Objetivo


sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

PELOURINHO , UM MUNDO DESCONHECIDO - CONCLUSÃO

Esta rua parece não existir ,mas existe.É o Beco
do Mijo.Há muitos anos que nenhuma providência
sanitária e outros serviços são executados. O
calçamento irregular e esburacado reflete as
condições de vida nos cortiços.

 JORNAL A TARDE - SALVADOR - BAHIA -  30 DE AGÔSTO DE 1971
    Texto de Reynivaldo Brito e Francisco Viana.               Fotos de Magno Cardoso
   A Fundação do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia já delimitou toda a área que deixará de ser recuperada no Pelourinho. Vai da Igreja de São Domingos ao Convento do Carmo, que se situa como marco divisor da realidade social e econômica da área. A parte Norte é essencialmente residencial,ocupada por famílias de classe média ,enquanto que  ao Sul ,onde se situa o Maciel predominam moradias coletivas de grupos populacionais cujo comportamento é socialmente patológico, e aí se localiza a prostituição. O Plano Geral de Recuperação o Pelourinho virá transformar esta área numa parte funcional da Cidade do Salvador.
A zona conhecida por Maciel é formada por duas ruas principais que fazem ligação entre as praças do Terreiro de Jesus e José Anchieta com o Largo do Pelourinho.São a João de Deus e a Gregório de Mattos,respectivamente Maciel de Cima e Maciel de Baixo.
A denominação de Maciel estende-se ainda  por mais seis ruas: Francisco Moniz Barreto ( Laranjeiras) Ignácio Aciolly , ( Beco do Mijo e Bôca do Lixo), Santa Izabel ,J. Castro Rabelo, Leovilgildo de Carvalho ( Beco do Mota) , Frei Vicente ( Açouguinho) , que ocupam toda a área construda situada entre o Terreiro de Jesus e o Largo do Pelourinho ,excetuando a rua Alfredo Brito ( Portas do Carmo).

Os moradores daquela área têm medo da polícia de costumes que atua drasticamente , desalojando e expulsando as prostitutas com emprego de métodos violentos sem entretanto, tentar modificar as condições sociais e econômicas dessas áreas que continuam a exercer forte atração sobre grupos marginais. A polícia vem evacuando as prostitutas  compelindo a localizar-se em limites claramente definidos.Esta política ,segundo declarou o sociólogo Gey Espinheira , que atualmente é quem mais conhece o problema da área e atitudes da polícia não melhoram e não resolvem o problema . Ao contrário concorrem para maior segregação dessas comunidades marginalizadas.

Mas´, a polícia de costumes está longe de entender o problema e continua agindo ,fechando mais o cerco. Há pouco tempo evacuaram a Rua Alfredo Brito , paralela à Rua João de Deus ocupadas por um significativo comércio e em seguida dirigiu-se para à Rua João de Deus por ser esta uma via importante, fazendo a ligação entre o Terreiro de Jeus e  o Largo do Pelourinho. A chamada "Operação Limpeza"anunciada pelos órgãos de Imprensa agora se vem fazendo dentro do Maciel na zona em que a violência atinge não somente as prostitutas  como também a todos que moram dentro de seus limites criando uma ambiência de medo e insegurança.

Existem ali 223 imóveis dos quais 132  são casas-de-cômodos  e 27 são unidades residenciais de grupos familiares, enquanto os demais se distribuem em prédios comerciais, em ruínas , em consertos ou fechados . A exploração econômica ( na qual nos referimos na primeira parte deste trabalho ) dos prédios do Maciel caracterizam-se de numerosos intermediários na relação proprietário-morador, formando uma hierarquia de funções , condicionada pela forma de exploração e tipo de ocupação a que se destinam os imóveis que são repartidos e têm diversos locatários.O quarto é a moradia mais comum nesta área , e cada prédio dispõe de grande número de quartos abrigando muitas pessoas que não mantêm entre si laços mais fortes que o de simples vizinhança.

Acredita o sociólogo Gey Espinheira que os proprietários movidos pela força centrífuga resultante da desvalorização social e econômica alugaram seus imóveis por preços baixos cedendo aos locatários o direito para a utilização econômica desses imóveis que passaram a abrigar a prostituição por ser, neste local , a ocupação economicamente mais rendosa e que melhor pode pagar por uma habitação. Os locatários alugam os quartos diretamente aos moradores ou cedem a outros os direitos sobre todo imóvel  ou parte dele ganhando uma boa margem de lucro.

                                                                   A DISCRIMINAÇÃO

O jogo a dinheiro está intimamente assoaciado à desocupação.
Existe um antagonismo entre o grupo prostitucional e os demais grupos ocupacionais. Os grupos familiares residentes na área revestem-se de atitudes discriminatórias quanto aos demais, observando-se comportamentos pouco flexíveis e sentimentos de coesão familiar exacerbados. Estas atitudes são refletidas através os mecanismos de defesa contra a desagregação social que se evidencia fora das paredes dos prédios que se distinguem dos demais pelas inscrições " Família" ou "Favor não entrar: Família", escrito em lugares visíveis da fachada principal, evitando deste modo serem confundidos com as casas de prostitutas.Estes grupos moram ali pela falta de condições econômicas e vivem isolados da comunidade, usando as ruas apenas como circulação obrigatória para atividades ocupacionais , que são exercidas fora dali.

Este conflito concorre para agravar o processo de desagregação social que deesaparecerá ou melhorará com a recuperação. O conflito estará presente quando predominaram as atividades paralelas surgidas com o meretrício proletárizado do Maciel. Estas duplicidade de valores impõe até o momento o estado de insegurança e conflitos constantes, resultantes da luta pela sobrevivência nesta zona altamente deteriorada. A prostituição encontra aí uma série de condições favoráveis sendo que a principal para exercê-la dentro desses limites. Mas, as prostitutas terão a opção de vida e muitas serão reintegradas, porque vontade não lhes falta.

                                                      MACIEL VAI MUDAR

Tânia, uma prostituta do Maciel conversa com o sociólogo: - Vida mais miserável que a da gente não há. A sociedade nos condena e não nos dá chances de uma vida honesta. Parece até que somos vítimas de uma terrível maldição.Veja você que como se não bastasse o nosso desgaste físico temos também o desgaste de saber que os nossos filhos seguirão o mesmo caminho. E não têm condições de uma vida melhor.

O sociólogo não admite nada  do que  Tânia diz : - Você está enganada. O Maciel vai mudar. Até o início do próximo ano a Fundação do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia iniciará um projeto de recuperação da sua comunidade. E quem mais receberá benefícios serão os filhos dos moradores da área. Haverá um Centro de Extensão Primária , cuja principal finalidade é integrar as crianças do Maciel à sociedade. As aulas obedecerão aos métdos didáticos mais modernos. Projeções conematográficas, salão de leitura e aulas de caráter didático. além de orientação psicológca não faltarão aos estudantes.Tudo para impedir que os filhos dos moradores cresçam marginalizados.

                                            EDUCAÇÃO, META PRIORITÁRIA 

A prostituta acrescenta: - Não acredito em nada disto. Até agora só vi gente transmitir de geração a geração o seu ofício de prostituta. Nada mais. Já experimentou conversar com o pessoal ?

- Até certo ponto você tem razão. Até hoje, o tempo pareceu não existir para o Maciel. As condições locais favorecem a prostituição e a economia é baseada na produtividade das prostitutas . Resultado: possuindo renda per capita baixa as famílias e prostitutas que aqui residem não tem condições para comprar jornais, revistas e livros.

 Para ter-se uma ideia do estágio em que se encontra a educação no Maciel, basta dizer que só existem quatro colégios, um ginásio e três escolas mantidas , respectivamente, pelo Centro Automobilístico da Bahia, o Instituto Cardecista e o Professor Anibal. Há uma média de 1000 estudantes em fase de alfabetização, mas a grande maioria não reside no Maciel. O problema maior é a falta de orientação pedagógica para não incompatibilizar  os garotos que vivem no Maciel com as suas famílias. Quando a C.E.P. começar a funcionar vai ser diferente. Professores que nele sem nenhuma orientação terão que se atualizarem para continuar ensinando. A própria Fundação do Patrimônio Histórico e Cultural da Bahia dará um curso neste sentido. E os filhos de prostitutas - que são considerados como crianças iguais  a qualquer outra - serão orientadas e integradas para não serem filhos marginais.

                                                           PROSTITUAS FICAM

Entre caixotes, lixo e prostitutas , criancinhas
inocentes brincam alheias a tudo que as
cercam nos cortiços de aspecto medieval.
Mas, Tânia já tem a sua resposta pronta. - Qual nada , no final vocês vão transformar o Maciel em zona residencial elegante e jogam a gente para fora daqui.Trazem até polícia.

O sociólogo então começa a explicar o projeto de recuperação do Pelourinho. - Quem lhe disse tamanha asneira ? Vocês vão ficar aqui , mas só com nova perspectiva : poderão optar por uma vida melhor.Quem não quiser deixar de ser prostituta a Fundação do Patrimônio não botará para fora do Maciel  nem fará objeção de forma alguma. Para as que decidirem  mudar de vida não faltarão chances. Inicialmente a SETRABES organizará um curso de artesanato. A prostituta nas horas vagas aprenderá a trabalhar com couro, papel e tecidos. Terá condições de faturar muito mais alto que fazendo vida. 

 Tânia , a prostituta , argumenta: -Como vocês vão dar aula se o pessoal daqui é agressivo, e não gosta de conversa mole?

 O sociólogo explica: -Vocês vão gostar tanto das aulas que ao concluirem o curso pedirão um pouco mais ou serão até professoras de outras prostitutas. Pense só: chega um sujeito muito comunicativo e começa a dizer-lhe como  é que se faz um tapete. De repente manda parar e passa um filme sobre o homem na Lua.Não é genial ? Parece até sonho de criança. Não acha? 

