Objetivo


sexta-feira, 29 de junho de 2012

SEGUNDA GUERRA MUNDIAL - O DIA DA LIBERDADE

MUNDO - SEGUNDA GUERRA MUNDIAL




A TARDE SEGUNDA-FEIRA 06 JUNHO 1994
Texto de Reynivaldo Brito e Ranulfo Bocayuva


Grandes comemorações marcam hoje o Dia D, do famoso desembarque na Normandia, quando há 50 anos os aliados executaram a maior operação militar de todos os tempos para derrotar o nazismo e libertar a Europa. Embora a operação militar envolvesse milhares de homens, embarcações, aviões, blindados e veículos de vários tipos, o sucesso, na opinião dos historiadores, está diretamente ligado a erros de lado a lado, acrescido do acaso. Destas comemorações dos vencedores devemos tirar a mais importante de todas as lições: nada justifica a guerra. Ela é cruel, destruidora e quase sempre a população civil, desarmada, é quem mais sofre. Hoje existem focos de guerra na Bósnia, em Angola, no Yêmen e em alguns países latino-americanos. É preciso que a ONU, a OEA e outros organismos internacionais exterminem estes focos e que as nações ricas vejam o mundo no sentido global, porque são as divergências religiosas e ideológicas e principalmente a má distribuição de renda que causam esses conflitos.

Foram os versos de um poeta ecoando em todas as estações de rádio da França ocupada a senha para que 48 horas depois a maior concentração do poderio militar de toda a história da humanidade desembarcasse, nos 80 km da costa da Normandia. Era o dia 6 de junho, que hoje completa 50 anos, e que ficou conhecido pelo dia D, marcando a derrocada do nazista que ceifou milhões de vidas em toda a Europa.
“Os longos soluços dos violinos de Outono / Ferem meu coração com um langor monótono”, escreveu o poeta Paul Verlaine. Por trás destas palavras ricas em simbolismo os Aliados detonaram a avalanche de fogo derrubando a Muralha do Atlântico, orgulho de Adolfo Hitler. Foram cinco mil navios, 11 mil aviões de transporte, caça e bombardeio e dezenas de milhares de soldados que lotaram as cinco praias na chamada Operação Overlod . Meses de planejamento e de muito segredo. Somente revelado na manhã, dia 6 de junho quando os exércitos de diversos países, mas principalmente dos Estados Unidos, Inglaterra e Canadá retomaram a Normandia, região da costa Norte da França. Esta operação era reclamada pelos russos que combatiam os nazistas no Leste.

                                                           COMO FOI

O dia amanhecera cinzento e chuvoso nas costas da Normandia. Mas tudo parecia um dia como o outro qualquer com os nazistas desfilando em seus carros de combate e jeeps pela França ocupada. As sentinelas postadas na Muralha do Atlântico não percebiam qualquer movimento. Uma ou outra gaivota quebrava o silêncio, juntamente com as ondas que embalavam os sentinelas. Os franceses dormiam em quase todo o país. Hitler também dormia em sua mansão de Berchtesgaden. De repente, o cinzento mudou com a chegada de centenas de embarcações e centenas de soldados desembarcavam para furar a Muralha do Atlântico. Muitos foram sacrificados e somente nesta operação calcula-se cerca de 10 mil mortos entre os Aliados.
Foi assim, que após 1.451 dias de ocupação a França começava a respirar a liberdade. Não podemos esquecer os heróis anônimos, soldados pára-quedistas escolhidos a dedo para durante, à noite estabelecerem as cabeças-de-ponte, onde iam ocorrer os desembarques. Muitos desses heróis anônimos deram ou arriscaram suas vidas para derrotar o nazismo. O bombardeio pesado foi iniciado por volta das 5 horas da manhã do dia 6 de junho. Tudo isto era fruto de um cuidadoso plano de guerra, cuja decisão foi tomada na Conferência de Teerã entre Rosevelt, Churchill e Stalin. Logo depois coube ao general Eisenhower montar durante um ano e meio uma fantástica máquina de guerra. A Inglaterra transformou-se num estacionamento de aviões e navios. Qualquer espaço, por menos que fosse abrigava um canhão, uma metralhadora pesada, enfim, era preciso criar uma estrutura bélica capaz de fazer frente e vencer um império que se auto- proclamava que iria durar mil anos.
Do lado alemão começou a inquietação e o general Rommel, tido como vencido várias batalhas no Norte da África foi encarregado de comandar meio milhão de homens para defender cerca de 1500 quilômetros de praias.
Este homem abnegado ao trabalho transformou a tal muralha numa armadilha mortífera aos que tentassem rompê-la. Mandou espalhar minas nas águas, rios, rochedos e centenas de espigões de aço e cimento capazes de rasgar os cascos de qualquer embarcação. Montou baterias poderosas cobrindo todos os imagináveis locais de desembarque de tropas. Por isto ninguém acreditava ser possível um desembarque na França, especialmente na Normandia. Os estrategistas de plantão juravam que isto poderia acontecer em Calais, mais próxima da Inglaterra e alvo de violentos bombardeios. Rommel estava também com suas preocupações voltadas para Roma que havia caído nas mãos dos Aliados.

                                                         TODOS ERRARAM

Os historiadores registram que na Operação Overlod o sucesso está diretamente ligado aos erros e acaso.Escreveu o general Hans Speidel em seu livro “Invasão 44” que enquanto Hitler esperava um desembarque inimigo na frente da Mancha ( no Cabo Gris Nex), o marechal Rommel já não pensava assim, depois de recolher impressões sobre o inimigo, desde o início de maio. “Na realidade o comando supremo da Wermacht esperava um grande desembarque na costa belga e no estuário do Escaut. Hitler insistia que seriam vários desembarques, simultâneos e sucessivos em zonas estrategicamente conexas.
Assim as tropas alemãs terminaram sendo deslocadas para a região de Calais, onde Hitler acreditava que seria o desembarque, calando de vez seu alto-comando. Enquanto isto Erwin Rommel seguia para a Normandia, com a missão de fortificar a região, de modo que os alemães agüentassem um “improvável ataque. Das 36 divisões blindadas, apenas uma foi incorporada ao VII Exército de Rommel, que tinha ainda nove divisões de infantaria.
A vida prega muita surpresa em nós mortais. Basta lembrar que Hitler foi um dos últimos a saber que os Aliados haviam desembarcado no Norte da França. Ele mesmo não acreditou em “Cícero” um espião nazista que foi mordomo do embaixador inglês Sir Hughe Knatchbull, na Turquia. No dia D o Reich só foi se recolher por volta das 5 horas da manhã, deixando ordem para não ser acordado antes do meio-dia. E, já antes das 7 horas o alto comando da Wermacht chefiado pelo marechal-de-campo Keitel já tinha notícias do desembarque, o qual não teve coragem de transmitir a Hitler notícia tão desagradável.
Os estrategistas alemães ainda sustentavam que aquele ataque era para distrair, para o ataque principal que aconteceria em Calais.Enquanto Hitler ressonava, os Aliados maciçamente desembarcavam e começaram a libertar a França ocupada. Ao acordar, Hitler continuou insistindo que era uma manobra “diversionista” e recusou-se a atender os argumentos aflitos de Rummel. Quando algumas praias já estavam quase nas mãos dos Aliados, os generais alemães ainda insistiam, solicitando esforços. Dizem que o Reich ouviu calado os apelos de seus generais e disse-“Insisto. A invasão ainda não começou. O grosso de nossas tropas e das “panzer” continuarão no setor de Calais”. No dia 28 de junho Hitler convenceu-se de que deveria deslocar as tropas, mas já era tarde. Foi assim que no dia 25 de agosto o general Leclerc e sua divisão de soldados franceses entravam em Paris, que praticamente já fora libertada pela Resistência.
Finalmente, ao contemplar com um binóculo de uma elevação próxima ao seu comando, Rommel viu os Aliados despejarem toneladas e toneladas de equipamentos e armas. Descongelado, entregou o binóculo a seu ajudante -de- ordens e disse: “Os pobres nunca deveriam fazer guerras. É um erro”.

