Objetivo


sábado, 26 de fevereiro de 2022

O HOMEM QUE APRESENTOU O JUDÔ AOS POMBALENSES

O judô ajuda na melhoria do físico dos jovens  e na
formação de cidadão e cidadãs com valores nobres.
 E
m pleno sertão da Bahia um abnegado implantou   uma academia para ensinar judô a todas as pessoas   que se interessarem em praticar atividade física,   especialmente aprender a se defender numa hora de   grande necessidade. O judô  é uma arte marcial   praticada como esporte. Foi criado por Jigoro Kano   em 1882, o judô é uma adaptação do jiu-jitsu, que   tem por objetivo desenvolver técnicas de defesa   pessoal, fortalecer o corpo, o físico e a mente de   forma integrada. Foi considerado o esporte oficial        no Japão no final do século XIX.

 O nome do professor de judô é Vlademir Borges Matos, de sessenta e um anos de idade, natural da localidade Fazenda Cruzeiro do Sul, no município de Araci, Bahia,  onde nasceu em 10 de janeiro de 1961. Foi ele que apresentou aos pombalenses esta luta que foi abraçada por muitos. Hoje tem uma academia com alunos de todas as idades. Seu pai Valdemar Moreira de Matos é pedreiro e carpinteiro e sua mãe Maria São Pedro Borges Matos, conhecida por Mariá,  já faleceu . O casal teve sete filhos: Marivalda ( falecida), Vilmar, Vlademir,Vladson, Myrtes e Maryvânia (falecida).

Momento de emoção Vlademir beija
seu irmão Vladson.
Desde cedo vem batalhando por sua sobrevivência tendo na infância frequentado as feiras livres das cidades de Serrinha e Araci,na Bahia, onde juntamente com seus pais vendiam cebolas, e ao lado mantinham  uma caixa de isopor com os  picolés e os geladinhos feitos por sua mãe Mariá. Durante a semana estava vendendo picolés e geladinhos ou trabalhando como ajudante de seu pai Valdemar.Foi seu irmão Gilmar que lhe ensinou os primeiros passos do judô, o  qual mandou fazer dois kimonos utilizando o mesmo tecido que é usado  para fazer sacos de açúcar. Vilmar o matriculou na Associação de Judô  Conde Koma, em 1972, tendo como professor o sensei Mário Bento, já  falecido. Quando este precisou se ausentar coube aos professores  Ernesto Peleteiro , também falecido, e Geraldo Moreira continuar ministrando as aulas para os atletas.

Atualmente, o professor Vlademir Borges Matos é formado em Educação Física, Pós Graduado em Gestão Esportiva, Kodansha 6º Dan pela Confederação Brasileira de Judô, 1º Vice Presidente da Federação Baiana de Judô, com mandato até 2024, atuando como professor e coordenador do Projeto Judô nas Escolas, em Ribeira do Pombal. 

Uma das primeiras turmas que ingressou na academia .
O nosso personagem veio para Ribeira do Pombal em 1978 atraído pelos festejos da padroeira Santa Tereza D'ávila que comemoramos  no dia 15 de outubro. Aqui constiuiu família e teve três filhos: Lúcio Monteiro Borges Matos, que é faixa preta 2º Dan; Rhalf Almeida Matos, também faixa preta ,3º Dan e Luan Almeida Matos, faixa preta 1º Dan. Atualmente é casado com Vanessa Lima Matos e o casal tem um filho Gabriel Lima Matos, faixa amarela, portanto, todos os quatro filhos estão seguindo os passos do pai praticando o judô.

Conta Vlademir Matos que em 1979 foi aprovado  no concurso da Ematerba, onde foi chamado em 1981 e assumiu o cargo de auxiliar de administração, optando por vir trabalhar em Ribeira do Pombal, porque  sua irmã Marivalda era casada com um pombalense e morava aqui.

                                                    COMO COMEÇA O JUDÔ

Já adaptado à Cidade decidiu em 31 de março de 1985 fundar em Ribeira do Pombal , com a ajuda do então prefeito Pedro Rodrigues Conceição, uma escola de judô. O prefeito doou uma lona, mas com uma condição. Na época de bater feijão a lona seria utilizada pela população rural. A lona doada era usada diariamente  para cobrir o pó de serra que servia para amortecer a queda durante os treinamentos dos atletas. Assim foi feito o primeiro dojô, que é a área de treinamento, num depósito ao fundo da casa de Antônio de Alfredo tendo os primeiros alunos, Walter Júnior, filho do sr. Antônio  Passos, e Adelino Silva, que trabalhava na Loja Magazine Pinho. O nome da escola de judô era Judô Irmãos Matos, porque seu irmão Vladson resolveu também vir morar em Ribeira do Pombal. Meses depois mudaram o nome da escola para Associação de Judô Pombalense. 

Nem tudo foi fácil. Conta Vlademir que de 1985 até 2010 enfrentaram grandes dificuldades para continuar apresentando a força do judô pombalense, e assim saía de porta em porta do comércio local e da Prefeitura solicitando ajuda para continuar o seu trabalho. Em muitas viagens dos atletas precisava de dinheiro para as passagens terrestres e até aéreas. Muitas vezes ele e os atletas dormiram em salas de aulas e embaixo de arquibancadas de estádios. Fizeram muitas viagens desconfortáveis e inapropriadas para os atletas. Numa dessas viagens foram assaltados  e um deles o ameaçou apontando  uma escopeta na cabeça do professor Vlademir Matos. Porém, mesmo com todas essas dificuldades eles conquistaram vários títulos nacionais através dos atletas Emerson Reis, Sérgio Ricardo, Muriel Gama, Ricardo Oliveira e Gigliola Santos, dentre outros. 

                                                             UM GRANDE PASSO

Vlademir com  judocas e Cecília Rodrigues que o apoiou.
Já em 2010 o judô pombalense deu um grande passo,  adianta o   professor Vlademir Matos, com o   apoio das secretarias de Ação Social   e  de   Educação, na administração do sr. José Lourenço   Júnior, o Zé   Grilo. Ele ressalta que a Secretária de   Educação, Cecília Rodrigues, na   época casada com   Zé Grilo, deu importante ajuda para concretização   do  projeto. Desde 1985 que realizávamos o nosso   trabalho e a partir de 1999   resolvemos atender o   pessoal de Melhor Idade  (aula da Mariá) ,  e  a   sra.   Cecília Rodrigues sugeriu a criação de um Projeto   Esporte nas   Escolas para crianças e adolescentes   dos 9 anos de idade em diante. Foi   uma iniciativa   vitoriosa e reconhecida até pela Federação Baiana de   Judô que homenageou Cecília Rodrigues e o professor Vlademir Matos  por este projeto. 

Já em 2013 o então prefeito Ricardo Maia deu continuidade ao projeto, e a Prefeitura custeou as despesas com cadastramento, inscrições, viagens terrestres e aéreas, além de inaugurar a sede do Centro de Treinamento de Judô, localizado na Praça da Juventude.  Assim, todos os anos os judocas pombalenses vêm se destacando no cenário estadual e até nacional. O prefeito atual Erickson Silva e a Secretária de Educação, Aline Silva estão dando continuidade ao projeto. Este apoio tem sido de grande importância para que o professor Vlademir Matos e seus seguidores possam cada vez mais elevar o nome deste esporte em nossa Cidade. Eles estão contando com a promessa de realização das melhorias no Centro de Treinamento e doação de kimonos para  levar o esporte aos povoados. 

O trabalho vem se desenvolvendo de tal forma que alguns povoados do município deverão ser  beneficiados, e o professor Vlademir Matos tem um sonho que é de conseguir um ônibus para expandir os seus ensinamentos não apenas aos povoados, como também a cidade vizinhas. Já está funcionando na cidade de Banzaê o projeto Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculo que contou e conta com o apoio da ex-prefeita Patrícia Nascimento e da prefeita Jailma Dantas, onde cem crianças e adolescentes, a maioria da etnia Kiriri estão aprendendo judô.