O sociólogo continua : -Se no Maciel há concentração de marginais e tóxicos é porque a prostituição acoberta esta gente. Quando criarmos condições para o surgimento de uma economia própria, o Maciel será tão respeitado como qualquer outro bairro da Cidade.É possível até que surjam instituições de bairro e daqui há algum tempo você, Tânia , estará indo para a Prefeitura reivindicar verbas para os festejos de Sábado de Aleluia. O Maciel vai ser um "barato". Terá até Posto Médico de Urgência. Medo da polícia vocês não precisarão ter. É o progresso Tânia ! A mão-de-obra terá ocupação digna. Os comerciantes que vivem exclusivamente da prostituição não precisam ficar preocupados. Não faltará gente para consumir suas mercadorias . E será necessário diversificar os gêneros. -Você - pergunta o sociólogo - já ouvi falar do Pátio dos Milagres, descrito por Victor Hugo? Depois eu lhe conto, tá ?

                                                     DEZ RATOS POR HABITANTE

- E a ratoeira? Como vão fazer vocês para melhorar a vida da gente? Sabe, aqui tem uma média de 10 ratos por habitante. Um absurdo ! Mas é a pura verdade. Outro dia ouvi dizer que a urina do rato dá uma "doença braba " a Lepstopirose. Vá ver que aqui é foco.

O sociólogo não desanima: -Antes de começar a recuperação da área do Maciel executaremos um trabalho preliminar . Constará de duas partes: primeiro, a dedetização da área. É para acabar com as pulgas, percevejos, moscas e outros insetos que aqui existem em abundância por causa do lixo, lama e falta de higiene das prostitutas. A seguir iniciaremos a fase de desratização. Como se fez recentemente na Guanabara, os ratos sendo caçados e mortos. 

 A Fundação do Patrimônio em conjunto com a SETRABES e a Prefeitura tomará providência para que a praga dos ratos suma daqui.Com isso, o pessoal viverá melhor e terá mais  ânimo para o trabalho. Este processo de envelhecimento  rápido que se tornou rotina no Maciel vai acabar. Mulheres de 35 anos daqui a algum tempo não parecerão tão velhas. E vai acabar esta história que crianças do Maciel já nascem adultos e que os adultos nunca foram crianças. A prostituição de menores vai acabar.

 Tânia deixa de atacar e faz um pedido: -Conta a história do tal Victor Hugo e o Pátio dos Milagres . Tô curiosa.

-Tenha calma. Certo - Falta ainda dizer muita coisa.

                                                       INTEGRAÇÃO DE SERVIÇOS 

Então, Tânia volta à carga - O serviço de vocês não demora a falhar.Tudo que se faz na Bahia é assim.

O sociólgo agora é quem ataca: - Tânia, você está se fazendo de desentendida. Sei que tem certa instrução, por cursar até o terceiro ano de Colégio. Esqueça as amarguras e ouça: o posto médico, as unidades de artesanato, a escola, tudo vai funcionar em perfeito regime de integração.As aulas do Centro de Extensão Primária orientará as meninas para o trabalho artesanal. Até no Centro Médico haverá instruções para indicar às prostitutas as vantagens do aprendizado nas unidades de artesanato e em mandar os filhos à escola, bem como orientarão de caráter médico para preservar a saúde.O plano vem sendo discutido e organizado há quatro anos. Não fazemos nada na base do empirismo. Já procedemos  levantamentos sócio-econômicos e a Fundação do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia  tem catalogada a vida de todos os habitantes do Pelourinho.

UM NOVO PÁTIO DOS MILAGRES

Tânia continua inconformada: - Quando o Patrimônio acabar com os botecos e os bares  e desalojar os moradores  do Largo do Pelourinho, ninguém virá ao Maciel. É o fim! E os turistas esquecerão o Pelourinho.

O sociólogo é obrigado a repetir tudo: -Perdão. Eu esqueci de explicar que no Largo do Pelourinho terá de tudo: hotel de gabarito internacional e restaurantes - um especializado em comidas típicas e outro de linha internacional - escola de hotelaria. Até a Academia do Mestre Pastinha tem promessa de voltar . Isto sem falar na sede da SUTURSA, Instituto Mauá, boutiques e boates que se instalarão aqui..

Será um novo "Pátio dos Milagres" . Não o que Victor Hugo descreve, falando da miséria e promiscuidade. Mas, sim um pátio, onde haverá coisas modernas, permitindo a implantação de infra-estrutura para recuperação do Maciel . Daí a denominação de "Grande Pelourinho".  E o "Grande Pelourinho" atrairá muito mais turistas que o  de hoje. Pois não mais existirá o perigo de se ser atacado por um marginal qualquer, e perder a carteira ou a vida. Quem vai ganhar com isto são as prostitutas. Esse negócio de vida sem perspectivas de vida para o povo do Maciel é como dizem os jovens : "Já era". A inauguração dessa primeira etapa - a do "Grande Pelourinho"  - está prevista para 11 de dezembro.

                                                   AÇÃO DA SETRABES

A SETRABES  concentrará sua ação  no Pelourinho em duas frentes : a ministração de cursos profissionais de artesanato; instalação de boxes destinados a permitir ao artesão  a vendagem dos seus trabalhos , sem a interferência do intermediário.Informou o Secretário Bernardo Spector que a Secretaria dará prioridade aos artesãos que tenham condições de vender os seus trabalhos a bons preços, observando principalmente a boa qualidade dos artigos. O artesão poderá instalar a sua oficina de trabalho no prédio do Instituto Mauá- Pelourinho n º 1 - transformando-se em atração turística.

- A recuperação do Pelourinho é um plano arrojado - disse o Secretário do Trabalho e Bem Estar Social. Ali , está o maior polo turístico do Estado e com os melhoramentos que serão introduzidos aumentará consideravelmente o fluxo de visitantes à Bahia. Além disso, a iniciativa permitirá a Salvador limpar uma das suas mais antigas manchas, dando possibilidades a dezenas de famílias de terem um futuro melhor. Como o Pelourinho será uma espécie de "Pátio dos Milagres" do turismo baiano, a SETRABES colocará na porta da sede do Instituto Mauá baianas vendendo acarajé e promoverá exposições de artesanato com intervalos regulares, principalmente no mês de dezembro, quando cresce o número de turistas em Salvador.








PELOURINHO, UM MUNDO DESCONHECIDO - Parte 1

O aviso afixado nesta porta nem sempre é respeitado . As mulhres ficam postadas
 nas portas das casas residenciais atraindo seus "clientes".

JORNAL A TARDE - 26 DE AGOSTO DE 1971 - SALVADOR - BAHIA 
Texto de Reynivaldo Brito e Francisco Viana . Fotos de Magno Cardoso
Entrar no Maciel é fácil,sair é que são elas - diz a filosofia dos moradores daquele mundo estranho e desconhecido.O Maciel onde nem o sol traz alegria tornou-se conhecido pela presença marcante da prostituição proletalizada e a marginalização de seus moradores - 1.980 pessoas - que lutam contra a pobreza e vivem a certeza de uma existência sem perspectiva.

Esse quadro é consequência das crises econômicas registradas na Bahia no século passado que condicionou a desvalorização daquela área de construções coloniais. Onde outrora morou a fina flor da sociedade baiana foi deslocada com o crescimento da Cidade estão hoje ocupadas por prostitutas,famílias pobres e marginais. Levadas pela vantagem de aluguéis baratos centenas dessas pessoas começaram a habitar o Maciel.

A falta de condições de trabalho, a fome a a busca de emprego concorreram decisivamente para a marginalizção dos moradores que agora estão sendo cadastrados pela Setrabes e a Fundação do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia. Os projetos prevêem a integração dos habitates do Pelourinho,que compreende também toda a zona do Maciel os quais deverão trabalhar em centros cooperativo de artesanatos. A área será transformada em local de atração turistica e seus moradoes terão maiores condições de sobreviever honestamentee com melhores perspectivas de vida. É o Plano Geral de Recuperação do Pelourinho que já está sendo executado por operarios, sociólogos,antropólogos, arquitetos, etc.

O tipo de estrutura arquitetônica do casario colonial que permite a formação de moradias coletivas , em quartos que se multiplicaram com as divisões em tabiques e degradação social e a ação repressiva da polícia de costumes foram os fatores que forçaram o estabelecimento do meretrício na área do Pelourinho. Já nos anos 30 a  população do Maciel que está incluida na área do Pelourinho apresentava uma aglomeração considerável , que se consolidou no que é hoje envolvendo não apenas o problema da prostituição, mas todas as atividades diretamente a ela ligadas e dela derivadas.

O sociólogo Gey Espinheira responsável por um trabalho de pesquisa realizado naquela área afirma "que a prostituição representa um dos extremos mais baixos na escala hierárquica de valorizção social, e uma das mais rentáveis dentre aquelas que dispensaram uma formação sistemática para ser exercida principalmente para as empresas e agências de  prostituição em ocupação definida e regulamentada e até poderá organizar-se como uma grande empresa". Mas o problema daquela áea não é apenas a prostituição que a permeia. Outros problemas também cruciantes afetam e esmagam seus moradores.São homens, mulheres e criancinhas inocentes que estão marginalizados à espera de uma solução.

FORMAS DE PROSTITUIÇÃO

Na área do Pelourinho tem algumas formas de prostituição.1- a individual que é independente e autônoma. 2-Os bordéis - considerados pelos sociólogos e antropólogos - como organizações comerciais que proporcionam divertmento e promovem uma associação entre o "cliente" e a prostituta com venda de bebidas, alimentos, estimulantes e tóxicos, e a este sistema está intimamente ligado a indústria de diversões e a vida noturna da Cidade.