                                      
Na foto à esquerda fazendeiro da Normandia oferece uma bebida a soldado inglês.A segunda foto uma base inglesa improvisada um pouco antes do desembarque. Na foto abaixo tropas aliadas desembarcando , com um soldado dando cobertura.

                              CRONOLOGIA DA II GUERRA

                    Datas importantes da Segunda Guerra Mundial

1939
1º de setembro: Alemanha ataca a Polônia
3 de setembro  : Grã-Bretanha e França declaram guerra à Alemanha
18 de setembro: União Soviética invade a Polônia
30 de novembro: União Soviética ataca a Finlândia

1940
9 de abril:    Alemanha invade a Dinamarca e a Noruega
10 de maio: Ofensiva alemã na Bélgica, Holanda, Luxemburgo e França
18 de junho: França assina o Armistício
12 de agosto: Início da Batalha da Inglaterra
28 de setembro: Itália invade a Grécia

1941
6 de abril: Alemanha invade a Iugoslávia
22 de junho: Alemanha ataca a URSS
14 de agosto: Carta do Atlântico (oito pontos definidos por Roosevelt e Churchill)
7 e 8 de dezembro: Peart Harbor (o Japão em guerra com Estados Unidos e Reino Unido)

                          O conflito se torna mundial
1942
1º de janeiro: ”A Declaração das Nações Unidas”
define as bases para uma luta comum contra o “Eixo”
Maio e junho: ofensiva americana no Pacífico (Midway)
10 de junho: Batalha de Bir Hakeim
10 de setembro: início da Batalha de Estalingrado
3 de novembro: vitória decisiva de Montgomery sobre Rommel na Lbia
8 de novembro: desembarque das tropas americanas na Argélia
11 de novembro: a zona não-ocupada na França é invadida pela Alemanha

1943
14-27 de janeiro: Conferência de Casa Branca (Roosevelt, Churchill, Giraud de Gaulle exigem capitulação incondicional da Alemanha, Itália e Japão)
31 de janeiro- 2 de fevereiro: Marechal Von Paulus se rende a Estalingrado
10 de julho: desembarque aliado na Sicília
11-24 de agosto: Conferência do Québec: os aliados aprovam o plano de desembarque na Normandia
8 de setembro: os aliados avançam na Itália .Armistício com a Itália
13 de setembro-4 de outubro: as tropas francesas liberam a Córsega
13 de outubro: Itália declara guerra à Alemanha
28 de novembro-2 de dezembro: primeira Conferência dos “Três Grandes”, em Teerã (Churchill, Roosevelt e Stalin), que decidem os desembarques na Normandia e Provence

                              A reviravolta
1944
Janeiro-maio: as batalhas de Cassino abrem a estrada para a Roma
4 de junho: Os aliados entram em Roma
6 de junho: desembarque na Normandia (operação “Overlord”, “Senhor Feudal”)
15 de agosto: desembarque na Provence (operação “Anvil - Dragoon”, “Cobra”)
25 de agosto: libertação de Paris
12 de setembro: encontro na França dos exércitos aliados no Oeste e Sul
15 de setembro: Exército soviético entra em Sófia
3 de outubro: fim da revolta em Varsóvia
20 de outubro: soviéticos chegam a Belgrado
16-18 de dezembro: contra-ofensiva alemã nas Ardennes

1945
4 de fevereiro: saída das últimas tropas alemãs da Bélgica
4-11 de fevereiro: Conferência de Ialta: os aliados (Stalin, Churchill Roosevelt) definem o pós-guerra
14 de abril: os soviéticos ocupam Viena
29 de abril: as forças alemãs na Itália capitulam
8 de maio: capitulação do III Reich
17 de julho a 2 de agosto: Conferência de Potsdam, que define a ocupação da Alemanha
6 de agosto: primeira bomba atômica cai no Japão (Hiroxima)
8 de agosto: URSS entra em guerra contra o Japão
9 de agosto: segunda bomba no Japão (Nagasaki)
2 de setembro: rendição do Japão: fim da guerra

Fonte: Seção de informação do Ministério do Exterior da França

                                            
                                     OS COMANDANTES DO DIA D

Londres (UPI) - Notas biográficas sobre os comandantes supremos em ambos os lados da Normandia em 6 de junho de 1944:
General Dwight D. Eisenhower- supremo comandante aliado apelido “Ike”, Eisenhower era conhecido por sua personalidade aberta e amistosa, tratava seus soldados como pessoas, enquanto supervisionava, dirigia e lançava a invasão do Dia D. Ele seguia a norma - “quando tiver sucesso de todo, o crédito aos outros, quando fracassar, aceite a culpa sozinho”. Escreveu um comunicado à imprensa, para ser divulgado, caso a invasão fracassasse, assumindo toda a culpa. Foi eleito presidente dos Estados Unidos em 1952 e 1956.
Na foto o General Dwight Eisenhower, Winston Churchill e o General Omar Bradley atirando numa base na Inglaterra.


Marechal-de-campo britânico Bernard Law Montgomery - comandante para operações no solo durante a operação Overlord- “Monty” tinha a reputação de ser um líder capaz e popular.Foi uma figura controvertida que inspirou admiração e desprezo dos seus colegas por seus modos arrogantes. Foi feito Visconde depois da guerra.


Brigadeiro-general Theodore Roosevelt Jr.- filho do vigéssimo - sexto presidente dos Estados Unidos, Teddy -, de 57 anos, nasceu raquítico e com a visão ruim, mas seus problemas não o impediram de lutar e ser o único general a desembarcar com a primeira onda de tropas. Por sua performance, na praia de Utah, onde ele carregou apenas uma bengala e uma pistola 45, recebeu a medalha de honra do Congresso norte-americano.

Tenente-General Omar Nelson Bradley- comandante do Primeiro Exército dos Estados Unidos colega de classe do general Elsenhower em West Point, Bradley recebeu o apelido de “general da infantaria” devido ao seu estilo não carismático, mas firme e decisivo. Os correspondentes de guerra observaram que ele avaliava os múltiplos fatores que determinam o sucesso no campo de batalha com a mente de um matemático.