Ele reafirma que "jamais iremos desistir desta nossa luta, porque sabemos da grande importância do esporte na vida dessas crianças. O esporte desempenha um papel aglutinador juntamento com a educação formal, além de repassar valores importantes na formação dos futuros cidadãos e cidadãs. Entendo que o judô é uma ferramenta de inclusão social , tirando as crianças das ruas onde podem estar sendo atraídas para a prática de ações ilícitas", conclui o professor Vlademir Matos.

Vlademir se realiza ao trabalhar na formação de novos 
jovens  atletas e dos futuros cidadãos e cidadãs da Cidade.

O seu irmão e parceiro Vladson Matos , de cinquenta  e oito anos, é  professor de judô e do ensino médio.  Disse que veio  para Ribeira do Pombal a convite de   seu irmão  Vlademir Matos que estava querendo  fundar uma  academia de judô. "Ele me convidou e  assim  fundamos  a Academia Irmãos Matos. Fiquei  de  1985  até 1989 ministrando aulas de judô,  e  trabalhando  como  estagiário na Caixa Econômica  Federal. Em  finais de  1989 consegui um emprego  em Serrinha e  neste meio  tempo fui para Conceição  de Coité onde  outro irmão  o Gilmar Matos tinha  uma academia de   judô. Foi ele  o primeiro a entrar para o judô. Ele gostou da aula  que ministrei aos seus alunos, mas  não fiquei em Serrinha. Fui me  fixar em Conceição do Coité onde dou aula de judô , sou professor do ensino médio  e tenho um colégio em sociedade. Isto desde 1989 que estou por lá. Como judoca sempre fui o mais competitivo dos três irmãos. Fui vice-campeão sulamericano, vice-campeão Brasileiro, por duas vezes, fiquei em terceiro lugar ,duas vezes,  Campeão Baiano várias vezes, Melhor Atleta da Bahia algumas vezes. Em Fortaleza fui Octa Campeão do Open Brasileiro. Representei bem a nossa região e Ribeira do Pombal. "

"Com a pandemia paramos um pouco, mas continuamos formando cidadãos de bem em Conceição do Coité onde temos vários atletas faixa preta e estamos sem o apoio da Prefeitura. Mas, nossa luta continua e estamos completando 32 anos de um trabalho ininterrupto.   No dia 19 de fevereiro foi realizada  a Copa Open de Judô, em Salvador, com a participação de atletas de todo o Brasil e tanto os atletas de Ribeira do Pombal e de Conceição do Coité  participaram. Espero que a sociedade e autoridades apoiem  este tipo de torneio porque soma muitos pontos para a classificação no ranking nacional. Minha academia foi com um atleta o Rafael Gonçalves Mota e Ribeira do Pombal  levou dezoito atletas.", diz Vladson Matos.

                                                                     OS ALUNOS

Etinho Rehem, ladeado por
Marck Filho e João Pedro.

Um dos alunos que se destacou é Wellington Rehem, conhecido por Etinho Rehem, que entrou para o judô desde o início da escola dos irmãos Valdemir e Vladson Matos , em 1989. Diz que " de lá para cá foram muitas conquistas graças a dedicação do sensei Vlademir de nunca ter desistido. Lembro que ele tinha um fusca , muito bem conservado e cobiçado, mas  resolveu fazer um  bingo do carro e com o dinheiro arrecadado iniciou a construção da séde de sua academia. Graças a sua perseverança e de suas ações o judô em Ribeira do Pomal chegou a este patamar que hoje se encontra."

 O jovem judoca Artur Lucas
O Etinho reconhece que "já participamos de muitas competições, e o importante é que objetivemos bons resultados e conquistas. O professor é uma pessoa diferenciada, um parceiro e homem íntegro. Sou judoca há  muitos anos graças aos seus ensinamentos e quero aproveitar para agradecer a ele por minha formação, e também de outros que já passaram pela escola do sensei Vlademir Matos. Um muito obrigado e um abraço do seu eterno aluno".

Já o Arthur Lucas Nobre Reis Santos representa o Colégio Drumond , tem dez  anos de judô e está com catorze  anos de idade. Desde os quatro anos que  pratica  o judô já foi do Juvenil, hoje já é Sub 18 anos. Já esteve no Rio de  Janeiro representando a Bahia  nos Jogos Escolares Brasileiros. Foi vencedor  em Campeonato de Sub Etapas do Circuito Baiano de Judô na faixa etária de  até  15 anos. Este ano lutará com atletas de até 17 anos, e no  dia 18  deste mês participou do Campeonato Open de Judô,  em Salvador, com a  presença de atletas de outros estados." Treinei firme  e fiz  uma  boa  luta", disse Lucas confiante na boa apresentação.

Judoca Laiane Santos Neves 
A jovem atleta Laiane Santos Neves , de catorze anos, alcançou a   graduação Faixa Verde, estuda no Colégio Central e  está há quatro anos no  judô. Em Curitiba participou de um campeonato a nível de Brasil e ficou  no sétimo lugar no Sub 13. Atualmente, está no Sub 18, faz quinze  anos em março. Obteve  algumas conquistas no Sub 13, classificação para o Brasileiro de Judô e agora vai disputar no Sub-l8.

Professor Vlademir e o capitão
da PM e judoca Sérgio Ricardo
.

O policial militar Sérgio Ricardo Correia Nascimento, tem 45 anos de idade e iniciou no judô em 1986. "Era uma novidade aqui e iniciei por conta de um amigo Alex Santos que me incentivou. O custo era alto e minha mãe com muito sacrifício  me matriculou na escola. Comecei a participar de competições ainda na década de 80 e fui até 2007. Dentre as conquistas fui sete vezes Campeão Baiano de Judô nas categorias de base, fui Campeão Norte e Nordeste duas vezes, e vice Nordeste duas vezes, fui o quinto lugar  no Campeonato Ibero Americano de Judô, fui três vezes Campeão Brasileiro, da Região, foram minhas últimas competições. Sou faixa preta 2º Dan desde 2011. Hoje não participo mais de competição porque estou com uma lesão no joelho e  estou  dando orientação aos alunos, passando os conhecimentos que adquiri através dos anos. Em 2015 fui participar de um Campeonato de Veteranos, e foi quando eu sofri esta lesão." 

Esta é a equipe de judocas que  participou do Bahia Open .

Para falar do professor Vlademir Matos  precisa de muito tempo. Desde que chegou em Ribeira do Pombal ele contribui de forma direta para a formação de jovens pombalenses, e todos que passaram por aqui levaram ensinamentos para toda vida. Muitos não estão mais aqui por várias razões, mas tenho certeza que eles aprenderam muito com  suas aulas. Não apenas os golpes de defesa e ataque do judô, mas também os valores que lhes foram passados por Vlademir. 

"Hoje este projeto tem uma importância fundamental na formação de muitos jovens atletas e de cidadãos de bem. Muitos jovens , tenha certeza, foram afastados das drogas e de outras possíveis práticas ilícitas. Espero que as futuras gestões enxerguem e fortaleçam cada vez mais este trabalho excepcional do professor Vlademir Matos. Estou  na PM desde 2003, passei quatro anos estudando, fui declarado aspirante em 2008, promovido a tenente em 2009 e em 2015 promovido a capitão , e estou assumindo como sub-comandante da 21ª Companhia Independente , sediada em Caldas de Cipó," completa o capitão Sérgio Ricardo. 