Essas e outras organizações localizadas na zona do Maciel transformam a prostituta em assalariada . E a possibilidade de trabalho sem agentes intermediários é cada vez mais difícil. Nos bordéis o "trabalho" se inicia às 8 da noite e vai ao amanhecer do dia seguinte. As mulheres recebem um percentual das despesas realizadas por seu "cliente" e a taxa correspondente à relação sexual da qual uma parte é destinada ao pagamento do aluguel do quarto que lhe foi alugado pela organização.

Durante o dia elas expõem os seus corpos semi-desnudos aos olhos dos transeuntes que por ali passam. Os passantes que são atraídos são levados para as "casas-de-cômodos", "trabalhando" elas independetes , até que apareçam os gigolôs que têm uma presença marcante naquela área marginalizada . É ele o agenciador da prostituta do Maciel e muitas vezes tem um contato de afetividade para com ela, mas leva quase todo o dinheiro por ela conseguido em suas relações.

A prostituta individual e independente antes exercida em grande escala naquela área está desaparecendo porque a tendência é a agloeração e a transformação daquelas prostitutas em assalaridas. Os bordéis  e as casas de encontro , castelos, bares, "protetores" e todo um sistema de corrupção e suborno envolvem a prostituição do Maciel.

3-A prostituição de castelo já é diferente da praticada no bordel porque a sua estrutura interna tem um caráter menos comercial e o "trabalho" é realizado obedecendo uma regra através de contatos pessoais entre seus atores. 

Sabemos que a prostituição se manifesta de várias formas com relação à organização , mas o caso específico do Maciel é de organização prostitucional proletarizada e assume características de meretrício extenso. Diz o sociólogo Gey Espinheira qoe "os ambientes prostitucionais caracterizam-se também pela maior ou menor concentração de pessoas que se dedicam à prostituição".

4- As casas-de-encontro são dedicadas a acolher pessoas que procuram um lugar para se associaram sexualmente e a adminitração é exercida por uma pessoa que é encarregada  de cobrar os aluguéis dos quartos . A rigor estas casas existentes no Maciel funcionam como pequenos hóteis cujos quartos são alugados por tempo curto regulado por base na duração de um encontro.Contudo estes modelos mencionados quase nunca são puros e ainda existem outros com misturas de características.

A RECRIMINAÇÃO SOCIAL

A sociedade brasileira em geral e particularmente a baiana despreza e maginaliza a prostituição.Mas ela existe e é parte interessante do sistema social e permanecerá enquanto exisstireem as formas institucionalizadas de monopolização da conduta sexual pelo casamento.

Entendem os sociólogos que a prostituição é uma ocupação econômicamente legítima e não uma conduta sexual imoral de um grande número de pessoas. A sociedade a condena, despreza, e isola permitindo sua prática dentro de limitações . Por causa da impossibilidade de solução do problema ela passa a funcionar como um mecanismo de defesa da própria sociedade. É o lado oposto do oficial da conduta sexual representada pelo casamento. 

Se compararmos os níveis de renda média dos trabalhadores da indústra baiana e o nível médio de renda das prostitutas do Maciel notamos que esta é uma das ocupações mais rentáveis ( embora condenável ) e a integração dessas pessoas com o sistema econômico é uma das mais efetivas por representar um pode aquisitivo médio alto em relação à grande maioria dos trabalhadores assalariados.

AS ÁREAS 

O meretrício que difere das demais formas de prostituição pelo caráter de grupo extenso , aglomeração de  unidades empresariais , agências além de mais diversas formas incluindo a prostituição individual se organiza independentemente . O que existe no Maciel é um processo comunitário separado, resultante da pressão do sistema de valores da sociedade circundante ou da livre armação das forças econômicas.O Pelourinho é um triste exemplo da  zona deteriorada levemente afetada pelo crescimento da Cidade.

Os bares, boates e outros estabelecimentos similares ,localizados naquela área têm preços superiores aos de estabelecimentos semelhantes localizados em outros pontos de Salvador. 

Os encarregados da proteção individuaal e das agências com base em esquemas de subornos, corrupção, chantagem, venda obrigatória de proteção,além do mercado clandestino de entorpecentes e psicotrópicos , estão aí atuando livremente.

As ruas Gregório de Mattos, João de Deus, Bêco do Mota, Ignácio Aciolli,Frei Vicente  dentre outras, estão localizadas naquela área. Nos dois últimos anos de acordo com o relatório de uma pesquisa de autoria do citado sociólogo houve um aumento de 8,69% do número de prostitutas residentes naquela área. O crescimento global da população foi de 11,5% .Embora a prostituição seja a atividade mais marcante e representa apenas 40% da população ali residente.Das famílias entrevistadas notamos uma média de seis pessoas por cada grupo familiar e se caracterizam pelo baixo nível de instrução e precárias relações com o sistema de produção.

O quadro geral do nível de instruçção dos moradores do Pelourinho poderá ser assim resumido: Analabeto, primário  incompleto e completo dos homens.,79,8%e das mulheres 82,10%. Ocupações:lavrador (pai) 38,05% e mãe 34,38%; ocupaçãos sem funções definidas 20,90% e 34,33%; semi especializados 63,43% e 29,8%; pequeno comerciantes 8,95% e5,98%; sem ocupações 5,23% e 16,42%. Este quadro mostra a relação existente entre o nível educacional que é baixo, e o despreparo profissional dos moradores.

As 1.980 pessoas residentes no Maciel , assim responderam aos entevistadores : Por que vieram residir ali ? 16,42 % que vieram porque teriam emprego certo; 17,92 % em busca de trabalho; 11,94% porque a família resolveu mudar e tiveram que acompanhar; 8,95%a convite de amigos; 27,61% para exercerem a prostituição e 17,16% nasceram em Salvador e não souberam explicar.

Deixando as famílias ou se transferindo com elas essas pessoas compõem atualmente o quadro ocupacional do meretrício do Maciel movimentaram-se em procura de melhores condições de vida e trabalho que não poderiam ser encontrados em suas cidades ou locais de origem.

É UMA POPULAÇÃO JOVEM

A conclusão que se chegou é de que a população ali residente é constituida de uma população predominantemente jovem e que vieram para Salvador - aquelas pertencentes ao gupo prostitucional  apresentavam este quadro com relação às idades de 12 anos 13,4%; de 13 a 15 anos 17,91%;de 16 a 17 anos 17,91 %: de 18 a 23 anos 26,11%, de 24 a 29 anos 5,97% e de 30 anos a mais 1,5%.

Porém, 19,2% dessas pessoas vieram para Salvador com idades inferiores a 18 anos e hoje apresentam idade inferiores a 30 anos. 

O PROBLEMA DA SAÚDE

Entre os entrevistados 69,4% não fazem exame médico de nenhum tipo e 20,10% o fazem irregularmente . Outras fazem com intervalos quinzenais e mensais.

As mulhres do Maciel têm uma renda variável entre Cr$241,00 a Cr$ 840,00 o que equivale a 94,02 % e as demais ganham em torno de Cr$121,00 a Cr$239,00.

A alimentação é outro problema enfrentado por aqueles moradores ( em muitos sentidos) não só pela pequena quantidade consumida, como pela inadequação dos alimentos pois gastam menos na alimentação do que com a habitação deteriorada. A alimentação é na base de pequenos lanches nas cantinas e bares localizados na zona, ou de marmitas cujo conteúdo não é satisfatório.

Das 1.980 pessoas residentes na zona do Maciel é esta a estratificação social: Menores de 18 anos 691; adultos economicamente dependentes 46; pessoas do sexo feminino 781 e do sexo masculino em idade ativa ou para o trabalho é de 442 indivíduos, distribuídos em 24 categorias ocupacionais distintas. Existem 23% de comerciantes, 15,1% de ambulantes; 7,4% pequenos comerciantes; 5,0% de biscateiros, perfazendo um total de 50% dos moradores . Das 24 categorias existentes  - sendo estas 4 principais - as demais apresentam concentrações menos importantes, embora ocupem 49,5 %do total da população masculina.Essa parcela populacional se caracteriza por ocupações que não se definem como específicas desses indivíduos, e sim por serem exercidas de forma improvisada.

Já a população feminina em idade ativa é de 781 pessoas , distribuídas em 12 categorias ocupacionais , sendo que a prostitucional, absorve 57,6% e as demais estão nas 10 categorias restantes, e não apresentam concentrações . Segundo declarou o sociólogo Gey Espinheira " as ocupações femininas encontradas no Maciel  são típicas dos centros urbanos possuidores de áreas congestionadas , onde se concentram populações pobres e marginalizadas. Entretanto, a prostituição se constitui em categoria à parte., embora a localização do meretrício seja também em decorrência específica deste tipo de área.. Das ocupações encontradas a que apresenta maiores indícios de integração com a sociedade é a prostituição., definida e regulamentada pelos órgãos encarregados dos costumes, embora seja a ocupação condenada pela sociedade".

Os menores dependentes encarregam-se de serviços auxiliares à economia doméstica que envolve todos os membros da família em realização de serviços, a fim de que seja possível aumentar a renda familiar.As crianças participam na medida em que podem ,neste processo de auxílio aos adultos tornando-se seu trabalho uma das características da comunidade do Maciel.

UMA VIDA DIFERENTE

Zona do Maciel : centenas de pessoas se amontoam como que por um milagre em cortiços imundos e ruas de calçamento irregular e cheias de buracos. É a morada de prostitutas , maconheiros, malandros, camelôs, comerciantes, desempregados e de criancinhas que vivem marginalizadas e padecem de fome e miséria. Sua rotina é fome, gritos, palavrões e desgostos.- Sai daí moleque do diabo. Vai abusar sua mãe - é uma prostituta velha que reclama - Você não quer comprar um relógio "Seiko"novinho ? - é um camelô que "ataca". Para um sujeito bem vestido que passa apressado- Hoje o prato do dia é fígado. Vem comer aqui mulher.- é a gerente do restaurante popular que convida uma desconhecida para o almoço. 