Tenente-General Sir Miles C. Dempsey- Comandante do segundo Exército Britânico Dempsey recebeu o título de “Cavaleiro” pelo seu desempenho no Dia-D.
Seus homens empurraram os exércitos alemães  para fora do Norte da França. Como soldado, aos 19 anos, durante a Primeira Guerra Mundial, ele recebeu a Cruz Militar por bravura, em 1916, na frente Ocidental. Deixou o Exército em 1946 para dedicar o resto de sua vida aos seus hobbies, música e corridas de cavalo.

Marechal de Campo alemão Gerd Von Rundstedt – Supremo Comandante do Oeste – a carreira militar de Rundstedt teve altos e baixos. Ele frequentemente era colocado e retirado do comando, liderou os alemães durante a invasão da Normandia, mas foi destituído depois de sugerir que a guerra deveria terminar. Depois foi reimpossado para liderar a retirada para o Reno, e a última ofensiva nas Ardennas durante a Batalha do Bolsão, em dezembro de 1944. Deixou a carreira militar por sua vontade própria em março de 1945.

Marechal de Campo alemão Erwin Rommel- Grupo B do Exército- Rommel era adorado pelo povo alemão e respeitado pelos aliados por suas muitas vitórias no Norte da África. Nomeado marechal de campo em janeiro de 1944 para a defesa contra a esperada invasão, Rommel estava na Alemanha, para o aniversário de sua esposa, quando os aliados desembarcaram na Normandia no dia 6 de junho.


quinta-feira, 28 de junho de 2012

POLÍTICA - GEISEL: PORTO DO MALHADO SERÁ MAIS UM PÓLO DE EXPORTAÇÃO

POLÍTICA 
A TARDE QUARTA FEIRA, 12 DE DEZEMBRO DE 1973.



(Ilhéus - Enviados especiais Reynivaldo Brito e de fotos Carlos Catela) 
Manifestando contentamento por verificar pessoalmente o estágio de desenvolvimento em que se encontra a Região Cacaueira e por constatar as suas “excelentes potencialidades” o General Ernesto Geisel percorreu, ontem, em Ilhéus as fazendas Mucambo e Santa Rita, consideradas modelo pela Ceplac, depois de ter visitado o Porto de Malhado, quando prometeu ao Superintendente, Almirante Aurélio Linhares, “todo apoio para a transformação daquele terminal em pólo de exportação”.
O futuro Presidente da República, que chegou às 7h50m a Ilhéus, em avião especial da FAB, iniciando sua segunda viagem de estudos pelos estados brasileiros, pernoitou em Itabuna, nas instalações do Centro de Pesquisas do Cacau, e hoje percorrerá o campo de experimentação e os laboratórios daquela unidade da Ceplac. Na foto um técnico da Ceplac explica ao General Geisel o projeto de seringueira na região.

                                                   NO PORTO

Durante sua rápida visita ao porto do Malhado, aonde chegou às 8h10m, o General Ernesto Geisel ouviu do Almirante Aurélio Linhares explicações pormenorizadas das dificuldades que vem enfrentando para transformá-lo em um pólo de exportação. Ao término das explicações, o futuro Presidente da República afirmou ao Superintendente do Porto: “Não se preocupe, que dentro de pouco tempo este porto estará em condições de desempenhar o seu grande papel no desenvolvimento desta região”.
A comitiva deixou Malhado às 8h35m, depois de visitar os grandes armazéns, onde o futuro Presidente da República, dirigindo-se a um caminhão carregado com sacas de cacau, retirou uma baga e formulou algumas perguntas sobre seu plantio, produção e beneficiamento.
Na foto, acompanhado do Superintendente do Porto de Malhado o General Ernesto Geisel percorreu as instalações e formulou várias perguntas.

                                                     NA FAZENDA

Em seguida, a comitiva dirigiu-se para a Fazenda Santa Rita, onde presenciou cinco operários pisoteando bagas de cacau “para separar e melhorar a aparência”, segundo explicações do proprietário.
O General Ernesto Geisel perguntou: “O que estão fazendo com a casca do cacau ?”. Todos quase que responderam ao mesmo tempo. “Estamos jogando fora”. “O pior é que a casca, que pode ser industrializada, está sendo jogada fora e ainda existe o perigo de transmitir a podridão parda”, acrescentou o Secretário Geral da Ceplac, Sr. José Haroldo.
O General insistia : “ quantos dias são necessários para o cacau secar nessas “barcaças”?( local onde se coloca as bagas para a secagem e pisoteamento) o técnico respondeu-lhe:“Uns cinco dias, tendo sol”.
Ainda na fazenda Santa Rita, o futuro Presidente  do Brasil visitou o local onde o cacau é aberto para retirada das bagas e dirigiu-se após a casa sede, para um ligeiro descanso. Depois de cerca de 20 minutos, a comitiva deixou a fazenda Santa Rita com destino ao Instituto de Tecnologia e Química da Escola Média de Agricultura da Região Cacaueira – Emarc , que funciona no município de Uruçuca.

                                                                  NA ESCOLA

A Escola Média de Agricultura da Região Cacaueira , mantida pela Ceplac é um estabelecimento do segundo grau e nela estão agora implantando a reforma do ensino de acordo com as determinações do Ministério da Educação.
Na Emarc, o General Ernesto Geisel visitou um campo pecuário de experimentação quando lhe foram apresentados diversos espécimes bovinos provenientes de inseminação artificial. O General fez questão de saber detalhes e a idade de todos os garrotes e novilhas expostos.
No Instituto de Tecnologia e Química provou um tablete de biscoito de mandioca fabricado por aquela unidade da Ceplac. Ouviu explicações detalhadas de todo o processo de beneficiamento do cacau e outras frutas como goiaba, laranja, etc. Ali são feitas tortas, geléia de cacau e de goiaba.
Um detalhe que não passou despercebido ao General Geisel foi o não funcionamento de uma máquina que se assemelha a um grande tacho, com fundo duplo  e que serve para a concentração de doces. Ele quis saber a razão de não estar funcionando e o operário respondeu-lhe : ' é porque a máquina custou em torno de Cr$18 mil e são necessários de Cr$23 mil a Cr$25 mil para colocá-la em funcionamento." O futuro Presidente acrescentou: “Mas é preciso que ela funcione”.

                                                              SERINGUEIRA

Foi também visitado um pequeno campo de experimentação, onde alguns lavradores estavam recebendo aulas sobre o corte da seringueira, para a colheita do látex. Este pessoal treina durante duas semanas, num total de 80 horas , e em seguida está apto para trabalhar em fazendas de seringueira. O General ouviu as explicações e indagou? : “Vocês fornecem algum certificado do curso a esses rapazes? " Obteve resposta afirmativa.
Além de conhecer as seringueiras cultivadas na Emarc, foram-lhe  mostradas algumas lâminas de borracha defumada, que são exportadas por produtores da região. O responsável pelo projeto pediu ao Governador Antônio Carlos Magalhães que segurasse uma lâmina e esticou a outra extremidade, querendo provar a sua elasticidade e durabilidade.