Vlademir Matos  e Gigliola Santos, em 2009
A Vice Campeã Brasileira de 2009, Gigliola Santos é formada em Educação Física , lembra que   desde que foi fundada em 31 de outubro de 1985 a academia do   professor Vlademir Matos já formou inúmeros atletas e   conquistou vários títulos estaduais e nacionais. "O professor   Vlademir ama muito o judô que considera a motivação de sua   existência. Ele acolhe seus alunos como filhos.Temos atletas de   destaque como Emerson, Sérgio Ricardo, Fábia Karina, a   primeira mulher faixa preta e professora de judô de Ribeira do   Pombal . Com muita luta e disposição o professor Vlademir   Matos conseguiu um dos maiores projetos de Ribeira do Pombal   que é o de Judô nas Escolas, são doze anos de existência, onde   novos atletas e futuros cidadãos são formados. Ele quer levar   este  projeto para os povoados do município, e assim novos   jovens  terão a oportunidade não apenas de aprender uma luta   marcial, um esporte, como também a necessidade de   preservação dos valores familiares para que sejam cidadãos e   cidadãs de bem. Acredito que usando o judô como ferramenta podemos ajudar na formação de uma pessoa para que a mesma possa tornar-se uma pessoa de caráter e respeito. O judô é respeito, companheirismo e disciplina. Medalhas são consequências e não o objetivo maior", completa Gigliola Santos.
NR- este foi o texto que fluiu com mais facilidade porque as pessoas sabem da importância de mais este registro sobre o trabalho que desenvolvem aí em Ribeira do Pombal. Quero agradecer ao professor Vlademir Matos e a todos aqueles que colaboraram para que pudesse escrever este texto, e especialmente a Hamilton Rodrigues que sugeriu a pauta e correu atrás dos depoimentos. 



sábado, 19 de fevereiro de 2022

O UNIVERSO DOS VENDEDORES DE RUA DA CIDADE

Existem  muitos outros vendedores nas ruas da Cidade.
Mas, estes são os mais representativos da categoria.
Vamos falar hoje de pessoas que estão há vários   anos nas ruas de Ribeira de Pombal vendendo todo   tipo de produtos. Alguns com pontos  fixos e outros   que saem mercando seus produtos como se fazia   antigamente. Uma tradição que vem dos mouros   com  os árabes que saíam por aí vendendo tecidos e   outros produtos na época que as  lojas quase não   existiam no país e eram chamados de mascates.   Antes  com o fim da escravidão   os  negros libertos   também saíam com seus   tabuleiros e cestos na   cabeça ou nas costas   mercando  todo tipo de   produtos especialmente   frutas, verduras e até   pequenos animais. É um universo bem diferente de um comerciante estabelecido com sua loja fixa recebendo a clientela. No universo dos vendedores de rua os diálogos são  mais breves, às vezes não muito simpáticos por parte de algum passante mal educado, estão sujeitos as intempéries , outras vezes perseguidos por guardas municipais sob o pretexto de manter a "ordem", dentre outros eventos inesperados que ocorrem nas ruas. 
Evidente que existem muitos outros vendedores por aí em Ribeira do Pombal . Estamos falando neste texto apenas de alguns. Um deles, que há vários anos vende  produtos diversos, até gasolina durante às madrugadas,  negou-se a dar depoimento perguntando  se ia ganhar algum dinheiro com isto, outro também recusou  dizendo que está com uma ação na Justiça para ter uma aposentadoria rural, e  isto poderia prejudicá-lo. Cito estes casos para ver o nível de dificuldades que enfrentamos para seguir em frente. Muitas vezes as pessoas envelheceram e não deixam ser fotografadas, por se acharem feias; outras não se dispõem a procurar fotos dos parentes , e muitas vezes não guardaram como deveriam as fotografias de seus entes queridos e não sabem onde colocaram ou mesmo já deram fim.

                                                             A BERÊ DO ACARAJÉ 

D. Berê toma todos os cuidados com a higiene 
 Uma dessas figuras mais conhecidas que vendem   seus produtos nas ruas é d. Benedita Santos Lopes, a
 Berê do Acarajé, de 67 anos, que há quarenta anos   comercializa  seus acarajés na rua . Ela já trabalhou como   cozinheira em alguns restaurantes  e casas de   família.  Primeiro se estabeleceu próximo da igreja   matriz  de Santa Tereza. Disse que chegou em   Ribeira do Pombal em 1979. Fui procurar um ponto   melhor e fiquei perto onde tinha  a Loja Insinuante.   Finalmente, em 1992 vim para este local onde estou   até hoje. Foi minha ex-sogra a Valdomira do   Acarajé,  que passei a ajudar e terminei aprendendo   e  hoje vivo de vender meus acarajés".

Teve ocasião que a Cidade estava com muitos problemas de violência e pouca gente se arriscava a ficar nas ruas até mais tarde. Mas, d. Berê do Acarajé continuou vindo todos os dias. As pessoas sempre o alertavam do perigo. Porém, ela argumentava que a violência estava mais para os fundos de rua, nos bairros da periferia da Cidade. "Nunca tive problema com violência graças a Deus", diz com a confiança que lhe é peculiar.  

Ela não pensa em se aposentar. Diz brincando que ainda tem" muita lenha para queimar." Tem sete filhos , todos vivos. Nesses anos já viu gente ser atropelada, batida de carros, quedas de  moto e outros eventos que sempre ocorrem nas ruas, principalmente durante a noite. "Termina a gente se acostumando com esses fatos .O bom é que tudo corra com tranquilidade.", completa d.Berê do Acarajé.

                                                           PEDRO DO AIPIM

Pedro do Aipim é presença certa nas ruas.
Estava na casa de minha mãe há cerca de dois anos quando ouvi  alguém mercando aipim. Era o Pedro do Aipim batizado  como  Pedro Cesar Nascimento, hoje, com 62 anos de idade. Me  dirigi  à  porta e lá vinha um homem gritando a todos os pulmões  anunciando os seus aipins. Conversei ligeiramente com ele e  pedi  para tirar umas fotos. Na conversa fiquei sabendo que não  plantava um pé sequer de  aipim, embora morasse na roça,  pertinho da Cidade. Na realidade compra o aipim nas mãos de  terceiros e revende . Por exemplo, se você tem uma roça com  uma  tarefa ou meia tarefa plantada de aipim ele compra toda a  produção depois de fazer o teste se  cozinha direito e se é gostoso,  para que sua clientela fique satisfeita e não faça qualquer  reclamação. 

O tempo passou e fazem uns três meses ou mais foi publicada  uma reportagem contando o fato  que Pedro do Aipim tinha se  acidentado e  estaria precisando de ajuda. Isto foi no final do ano  passado.  Li que  estava fritando uns aipins  e quando foi  colocar  álcool num pequeno fogareiro que tem e ao  acender o  fogo as labaredas o atingiram seriamente. No seu depoimento ele esclarece que  roubaram tudo de valor que tinha em sua casa . A geladeira, o fogão, o botijão de gás e dois aparelhos de tv, dentre outros objetos. "Fui roubado e até queimado , mas nunca reclamei da vida. Estou sempre feliz. Fiquei nove dias internado no hospital, e tenho um carrinho novo que me deram para vender meus aipins, e assim vou levando a vida.", fala o resoluto Pedro do Aipim.

O Pedro do Aipim nasceu no povoado de Buracos, mas reside em Ribeira do Pombal há quarenta anos, e atualmente próximo a Subestação da Coelba. É filho de João Manoel Nascimento e Josefa César Nascimento. Teve quatro irmãos, um já falecido. É separado da mulher e pai de cinco filhos: Luciano Bastos Nascimento, Leidiana Duarte Bastos, João Pedro Santana Nascimento  David e Lucas  Santana Nascimento. 

Primeiro vendia todo tipo de verduras até que mudou definitivamente só vendendo aipim. Andou pelo Estado do Rio de Janeiro nas bandas de Belfort Roxo, Realengo e Santa Cruz onde permaneceu por uns quatro anos vendendo aipim. Confessa que não gritava mercando, nem no Rio de Janeiro e também em Ribeira do Pombal. Porém, com o crescimento da Cidade e o aumento de movimento de carros e motos sentiu a necessidade de gritar para que pudesse ser ouvido pelos clientes. Portanto,  os gritos vieram de uns anos para cá. "Agora dou uns gritos altos e longos. Faço  com muita satisfação para as pessoas que estiverem distraídas ouçam que estou no pedaço:"Ooooooo olhe o aipim! Tá cozinhando, que até tá se desmanchando". E confessa que "agora grito sem dó nem piedade", e dá uma boa gargalhada. Trabalha todas as segundas e quintas-feiras e sábados. Felizmente, agora ele está bem e já recomeçou a sua labuta vendendo seus aipins.  