- Aqui é casa de família meu senhor. Procure outro local e saía da minha vista - é uma senhora idosa que protesta ante a presença de um rapaz magro que confundiu sua residência com uma casa de prostituição.

- Lá vem a cana - é o aviso de um malandro que passa correndo dentro da noite avisando a outros a presença de uma viatura da Polícia que fazia uma "batida" rotineira- No Maciel moram, trabalham,vegetam e vivem  isolados do resto do mundo 1.980 pessoas pouco importa para eles o que acontece no resto do " mundo exterior"  ( tudo que não faz parte da zona do Maciel ). A única diversão é comentar com ironia a vida das prostitutas brigas e prisões feitas pela Polícia nos bares e botequins. Quando o sol nasce diminui o movimento no mundo do Maciel, mas muita gente fica trabalhando em salas imundas , bares, restaurantes e casas de prostituição , alfaiatarias ou quitandas. Uns vendem doces e balas, costuram ou vendem frutas . Consertam aparelhos elétricos ou simplesmente esperam que passe algum sujeito displicente para lhe bater a carteira. E nessa rotina levam quase toda a vida pois "no Maciel é muito fácil de entrar , sair é que são elas", na filosofia vulgar das prostitutas.

O CONSERTADOR DE GUARDA-CHUVAS

Estas criancinhas que nasceram sob o signo da miséria ainda poderão
 ser recuperadas através o projeto da Comunidade do Maciel.
 Uma iniciativa que vem clarear a vida de centenas de seres humanos. 
Das criaturas mais difíceis de se manter um diálogo e de conhecer a sua filosofia de vida na zona do Maciel é Jorge Urbano de 34 anos . Aos quatro anos de idade chegou para a zona e ali cresceu vendo sempre a vida andar mal para a sua família. Não teve tempo da estudar e para ajuda em casa teve até que pedir esmola. Assim sentiu que " a vida é um negócio bom para quem tem dinheiro" e aprendeu o ofício de consertador de guarda-chuvas, com o qual garante alguma coisa na panela todos os dias. 

Jorge tem seis filhos, morava numa lojinha apertada e ganhava em média de Cr$2,00 a Cr$3,00 por dia . Viveu sempre doente e sua maior mágoa foi não poder dar educação aos filhos: "Não tive condições para salvar meus garotos da minha sina miserável". O dia de Jorge é sempre igual. Com paciência e utilizando-se de uma tesoura velha e das próprias mãos vai consertando guarda-chuvas  dos mais variados tamanhos e dos mais diferentes donos. Nunca cobra mais de Cr$1,00 pois a "freguesia é pobre" e na maioria das vezes segue a risca o ditado que diz :"Guarda-chuva de pobre é cachaça"Fome total Jorge nunca passou. Mas é comum na sua casa faltar alimentos necessários à boa alimentação como leite ,carne,ovos e pão. Meio-dia é sempre hora de azar para Jorge e sua família : o arroz , o taco de carne e a farinha ,sendo que a maior parte é dividida entre as crianças que "precisam comer mais do que os mais velhos". Talvez por não ter aprendido outra profissão, em ter conseguido estudar é que Jorge não gosta de falar de sua vida. É desconfiado e sempre que lhe perguntam alguma coisa ele responde de má vontade : - só posso afirmar uma coisa: nunca roubei nem matei".  

Aos 34 anos Jorge não vê perspectiva de sair do "lodo em que há muito já afundou". Sua filha de 14 anos é a única da família que está estudando,graças à boa vontade das professoras e de alguns dos seus fregueses que lhes dão livros e dinheiro para o transporte. O maior orgulho de Jorge é possuir uma geladeira em casa. -Enfim - diz ele - a gente é miserável ,mas precisa ter alguma coisa que nos pertença e que amanhã possa "safar" uma situação difícil."

O FAZEDOR DE BANDEIRAS

Seu nome: Ezlimar Geraldo Félix, idade 24 anos. Sua profissão: fazedor de bandeiras. É um paraibano miúdo, de olhar vivo e cordial. Ao contrário da maioria dos trabalhadores do Maciel é pouco modesto e vive dizendo que "não há no mundo quem faça melhores bandeiras que eu". Chegou à Salvador a seis meses e como não encontrou moradia fácil nem lugar para trabalhar " sem receber gritos do patrão" foi morar no Maciel. Em sua terra natal o maior capital que conseguiu reunir foi Cr$100,00 que aplicou tudo no feitio de bandeiras e na pintura de camisetas que os torcedores dos clubes ostentam nos dias de jogos.

Ezlimar trabalha no primeiro andar do Beco do Mota, número três, em meio a tintas , pedaços de madeira e muito barulho.  Não gosta muito que se fale mal do Vitória - o time do seu coração - na sua presença e cobra pelo seu trabalho de acordo com a personalidade do cliente. Se é um rapaz jovem e inexperiente ele nunca vende uma bandeira por menos de Cr$5,00e vai logo dizendo :"É do melhor pano e só o sinhô vendo o trabalho que dá para fazer".Quando o cliente é de certa idade e gosta de fazer exigências torna-se humilde, reconhece que o trabalho está bem feito , mas um pouco caro e acaba vendendo mais barato.

Na vida Ezlimar conhece quase tudo: já foi camelô, lavador de pratos, garoto de recados e já passou muita fome.No início deste ano resolveu vir morar na Bahia, pois segundo ele "na Paraíba o mercado de trabalho é ruim, e quem é pequeno morre com a boca cheia de formiga". Aqui trabalhou duro e o seu trabalho deve ter rendido bem, pois em menos uns meses conseguiu alugar uma casinha na Cova da Onça ,bairro de Nazaré,onde passou a morar com a família.Ganha em média Cr$400,00 por mês e só vai para o Maciel para trabalhar.

Ele mantém quatro camelôs trabalhando na rua. Vendem camisas pintadas com escudos do Bahia e do Vitória,Galícia e Fluminense , entre outros times por Cr$5,00 .Recebem encomendas para bandeiras e faixas. Há meses que chega a receber mais de 1.500 encomendas ,mas acha que não ganha o suficiente. Gostaria de ter uma profissão,mas desde crianças que sua vontade de estudar morreu : a família pobre nunca lhe deu condições  para frequentar os bancos escolares.

Casado e pai de duas  filhas Exlimar dá um sorriso alegre quando dizem que o Pelourinho vai ser reformado e que a vida no Maciel vai melhorar muito. "É bom moço ,trabalho aqui há pouco tempo, mas já tenho diploma das privações desse lugar. Basta dizer que passo aqui mais de dez horas por dia. Só vou pra casa na hora de dormir. Pois se vejo as minhas filhinhas não tenho outra vontade senão de ficar brincando com elas.  Depois da reforma é provável que instale meu "fabrico" de bandeiras e a minha casa, aqui mesmo no Maciel.

A GAROTADA VAI À ESCOLA

Quando o sol nasce as crianças do Maciel vão à escola do professor Anibal dos Santos .São figuras magras , que gostam mais de brincar do que pegar nos livros e que nasceram com vocação de progresso como todas as outras crianças da sua idade, mas que crescem marginalizadas por causa da profunda miséria que se faz presente no mundo do Maciel, onde nem o sol traz alegrias.

Usando cadernos oferecidos pelo próprio Anibal as crianças - em número superior a 80 - se revezam por três turnos, na Escola São Jorge. Sentadas  em banquinhos de madeira sem nenhum conforto ouvem palavras de incentivo, reclamações e dão a mão a palmatória quando cometem erros nas lições ou não prestam atenção à aula.

-Trabalho assim, porque fui criado na base da palmatória e hoje sou uma pessoa de bem. A voz do professor Anibal, de 38 anos, soa baixo.Começa falando das suas dificuldades : paga Cr$200,00 de aluguel na casa onde funciona a Escola São Jorge e o proprietário quer aumentar para Cr$300,00. Cria 7 garotos , a que chama de "meus filhos"e cobra em média de Cr$5,00 por aluno mensalmente.

- Minha família é de gente bem e brigam quando digo que os meninos são meus filhos .Se falo assim é porque não me casei e preciso dedicar o meu tempo e afetividade à alguém . Veste roupa esporte , cabelos em desalinho Anibal dos Santos diz que o maior problema que enfrenta como educador é fazer com que seus alunos não cresçam com uma imagem negativa dos pais, que muitas vezes são obrigados a se prostituir para ganhar o pão de cada dia.

Terminou o curso normal em 1953 pelo Instituto Isaías Alves - ICEIA, que fica no Barbalho, mas a escola já vinha funcionando desde 1951.Como meu pai viajava muito e eu gostava de ficar sozinho em casa, vim morar aqui no Maciel em companhia de uma velha criada da família. O pessoal pediu para eu ensinar a alguns meninos a ler e escreve,r e assim eu comecei a escola. Hoje, já criei oito dos meus filhos e ensino a 80 alunos sem falar no curso de Inglês que criou mais novas vagas. Espero que com a reforma do Pelourinho a minha escola seja melhorada, pois se eu fechá-la não sei como vou fazer para viver." E noitinha e a Escola São José vai ficando vazia. O professor Anibal dos Santos diz que dois dos seus  alunos estão de castigo e não podem sair. Um velho que mora na mesma casa reclama da conta de luz. E na rua já começa o movimento das prostitutas. Vai começar tudo novo: a rotina da noite na zona do Maciel. 

                                                                                                                                                                                                                                                                          

segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

POLÍCIA USA RUAS COMO PÁTIO DE CARROS APREENDIDOS

Carros espalhados por várias ruas . Provas  da
má administração na SSP da  Bahia.