                                                              PESQUISA

O futuro Presidente da República chamou atenção dos técnicos da Ceplac para a realização de pesquisas que tenham aplicação imediata. Disse ele que existe um período muito grande quanto a isto, porque a pesquisa custa muito dinheiro e por esta razão não pode ser desperdiçada.
Falou, também, sobre a necessidade de se tomar algumas providências, visando diminuir a praga,que ataca a seringueira:  “ como já existe fungicida, é preciso inventar um aparelho capaz de espalhar este remédio. A seringueira é uma árvore de grande importância para o desenvolvimento do país”, frisou.
Ao visitar um barracão da Emarc, onde alguns pedreiros estavam sendo treinados para a construção de  "barcaças”  e outros imóveis próprios para o beneficiamento do cacau, o técnico informou-lhe que existe um “ déficit de 7 mil barcaças na região, todas de 72 metros.Ficamos três anos sem receber financiamento do Banco do Brasil e isto nos atrapalhou”.
Sobre a mão-de-obra , disse : “ Estamos, atualmente empregando 80 mil operários e o aumento atual é em torno de 16 mil. Por estas razões estamos dando especial atenção ao treinamento de mão-de-obra, que atinge a 12 mil operários por ano”, concluiu o técnico.

                                                          ALMOÇO

Depois a comitiva seguiu para o refeitório da Emarc,onde ia ser servido o almoço. Nessa oportunidade , ofereceram uma dose de uísque ao General Ernesto Geisel, que não aceitou, porque sua religião não permite. Por esta razão, poucos aceitaram.
O futuro Presidente almoçou salada, galeto a parmeson e espaguete a La creme e tomou um chocolate. Às 13 horas, a comitiva deixou a Emarc e 30 minutos depois estava na Fazenda Mucambo onde foi recebido pelos industriais do Grupo Joaquim de Carvalho , que lhe convidaram para percorrer as instalações de uma fábrica de luvas e bolas de soprar. O General mostrou-se impressionado com o pioneirismo da fábrica, que fica situada dentro de uma imensa fazenda onde não existe infra-estrutura adequada. A estrada é de barro batido, o que dificulta o transporte da matéria prima,de operários e dos produtos. Os industriais queixaram-se da falta de um posto do INPS no município de , para atendimento dos 550 operários da fábrica Mucambo e seus dependentes.

                                                         POLÍTICOS NÃO

Um detalhe que chamou a atenção de todos os presentes foi a ausência de políticos acompanhando a visita do futuro Presidente à Região Cacaueira. Apenas algumas autoridades como o Governador Antônio Carlos Magalhães, o Prefeito de Ilhéus, Sr. Ariston Cardoso, e o Secretário Geral da Ceplac, Sr. José Haroldo, integravam a comitiva.
Durante a visita aos diversos locais não houve sequer um discurso ou qualquer formalidade. O próprio General Ernesto Geisel estava vestido discretamente com uma camisa bege clara, de mangas compridas, e calça cinza. Quando o sol estava muito quente colocava um, boné para proteger-se.

                                                        VISITAS DE HOJE

Hoje, o General Ernesto Geisel visitará os campos de experimentação da Ceplac e os seus laboratórios de pesquisas e receberá informações detalhadas dos projetos ali desenvolvidos.
Sua partida para Paulo Afonso está prevista para as 15 horas. Lá chegando, descansará, para à noite visitará a Cachoeira de Paulo Afonso, irá também à Petrolina ver o Projeto Bebedouro, de responsabilidade da Superintendência do Vale do São Francisco, e observará as plantações experimentais de melões e uvas.





MEIO AMBIENTE - PRAIAS: PESQUISAS ESCONDEM ALTO ÍNDICE DE POLUIÇÃO

MEIO AMBIENTE

A TARDE BAHIA, 03 DE FEVEREIRO DE 1973.     
Texto Reynivaldo Brito

A poluição das praias de Salvador já começa a preocupar as autoridades estaduais e federais. O índice de poluição de algumas delas é tão alto que os dirigentes dos órgãos encarregados do controle mantêm os resultados laboratoriais em sigilo, argumentando que de nada adiantaria divulgá-los. Mas enquanto providências efetivas não são tomadas os baianos e os turistas que nos visitam banham-se em águas poluídas colocando sua saúde em perigo. Muitos desavisados chegam a banhar-se em locais onde os esgotos são despejados.
A Capitania dos Portos é, talvez, o órgão que, no momento  está mais preocupado com o problema da poluição de nossas praias e inclusive exerce uma fiscalização efetiva para que as embarcações não lancem detritos nas águas do mar e que esses venham a dar nas praias. Há poucos dias um navio de bandeira francesa foi multado em cerca de CR$ 28 mil cruzeiros por jogar óleo no mar.Na foto da época barracas onde eram comercializadas bebidas alcóolicas, concorrendo para a intranquilidade das famílias.

                                                              PREOCUPAÇÃO

Quando do encaminhamento do projeto do emissário submarino pelo Governo do Estado para a aprovação pelo Ministério da Marinha, em maio do ano passado, o Vice-almirante Hilton Berutti enviou um ofício ao Governador que em determinado trecho afirma: “tenho a satisfação de acusar o recebimento da carta datada de 11 do corrente, na qual V. Exa. expõe a realização da obra de esgotos sanitários da cidade do Salvador, de tão alta prioridade para as necessidades da população local e tão grata a esta Diretoria, pelos benefícios que trará, em termos de combate à poluição das praias dessa bela e histórica Capital”.
Esta afirmação por si só bastaria para constatar a poluição e também a preocupação em se criar instrumentos capazes de combater este mal, que tanto concorre para diminuir o grande potencial turístico das praias baianas, que são consideradas como as mais lindas do País.

                                                               ANIMAIS

O pior é que além dos esgotos que lançam detritos nas águas do mar algumas pessoas desavisadas levam cachorros e até cavalos às praias. É comum você presenciar na orla marítima de Salvador criancinhas banhando-se nas praias juntamente com esses animais. É outro grande perigo para a saúde dos banhistas.
A falta de um policiamento efetivo nas praias é a principal razão da presença de animais como também da ocupação de áreas destinadas ao banho de mar pelos jogadores de “peladas”. Vários acidentes e incidentes já ocorreram em algumas praias principalmente em Itapajipe, Piatã e Porto da Barra quando crianças e senhoras foram atingidas por boladas. Com isto os seus acompanhantes não conformados com esta atitude descabida são obrigados a tomar providências pois a polícia nunca aparece nesses momentos.