                                       DÉLCIO DO QUEBRA-QUEIXO

Délcio com o carrinho de quebra-queixo
Durante quarenta anos Délcio Alves Maciel, hoje, com 82 anos de  idade vendia seu quebra-queixo nas ruas . Ele é filho de José Alves  Maciel e Valdomira Maria de Jesus. Saía diariamente na parte da  tarde estrilhando seu apito e anunciando o apreciado quebra-queixo  que era a merenda de muita gente em Ribeira do Pombal. É  natural  de Conceição do Coité , casado com sua conterrânea d.Aurora Maria  Maciel . Disse que " era um bicho do mato, mas meu pai sempre   dizia  procure uma moça direita e case. Você já está com vinte e  poucos anos, todos seus irmãos já casaram e foram cuidar de suas  vidas . Assim, eu fiz. Procurei uma moça para casar e encontrei a  Aurora.Casamos e tivemos oito filhos : Lúcia, Beto, Carlos,  Delci,Walter, Sônia, Marinalva". Esqueceu o nome  de uma filha, já  falecida .

Confessa Délcio que veio para Ribeira do Pombal em 1972 porque  seu pai  trabalhava na fazenda de Antônio Bernardo Costa, o seu  Totinha, que ficava entre os povoados da Boa Hora e a Tapera nos  anos 1970 e 1971.Viemos eu , meu pai e meu tio. Eu vim para cozinhar,  enquanto eles trabalhavam modando ( limpando) pastos. Depois de uns e seis meses, meu pai decidiu voltar para Conceição do Coité. Aí meu pai  falou com Basto Costa  que criava porcos , então passei a cuidar dos 150 porcos que ele criava. Os bichos comiam três  sacos de milho por dia. Tinha também que limpar o chiqueiro pela manhã e à tarde. Era um serviço muito duro. Trabalhei muito. Lembro do dia que saiu o pagamento do salário e da alegria quando  pude comprar uma calça azul de lista de Tergal e uma camisa Volta ao Mundo, que estavam na moda. "

"Quando meu pai faleceu minha mãe só ficava chorando e resolvi voltar para ficar com ela. Acontece que meu pai tinha comprado cinco jegues aqui. Então montei num deles e saí levando os outros quatro daqui até Conceição do Coité. "

Relata ainda seu Délcio Alves que  voltou  para Ribeira Pombal e "passei algum tempo vendendo  o quebra-queixo para um amigo, que me ensinou a fazer o produto. Neste tempo a gente vendia o quebra-queixo com um tabuleiro que carregavámos  na cabeça, e um cavalete no ombro. As coisas foram  melhorando até que mandei construir um carrinho, para descansar minha cabeça e o ombro. Cada tachada de quebra-queixo leva 12 quilos de açúcar. Teve uma época em que comprava um saco inteiro de açúcar para fazer meu quebra-queixo, mas hoje  está muito caro e voltei a comprar a quilo. Criei meus filhos e alguns netos vendendo meu quebra-queixo. Graças a Deus nunca  faltou o pão de cada dia ", disse Délcio.

                                         MACIELE DO LANCHE RÁPIDO

Ela carrega o vasilhame dos lanches, um quente-frio com
café, sacolas com copos plásticos e guardanapos.
 Esta é Maciele que tem apenas 25 anos de idade, é  portanto a caçula dos vendedores entrevistados .   Cada um com sua história de vida e a luta para   sobreviver com dignidade neste pedaço do sertão.   Tenho muito respeito e admiração por essas pessoas   que a cada dia tem que matar um leão para   sobreviver. Faça sol ou faça chuva lá estão mercando os produtos que eles mesmos fazem ou   revendem. A Maciele Correia Santos, mãe solteira   de  um filho, está há mais de três anos nas ruas   vendendo seus lanches. Diz que acorda por volta da   uma hora da manhã e juntamente com sua irmã faz   os lanches, o café e o suco e sai para vender.   Enquanto isto, sua irmã fica tomando conta de seu   filhinho. Chego em casa por volta do  meio dia a   meio dia e meio , dependendo das vendas. Vou   buscar meu filho e cuidar da casa . Trabalho de   segunda a sexta-feira. Com o dnheiro da venda dos   lanches pago o aluguel da casa,  mercado e as outras despesas ."

Disse Maciele que o pai da criança o abandonou ainda na gravidez . "Crio meu filho sózinha e vou ficar nesta vida até ele  se adaptar na escola, crescer tiver uma oportunidade de emprego. Estou conseguindo pagar minhas contas e vou assim levando a vida até quando Deus quiser. "

Ela não tem carrinho . Embora magrinha leva um vasilheme com sanduiches, um outro cheio de café e mais umas sacolas com copos e outros materiais. É muito peso para seu corpo frágil, mas diz que está acostumada, e sai assim porque facilita sua mobilidade para entrar nas lojas , nos ônibus  e em outros locais . "Eu tenho uns clientes certos que ficam me esperando para tomar seu café. Depois de atende-los  vou para os ônibus onde as pessoas estão chegando ou saindo para roça e sempre precisam comer alguma coisa. "

                                          SATU DO PICOLÉ

Satu com o carrinho cheio de picolés, e de água de coco.
O filho de outro personagem que falamos Antônio Motor é vendedor  de  picolé há vários anos. É o Saturnino Florêncio Rocha Neto,  conhecido por Satu, está com sessenta anos de idade e há trinta anos vende picolés nas ruas de Ribeira do Pombal. Ele também faz o famoso  geladinho e ainda vende água mineral para matar a sede dos que estão  na rua. "De vez em quando vendo também água de côco." Mas, os  picolés é que são a sua especialidade. 

 O Satu  é músico da Filarmônica de Ribeira do Pombal, onde toca  percussão. Dom que herdou de seu pai que tinha uma banda e tocava  vários instrumentos. São quarenta anos tocando instrumentos de percussão.Mas, o Satu é o típico brasileiro que se vira em dez para sobreviver. Negocia com relógios usados, e assim vai construindo sua renda para sobreviver.

                                                  UBIRATAM DO AMENDOIM

Ubiratan Costacom seus produtos
 Há vinte e cinco anos que trabalha vendendo amendoim. Herdou esta   atividade de seu pai que durante muitos anos vendia amendoim na   Cidade. Quando ele faleceu teve que sustentar a família. Está com   trinta  e cinco anos e chama-se Ubiratan Costa. Atualmente   comercializa também castanha e camarão salgado. Como podemos ver   desde criança que acompanhava o pai vendendo amendoim. 
 É um exemplo da luta pela vida e muitas vezes da falta de educação e   consequentemente de melhor oportunidade que leva as pessoas a   procurar uma maneira de sobreviver com dignidade. A luta é grande   porque sempre tem que estar exposto ao sol, chuva e também aos   acontecimentos de rua.

                                           PAULO DO CALDO DE CANA

Paulo com sua máquina de extrair
o caldo da cana raspada.

