Objetivo


sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

DONANA DA PENSÃO SÃO JOSÉ

Ilustração de Donana e suas quadrilhas animadas.
U
ma das primeiras, senão a primeira hospedagem   montada em Ribeira do Pombal foi a Pensão São   José, de Ana Borges de Melo, a Donana. Depois   lembro da pensão criada na Rua do Tucano, hoje   Avenida Oliveira Brito,  a   Pensão Bela Vista, de   Maria Madalena Linhares de Santana , a d. Helena.   Na época as estradas não eram   asfaltadas e os       poucos hóspedes que apareciam eram   os chamados   viajantes que  representavam   laboratórios   farmaceuticos ou  indústras fabricantes   de tecidos e   outros artigos de miudezas. Esses   desbravadores   enfrentavam  estradas em péssimas   condições para   apresentar os novos produtos aos   comerciantes locais  e tiravam pedidos, que  demoravam em média  trinta dias ou mais  para chegar. Os viajantes eram os hóspedes mais assíduos, e também quando chegava uma nova autoridade juiz, promotor, delegado ou algum técnico, funcionário público ou de empresa privada que vinham realizar algum serviço na Cidade. Ai se instalavam na pensão de Donana ou de d. Helena até providenciarem alugar uma casa e trazer suas famílias. Também, um caminhoneiro ou algum turista perdido que se destinava a ir para as estâncias hidrominerais de Caldas de Cipó ou do Jorro ou mesmo conhecer Paulo Afonso.
Donana, Benedito Borges e
Kissinha, no casamento.

A casa onde Donana morava.
Donana era casada com João Ricardo  Rodrigues de Melo, e ficou  também  muito  popular porque era uma mulher alegre e  sempre  durante o São João  ou  mesmo na festa  de 15 de outubro,  onde se comemora a  padroeira Santa  Tereza   D'ávila a Donana  sempre organizava quadrilhas, alguma  comemoração  para  alegrar a Cidade. Suas  quadrilhas juninas ficaram famosas  na   lembrança  de  muita gente  que não só  participava dançando,  como  também  assistindo e  vibrando a cada evolução dos  figurantes. Como bem  lembrou sua neta Rita  Morais ela "tinha  como seu braço direito nesses festejos  , Rogaciano Brito, já  falecido, que era o marcador das quadrilhas e o mestre de  cerimônias. Juntos  eles  promoviam e movimentavam muita  gente." 

O casal teve um total de seis filhos, porém, apenas dois  sobreviveram: Benedito Borges , o Bené, falecido ano passado , e  Maria Perpétuo Socorro Borges, a Zoutinha.  Ela é natural de  Ribeira do Pombal onde nasceu em 1891 e faleceu aos 92 anos de  idade, em 24 de abril de 1982.

                                                 AS QUADRILHAS 

Foto 1. Vemos uma portinha com o nome Pousada e duas
lojas. Ai ficava a Pensão São José, de Donana.
Foto 2. D. Helena e ao fundo sua Pensão Bela Vista.
 Organizar uma quadrilha junina dá muito trabalho porque você tem que   escolher os pares certos,  o
figurino, os tecidos e outros acessórios para   compor  o vestuário tanto dos figurantes masculinos como  também dos   femininos. E Donana fazia isto com  muito cuidado e capricho . Já seu   filho Benedito  Borges ficava encarregado dos fogos de artifício que   iluminavam àquelas noites inesquecíveis. Esses  fogos eram adquiridos em Salvador, e na época muita  gente se postava diante da casa de Donana, na Rua  do  Capim, para assistir o início da queima de fogos  de artifício. Cada ano tinha uma novidade ou seja um  fogo de artifício mais sofisticado iluminando o céu 
de Ribeira do Pombal.
Recorda ainda Rita Morais que "ela não esquecia das  crianças e   organizava uma quadrilha junina para  que  pudessem também se divertir   e  assim garantir  a  continuidade desta tradição tão arraigada em terras   nordestinas." Tinham ainda as quadrilhas de casados e as de solteiros.  Todas se apresentavam depois de desfilarem pelas ruas. A concentração era em frente ao prédio da Prefeitura Municipal e muita gente disputava um lugarzinho para apreciar as apresentações que eram o ápice de tudo que tinha sido preparado com tanto zelo durante meses.