                                                                 AS PRAIAS

A praia do Porto da Barra é muito freqüentada, principalmente nos fins de semana quando centenas de pessoas que não possuem veículos para se locomover para outras mais afastadas enchem àquele pequeno trecho de areia que vai das imediações do Clube Cirex até o Forte de Santa Maria.
Existem ali nada menos que três esgotos que lançam detritos na areia e na água do mar além de vísceras de peixes e outros detritos que são lançados por pescadores e alguns comerciantes estabelecidos na feirinha do Porto.
Foto crianças brincando na praia. os pais devem tomar o máximo de cuidado para que elas não brinquem perto de esgotos e detritos.
Além disso, esses esgotos apresentam uma construção mal feita o que concorre para diminuir a beleza da praia do Porto da Barra. O policiamento é precário e sendo essa praia a que apresenta trajes de banho mais avançados, com a presença de biquínis modernos, quase sempre surge um conflito, que exige a presença  de um policial.
As tais bóias de isopor que vez por outra são colocadas no Porto da Barra e que servem de aviso aos banhistas quase sempre não aparecem por lá.
É necessário que a Prefeitura Municipal coloque as bóias diariamente mesmo porque estamos em época de férias escolares e é grande o número de banhistas.

                                                                  PERIGO

Outro perigo a que ficam expostos os banhistas do Porto da Barra é a presença de pequenas lanchas movidas a motor e outras embarcações que ficam navegando bem próximas à praia. O que poderá acontecer é que algum banhista seja atingido por uma hélice ou mesmo que, ao mergulhar, bata com a cabeça num casco de uma embarcação. Os proprietários dessas lanchas e barcos ficam por ali na “paquera”, demonstrando suas “habilidades” de homens do mar e, esquecem do perigo que representam.
Em muitas praias de Salvador os atletas de fim de semana não respeitam os banhistas e se multiplicam os babas em toda a orla marítima, principalmente nos finais de semana.
É  preciso que as autoridades atentem para este problema, evitando a presença de embarcações bem próximas às praias principalmente nos dias de maior afluência de público.
Nas proximidades de Forte de Santa Maria, existe uma faixa de praia que vai até o Farol da Barra que não tem iluminação nenhuma e isto serve de mictório público. O turista não pode demorar-se na balaustrada a admirar a beleza da paisagem, porque o cheiro é insuportável.
Do lado direito do Farol da Barra existe uma velha árvore que serve de depósito de lixo. Alguns moradores das imediações lançam na praia objetos imprestáveis. Há poucos dias, presenciamos um senhor jogar um guarda-roupa velho, além de lixo.
Os esgotos ali existentes lançam com mais intensidade águas sujas e por esta razão a areia da praia está escurecida como também suas águas.
Assim, a maioria de nossas praias são poluídas como as de Ondina, Rio Vermelho, Pituba, Piatã, Itapuã e Arembepe, onde uma fábrica de produtos químicos lança detritos industriais que vêm prejudicando a flora e a fauna marinhas.
Na Cidade Baixa, as praias da Boa Viagem, Monte Serrat e Itapajipe apresentam, talvez, um dos maiores índices de poluição em todo o Brasil.
Os resultados das pesquisas laboratoriais realizados comprovam isto, mas infelizmente estão guardados em sigilo.

                                                               CONVÊNIO

Um convênio para o controle da poluição das águas do mar em toda a Baía de Todos os Santos além das bacias hidrográficas do Joanes e seus afluentes vai ser firmado entre o Governador do Estado e a Capitania dos Portos.
A minuta do convênio já está pronta e está dependendo apenas das assinaturas das duas partes interessadas na solução do problema.
Sabe-se que a Capitania dos Portos pretende colocar em funcionamento um helicóptero para juntamente com as lanchas existentes manter uma maior fiscalização das águas de nossa costa. A média de navios que aportam em Salvador é de 170 a 180 por mês . Acredita o Comandante Alberto Oliveira que “é preciso que estejamos bem equipados para combater a poluição principalmente porque temos conhecimento que grande parte dessas embarcações são petroleiros e propaneiros”.
A lei de n. 5537 determina que toda embarcação nacional ou estrangeira e terminais marítimos que joguem detritos ou óleo no mar ficam sujeitos a multa  numa faixa de 6 mil milhas a :
1) 2% do maior salário mínimo do país multiplicado pela tonelagem de arqueação do navio; 2) no caso dos terminais marítimos a multa é de 200 vezes o maior salário mínimo do País e que atualmente equivale a cerca de CR$ 53.750,00


ECONOMIA INFORMAL - NO COMÉRCIO DE MEDALHÕES HÁ UM ESTILO DE VIDA

ECONOMIA INFORMAL


A TARDE QUINTA-FEIRA, 8 DE FEVEREIRO DE 1973
Texto Reynivaldo Brito

Os pedestres que passam pela Praça Castro Alves com destino à Rua Chile são obrigados a parar ou pelo menos a dar uma olhadela num senhor de cabelos grisalhos que vende medalhões de alumínio.
É o camelô Paulo Prisco, que trabalha em “grande estilo”, sem atrapalhar o tráfego de pedestres e veículos, e que tem três ou mais “olheiros,” encarregados de observar as pessoas que maldosamente querem levar um medalhão sem pagar. Desde cedo Paulo Prisco chega, em seu “Karman-Ghia” azul, chapa de Salvador, acompanhado de seus familiares.
Na foto o camelô Paulo Prisco , de sacola ao ombro, observa seus auxiliares trabalhando na Praça Castro Alves.
- Há vinte anos que exerço a profissão de vendedor avulso (não diz camelô), tenho inscrição na Secretaria da Fazenda e pago meus impostos. Se um freguês exigir a Nota Fiscal, prontamente abro a minha pasta, retiro o talão e lhe forneço o documento.
Afirma Paulo Prisco, que faz questão de salientar que não “vendo gato por lebre”. A qualquer pessoa que se acerca de mim, exibo a minha mercadoria como bijuteria de fina qualidade. Nunca afirmo que é ouro, porque assim estaria mentindo e cometendo contravenção. É este o segredo de minha venda.Acredito naquilo que vendo e tenho consciência e argumento para vender."

                                                                 DIPLOMAS

Disse o camelô Paulo Prisco, que tem cinqüenta anos de idade e cabelos grisalhos que “eu possuo dois diplomas. Um de contador e outro de Psicologia de Vendas. Que tirei no SENAC, na Guanabara.
Nunca exerci a profissão de Contador, mas quanto à Psicologia de Vendas, muito tem me ajudado em meu trabalho diário."
Os medalhões vendidos por Paulo Prisco vêm de São Paulo e são fantasias de alumínio. Ele, em seus pregões em praça pública faz questão de afirmar que é bijuteria e o próprio preço que é Cr$ 2,00, o que não poderia levar ninguém a comprar pensando ser de ouro.