Este é o Paulo Silva Santos, conhecido por Paulinho, o homem do caldo de cana, cinquenta e  três  anos de idade . Desde 1976 que seu pai trabalhava vendendo caldo  de cana, cocada e outros doces que a esposa fazia. Com a morte dele há  trinta  anos atrás, o filho Paulinho  assumiu o seu lugar e de segunda à  sábado até o meio dia está ali no mesmo ponto vendendo o caldo de  cana. Ele diz que não vive exclusivamente disto, mas que ajuda muito  em suas despesas. Paulo  fica na Avenida Oliveira Brito, em frente ao  número 40, o mesmo ponto de seu pai. Teme que algum dia um prefeito  venha proibir que  permaneça ali. Soube que o prefeito anterior queria  tirá-lo do ponto, "mas até agora graças a Deus isto não aconteceu". Ele  é um dos  herdeiros  da casa onde fica  na calçada com sua máquina vendendo caldo de cana. Alugou para um  comerciante a parte da  frente do imóvel e mora numa na casa na rua que fica próxima. Deixou apenas uma porta e um corredor   para entrar e sair para a rua onde está sua atual residência.
NR- Vejam que as pessoas mais simples se  dispuseram  com boa vontade a dar seus depoimentos. Uns poucos se mostraram equidistantes, muitas vezes por falta de informação. Mas, vamos em frente e graças a abnegação de Hamilton Rodrigues estamos levando  este projeto que resgata e registra para a posteridade  os nomes das pessoas enfocadas nos textos que estou escrevendo.                                              



sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

DONANA DA PENSÃO SÃO JOSÉ

Ilustração de Donana e suas quadrilhas animadas.
U
ma das primeiras, senão a primeira hospedagem   montada em Ribeira do Pombal foi a Pensão São   José, de Ana Borges de Melo, a Donana. Depois   lembro da pensão criada na Rua do Tucano, hoje   Avenida Oliveira Brito,  a   Pensão Bela Vista, de   Maria Madalena Linhares de Santana , a d. Helena.   Na época as estradas não eram   asfaltadas e os       poucos hóspedes que apareciam eram   os chamados   viajantes que  representavam   laboratórios   farmaceuticos ou  indústras fabricantes   de tecidos e   outros artigos de miudezas. Esses   desbravadores   enfrentavam  estradas em péssimas   condições para   apresentar os novos produtos aos   comerciantes locais  e tiravam pedidos, que  demoravam em média  trinta dias ou mais  para chegar. Os viajantes eram os hóspedes mais assíduos, e também quando chegava uma nova autoridade juiz, promotor, delegado ou algum técnico, funcionário público ou de empresa privada que vinham realizar algum serviço na Cidade. Ai se instalavam na pensão de Donana ou de d. Helena até providenciarem alugar uma casa e trazer suas famílias. Também, um caminhoneiro ou algum turista perdido que se destinava a ir para as estâncias hidrominerais de Caldas de Cipó ou do Jorro ou mesmo conhecer Paulo Afonso.
Donana, Benedito Borges e
Kissinha, no casamento.

A casa onde Donana morava.
Donana era casada com João Ricardo  Rodrigues de Melo, e ficou  também  muito  popular porque era uma mulher alegre e  sempre  durante o São João  ou  mesmo na festa  de 15 de outubro,  onde se comemora a  padroeira Santa  Tereza   D'ávila a Donana  sempre organizava quadrilhas, alguma  comemoração  para  alegrar a Cidade. Suas  quadrilhas juninas ficaram famosas  na   lembrança  de  muita gente  que não só  participava dançando,  como  também  assistindo e  vibrando a cada evolução dos  figurantes. Como bem  lembrou sua neta Rita  Morais ela "tinha  como seu braço direito nesses festejos  , Rogaciano Brito, já  falecido, que era o marcador das quadrilhas e o mestre de  cerimônias. Juntos  eles  promoviam e movimentavam muita  gente." 

O casal teve um total de seis filhos, porém, apenas dois  sobreviveram: Benedito Borges , o Bené, falecido ano passado , e  Maria Perpétuo Socorro Borges, a Zoutinha.  Ela é natural de  Ribeira do Pombal onde nasceu em 1891 e faleceu aos 92 anos de  idade, em 24 de abril de 1982.

                                                 AS QUADRILHAS 

Foto 1. Vemos uma portinha com o nome Pousada e duas
lojas. Ai ficava a Pensão São José, de Donana.
Foto 2. D. Helena e ao fundo sua Pensão Bela Vista.
 Organizar uma quadrilha junina dá muito trabalho porque você tem que   escolher os pares certos,  o
figurino, os tecidos e outros acessórios para   compor  o vestuário tanto dos figurantes masculinos como  também dos   femininos. E Donana fazia isto com  muito cuidado e capricho . Já seu   filho Benedito  Borges ficava encarregado dos fogos de artifício que   iluminavam àquelas noites inesquecíveis. Esses  fogos eram adquiridos em Salvador, e na época muita  gente se postava diante da casa de Donana, na Rua  do  Capim, para assistir o início da queima de fogos  de artifício. Cada ano tinha uma novidade ou seja um  fogo de artifício mais sofisticado iluminando o céu 
de Ribeira do Pombal.
Recorda ainda Rita Morais que "ela não esquecia das  crianças e   organizava uma quadrilha junina para  que  pudessem também se divertir   e  assim garantir  a  continuidade desta tradição tão arraigada em terras   nordestinas." Tinham ainda as quadrilhas de casados e as de solteiros.  Todas se apresentavam depois de desfilarem pelas ruas. A concentração era em frente ao prédio da Prefeitura Municipal e muita gente disputava um lugarzinho para apreciar as apresentações que eram o ápice de tudo que tinha sido preparado com tanto zelo durante meses.

Outro traço marcante de sua personalidade além de sua alegria contagiante é que Donana gostava de andar na moda quer seja no corte do cabelo, nas roupas que  vestia. O tempo avançava e ela procurava sempre estar com suas unhas e cabelos pintados e sempre com um largo sorriso no rosto. Lembro dela andando ligeiro sempre em busca de  realizar alguma coisa. 

"'Diz ainda sua neta Rita Morais que " era uma mulher de muita fé e diariamente rezava o terço. Sua disposição em realizar festejos sempre estavam ligados aos santos quer seja São João ou Santa Tereza. Sempre era patrona de uma noite nos novenários que ela cuidava com muito empenho enfeitando a igreja com muitas flores e encomendando a Luiz Fogueteiro, muitos foguetes para serem soltos na sua noite. Sua Pensão São José foi depois arrendada aos irmãos Messias e João,os quais  depois se tornaram proprietários do estabelecimento. 

D. Maria do Carmo
Um testemunho importante sobre Donana foi dado por d. Maria do Carmo Jesus   Santos, de 74 anos, conhecida por Maria de Gil, que morou com ela desde o dia em   que nasceu e saiu quando casou, em 1971. Disse que "Donana para ela foi tudo na   vida. Foi mãe, pai e madrinha. As lembanças são as festas que ela fazia , o caruru de   São Cosme e Damião, de São João  com quadrilhas pra crianças, idosos, casados   solteiros e de Santa Tereza, que ela tinha uma noite da novena. "

O neto Zeinho
 "Me criou assim como criou meus irmãos, uma pessoa   acolhedora que cuidou de minha   mãe, com três filhos, dando   muito amor e zelo para nós. E tenho muitas saudades   dela... Só   em ver as fotos de Donana, meus olhos se enchem de lágrimas,   me   emociono   muito. Quando Donana foi para Salvador, eu fui   também para cuidar   dela.   Além de   me criar ela também   acolheu meus outros irmãos. E encerro   afirmando que  o meu   sentimento maior é   o  de amor e gratidão por tudo que ela representou em minha vida".
O seu neto José Antonio Borges de Morais, mais conhecido em Ribeira do Pombal   como Zeinho de Zoutinha, conta uma passagem que ilustra bem como Donana era   caridosa e incentivadora. Certa vez, bateu à sua porta um rapaz pedindo comida. Donana, foi  logo lhe perguntando: "meu filho você quer trabalhar comigo na Pensão? Vai ter pouso e comida." Manuel dos Santos , tinha uns  17 anos, e estava faminto, sem qualquer perspectiva . Tinha  vindo do povoado da Boa Hora, e logo aceitou a oferta . Resultado: O jovem  ganhou não somente  a comida, como também dignidade. Recorda Zeinho que sempre  ao deitar na rede o  Manuel cantarolava estes versos: "Batata não tem caroço/ bananeira não tem nó./ Pai e mãe é muito bom,/ mas barriga cheia é melhor". 
NR - Quero mais uma vez agradecer a Hamilton Rodrigues meu parceiro nesta empreitada porque sem seu empenho não seria possível escrever todos esses textos que tenho escrito e publicado. O tamanho dos textos depende muito dos dados que conseguimos levantar, e também da colaboração dos familiares e amigos dos personagens. O textos estão sempre abertos para receberem posteriores informações. Por exemplo, não conseguimos até agora uma foto das quadrilhas que Donana organizava. Se alguém possui alguma foto favor entrar em contato que publicaremos.

sábado, 5 de fevereiro de 2022

QUATRO MULHERES COMANDAVAM OS CARTÓRIOS

As mulheres que comandavam todos os cartórios na Cidade.
Edith Dantas, Zilda Freire, Maria Altair e Nice Rodrigues
.

