonismo politico de hoje decorrente do ativismo judicial.
NR- agradeço a Hamilton Rodrigues e a Zé Grilo pela colaboração para que esta reportagem pudesse se concretizar. 

sábado, 6 de novembro de 2021

O CAÇADOR QUE ILUMINAVA A CIDADE

Seu Tidinho iluminava a Cidade, e nas horas vagas caçava.

Q
uando o relógio marcava 18 horas e as estações   de rádio anunciavam a hora da Ave Maria seu   Tidinho acionava uma chave, e assim o potente   motor  Caterpillar começava a iluminar a Cidade de   Ribeira do Pombal. O barulho e a trepidação que   fazia, quando estava funcionando, ainda lembro até   hoje. De cor amarela e sempre brilhando devido ao   óleo diesel que o alimentava e escorria pelo piso da   usina . Ele era a alegria de todos os  moradores,   especialmente naqueles dias mais escuros durante o   inverno  quando mais  valorizamos a iluminação. A   Cidade foi crescendo e passou a ter dois  geradores.       
Seu Tidinho é o terceiro, bem
no centro da foto.

Assim, a vida continuava depois de um dia ensolarado, agora sob a luz  produzida pela usina termoelétrica sob a direção deste homem baixinho,  meio gordinho , com seus passos apressados e os pés dentro de uma  sandália,  e que era um exímio caçador. Em cada parada ou conhecido  que  encontrava tinha sempre uma palavra ou até mesmo uma piadianha ligeira.  Usava calças folgadas e quase sempre um pouco maior que seu tamanho  corporal de modo que ficavam encobrindo parte das sandálias. 
Era dispendioso e muito trabalhoso manter aquele motor funcionando à base  de óleo diesel que era trazido inicialmente em tambores de metal . O óleo  tinha que ser armazenado  dentro de um tanque subterrâneo, uma operação  complicada porque  tudo era feito manualmente, para em seguida ser  colocado no gerador. 

Logo que  o relógio cravava 22 horas , ou seja 10 horas da noite as luzes eram apagadas e a Cidade virava um breu, completamente deserta. Lembro que seu Tidinho  dava  um ou dois  sinais antes de apagar para as pessoas se prepararem acendendo placas e candeeiros, que sujavam a casa ou o estabelecimenbto comercial  de fumaça. Muitos encontros, namoros e transas eram interrompidos até que fosse providenciada uma luz para substituir a  elétrica que tinha se apagado.

Certa vez estávamos conversando num bar quando foi dado o sinal de que a luz seria desligada, mas o papo estava tão bom que não prestamos muita atenção, apesar da insistência do dono do bar para encerrarmos a conta. Quando a luz apagou foi aquele alvoroço e resolvemos pagar a conta e ir embora. Eu era o que morava mais longe na Rua da Santa Cruz, hoje Avenida Evência Brito. Desci com um medo danado e ao chegar na esquina onde tio Salvador, tinha uma loja de materiais diversos fui surpreendido por com uma inesperada colisão com outra pessoa que não enxerguei devido a escuridão. Ai me desvencilhei e passei a correr desesperado, quando de longe ouvi a voz de uma mulher me xingando de todos os palavrões possíveis. Era uma prostituta chamada Aninha que reconheci pela voz esganiçada. Aí parei de corrrer, respirei e segui meu caminho até que entrei em casa e fui aos poucos me recuperando do susto.

A casa de seu Tidinho e a Biblioteca Oliveira Brito,
 local onde funcionava a usina termoelétrica
.

O seu nome é Agenor Soares da Silva, mais conhecido ´por seu Tidinho. Nasceu em Ribeira do Amparo em 31 de março de 1908 e era casado com Maria da Glória Soares , chamada de d. Glorinha. Tinha três irmãos d. Vivi que foi casada com seu Didi, pai do meu saudoso amigo José Armênio Alves; Quininha que reside em Aracaju e Francisco, que residia em Vitória da Conquista. O seu hobby preferido era as caçadas em companhia de seu cachorro perdigueiro e dos amigos que o acompanhavam,  principalmente o Zé da Floresta. Ele se entendiam bem porque Zé da Floresta gostava de caçar animais no chão enquanto Tidinho tinha preferência em atirar quando as aves alçavam vôo.  Dizem que era um bom caçador e que acertava com facilidade uma perdiz ou nambu quando o cachorro farejeva e elas voavam procurando se afastar . 

Naquela época até as crianças de seis a sete anos já sabiam manejar um bodogue feito de tiras de borrachas que a gente arranjava de câmaras de ar, quando não mais serviam para usar nos carros. Também, armavámos arapucas, alçapãos e zabumba ( que é um buraco no chão,coberto por uma tábua onde se coloca dois pregos laterais para a tábua se movimentar . Para o animal não ver cobríamos a tábua com areia e quando o animal pisava caia a ficava preso no buraco.) Pegávamos muitos preás,nambus e outros bichos. Em outra regiões chamam de alçapão, fojo etc.  Nos finais de semana a garotada saía  em grupos para caçar nos arredores da Cidade  como no Caboré, no Zimpreste, no Brejo . Já os adultos iam em grupos, tanto de dia como durante as noites, para caçar veados, caititus, tatus, perdizes e nambus armados de espingardas de socar e poucos possuiam espingarda de cartucho.  Eles caçavam no Tabuleiro e mesmo nas matas que existiam, às margens da BR-110 , hoje tudo virou pasto.  Não tínhamos naquela época a consciência atual  de que devemos preservar os animais silvestres. Por isto, muitos animais estão ameaçados de extinção porque a caça predatória durou muitos anos em todos os rincões deste país. Antigamente se comprava  nas bodegas e lojas alçapões feitos de arame e de taliscas de coqueiro,hoje é proibida a venda.  