Mais uma prova da má administração da Segurança Pública na Bahia é o uso de ruas ,avenidas e praças de Salvador pela polícia  como estacionamentos  de veículos apreendidos em suas operações de combate ao crime.Os bairros que têm delegacias e outras unidades da polícia  estão com suas  ruas ocupadas por  carros de vários tamanhos . Alguns deles se transfornaram em focos de mosquitos da dengue e outras doenças. Ao invés dos moradores gostarem da presença da polícia nos seus bairros, porque deveriam  se sentir mais seguros, ao contrário, a sua presença  torna-se um péssimo vizinho transtornando  por completo o sossego dos moradores.
Isto vem acontecendo no final do bairro da Pituba onde estão instalados o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa - DHPP e Departamento de Repressão  e Combate ao Crime Organizado - DRACO . São dezenas de carros apreendidos estacionados inclusive em locais proibidos, como este carro todo destruído que está junto ao poste, onde tem uma placa proibindo estacionar. As ruas laterais também já estão sendo ocupadas sem qualquer cerimônia pelos policiais. Estes veículos ficam meses a fio com os pneus vazios e cheios de sujeira. 

Além deste   problema vivido atualmente pelos moradores da Pituba  ainda carece de transparência esta  ocupação pelo DHPP e o DRACO  deste  prédio localizado na Rua das Rosas. O imóvel passou anos interditado pela Prefeitura por não estar de acordo com as normas municipais.Porém, misteriosamente  durante o governo do Jacques Wagner foi ocupado pelo  plano de previdência do Banco do Brasil-CASSI ,e mais recentemente vieram no governo de Rui Costa estes departamentos policiais. 

Uma sugestão para o próximo governador é construir uma Cidade da Polícia,  como existe no Rio de Janeiro,  onde se concentram a maioria das unidades policiais daquele Estado. Enquanto isto não acontece , cabe ao Secretário de Segurança Pública determinar a remoção desses veículos para um estacionamento apropriado.

domingo, 24 de janeiro de 2021

OS GRANDES MESTRES DA CAPOEIRA

João Grande,filho de Cobrinha Verde, ( o Júlio) ,João 
 Pequeno, Cobrinha Verde, Canjiquinha e Waldemar
 no Largo do Pelourinho.

Domingo , 2 de maio de 1982. 
Texto e fotos  Reynivaldo Brito               
JORNAL A TARDE
 A roda está formada e todos batem palmas. Agachados dois jovens negros cumprimentam-se com um aperto de mão. Os berimbaus são acionados pelos mestres capoeiras Rafael Alves França ( Cobrinha Verde) Waldemar da Paixão ( Waldemar), Wasghinton Bruno da Silva ( Canjiquinha) ,José Gabriel Góes (Gato), João Pereira dos Santos ( João Pequeno), e João Oliveira dos Santos ( João Grande),  os quais foram reunidos juntamente com seus principais alunos . Juntos , percorreram o Largo do Pelourinho , antigo palco das lutas dos grandes capoeiras baianos e também o Terreiro de Jesus e várias ruas integrantes do Conjunto Arquitetônico do Pelourinho  onde na época do Brasil Colônia concentraram-se os barões e seus escravos  que praticavam capoeira nas horas vagas e quase sempre eram perseguidos pela Polícia. Todos estão com mais de cinquenta anos e o mais velho é Rafael Alves França , o Cobrinha Verde com 74 anos de idade e um dos mais famosos capoeira da Bahia. Hoje com sérios problemas cardíacos,mas não se conteve quando os berimbaus começaram a tocar. Arregaçou as mangas do paletó e foi para o centro da roda à espera de um parceiro. Lutou só alguns minutos é verdade,mas mostrou a destreza e a malandragem que ainda guarda mesmo estando velho e doente. Sim, porque a capoeira é uma mistura de dança,luta, música e acima de tudo, fé. Os que jogam capoeira chamados de capoeiristas ou capoeiras têm extrema confiança na sua destreza , na agilidade de seus corpos e principalmente na malandragem que é o ponto alto desta luta quando o capoeira sempre pega seus adversário de surpresa e nunca é surpreendido.

José Gabriel Góes , o Gato , e Vermelho, o seguidor de Bimba, têm academia de capoeira; Waldemar da Paixão faz berimbaus para os barraqueiros do Mercado Modelo  vender aos turistas, e também berimbaus especiais para os grandes capoeiras; Wasghinton Bruno da Silva , o Canjiquinha já teve academia e hoje é um humilde funcionário da Prefeitura de Salvador; João Oliveira dos Santos, o João Grande é lavador de carros num posto de gasolina e nas horas vagas  trabalha tocando berimbau para um grupo folclórico dirigido pelo capoeirista chamado Vermelho 27, ex -discípulo do mestre Pastinha; Rafael Alves França, o Cobrinha Verde está doente e residindo em casa do seu filho Júlio, seu discípulo e grande capoeirista , o que forçosamente o substituirá.

É bem verdade que o capoeira desde o seu surgimento foi considerado um marginal , um delinquente e a sociedade o vigiava e haviam leis penais para enquadrá-lo e puni-lo. O Código Criminal do Império do Brasil de 1830 considerava o capoeira um vadio sem profissão definida razão porque estava implicitamente enquadrado  no Capítulo IV, Artigo 295, que trata dos Vadios e Mendigos. Já o Código Penal da República dos Estados Unidos do Brasil , instituído pelo Decreto Número 847 de 11 de outubro de 1890 deu-lhe tratamento específico no Capítulo XIII, intitulado : Dos Vadios e Capoeiras e estipulava prisão celular por dois a seis meses e aos chefes ( mestres) a pena seria em dobro. Houve vários conflitos entre capoeiras e autoridades ao ponto do assunto  ser discutido como segurança nacional nos últimos dias do Império e quatro  anos primeiros da República. Os conflitos quase obrigaram ao marechal Deodoro da Fonseca destituir seu gabinete, sendo o estopim o temido capoeira Juca Reis ( José Elísio Reis), filho do primeiro Conde de São Salvador de Matosinhos. Ele desafiou a autoridade de Joaquim Sampaio Ferraz, primeiro Chefe de Polícia da República que punia os capoeiras e o caso terminou na sessão do Conselho de Ministros. Na Bahia o Chefe de Polícia , Pedro de Azevedo Gordilho, o Pedrito, ficou famoso por perseguir o candomblé e os capoeiras . Mas , foi em 1937 que Manoel dos Reis Machado . O Bimba conseguiu registrá-la na Secretaria de Educação . Veio a ascensão quando o interventor Juracy Magalhães mandou um soldado à academia de Bimba entregar-lhe um ofício , solicitando o seu comparecimento ao Palácio. Bimba avisou a seus alunos se não retornasse era porque estava preso. Lá foi surpreendido por um convite para mostrar sua capoeira a diversas autoridades que visitavam a Bahia. De perseguida a capoeira ganhou os colégios, as praças, e hoje é uma das fortes manifestações da cultura afro-brasileira. 

                                                   A RODA E O BERIMBAU

Para existência de uma roda de capoeira é preciso, antes de tudo de um bom tocador de berimbau. O berimbau é um instrumento constituído por uma vara de pau que pode ser de araçá, pombo, ou outra madeira qualquer que tenha a elasticidade que permita que o mesmo seja dobrado em forma de meia lua , pois em suas extremidades é preso um arame de aço sob tensão. A caixa de ressonância é uma cabaça de tamanho regular e segundo o grande fabricante de berimbaus , o mestre Waldemar da Paixão – a cabaça tem que ser fixa, além de uma moeda de cobre, uma vareta e um caxixi. É o berimbau quem dita o jogo e a música envolvente que sai dos vários toques e seduz os presentes. Mas, quem puxa a ladainha é o mestre que funciona como solista , e sempre acompanhado pelo coro de seus alunos. Além do berimbau é necessário um bom pandeiro, reco-reco e as palmas dos presentes para o “jogo” ou a brincadeira esquentar. A cada toque do berimbau corresponde  uma modalidade de “jogo”. Os versos não possuem métrica ou rima. São na maioria das vezes improvisados e sempre ligados a temas que revelam suas raízes populares. A melodia é de compasso binário e a harmonia é simples, porém envolvente.

Os capoeiristas agachados , na “cocorinha” como eles chamam, ouvem a música atentamente e quando a ladainha termina começam a luta, e o coro entra “É faca de matar, camarada/ É, é, é mandingueiro, camarada//É, é, galo cantou, camarada/ É, é, cocorocó, camarada”. Os capoeiristas se benzem, com sinais característicos do cristianismo ou do candomblé em seguida cumprimentam-se com um aperto de mão e saem em começando o “jogo”, a luta, enfim a capoeira. Os corpos negros lançam-se no ar e no chão cada um procurando atingir o parceiro, com rasteiras, bênçãos, martelos, cabeçadas ou rabos-de-arraia e uma infinidade de golpes  que sempre são introduzidos pelos mestres da capoeira. Os golpes são dados enquanto os capoeiristas ficam gingando o corpo de um lado para outro . É uma parte de fundamental importância da capoeira.

                                                            MUITO FORTE

Gato,"João Pequeno e Canjiquinha numa mesa de bar
 no Largo do Terreiro de Jesus falam da capoeira.

A capoeira é tão forte e autêntica que vem resistindo a tentativa de folclorização e mesmo de
enfraquecimento que ocorre em algumas academias de capoeira ,mas não conseguem acabar a sua autenticidade. Pelo contrário, seus mestres tradicionais teimam em ensiná-la a seus filhos e amigos mais queridos, cada um dentro da sua ótica defendendo esta luta, em suas academias que funcionam em locais de difícil acesso e até mesmo em salas emprestadas por entidades de bairros localizados na periferia de Salvador. Este fantástico balé dos negros é cultivado com muita garra e malícia e ninguém sabe exatamente a sua origem.