 Quando criança, defronte a minha casa na então   Rua da Santa Cruz, hoje Avenida Evência Brito,   funcionava o Tabelionato de Notas  cujo titular era   seu Pedro Ribeiro Freire , o primeiro tabelião da   Comarca de Ribeira do Pombal, que era um homem   alto, magro,  comportamento reservado e   muito   educado. Ele atendia às pessoas que o   procuravam   e passava quase o dia inteiro sentado   diante de um   livro imenso a anotar o conteúdo dos   documentos   que expedia com uma caneta de bico de   pena, que   constantemente mergulhava  num tinteiro   Parker   em   busca de mais tinta. Tinha uma caligrafia   invejável. 
 Naquele tempo tínhamos aulas de Caligrafia na escola,  e até um caderno próprio para aprimorarmos nossa escrita. Ele ficava na parte da frente da casa, a qual foi recentemente demolida. Era casado com d. Laurinda Freire uma senhora muito religiosa, e, quando existia a Capela de Santa Cruz, que ficava mais ou menos onde hoje está a casa do juiz, ela cuidava da Capela com um zelo quase de uma freira . Chegou o progresso e os homens insensíveis destruiram a Capela , o que foi muito sentido por d. Laurinda Freire e muitas outras pessoas que a frequentavam. Com o passar dos anos cultivei uma amizade fraterna com d. Laurinda Freire e com sua vizinha d. Teresa Morais, duas pessoas que guardo eterna gratidão  pela maneira que se mostravam alegres quando eu chegava de férias de Salvador. Eram duas visitas certas, sinto não ter correspondido com mais atenção e carinho a estas duas senhoras tão especiais. 
Na foto vemos Nice Rodrigues, Zilda Freire, Maria Altair,
Maria Sátiro, tabeliã de Notas, da Mirandela e Edith Dantas.

Voltando aos cartórios, depois que seu Pedro Freire faleceu as mulheres passaram a dominar esta atividade importante em nossa Cidade .  Coube a Zilda Ribeiro Freire de Carvalho continuar com o Tabelionato de Notas de seu pai , enquanto d. Edith Dantas  comandava o Cartório  Civil dos Feitos Civis e Criminais e sua irmã Altair Lobo o Cartório de Registro Civil das Pessoas Naturais,  e Maria Eunice Rodrigues Souza, a Nice, tocava os Cartórios do Registro Civil das Pessoas Jurídicas, o Cartório de Títulos e Documentos e posteriormente o Cartório de Registro de Imóveis e Hipotecas . Antes o Cartório de Registro de Imóveis tinha como titular outra mulher a jovem Mariza Brito Almeida , que pediu exoneração . Enquanto isto coube a d. Edith Dantas acumular interinamente até que Nice Rodrigues assumiu e  depois fez concurso e tornou-se a titular.

                                                                            ZILDA FREIRE 

 J
Foto 1. Zilda Freire, sua filha Tereza Jozilda e seu esposo
José Carvalho. Foto 2. Zilda e seu filho Jozélio Freire
.
á Zilda Ribeiro Freire de Carvalho nasceu em 3   de  junho de 1936, em Ribeira do Pombal filha de   Pedro Ribeiro Freire e Laurinda Silva Freire. Seu pai   exerceu o cargo de Tabelião de  Notas de 1934 a   1960. Ela começou a ajudá-lo  aos 16 anos de idade,   e  aos 19 anos foi nomeada como subtabeliã em 4 de   agosto de 1955. Ao falecer seu pai teve que   enfrentar  outros concorrentes que com ajuda de   líderes   políticos pleiteavam o cargo de titular. Mas   conseguiu sua nomeação  como tabeliã interina em   julho de 1960, permanecendo  até 1964, ano em que foi confirmada como tabeliã  titular, cargo que exerceu até sua aposentadoria em   1998.
  Casou-se em 31 de maio de 1967 com José   Cerqueira de Carvalho, policial  militar, conhecido   por Zé Soldado, com que teve dois filhos:Tereza   Jozilda Freire de Carvalho e Jozélio Freire de   Carvalho, e faleceu no interior de sua residência , de causa natural no dia 18 de agosto de 2005.
D.Laurinda e sr. Pedro Freire
Sua filha Tereza Josilda, hoje promotora na Cidade de Alagoinhas, lembra de sua dedicação ao cartório e da letra miúda de sua caligrafia, que tanto a caracterizava. "Era uma pessoa calma , de voz suave, orientando com paciência todos que procuravam o cartório, sem qualquer distinção de posição social. "
E continuou Tereza Josilda ,"meu irmão Jozélio , apesar de não ter seguido nenhuma carreira jurídica, também traz consigo os ensinamnetos aprendidos com ela e com meu pai a ser paciente e a tratar todos com respeito e humildade, no exercício da Medicina".
O sr. Vitalmiro Silva Freire, 60 anos de idade,  começou a trabalhar no Cartório  em 1967 com 14 aos de idade  fazendo pequenos serviços. Em 1983 fez o
Hortência Silva 
concurso público para oficial de justiça e continua  trabalhando. Atualmente, encontra-se de licença prêmio, e após o término dará entrada em sua aposentadoria. Trabalhou sete anos diretamente com Zilda Freire no Tabelionato de Notas. 
Ele lembra também de Hortência Silva Freire "trabalhamos juntos, quando entrei ela  já  estava lá, fazíamos procuração, contrato de aluguel de imóveis, reconhecimento de  firma , recebimento e entrega documentos , e no Cartório de Protesto que era anexo a  gente cuidadava dos protestos . Hortência redigia as  procurações  enquanto d. Zilda  Freire  fazia pessoalmente as escrituras. "
 Hortência Silva Freire Santos, era sobrinha de Pedro Freire. Ela foi escrevente onde  entrou em 1985 ficando até 2013 quando se aposentou. Conhecida por Sinhá prestou  relevantes serviços no cartório. Seu único flho Aloisio Freire é professor universitário  e advogado criminalista, atuando nos tribunais de segunda instância. Hortência Freire  faleceu aos 64 anos de idade em fevereiro de 2020.

Vitalmiro Silva Freire
A Zilda Freire  desde cedo ajudava seu pai Pedro Ribeiro Freire que foi o primeiro tabelião da comarca de Ribeira do Pombal, portanto  teve uma boa escola e experiência. Eu não era oficialmente funcionário do Tabelionato, ela que me pagava. Aí surgiu uma oportunidade e fiz concurso para a Empresa Baiana de Agricultura - EBDA que ia se estabelecer aqui e fui aprovado, e hoje, estou aposentado desde o ano passado." A Ebda foi extinta pelo governador petista Rui Costa.