                                                        OS MARRETEIROS

Mas, segundo informa muita gente compra em minha mão ou em mãos de meus auxiliares a Cr$ 2,00 e revendo por Cr$ 10,00 a CR$ 15,00 a pessoas desavisadas, afirmando que estão apertados e que precisam de dinheiro para viajar. Essas pessoas sim, é que estão cometendo contravenção porque estão abusando da ignorância do povo, afirmando que a mercadoria é de ouro, quando na realidade é de alumínio.
O camelô em “em alto estilo”, ficou preocupado quando a reportagem procurou entrevista-lo, dizendo “que uma nota pode me ajudar como pode me destruir. Mas, como afirmei antes, tenho consciência do que eu vendo, conheço a mercadoria e posso assegurar que é bijuteria fina e que não empretece ou “mareia”, como diz o povo”.
Na foto o Francisco ( de óculos) braço direito do camelô Paulo Prisco assessorado por uma moça ( à direita) e um rapaz que finge olhar o medalhão como fosse comprá-lo ,são iscas para os incautos.
Um de seus ajudantes, o Francisco, é um rapaz avermelhado, de pouco mais de 30 anos. É também muito hábil na venda dos medalhões. Quando trabalha, duas moças e um rapaz fazem o papel de “olheiros”, para evitar roubo. Disse o Sr. Paulo Prisco que diariamente “pegamos pessoas que querem levar um medalhão às escondidas, sem pagar. Muitas vezes são senhoras e educadamente eu lhes chamo a atenção e retenho minha mercadoria”.
Os ajudantes ganham em média de Cr$ 7,00 a Cr$ 10,00 cruzeiros por dia . Enfrentam um sol causticante. O trabalho é revezado. Quando os seus auxiliares estão cansados, o “efetivo”, que é ele próprio, assume o posto. Imediatamente a aglomeração torna-se maior e facilmente dezenas de correntões são vendidos.

                                                       PONTOS E SEGREDOS

O camelô Paulo Prisco e sua equipe trabalham em dois locais: na Praça Castro Alves e na Feira de Água de Meninos. Disse ele “que este “ponto” da Praça Castro Alves é o melhor que existe em Salvador, porque é grande o trânsito de pedestres e a maioria vem ao centro da cidade fazer compras e, portanto, trazendo dinheiro. Se este não fosse o melhor, logicamente me estabeleceria em outro.Agora eu  trabalho aqui em determinadas horas para não saturar o mercado."
E continua : "Diariamente nos deslocamos para a Feira de Água de Meninos. Embora este último “ponto” não seja excelente para vender minha mercadoria, dá para quebrar o galho.
- O meu trabalho é um pouco duro. Enfrento um sol terrível durante todo o dia e quando chove a coisa torna-se mais difícil. Não é brincadeira você ficar no meio de uma praça a marcar um objeto sob o sol causticante."
Mas prossegue, " amo a minha profissão. Já fui comerciante estabelecido, já trabalhei em corretagem de imóveis. No entanto o que mais me fascina é estar presente numa praça pública, falando sobre as qualidades de uma mercadoria e uma porção de gente aglomerada em torno de mim.
Falo sem parar e procuro palavras de fácil compreensão e argumentos contundentes. O segredo de minha profissão é o argumento correto e principalmente ter a consciência do que estou vendendo.
Nunca afirmo qualidades inexistentes da mercadoria que vendo. Agora por exemplo que estou vendendo medalhões, falo que é bijuteria fina e nunca de ouro. Sou um comerciante como outro qualquer e tenho realmente vivência e experiência em vender  em praça pública. Considero-me um camelô em “alto estilo”.




quarta-feira, 27 de junho de 2012

HISTÓRIA DA BAHIA - MARIA FELIPA A HISTÓRIA NÃO ESQUECEU

Jornal A Tarde , 30 de junho de 1973.

HISTÓRIA DA BAHIA

HEROÍNA NEGRA DA INDEPENDÊNCIA DA BAHIA
Texto Reynivaldo Brito


Poucos conhecem uma grande heroína de Itaparica que durante a Guerra pela Independência da Bahia pegou num trabuco e foi defender a sua terra na frente de batalha. Era uma crioula forte e destemida que residia em Itaparica. O historiador Ubaldo Osório, que por tantos anos pesquisou a História da Ilha afirma que esta heroína é uma injustiçada.
Afirma o historiador que o “nome de Maria Felipa não é ventilado por ser  humilde e negra”. E acrescenta: “É hora de fazermos justiça a quem tanto desejou a libertação do Brasil de Portugal”. Foi ainda este historiador o único que falou sobre a heroína e este trecho que publicamos é todo baseado em seu trabalho, pois que o livro de sua autoria com mais de 500 páginas está no prelo.

                                                  A HEROÍNA

Chamava-se Maria Felipa de Oliveira e residia na antiga rua da Gameleira, na povoação da Ponta das Baleias, quando a Ilha foi assaltada pelos portugueses, em 10 de junho de 1822.
Quando foi organizada a resistência eis que Maria Felipa apresenta-se como voluntária e fez grandes proezas enfrentando o inimigo com um trabuco nas mãos.
Informa o historiador Ubaldo Osório que “Maria Felipa faleceu em 4 de janeiro de 1873, e possivelmente foi enterrada na sacristia de Matriz de São Lourenço que era o cemitério da povoação naquela época. Ela chefiou as vedetas da praia do convento, cujos nomes a história não guardou. Era uma crioula estabanada, alta e corpulenta que usava um torço e saia rodada. Gozava de uma grande popularidade entre os praieiros que admiravam o dessasombro e a coragem da crioula. Tinha um ódio instintivo ao lusitano”.
Conta ainda que no dia 16 de Janeiro de 1823, quando a população da Ponta das Baleias, assistia, no largo da Fortaleza de São Lourenço, o hasteamento da Bandeira que o General Pedro Labatut havia oferecido, à Guarnição da Ilha de Itaparica, eis que Maria Felipa, à frente de suas legionárias, invade a Armação de Pesca de Araújo Mendes, espanta o vigia, o Guimarães da Uva, e sai pelas ruas, cantando em altas vozes:
Havemos de comer /Marotes com pão./Dar-lhe uma surra /De bom cansansão./Fazendo as marotas/Morrer de paixão./Português, bicho danado,Arrenegado, arrenegado.
O historiador Ubaldo Osório se entusiasmou tanto pela heroína itaparicana que batizou uma filha com o nome de Maria Felipa.
       

ARTES VISUAIS - GERAÇÃO 70 - O MELHOR DAS ARTES PLÁSTICAS NA BAHIA


ARTES VISUAIS

JORNAL TRIBUNA DABAHIA–Salvador,segunda-feira,15 de julho de  1985

VARIEDADES                         

                                               “GERAÇÃO 70”

O MELHOR DAS ARTES PLÁSTICAS NA BAHIA

Geração 70 é a mostra de artistas plásticos que despontaram naquela década e hoje produzem uma arte criativa e contestatória dos valores da “lógica oficial”. Claro que não será nenhuma Semana de 22, mas com certeza o próximo dia 25 de Julho será um dia significativo para as artes na nossa terra. Afinal há muito tempo não acontece uma empreitada mais efervescente no campo artístico da Bahia. Geração 70 armará seu palco no Museu de Arte da Bahia onde o cenário criativo não se limitará às artes visuais. Lá no museu você poderá contemplar a obra e dar de cara com dez artistas da nova geração; dispostos até a dar um alô sobre a sua produção.
Mas não é tudo. Você ainda vai ouvir o bom som do Sexteto do Beco, ampliando o musical com o visual de muita coreografia contemporânea Made in Salvador.