José Soares,o Zé Foguinho
Seu filho José Cruz Soares da Silva, conhecido em Ribeira do Pombal, por Zé Foguinho, não lembra quando seu pai começou a trabalhar na Usina que fornecia energia elétrica para a Cidade. A usina ficava junto "a nossa residência na rua Júlio Guerra de Almeida, número 73. A energia era desligada às 22 horas, e antes meu pai dava um sinal avisando a todos que a luz ia apagar."E continua José Soares "mais tarde meu pai se tornou Oficial de Justiça e passou a trabalhar por vários anos no Fórum da Cidade, diretamente com os juizes  que se sucederam na Comarca de Ribeira do Pombal. O último conhecido foi o dr. Juarez Alves de Santana, que foi meu professor de Português, no Ginásio na década de 1960.  Por muitas vezes vi meu pai saindo de casa para entregar intimação  montado num cavalo ou  burro para ir aos povoados intimando  as pessoas para as audiências no Fórum da Cidade. ".

"Quando adolescente acompanhei por várias vezes nas caçadas que gostava de fazer e aprendi com ele o manejo de atirar de espingarda, que naquela época era de socar. Saíamos nos finais de semana  aos sábados ou domingos de madrugada por volta das 4 horas da manhã, e muitas vezes andávamos em média 15 a 20 km de ida e de volta. Meu pai me ensinou como atirar numa codorna voando e gostava de criar cachorro perdigueiro, que por sinal eram muito bons para levantar as codornas e nambus. "

Depois que José Soares concluiu o Ginásio em 1969 veio para Salvador estudar, e geralmente em finais de semana ou nas férias vinha para Ribeira do Pombal e sempre o acompanhava nas caçadas. Um companheiro sempre presente em suas caçadas era o Zé da Floresta. No início de 1975 foi acometido de uma grave doença e levado para a Cidade de Alagoinhas, e depois para o Hospital Geral do Estado, em Salvador , que funcionava no bairro do Canela, onde veio a falecer. em 20 de janeiro de 1975."

Aí o Zé da Floresta  e seu bar, famoso ponto de encontro. 
 Deixou seis filhos: Moacy , ( falecido) era um craque  jogava  na Seleção de Ribeira do Pombal e chegou a fazer um teste no Bahia, e não sei a razão por que não ficou, já que tinha muita habilidade com a bola; Ecy que reside atualmente em São Paulo, Enio e Eridan (ambos falecidos) e Sônia que reside em Ribeira do Pombal na mesma residência onde seus pais moravam. Já o José Soares, Zé Foguinho, mora em Salvador  mas sempre que pode  vem  passar uns dias na terra geralmente no mês de janeiro". 

Um amigo de fé de seu Tidinho era o José Alberto Cesar, 79 anos, conhecido como Zé da Floresta que tem uma bodega que ele denominou de Bar Zé da Floresta. Para ele seu Tidinho foi meu segundo pai. Foi ele que comprou este ponto por Cr$2.200,00, na Rua Antônio  Rodrigues Pereira, 66,  e me emprestou mais Cr$ 1 mil cruzeiros para eu comprar mercadoria. Depois ele me apresentou Moacy, seu filho, que não conhecia e ai ele ficou  até falecer. Aqui eu vendo fumo e pão.  Se não vender fumo e pão não é bodega . Cachaça e outras coisas mais todos vendem ", diz com orgulho o bodequeiro Zé da Floresta .

Ele andava muito na roça, lá no Pau Ferro . Tidinho  ia e a gente ficava por lá uma semana caçando e tomando umas . Ele gostava muito de Jurubeba Leão do Norte.  Eu morava sozinho . Quando comprei a bodega ele vinha duas a três vezes ao dia. Era uma grande amizade. Eu era caçador de chão e ele caçava atirando quando as nambus e perdizes voavam. O dinheiro era de Toinho, meu primo, que guardava debaixo do coxão.  Com 30 dias fui pagar os juros, mas Tidinho  não quis receber os juros, depois quitei tudo direitinho.  Ele comemorou 50 anos de sua bodega  com muita cerveja para os clientes.Lembrou Zé da Floresta que às vezes estava no brega e Tidinho apagava a luz a gente ficava brabo. Lembro quando Eninho casou ele ficou muito feliz e tomou muita cerveja na comemoração. Depois foi me encontrar na roça. Eu estava caçando perto de Tucano. Ele tomou o rastro e foi bater lá. Passamos uma semana farreando e caçando. Tidinho só vivia rindo , era uma pessoa boa demais". 

Quando indagado o porquê deste apelido Zé da Floresta ele explicou que as pessoas iam procurá-lo e sempre o pai respondia o "Zé está no mato caçando." Foi numa dessas idas à casa  do José Alberto  que  Paulo e  Palmeira , que eram funcionários do Banco do Nordeste, em Cícero Dantas, amigos de Moacy, filho de seu Tidinho , decidiram colocar  o apelido em  José Alberto de Zé da Floresta , e ai o apelido pegou. Tem  até uma música gravada em fita cassete  mostrando  as peripécias do Zé da Floresta no seu bar.wc .

NR - Agradeço o empenho de Hamilton Rodrigues , meu parceiro nesta empreitada de trazer informação sobre estes personagens que marcaram com suas presenças e seu trabalho em nossa Ribeira do Pombal.