Já seu irmão Altamiro Silva Freire  disse que quando "Zilda Freire estava prestes a se aposentar quando foi realizado o concurso público para o Tabelionato de Notas, do Registro Civil e Registro de Imóveis  promovido pelo juiz dr. Antônio Ramos. Foi quando Zilda Freire já aposentada foi  substituida por Carlos Roberto, falecido. "

Diz Altamiro que Zilda Freire  exerceu a sua função com muita competência. Ela herdou este dom do pai. Teve ainda outros irmãos : Pedro Ribeiro Freire, Antônio Ribeiro Freire, o Totonho, e Graciliana Ribeiro Sobrinha e Ziani Ribeiro Freire, todos falecidos. 
O Altamiro Silva  Freire, de 60 anos, começou a trabalhar em 1974 e fez o concurso para oficial de  Justiça e informou  que "estou prestes a me aposentar, pois já tenho 38 anos de serviço.  Ela deixou o legado de ter trabalhado com dedicação e honestidade. Todos os comerciantes e muitos dos moradores de Ribeira do Pombal tiveram contato com ela no Tabelionato de Notas". 
Ao lado o ex-funcionaráio do Tabelionato de Notas  sr. Altamiro Silva , hoje oficial da Justiça.

                                            AS IRMÃS EDITH  E ALTAIR 

D. Edith Dantas
Lembremos das irmãs  d. Edith Dantas de Araújo e Maria Altair Dantas Lobo, ou simplesmente d. Edith e d. Altair. 
Foto 1. Altair Lobo e sua irmã Edith em Caldas de Cipó.
Foto 2 . A casa de d. Altair onde funcionava o cartório
.
Edith  foi a primeira titular do Cartório  Civil dos Feitos Civis e Criminais , e acumulou por algum tempo a função do Cartório de Imóveis e Hipotecas que era titular Mariza Brito Almeida , a qual renunciou ao cargo e se transferiu para São Paulo. Edith Dantas era solteira  e não deixou descendentes. Nasceu em 21 de setembro de 1917 em Ribeira do Pombal e veio a falecer em 27 de abril de 2011, era filha de Maria Madalena Morais Araújo e João Dantas de Araújo. Ela trabalhou durante anos até se aposentar, e foi morar em Feira de Santana, onde faleceu.

Para falar de Maria Altair Dantas Lobo que durante muitos anos foi titular do Cartório de Registro Civil da Pessoas Naturais  , do Município de Ribeira do Pombal entrei em contato  com seu filho José Wellington Dantas Lôbo, que atualmente reside em Feira de Santana. Ele  veio do Rio Grande do Sul onde morava com a família , exatamente de Porto Alegre,  para cuidar de sua mãe, que hoje encontra-se acamada . Wellingotn  disse que sua mãe "assumiu esta função aos dezoito anos de idade, e que é muito fácil falar sobre ela" . Em seguida  citou o escritor gaúcho Luiz Fernando Verissimo que cunhou esta frase: "Mãe é poesia, tons, letras, dona de um amor que se recicla e nunca é desperdicio". 

No cartório onde era a titular Maria Altair ou d. Altair registrou milhares de pessoas, casamentos, divórcios, e outros feitos   acompanhando o crescimento populacional de  Ribeira do Pombal. Foi morar  na Rua da Ribeira , e quando casou com Arnaldo da Silva Lobo, natural de Canudos, e mais tarde com o nascimento dos filhos , mantinha uma sala na parte da frente onde funcionava o Cartório.  

Com o falecimento de seu esposo Arnaldo da Silva Lôbo, em 1961, d. Altair adquiriu outro imóvel próximo o da sua mãe, afim de facilitar a educação dos filhos e consequentemente o funcionamento do Cartório , provisoriamene, até que a Prefeitura criou aquele espaço na lateral do prédio onde hoje funciona a Câmara Municipal, e todos os cartórios foram transferidos para este prédio.

Welligton Lobo 
 Lembra Wellingon que "o dia de minha mãe começava cedinho e o Cartório era o centro   de sua atenção. Ela acordava cedo abria o Cartório e depois voltava para arrumar os   filhos para ir  à escola. É bom salientar que tudo era feito na base da caneta, escrevendo   mesmo. Todos os registros eram tanscritos em enormes livros guardados por tempo   indeterminado. Não existia computador. As máquinas de escrever eram poucas e os   auxiliares transcreviam tudo dos livros para atender os clientes que solicitavam uma   segunda via de uma Certidão de Nascimento , Casamento etc. "Disse ainda Wellington   Lobo que "minha mãe nunca tirou férias e até mesmo para se aposentar ficou   delongando a data de sua aposentadoria durante três anos. Ela tinha uma forte ligação   com o Cartório. Lembro que muitas vezes uma pessoa vinha pedir uma segunda via de   um antigo registro  de nascimento e não dispunha de quase informação . Assim, era feita   uma penosa pesquisa naqueles livros imensos , folha por folha até encontrar e transcrever na máquina de datilografia." Do casamento com Arnaldo da Silva Lôbo tiveram quatro filhos: José Wellington, Antônio Windosor  (1953- 2019 ). Maria Wiclea e Arnaldo Wedson Dantas Lobo.

                                      MARIZA BRITO ALMEIDA 

Mariza quando titular.
 Já a Mariza Brito Almeida, hoje, Mariza Almeida Andrade, mora em Recife há   mais de 30 anos, depois de ter constituído a sua família em São Paulo, capital.   Mariza, entre 1956/1957, assim que Ribeira do Pombal passou a ser Comarca, foi   nomeada, interinamente, como Oficial de Registro de Imóveis. Era Juiz  na época,   o dr. Eliezer Benevides e o promotor, dr. Aluísio Batista. Pouco tempo depois foi   realizado um concurso para Oficiais de Cartório e Mariza foi aprovada e efetivada   no cargo. Durante dez anos, cercada pelos enormes livros de registro, sim os   livros,  acho que são  do tamanho A2 além de bem volumosos, se dedicou a  sua   função com profissionalismo, muita dedicação e organização, além sempre estar   bem   humorada, característica da personalidade da família Almeida. 

Mariza Almeida  de preto , com filhos, filhas, genros e netos.
 Nos conta Marluce Morais que  "o cartório, inicialmente,  funcionou em sua  residência, até que a Prefeitura  reuniu todos os  Cartórios num mesmo local  atrás do  prédio onde  atualmente funciona a Câmara  Municipal. Nesse  interim, a sua mãe e a sua única  irmã se mudaram  para São. Paulo, capital, para se  reunirem com  seus  irmãos que já viviam ali. Tempos  depois, foi à São  Paulo para o casamento de um dos  irmãos, e na  oportunidade, conheceu Emmanuel  Andrade, o  Nelinho, como era conhecido. O coração  falou mais  alto e vieram a se casar. Ela pediu licença  sem  vencimentos de dois anos, em seguida a  exoneração.  Em São Paulo constituiu sua familia;  são  três filhos:  Emmanuel Andrade Filho, engenheiro e empresário; Ana Amélia Almeida Andrade Veloso, arquiteta e Sylvia Maria Andrade Mailowisky, médica, esses filhos lhe deram  seis netos."

 "Há mais ou menos 30 anos, seu marido foi transferido para Recife, onde a família se adaptou muito bem, e Mariza ali reside cercada  dos filhos e netos, pois lamentavelmente, em 2000, ela ficou viúva. Mariza continua a ser a mulher forte e determinada, mantendo o bom humor e a elegância",concluiu Marluce Morais..                           

                        NICE RODRIGUES

Nice  assentando no livro mais um documento

Batizada com o nome de Maria Eunice Rodrigues Souza, nasceu em Ribeira do Pombal em 27 de outubro de 1933, portanto, está com 89 anos de idade. Lúcida e ativa ela dirige seu carro e conversa sobre qualquer assunto com desembaraço e rapidez que lhe deixa perplexo. Ama a vida e sua família e diferente de muitas pessoas da  sua idade gosta de viajar e curtir filhos e netos . Não fica se lamentando , ao contrário fala da sua luta e de seu trabalho onde exerceu por 46 anos o cargo como serventuária da Justiça. Mãe de cinco filhos : José Aguinaldo,Tereza Ivana, Adriano, Rita de Cássia e Jósé Alexandre e catorze netos.