Os dois grandes mestres já falecidos , Manuel dos Reis Machado, o Bimba ( 1900-1973) e Vicente Ferreira Pastinha, o Pastinha ( 1889-1981) discordam sobre a origem. Bimba, que não se unia com Pastinha, defendia que a capoeira teria surgido nos engenhos do Recôncavo baiano e Pastinha dizia que veio de Angola, daí ter denominado a capoeira  que ensinava de capoeira de Angola, e Bimba batizou a sua de capoeira Regional. A diferença básica entre as duas escolas está nos golpes originais, pois a Regional aproveita mais o “jogo baixo”  e rasteiro com mistura de outras lutas, enquanto a Angola usa os golpes altos e floreios.

Para o etnólogo Waldeloir Rego, autor do ensaio sócio-etnográfico “Capoeira de Angola” , “tudo leva a crer seja a capoeira uma invenção dos angolanos que aqui chegaram”.

Existem vários golpes a saber:

Negativa -  é um golpe de defesa e contra-ataque. O capoeirista nega o corpo ao golpe do adversário, caindo para trás , com o pé, arrasta o pé de apoio do outro derrubando-o.

Vôo morcego - consiste em pular com os dois pés no peito do adversário derrubando-o.

Tesoura - é um golpe desequilibrante. O capoeirista usa as pernas como se fosse uma tesoura aberta. Ao alcançar o adversário ele fecha as pernas e dá um giro no corpo derrubando-o.

Rasteira – um bom capoeirista tem que saber dar boas e rápidas rasteiras.É o golpe tradicional do desequilíbrio quando o adversário é surpreendido e cai de vez ao chão recebendo em seguida outros golpes. O capoeirista apóia-se ao chão com as duas mãos e arrasta o adversário.

Benção – com a planta do pé e a perna flexionada o capoeirista atinge o peito do adversário com força e ainda empurra-o.

Martelo – este golpe consiste num pontapé lateral visando atingir o adversário à altura dos rins ou no rosto. É um golpe traumatizante e dói muito quando pega de cheio.

Cabeçada – outro golpe altamente característico da capoeira consiste em atingir o adversário com a cabeça. Existem vários tipos de Cabeçadas, sendo a mais perigosas a escurrumelo, ensinada pelo temível mestre Bimba, quando o capoeirista atinge o peito e o maxilar do adversário a um só tempo.

– é o movimento de defesa , de fuga e de ataque . O capoeirista apóia as mãos no chão e gira no ar , caindo de pé a alguns metros do adversário.

Rabo-de-arraia – é outro golpe tradicional , aqui o capoeirista apóia as mãos e um pé no chão e gira o corpo rapidamente com uma perna estirada indo atingir o adversário no rosto.

Estes são os principais golpes de capoeira, mas como é uma luta fruto do seu próprio informalismo outros golpes são sempre criados e incorporados em cada roda de capoeira por seus respectivos mestres.

Quanto aos toques de berimbau mais famosos da capoeira existem:

São Bento Grande é um toque ligeiro e alto, e o jogo é violento.

Benguela – é um toque lento , e o jogo é de dentro , com ginga lenta e golpes rápidos

Iúna – é toque também lento, e o jogo baixo, lento e bastante floreado. Marca os níveis hierárquicos dos mestres e dos alunos. Dizem que é um dos mais difíceis e Bimba criou baseado no pássaro Iúna quando o macho corteja a fêmea.

Cavalaria – é um toque de aviso, quando os capoeiristas eram perseguidos pela Polícia e avisavam através deste toque a presença dos soldados.

São Bento Pequeno – o mestre Bimba considerava o Hino da Capoeira.

 Amazonas – é um toque para o jogo com facas. Muito perigoso, geralmente só os grandes capoeristas praticam.

São Bento Grande de Angola – é um toque lento, e o jogo é lento onde predomina o floreio e serve para demonstrações , pois os assistentes ficam embevecidos com a agilidade dos floreios dos capoeiristas.

O mestre Waldemar , tocando berimbau ao lado de
 Cobrinha Verde  observam a brincadeira de dois alunos.


           CAPOEIRAS FAMOSOS DA BAHIA

Os grandes focos de capoeiristas eram Pernambuco, Rio de Janeiro e Bahia, onde desde o seu surgimento que grandes espaços foram usados nos jornais e revistas sobre a delinquência dos capoeiristas . Existem nomes famosos como de Nascimento Grande registrado no livro de Odorico Tavares também por Gilberto Amado . No Rio de Janeiro existiu o temível Manduca da Praia que, segundo Melo de Morais “conhecido por toda a população fluminense considerado como homem de negócio, temido como capoeira célebre, e eleitor crônico da freguesia de São José, apenas respondeu a 27 processos por ferimentos leves e graves , saindo absolvido em todos eles pela sua influência pessoal e dos seus amigos”. Na Bahia, falam os antigos de Besouro de Nagé. Mais recentemente os mestres Bimba e Pastinha, ambos falecidos. Os vivos mais importantes percorreram locais históricos juntamente com este repórter, os locais dantes palcos de muitas brigas e demonstrações da agilidade dos capoeiras. Estiveram no Largo do Pelourinho , no Terreiro de Jesus, no Farol da Barra, na Ponta de Humaitá e em bairros da periferia. Onde chegavam ,começava a roda de capoeira com os berimbaus e pandeiros esquentando a “brincadeira”. Entre eles estava Rafael Alves França, o Cobrinha Verde, que aos 74 anos de idade, embora tenha afirmado “ já estou fora de forma”, não se conteve quando a roda foi formada no Terreiro de Jesus, e assim pode mostrar por alguns instantes a sua malandragem e perícia. Ele recentemente vinha ensinando a alunos de um colégio particular com a ajuda de um aluno mais experiente seu. Relembrando seus feitos e bravuras contou que uma noite vinha de um baile chamado de “Baile da Jega “, quando uma patrulha mista o interceptou e pediu documentos. Estávamos em plena guerra quando havia toque de recolher às 21 horas . Daí Cobrinha Verde deu testa derrubando dois e tomando uma pistola com a qual botou os demais para correr. Mas, a luta mais bonita certamente é a entre João Pequeno e João Grande . O João Pequeno que, foi a segunda pessoa do mestre Pastinha, foi o mestre de João Grande. É dentre os mestres um dos que mais truques de ataque e de defesa conhece. A luta entre os dois é uma verdadeira aula de balé. Tem um caráter excepcional e uma humildade à toda prova do João Pequeno. Fala pouco e sempre lembra Pastinha, tece muitos elogios ao mestre,  maior da capoeira de Angola, sobretudo no diálogo mantido com os capoeiras mais antigos.

Outros estudiosos afirmam que possivelmente foram os negros angolanos que inventaram ou mesmo trouxeram a capoeira porque eles não eram eleitos ao trabalho escravo, foram os primeiros escravos a serem trazidos e eram insolentes, loquazes, imaginosos e sem muita persistência para o trabalho, mas cheio de manhas . E a capoeira é manha acima de tudo. Mas, a capoeira é uma só, embora pequenas diferenças e as desavenças entre os grandes mestres ainda existem . Sim, porque capoeira quer seja Angola ou Regional tem ginga, tem música, tem berimbaus, pandeiros, toques e golpes que servem para criação de novas variações. Mas, o método de jogar, o envolvimento e outros elementos que a caracterizam estão presentes em qualquer roda de capoeira. Esta posição discorda de Edson Carneiro, que afirmou existir nove tipos de capoeira. Ela é uma só e as diferenças entre a chamada Capoeira de Angola e a Capoeira Regional não conseguem seccioná-la. Assim , os golpes cinturados ou ligados usados na Regional podem também , de quando em vez, serem utilizados por um capoeira de Angola ao improvisar . Elas na realidade vêm do mesmo tronco e a ele estão presas.

OS MESTRES AUSENTES

A Bahia teve grandes mestres hoje falecidos. E os dois mais recentes ,os quais tornaram-se conhecidos em todo o país foi Manoel dos Reis Machado , o Bimba, e Vicente Ferreira Pastinha, o Pastinha falecido no dia 13 de novembro de 1981 em Salvador, aos 92 anos de idade. Bimba começou lutando capoeira Angola e depois aprendeu golpes de outras lutas e adapto-os à capoeira. Isto criou mais desavenças entre os capoeiristas . Bimba era uma pessoa camarada com os desconhecidos e uma figura singular com seus alunos e amigos. Gostava de esbravejar com facilidade e chamar seus adversários para um duelo. Foi a primeira academia de capoeira criada e chama-se até hoje de Centro de Cultura Física e Capoeira Regional, na década de 1930 quando ainda as autoridades consideravam o capoeira ou capoeirista um delinquente perigoso. Mas, não tendo nem o curso primário Bimba foi suficientemente inteligente para usar seus discípulos e conseguir registrar sua academia na Secretaria de Educação. Era duro e exigia muito de seus alunos como por exemplo não permitir o uso de cigarros e bebidas .Recomendava que seus alunos evitassem demonstrar a seus amigos fora da Academia os seus progressos  porque no seu entender a surpresa  era a melhor arma de uma luta .Assim viveu lutando ensinando o que aprendeu.O mestre Bimba faleceu em 5 de fevereiro de 1974, no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Coiás,em Goiânia. 