Uma indagação inicial é logo feita: todos querem saber quais os critérios que afirmaram os dez nomes que vão entrar na mostra “Geração 70”, organizada pelo crítico de arte Reynivaldo Brito com a colaboração do professor Ivo Vellame. O próprio Vellame que auxiliou o curador da exposição na escolha dos nomes concorda que é preciso que ocorra um prolongamento dessa Geração 70 com acréscimo de outros artistas. Cita de imediato mais dez nomes representativos da década de 70. Como Juracy Dórea, Márcia Magno (gravadora) Almandrade ou Decaconde. Fica para a próxima mostra, espera Ivo Vellame professor há 23 anos na Escola de Belas Artes da UFBA. Reynivaldo Brito considera que o limite de verba foi um bloqueio, mas não vacila em dizer que escolheu os dez mais significativos. ( Foto acima de Reynivaldo Brito)
Os artistas selecionados para a Geração 70 são realmente de melhor qualidade: Zivé Giudice, Guache, Murilo, Bel Borba, Chico Diabo, Fred Schaeppi, Florival Oliveira, Maso, Justino Marinho e o escultor da turma, Astor Lima. Como foram escolhidos, Reynivaldo Brito conta logo, logo. “Os critérios foram os de profissionalização/produção e qualidade da criação”. Brito que é responsável pela coluna de Artes Visuais em “A Tarde” há 12 anos, diz antemão que a afetividade não entrou na “dança”. “Eu realmente esqueci o lado da amizade e parti para o lado profissional. Sofri realmente muitas pressões, é bom que se diga, de pessoas que apresentavam listas com sugestões e até exigências de colocações deste ou daquele nome. Confesso que reagi a todas as pressões.’’

                                                              CONVITE

Toda essa estória de se agitar um pouco de artes na cidade, surgiu a partir de um convite da Fundação Cultural do Estado, com apoio do Banco Econômico, ao jornalista Reynivaldo Brito. Foi exatamente o Coordenador de Museus, Heitor Reis, que lhe destinou uma empreitada artística, acreditando no seu pique para o trabalho e sua disponibilidade para as coisas da arte: fizeram-lhe dar quase um sim absoluto. Um senão: ele exigia liberdade total para a escolha dos artistas da Geração 70 de acordo com o curador da mostra, a única interferência foi mesmo a financeira. “A verba que a Fundação dispunha, limitava de certa forma o número de artistas e só pude trabalhar com 10 nomes”. A ausência de um nome feminino na triagem da mostra tem dado o que falar. Reynivaldo Brito não se abala com as críticas e diz logo o seu ponto de vista, destoante inclusive da opinião do crítico Ivo Vellame. Diz ele “Dentro da Geração de 70 não tem uma mulher que se destacasse nas artes plásticas baianas. As representativas ou são anteriores ou posteriores a essa geração da mostra. Nós temos grandes artistas mulheres, mas por coincidência, elas não estão enquadradas na Geração 70”.

                                                              OUTROS

Mais receptivo foi o professor de História da Arte, Ivo Vellame. Ele considera que seria cabível realizar mais duas mostras com o pessoal significativo de 70; dando logo muitos nomes: inclusive de artistas mulheres. Ele fez questão de registro: Márcia Magno, Bartira, Almandrade, Leonardo Celuque, Cesar Romero, Juracy Dórea, José Araripe, Humberto Vellame, Decaconde, José Artur Antoneto, Ângela Cunha e outros e outros. Vellame que também desempenhou um papel na seleção dos nomes (ele escalonou três dezenas) colaborando com Reynivaldo Brito na triagem inicial, acha que uma instituição cultural como a Fundação Cultural a não pode alegar falta de verba para fomentar justamente a cultura: e bota fé na continuidade dessa primeira mostra.
 O valor artístico dos que entraram, não é motivo de polêmica, mas sim a ausência de mais nomes. Enquanto não se definem os próximos passos das próximas mostras (ainda nem bem foi realizada a primeira), Reynivaldo Brito e Ivo Vellame, analisam e se emocionam falando da obra desses artistas da Geração 70. Jovens, artistas com mais de 25 anos e menos de 40. Para ambos os críticos, a única identidade entre os dez, é quanto à contemporaneidade (sentido do novo) da sua obra. Vellame não esconde que está visceralmente ligado ao surgimento desses jovens e desata a falar. “apostei nessa geração pelo sentido do novo, de contemporaneidade de suas obras, pela garra em contestar as formas gastas; pelo sentido de denúncia social e por sua capacidade de abrirem os olhos para outras gerações. Esses artistas conhecem a criação de outros, artistas e inovam a partir desse conhecimento”. Para Reynivaldo Brito, esse conteúdo de contemporaneidade da Geração 70, vira um bloqueio “porque muitas vezes está fora do alcance da média das pessoas.
“Trata-se de uma obra que exige da pessoa uma capacidade de fazer uma leitura”. O trabalho de arte tem signos próprios (cor, forma, composição, e outros elementos); que muitas vezes, por falta de informação o sujeito é incapaz de fazer uma “leitura”; resultando em uma falsa recusa da análise, ou falta de emoção; mas Reynivaldo não duvida: “Esse é um trabalho de qualidade que veio para ficar. É um trabalho que vai marcar a História da arte baiana”.

                                                                   MUDAR

Ivo Vellame  se deteve um pouco na reflexão quanto ao aspectos de identificação que reafirmam o título da mostra, ou seja, Geração 70. “uma coisa que bem identifica esses nomes é a vontade de mudar, de mexer com a arte baiana. Cada um deles, contudo, conserva a sua própria personalidade/identidade artística; o que é muito característico da arte atual.
Nos dias de hoje, não é possível, mesmo se trabalhando em um mesmo local, se apresentar um trabalho com características muito próximas; a exemplo do Cubismo. Isso não representa, entretanto que eles não receberam influências. “Quem não deve a quem nesse mundo?” questiona Vellame; concordando com Reynivaldo Brito, na análise das trilhas que esse pessoal tem tomado.
“Todos receberam influências de artistas consagrados, mas todos se libertaram e revelam a sua própria marca. ’‘Quem não conhece, por exemplo, um Zivé?. Pela forma, pela cor, pelos elementos da obra”? questiona Reynivaldo.
O sucesso e a efervescência da mostra do próximo dia 25 de julho no Museu de Arte da Bahia. São coisas certas. Quem diz é o organizador da Geração 70; garantindo que a mostra não será mais uma exposição ou uma coletiva de artistas emergentes. Ele diz com a convicção de quem está vivenciando o processo de organizar uma mostra de arte com esperança de ver o fruto crescer. Afinal, não é todo dia - há quanto tempo não acontece alguma coisa do porte em Salvador?-que se pode contemplar um conjunto dos nossos mais novos artistas. O Museu de Arte da Bahia vai se transformar no palco de múltiplas criações; desmistificando de certa forma a idéia de museu como “baú de quinquilharias” ou “sinônimo de paradeiro cultural, imagens marcantes nos dias de hoje. Miseen-scéne é convidativa. Além da presença dos artistas livres para qualquer “dois dedos de prosa” sobre seus trabalhos, quem for até ao museu, vai se deparar com muito visual e um bom som do Sexteto do Beco. Bailarinas não vão faltar. Serão três espetáculos- relâmpagos de dança (duração média de cinco minutos). A dançarina Lilia Serafim fará o solo com uma peça intitulada “Toada para o Infinito” depois será a vez da bailarina Lia Rodrigues entrar na dança; fechando o espetáculo com a apresentação do grupo Tran-Chan, com as criativas coreografias de Leda Muhana e Bete Greber. Em seguida o Sexteto do Beco afina seus instrumentos e o sax de Paulinho Andrade faz a festa. A mostra prossegue e a música promete distrair a moçada. Cada artista vai apresentar cinco obras e você pode contemplá-las; ouvindo um som de um pessoal jovem. Como você que ama o novo, em busca de novos signos.