É filha de João Rodrigues dos Santos, conhecido por João Santo, e Cecília Rodrigues da Conceição. Seu pai era Avaliador Judicial e tinha forte ligação com o chefe político de então Ferreira Brito. Certo dia seu pai lhe surpreendeu ao informar que ela tinha sido nomeada interinamente para o cargo de titular do Cartório de Títulos e Documentos e Registro Civil das Pessoas Jurídicas.Isto aconteceu no dia 12 de abril de 1957, afirma com precisão Nice Rodrigues. Durante dois anos trabalhou como interina e disse que reorganizou totalmente o cartório . Após exercer a função interinamente durante este período Nice Rodrigues fez concurso público e foi nomeada titular em 29 de março de 1959. Nesta época seu Cartório funcionava na casa de seus pais na Rua do Cemitério, hoje, Rua Oswaldo Brito, e depois que casou foi morar na Rua Princesa Izabel, nº 7 levando consigo o Cartório para seu novo endereço. Ela confessa que vivia insatisfeita porque o Cartório quase não tinha movimento, nem renda. Ribeira do Pombal tinha um comércio insipiente e as transações comerciais eram poucas.

Foto 1. Nice faz 70 anos  deixa o Catório com homenagem.  
Foto 2 Recebe o título de Cidadã Benemérita de R.Pombal.
Foto 3. Nice hoje ativa e ainda dirige seu automóvel. 
Quando o juiz José Nilton Mendes Serra assumiu a Comarca convocou todos os titulares de cartórios e cada um fez sua exposição sobre o trabalho desenvolvido e as dificuldades. "Aí mostrei a necessidade do Cartório de Imóveis e Hipotecas ser anexado ao Cartório de Títulos e Documentos e Registro de Pessoa Jurídica o  que ele concordou e providenciou. O juiz  mandou que fosse até sua casa no  dia seguinte para que pudesse tomar as medidas necessárias. O  dr. José Nilton  oficiou ao Tribunal de Justiça e à Secretaria da Justiça a necessidade de anexar o Cartório  de Imóveis e Hipotecas ao de Títulos e Documentos e Registro de Pessoa Jurídica e assim foi feito.

 "Certo dia fui a Salvador saber como andava o   processo que determinava minha efetivação como   titular do Cartório de Imóveis e Hipotecas e uma funcionária da Secretaria da Justiça disse que meu   processo havia sumido. Mas, se prontificou a me ajudar e em seguida  elaborou um ofício ao SAJ e através dr. Vanderlino Nogueira, já falecido, o processo foi reconstituido. Finalmente, já na gestão do juiz João Santana fui nomeada titular do Cartório de Imóveis e Hipotecas . Aí minha vida mudou  e foram trinta anos de muito trabalho. Me aposentei em 2003, quase não vi a informática chegar ao Cartório. Tudo era feito a mão e eu adorava fazer os registros naqueles livros imensos. Modéstia à parte, tenho  uma caligrafia  bonita e isto pode ser comprovado nos  livros onde registrei os feitos," disse Nice Rodrigues.

Mas, para chegar ao cargo de titular Nice Rodrigues enfrentou muitas dificuldades e mostrou que é uma mulher guerreira. Basta recordar de dois episódios. O primeiro ela não tinha ainda sido nomeada como titular do Cartório e foi realizado em outubro de 1975, em Salvador, o II Encontro  dos Oficiais de Registros de Imóveis do Brasil ,  no  Salvador Praia Hotel. O juiz da Comarca dr. João Santana disse : A senhora vai participar. Redigiu um ofício me apresentando, dizendo que eu tinha sido aprovada no concurso e ainda não tinha saído a minha nomeação. Ai fui para Salvador pensando que o congresso seria realizado no Fórum Rui Barbosa, no Campo da Pólvora. Para minha surpresa ao chegar ao Fórum fui informada que estava sendo realizado no Salvador Praia Hotel, que ficava no bairro de Ondina, ( já demolido)  portanto, bem longe do local onde estava hospedada. Já tinha sido dificil me hospedar porque no pensionato onde minhas primas estavam não tinha vaga, e a mulher não queria me receber. Devido a insistência de todos consegui me hospedar. Não tinha roupa, sapato e nem dinheiro para me deslocar para o tal congresso. Ai as meninas me emprestaram roupas e sapatos e até  bolsas. Outra se dispôs a me dar carona de ida e volta. Quando cheguei ao hotel entrei na fila da inscrição pensando que era gratuita. Quando me informaram que a taxa era de Cr$500,00 saí da fila e fui sentar perto da recepção. A recepcionista me viu triste e perguntou e contei que não tinha dinheiro da inscrição. Ela se dirigiu ao presidente do encontro  Julio de Oliveira Chagas Neto contou a minha história e ele já veio ao meu encontro com uma pasta com todo o material e me inscreveu. "

O outro episódio foi quando a funcionária da Secretaria de Justiça d. Terezinha Santos  me informou que tinham perdido o meu processo de nomeação . Ai ela redigiu um ofício e precisava da assinatura do diretor do SAJ, que não lembro o nome. Já era perto das 19 horas e quando consegui o ofício ele já não estava no seu gabinete e fui encontrá-lo na porta do elevador. Peguei este homem pelo braço. Ele tomou um susto e ai expliquei o meu problema . Sei que ele voltou e assinou o tal ofício. No dia seguinte fui procurar o dr. Vanderlino Nogueira  que mandou reconstituir todo o processo . Foi muita angústia e dificuldades que enfrentei. Mas , venci", conclui Nice Rodrigues. 

  DUAS MULHERES NO CARTÓRIO DE MIRANDELA

As irmãs tabeliãs Abelisia Viana e
Maria Satíro Dantas, Escrivã de Paz
com funções Notariais, falecida.
Durante as pesquisas para elaboração deste texto não conseguimos    informações sobre o Tabelionato de Notas do povoado da Mirandela  que  inicialmente teve como titular  Pedro Brasil que faleceu em 1936. Então foi aberto um novo concurso e foi aprovada e nomeada minha tia a Maria Satíro Viana que era escrivã de Paz  que chegou a responder pelos dois cartórios por um período antes de  se aposentar, vindo posteriormente a falecer." 

 Desde 1937 que João Gonçalves  Viana, conhecido como João Viana, natural do povoado do Barracão, hoje município de  Rio Real,   foi  para a Mirandela para ser o  maestro da Filarmônica de lá. Veja que  coisa  incrível. Já naquela  época  a Mirandela tinha sua filarmônica,  Ribeira do  Pombal tinha a  XV de Outubro, tinha filarmônica em Cipó,  Nova Soure  em outras  cidades da região.

Com o falecimento de Pedro Brasil o maestro João Gonçalves Viana  assumiu o o Cartório de Registro Civil, e em 1957 sua filha Abelísia Dantas  Viana Cruz foi nomeada suboficial de Paz com funções Notariais. Em 1970 João Viana faleceu, mas o juiz da comarca de então dr. Juarez Santana entendeu que ela não tinha o direito de ser a titular. Ela é casada com Ant|ônio Carvalho Cruz, o Tonhá e decidiram ir morar em São Paulo, onde ele trabalhou como motorista de ônibus. “Mas, decidimos apelar para o Tribunal de Justiça e em 1972 o juiz da Comarca, dr. Antônio Helder Tomás recebeu um ofício do TJ determinando que emposasse a Abelísia Viana como titular em 1982 até se aposentar em 2010. Eles já tinham voltado de São Paulo .Foi aberto novo concurso aí o Hamilton Viana foi  aprovado e assumiu o Cartório de Registro Civil, na Mirandela , onde permaneceu até que d. Altair Lobo se aposentou, do Registro Civil, em Ribeira do Pombal . Foi quando pedi minha remoção para cá, onde me aposentei”, conta Hamilton Viana. 

NR- Quero agradecer a Hamilton Rodrigues, a Hamilton Viana  e também a Marluce Morais pela sua disposição em buscar informações sobre Mariza Almeida Carvalho para que este texto pudesse apresentar  as primeiras titulares dos cartórios de nossa Cidade.