Já Pastinha era um mulato baixinho, franzino e de diálogo fácil. Criou seu Centro Esportivo de Capoeira de Angola em 1941 que funcionou durante muitos anos no casarão de número 19 no Largo do Pelourinho. Porém, com a ascensão do local sua academia foi fechada e quando já estava cego nos seus últimos anos de vida deram-lhe uma sala num local que ele não gostou. Morreu pobre como indigente no Abrigo Salvador no mês de novembro do ano passado. Ambos, Bimba e Pastinha morreram  quase na miséria , fruto do próprio informalismo que é a capoeira . Por mais que tentam organizá-la  esta luta parece resistir a  voltar às ruas e becos, onde estão os elementos fortes que possibilitaram a sua criação. O negro, a pobreza e a opressão. Mas, numa entrevista dada há muitos anos a uma revista do sul do país Pastinha revela que os mestres João Pequeno e João Grande ,ambos não foram seus alunos, eles já chegaram à sua academia jogando boa capoeira e tornaram-se seus contra mestres por vários anos.

O mestre Waldemar da Paixão é respeitadíssimo. Nenhum dos grandes mestres de capoeira ousa falar em capoeira na Bahia sem citá-lo. Hoje é o principal fabricante de ”  berimbau que toca”, porque muitos são enfeite de turista . Sua academia funcionava na Estrada da Liberdade e atualmente não quer saber de academia. “Tive muito desgosto com alunos. Ás vezes agente prepara o aluno e quando está no ponto vem os donos desses grupos folclóricos e levam s alunos oferecendo dinheiro e roupa”. Foi ai que o mestre Canjiquinha ( Wasghinton Bruno da Silva) interrompeu e disse: “A gente faz força e eles ficam vermelhos”.

Canjiquinha foi discípulo de Aberré um temível capoeirista, já falecido. Ele está com 56 anos de idade, aposentado e atualmente trabalha como contratado numa repartição da Prefeitura de Salvador. É o mais brincalhão de todos os capoeiristas vivos. Gosta de cantar e com duas cervejas na banca é capaz de demonstrar sua agilidade. Tem grande facilidade de improvisar toques e cantigas de capoeira, e é , segundo Waldemar Rego, estudioso da capoeira, o que mais tem contribuído para adaptação de outros cânticos de folclore à capoeira.

Já o mestre José Gabriel Góes, o Gato, nasceu em 1929, está portanto com 52 anos , embora aparente bem menos. É ainda o mais ágil , daí o seu nome também por sua astúcia felina, como arma e se safa dos golpes dos seus adversários. Sua academia continua funcionando e tem bons alunos. Existem ainda muitos mestres de capoeira com vários alunos e novas propostas . Mas os reunidos nesta reportagem representam o que de mais importante existe na capoeira no Brasil. São velhos mestres donos de grande sabedoria popular adquirida nos becos, ruas e vielas. São verdadeiros sábios no seu ofício e sempre entre eles existem pequenos senões, os quais tiveram que ser vencidos para que fossem fotografados e entrevistados juntos. Esqueceram , o passado e brincaram juntos. As mágoas , os desafios e outros ressentimentos deram lugar ao bater firme do pandeiro, ao balançar do reco-reco e do caxixi e principalmente ao som indescritível do berimbau que lhe dá sempre força a continuar a batalha ,mesmo com a força de todos os anos vividos.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

sábado, 16 de janeiro de 2021

A SENSAÇÃO DE RECOMPENSA

MINHAS REPORTAGENS 212 - REVISTA FATOS E FOTOS GENTE Nº 996 - 22 DE SETEMBRO DE 1980 - RIO DE JANEIRO - BRASIL

sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

PROFESSORES MILITANTES NÃO GOSTAM TRABALHAR.

Os "zelosos" defensores da autonomia universitária
protestam contra a presença da polícia no campus
.
Quando era professor assistente na Faculdade de Comunicação da Ufba, lembro de greves intermináveis de mais de três meses decididas por uma minoria de militantes de esquerda. Isto criava um clima de desencanto entre os alunos que queriam estudar, e nos poucos professores que gostavam do seu ofício de ensinar. Greves sendo pautadas por assuntos políticos , e as questões acadêmicas sempre vinham de reboque em segundo plano. Quase sempre as greves tinham como objetivo protestar contra alguma ação governamental ou por buscas de  mais vantagens do Estado provedor, que tanto sustenta as narrativas da esquerda.

Portanto, esta falta de disposição de trabalhar dos professores militantes é antiga, principalmente na área das ciências humanas. Eles são hábeis em aliciar e doutrinar. Usam de bolsas de estudo, projetos de pesquisas financiados por órgãos ligados ao Ministério de Educação e outros organismos até internacionais para manter um séquito de estudantes e futuros militantes ao seu lado. Isto funciona através as várias chefias de  departamentos e coordenações, tudo remunerado como cargos de confiança, e os estudantes também recebem como ajuda de custo.  Mais grana para os militantes! 

Quando o atual Ministro da Educação baixou uma portaria no final do ano passado tentando determinar uma data para  reinício das aulas, os reitores, a maioria nomeados por presidentes de esquerda se posicionou contra, e a portaria, infelizmente, foi revogada. Foi baixada uma nova portaria para que os reitores e professores militantes decidam se querem ou não ensinar. Até agora nada foi resolvido, e o ano de milhares de alunos universitários está perdido sem uma explicação plausível. Já estamos em 2021, e não vemos uma ação afirmativa para que as aulas sejam iniciadas.

Lembro que para evitar a intromissão externa no ambiente universitário foi estabelecida a autonomia universitária . Os campus se tornaram ilhas onde os policiais não podem entrar para patrulhar ou impedir, por exemplo, uma depredação. Isto se fortaleceu de tal sorte que autonomia universitária se transformou no Brasil numa quase soberania. Os campus parecem estados soberanos invioláveis. Caiu a sopa no mel, porque estão praticamente inacessíveis às fiscalizações e controle, e hoje, encontram-se sob o comando de reitores , professores e servidores de esquerda.

As universidades foram aparelhadas durante as últimas décadas   começando no governo Sarney, e depois de FHC, Lula e a Dilma. Nos campus podem ser realizadas as mais incríveis barbaridades como peças sobre o cu, pichar  paredes e móveis com palavrões contra autoridades, festas regadas a álcool e drogas ilícitas,e os traficantes têm acesso livre.  Vendem-se bebidas alcóolicas , até em salas de diretórios acadêmicos. As imagens estão ai nas redes sociais para quem quiser ver.

Três dos traficantes que operavam, segundo a
polícia civil da Paraiba, no campus universitário.

Recentemente, na Paraíba descobriu-se que uma unidade era sede de uma boca de fumo e as drogas eram guardadas ali e distribuídas. Todos sabem que o ambiente universitário é propício para o consumo de drogas, e a polícia não pode entrar.

 Lembram da medida  que o então governador Leonel Brizola ,do Rio de Janeiro, tomou proibindo a polícia de subir às favelas  para proteger uma parente ? Agora, coube ao ministro Edson Fachin proibir novamente a polícia carioca de subir aos morros do Rio de Janeiro. Desta vez  "por causa da pandemia". Não é piada . E, assim vão se criando ilhas e ambientes favoráveis à violência, desordem e o tráfico de drogas. Fotos do Google.

NR-  Não quero aqui generalizar, mas hoje grande parte de reitores, professores e funcionários reza na cartilha da esquerda. Evidente que existem reitores,professores e funcionários que não são de esquerda, mas evitam se manifestar com medo de represálias.





quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

O TRISTE LEGADO DE DUAS ADMINISTRAÇÕES NA BAHIA

 

O líder deles que aparece ai colocou o país na
maior crise de sua História. Os dois parceiros
colocaram a Bahia nos piores lugrares entre os
estados brasileiros.
Estamos assistindo dia após dia o Estado da Bahia descendo a ladeira depois de quase 20 anos de governos petistas. A comprovada má gestão do carioca Jacques Wagner piorou com a herança maldita deixada para seu sucessor e comandado  Rui Costa que de uma forma cruel abandonou o turismo e  a infraestrutura, fechou escolas,deixou desabar o Centro de Convenções, fechou a Bahiatursa, o Instituto Mauá, a Ebal, a Ebda, o Parque de Exposições Agropecuárias , não se importou com a escalada da violência , não fez quase nada para diminuir a poluição dos rios e riachos em Salvador e de outras principais cidades baianas. A Embasa é um simulacro do que já foi em governos passados, e durante estes governos não fez nada significativo de esgotamento sanitário em Salvador, a não ser jogar os esgotos para dentro da Lagoa do Abaeté. A denúncia foi feita, as obras continuam, e até agora nem uma explicação plausível.

Num artigo publicado recentemente num jornal local o ex-secretário de Planejamento ,Waldeck Ornelas fez uma rápida análise sobre os males que está sofrendo o nosso Estado. Éramos o quarto pib da Federação e agora somos o 7º. Com relação a Região Nordeste ,caiu de 39%  em 1995 para 28,5%. No turismo Fortaleza está à frente de Salvador e o nosso Aeroporto  perdeu a primeira posição no Nordeste em movimento de passageiros. Ainda ocorreu o encolhimento do Pólo Petroquimico e de todo parque industrial na Bahia. Com o lockdown declarado por ele ,o prefeito ACM Neto e outros prefeitos do interior do Estado  devido a pandemia centenas de pequenas e médias empresas fecharam suas portas, elevando o número de desempregados. 

Por último a Ford sempre ávida por incentivos anunciou há dois anos nos Estados  Unidos que ia deixar de fabricar carros de passeio e focar em camionetes e caminhões. Agora fecha sua fábrica em Camaçari, perdeu para concorrentes europeus e asiáticos, deixando 5 mil desempregados entre empregos diretos e indiretos.

Centro de Convenções foi abandonado até
desabar por falta de manutenção adequada.
Com relação a Educação o legado dos governos petistas são escolas fechadas e seus prédios vendidos
para fazer dinheiro entre eles os Colégios Odorico Tavares, no Corredor da Vitória,e o Colégio Raphael Serravalle, no fim de linha do bairro da Pituba, prejudicando milhares de estudantes.  Também, mostrando mesquinhez mudando o nome de quatro colégios que faziam homenagem ao ex-deputado Luis Eduardo Magalhães e ao ex-senador Antonio Carlos Magalhães assinado pelo atual e desconhecido secretário de educação. Antes todos sabíamos os nomes dos secretários de Educação como Anísio Teixeira, Navarro de Brito, Rômulo Galvão, Edvaldo Boaventura. Agora ? Nem é bom saber...