                                                ZIVÉ GIUDICE, O CONTESTADOR

Zivé Giudice, um dos dez nomes da mostra Geração 70 revelou que não é um contestador apenas nos seus pastéis, guaches e aquarelas; denunciando a “parafernália atômica” questionando a “lógica oficial” e outras formas políticas de autoritarismo. Zivé é daqueles que não deixam as coisas por menos, e brada mesmo o que pensa. Zivé está na batalha da pintura desde 74 (sua primeira exposição individual) e rejeita por isso mesmo, qualquer alusão de “artista emergente”. Reafirmando a frase do crítico e organizador da mostra, Reynivaldo Brito, de que “todo artista é um contestador”, Zivé rechaçou de uma vez por todas o termo: “Quando se deixa de ser emergente?.... É quando se é um acadêmico”?....
Tomou fôlego, em seguida e falou do seu processo criativo com muito prazer. O que ele não pode aceitar é a classificação de emergente. Ele diz logo por que. “estou produzindo há 10 anos têm gente na mostra que está na batalha há 15 anos. Não somos emergentes”. A realização dessa primeira mostra Geração 70, tem um valor para Zivé; se satisfazer à  posteriori uma condição. Ele abre logo o jogo. “Só vou acreditar mesmo na intenção dessa mostra, se houver um prolongamento dessa primeira.
Existem muitos outros nomes que representam a década de 70. Não quero negar as pessoas que estão na mostra. Me identifico com essas pessoas, não rechaço o trabalho de ninguém; mas acho que a Geração 70 deveria se referendar em outras pessoas. De qualquer modo, tem muito mais gente que trabalha assiduamente e que devia estar junto com os escolhidos.

                                                                  O NOVO

Com uma coisa Zivé não fez restrições. Com relação à análise de que o sentido do novo é o ponto de união da Geração 70. Estilos, escolas, tudo isso é   negado peremptoriamente. “O novo é tratado por mil e um ângulos.
Isso é o que une determinados grupos que tem investido em fazer arte; compreendendo o novo com uma coisa corajosa de romper e denunciar.
É o elo de buscar o contemporâneo; é a manifestação de arte que se convulsiona a cada dia. Zivé que no momento está inclusive, expondo no Salvador Praia Hotel, até o dia 21 de Julho,contudo, não esconde o seu fascínio pelo barroco. “ “““Não o barroco baiano, mas o barroco  no que se refere ao tratamento da forma, o seu modelar e organização do espaço”“““. “Sou fascinado pelo barroco e meu trabalho tem uma ressonância nisso”. Até onde o homem  é a parte do seu trabalho artístico é questão bem resolvida pelo artista. “O homem é a parte em todos os sentidos. O homem sempre foi o alvo do meu trabalho sob uma ótica de denúncia, questionando as forças opressoras e cerceadoras do seu mundo. Por isso mesmo, vejo meu trabalho como político, porque preocupado com as nossas condições culturais. É um trabalho que denúncia a violentação dos nossos dias; questionando e desmitificando a “lógica oficial”, negando “os pretensos pés no chão” do homem racional dos nossos dias. Muitos dos seus desenhos mostram figuras antropomórficas sem sustentação como o pé; figuras hierárquicas excluídas do espaço da lógica formal. Zivé conclui a “leitura” do seu trabalho:
“Faço a antítese dessas afirmações oficiais e dominantes”.

                                                                   DITADURA

Zivé faz questão de se colocar como um artista preocupado com o político.
Afinal não é para menos. Como os nove outros, Zivé vem criando a partir da década de70, período áureo da ditadura no país; o que sem dúvida é um bom caminho para se entender a marca contestatória da sua obra. Zivé aumenta o papo. “ “““A política é a busca da felicidade e não admito que qualquer produção artística seja desvinculada do discurso político”“““. Não admito a produção aleatória”. Ele se recorda dos idos de 76. “ Em se recorda dos idos de76. “Em 76 pelas circunstâncias dos fatos, o diretório acadêmico e a associação de classe estavam mofados,. Reativamos esses espaços, retirando o seu mofo e se deu o movimento universitário, a UNE; tudo isso é referência para meu trabalho” . Zivé Judice já participou de dezenas de exposições, já ganhou diversos prêmios e certamente é daqueles que veio para ficar. E crescer com as arte que lhe pegou pela mão em Jitaúna, onde nasceu sob o signo de Áries, em 4 de abril.
Pelo lado dos artistas excluídos da Geração 70, falou Márcia Magno; que apesar de se refutar a cobrar da Fundação Cultural nova Mostra, não se furta da fazer críticas e ponderações. Márcia Magno discorda do processo de seleção dos dez nomes e dá uma sugestão em cima . “ Não se justifica de que o limite de verba seja uma razão. Que, pelo menos então fossem sorteados dez nomes”. Mas a gravadora vai além e diz mesmo que a Mostra somente teria valor se aglutinasse no mínimo um grupo de 20artistas da década de70.

                                          CONSIDERAÇÕES DO CURADOR

Lendo hoje (2012) algumas matérias que saíram na época sobre a Geração 70, a exemplo desta que publico acima,  fico cada vez mais convencido do acerto de ter escolhido àqueles dez nomes para participar da mostra. Idealizamos que seria a primeira e, que em seguida faríamos mais duas outras. Acontece que o orgulho das pessoas que esperam estar sempre ocupando os primeiros lugares da fila, terminou por criar um clima desfavorável . Vieram declarações injustas e inoportunas e então decidi que não iria mais me meter naquela empreitada.
É bom ficar  registrado que nem eu e  tampouco Ivo Vellame recebemos qualquer remuneração por organizar a mostra. Ao contrário, trabalhamos muito voluntariamente, em prol das artes plásticas na Bahia.As pessoas que ficam por ai arrotando erudição,copiando de enciclopédias, citando autores em outras línguas ou mesmo plageando  o Google ,acredito que por mais que insistam em negar ou tentar  fazer esquecer a Geração 70 ela sempre será lembrada como um marco na História recente da Artes Plásticas da Bahia. Outra coisa : afirmar que a limitação  de recursos não é um argumento plausível para expor apenas 10 artistas é uma afirmação no  mínimo inconsequente. Quem já realizou algum evento sabe muito bem quanto o recurso determina até onde você pode ir.
Vejam vocês que depois desta mostra memorável , nem mesmo os incoformados fizeram nada que viesse suplanta-la até os dias de hoje!.