As mudanças de nomes foram do  antigo Colégio Estadual Governador Antônio Carlos Magalhães , em Várzea da Roça,virou o nome de uma professora local. As outras de Boquira , o de Malhada,   e o de Fátima foi rebatizado com o nome de Paulo Freire, o mesmo que criou um método que rebaixou o índice de educação em todo o país, inclusive colocou a Bahia num dos últimos lugares há quatro anos seguidos. Em Uauá o Colégio Estadual coronel Jerônimo, um líder político local, virou Colégio Estadual Integração Lagoa do Pires. O nome do Colégio Estadual Governador Roberto Santos , em Paripiranga , também mudou para Colégio Estadual Doutor José Carlos Bezerra de Carvalho. Na realidade além de mesquinhez  é desrespeito ao contexto histórico e aos homenageados. É este o legado de Rui Costa e seu "competente" secretário à educação deixam para  nossa Bahia. Fotos Google.




terça-feira, 12 de janeiro de 2021

MARTIN, O VENDEDOR DE QUEBRA-QUEIXO

São lembranças de um tempo
de amizades verdadeiras
.
O tabuleiro era reluzente, extremamente limpo e a faca, com o cabo de madeira, brilhava de longe sob o sol escaldante de mais de 30 graus. Percorria toda a Cidade com suas ruas dominadas por um areal que queimava os pés quando a gente andava de alpercatas ou sandálias de couro cru. Ainda não existiam as populares sandálias japonesas, que depois se tornaram as havaianas, devido a um fabricante que dominou o mercado. 

A cada 10 ou 15 passos ele gritava mercando seu quebra-queixo de cor amarelada deixando aparecer pedacinhos de coco. Uma delícia que até hoje lembro do seu sabor inconfundível. Todos os dias invariavelmente ele saía às ruas e tinha  muitos clientes que se deliciavam com aquela iguaria doce que esticava e grudava nos dentes. 

Ele mesmo fabricava seu quebra-queixo e não contava a ninguém a sua receita. Era guardada a sete chaves desde que herdou  o saber de seu pai. Era um senhor bem moreno , que antes a gente podia  chamar de mulato, mas que a imbecilidade do policamente correto, imposto nos dias de hoje , quer proibir. Tinha  cerca de um 1,65  de estatura e braços firmes, e quando não estava trabalhando usava um chapéu de feltro Prada.

Cortava o quebra-queixo em fatias generosas e servia parcialmente embrulhadas em papéis coloridos que comprava em fardos na loja do senhor Fernando , localizada  na Praça Getúlio Vargas. Os papéis eram previamente cortados em pedaços retangulares e ficavam enfiados num arame preso ao cavalete de madeira que carregava no ombro , enquanto o tabuleiro vinha na cabeça.

Ele tinha uma agilidade especial em abrir e fechar o cavalete para imediatamente descobrir o tabuleiro e começar a cortar a fatia desejada pelo cliente. Portanto, era um serviço trabalhoso e cansativo  , mas que  fazia sempre com um sorriso no rosto a gritar mercando sua especiaria.

Não existiam muitas opções de lazer em Ribeira do Pombal   a não ser uma pelada num campo de futebol da Rua da Ribeira ou  atrás do Quartel . Ele não tinha mais idade para bater bola com a molecada, portanto , quase ficava sem opção. Até o dia em que chegavam as chuvas de inverno ou as trovoadas nos meses de outubro a dezembro. Aí as lagoas e tanques enchiam , até mesmo alguns riachos temporários se formavam. Com as enchentes logo apareciam alguns peixes ainda em tamanhos reduzidos. Como em Ribeira do Pombal não tem rio ou mar  não havia qualquer controle. Mesmo porque o  defeso na época do crescimento ou na desova dos peixes é coisa nova em nosso país. 

Assim, o Martin do quebra-queixo sempre pegava sua vara de pescar, feita  de unha-de-gato ou de outra árvore  do sertão, e ia lá dar um banho nas minhocas ou nas piabinhas, que antes pegava no Zimpreste, hoje, transformado pela Prefeitura num esgoto a céu aberto.  O Zimpreste era o único riacho permanente que existia , logo na entrada da Cidade, e foi totalmente aniquilado por administrações municipais insensíveis e despreocupadas com o meio ambiente. 

O Zé de Ana ,  de chapéu, e ao lado alguns
amigos e clientes. Foto de Hamilton Rodrigues
.
 A pescaria só acontecia depois de seu expediente   pelas ruas da Cidade. Geralmente ia solitariamente   antes  que o senhor Tidinho ( Agenor Soares Silva)   apagasse as luzes   por volta das 22 horas.

 As noites no sertão costumam ser agradáveis e até   esfriam em determinadas ocasiões. A lagoa do   Caboré estava cheia,e também as  do lado do   Sítio, nas   margens da Br -110. Lá se foi o Martin   todo   esperançoso de uma boa pescaria . Com   certeza   imaginava pegar umas traíras ,   corrós,   jundiaís e caboges, estes conhecidos em outras regiões por tamoatá ou caborja. Por volta das duas horas da   madrugada já tinha conseguido fisgar alguns peixes quando ouviu uma voz que não conseguia identificar de onde vinha  naquela escuridão. A voz estranha gritava: "Martin quer enricar?" Ele parava de pescar e ouvia atentamente tentando localizar e identificar de quem era e de onde vinha. Nada! Depois de ouvir a pergunta várias vezes ficou assustado e resolveu arrumar seus apetrechos de pesca  e voltar para casa . Lá chegando foi logo contando a mulher o acontecido. A companheira  de pronto  o chamou de besta por não ter respondido imediatamente .

 Ela já sonhava com uma casa bonita, um carro , os meninos numa escola particular , enfim, com sua vida arrumada. Combinaram e resolveram ir juntos para a pescaria. Quase no mesmo horário do dia anterior a voz surgiu ecoando forte no meio daquela escuridão. "Martin quer enricar? ". A mulher sacudiu o seu braço, e a vara escapuliu , quase perde. Diga, diga que quer Martin, insistia a esposa.  Martin encheu o peito e gritou a todos pulmões. Queeero... Queeero ! ". A voz cavernosa silenciou, e uns segundos  depois respondeu: "Dê o rabo !". 

Foi um constrangimento e uma decepção indescritíveis. Martin pegou a peixeira, aquela mesma reluzente que ele cortava o seu quebra-queixo e saiu de um lado para o outro tentando localizar o moleque que fez aquela brincadeira de mal gosto em frente a sua esposa. Não conseguiu localizar ninguém. Jogou o bocapiu de palha  no ombro e voltou para casa decepcionado. Não conseguiu dormir e quase não ia trabalhar.

Existia uma barbearia ao lado da casa do líder político , que fora várias vezes prefeito,  José Domingues Brito e Silva, conhecido por  Ferreira Brito, que dominou a política pombalense durante décadas . Quem comandava a barbearia era o Tonho Motor (Antônio Florêncio Rocha) ,tocava trombone na orquestra ,além de ser marceneiro, e com ele trabalhava  Zequinha Barbeiro (José Ribeiro dos Santos) . Era um negro  muito brincalhão e contador de causos. Ele sempre tinha histórias novas para contar. Este assunto chegou na manhã do dia seguinte e deram muitas gargalhadas. 

 Quando a gente chegava de férias de Salvador onde estudávamos no Liceu Salesiano,  Maristas  ou  Colégio Antônio Vieira e precisávamos cortar o cabelo , lá estavam os dois . Zequinha com seu riso mostrando a dentadura branca e uma falha de ouro num dente  , e o senhor Antônio  , mais conhecido por Tonho Motor.

Neste dia fui cortar meu cabelo e a conversa era sobre a riqueza frustrada de Martin do quebra-queixo. Riam de se embolar, como se diz por lá. Quando o Martin surgiu na praça Getúlio Vargas por volta das 14 horas  com o seu tabuleiro reluzente ouviu alguém gritar da esquina : "Martin quer enricar?" E, na outra esquina  responderam : "Dê o rabo!" Ah! Martin sacou da peixeira e correu em direção às esquinas. Lá chegando não via ninguém. Isto se repetiu várias vezes e dias seguidos.

Como era novidade a notícia se espalhou entre os frequentadores do bar de Antônio Pelanca  ( Antônio Galdino Borges) , que ficava na praça ao lado da casa de d. Maria Freire , onde hoje está o Banco do Brasil. Também, o pessoal do Bar Quitandinha, que foi fundado por tio Joãzito,  depois passou por vários donos, e está agora  está dando lugar a  uma sapataria, e em outros botecos e lojinhas da Cidade .

Pedi ao amigo Hamilton Rodrigues que procurasse saber de alguém que lembrasse deste fato. Na conversa que  manteve com o Zé da Ana, (José Rodrigues) , do Bar do Chapa, foi  confirmado . Só que  segundo Zé de Ana  os moleques gritavam "Martin quer enricar?", e o outros respondiam "Vá trabalhar!". Mas, tenho a lembrança que a resposta era mais forte, e foi isto que entristeceu o vendedor de quebra-queixo. Martin perdeu a vontade de sair mercando seu produto. Vieram as primeiras dificuldades financeiras . Meses  depois Martin decidiu de vez abandonar Ribeira de Pombal. Soube que se estabeleceu na cidade de Vitória da Conquista. Ninguém alí sabia de sua pescaria , do builling que sofreu, e nunca mais soubemos  dele.