Outro traço marcante de sua personalidade além de sua alegria contagiante é que Donana gostava de andar na moda quer seja no corte do cabelo, nas roupas que  vestia. O tempo avançava e ela procurava sempre estar com suas unhas e cabelos pintados e sempre com um largo sorriso no rosto. Lembro dela andando ligeiro sempre em busca de  realizar alguma coisa. 

"'Diz ainda sua neta Rita Morais que " era uma mulher de muita fé e diariamente rezava o terço. Sua disposição em realizar festejos sempre estavam ligados aos santos quer seja São João ou Santa Tereza. Sempre era patrona de uma noite nos novenários que ela cuidava com muito empenho enfeitando a igreja com muitas flores e encomendando a Luiz Fogueteiro, muitos foguetes para serem soltos na sua noite. Sua Pensão São José foi depois arrendada aos irmãos Messias e João,os quais  depois se tornaram proprietários do estabelecimento. 

D. Maria do Carmo
Um testemunho importante sobre Donana foi dado por d. Maria do Carmo Jesus   Santos, de 74 anos, conhecida por Maria de Gil, que morou com ela desde o dia em   que nasceu e saiu quando casou, em 1971. Disse que "Donana para ela foi tudo na   vida. Foi mãe, pai e madrinha. As lembanças são as festas que ela fazia , o caruru de   São Cosme e Damião, de São João  com quadrilhas pra crianças, idosos, casados   solteiros e de Santa Tereza, que ela tinha uma noite da novena. "

O neto Zeinho
 "Me criou assim como criou meus irmãos, uma pessoa   acolhedora que cuidou de minha   mãe, com três filhos, dando   muito amor e zelo para nós. E tenho muitas saudades   dela... Só   em ver as fotos de Donana, meus olhos se enchem de lágrimas,   me   emociono   muito. Quando Donana foi para Salvador, eu fui   também para cuidar   dela.   Além de   me criar ela também   acolheu meus outros irmãos. E encerro   afirmando que  o meu   sentimento maior é   o  de amor e gratidão por tudo que ela representou em minha vida".
O seu neto José Antonio Borges de Morais, mais conhecido em Ribeira do Pombal   como Zeinho de Zoutinha, conta uma passagem que ilustra bem como Donana era   caridosa e incentivadora. Certa vez, bateu à sua porta um rapaz pedindo comida. Donana, foi  logo lhe perguntando: "meu filho você quer trabalhar comigo na Pensão? Vai ter pouso e comida." Manuel dos Santos , tinha uns  17 anos, e estava faminto, sem qualquer perspectiva . Tinha  vindo do povoado da Boa Hora, e logo aceitou a oferta . Resultado: O jovem  ganhou não somente  a comida, como também dignidade. Recorda Zeinho que sempre  ao deitar na rede o  Manuel cantarolava estes versos: "Batata não tem caroço/ bananeira não tem nó./ Pai e mãe é muito bom,/ mas barriga cheia é melhor". 
NR - Quero mais uma vez agradecer a Hamilton Rodrigues meu parceiro nesta empreitada porque sem seu empenho não seria possível escrever todos esses textos que tenho escrito e publicado. O tamanho dos textos depende muito dos dados que conseguimos levantar, e também da colaboração dos familiares e amigos dos personagens. O textos estão sempre abertos para receberem posteriores informações. Por exemplo, não conseguimos até agora uma foto das quadrilhas que Donana organizava. Se alguém possui alguma foto favor entrar em contato que publicaremos.

39 comentários:

Osvaldo jacobina disse...

Rey parabéns.
Será sempre um presente ler seus escritos sobre o povo de Pombal.
abrs.
Jacobina.osvaldo

João Evangelista disse...

Maravilha esse resgate cultural. Não me canso de parabeniza-los (Renivaldo Brito e Hamilton Rodrigues)

Aurezi Ribeiro disse...

Não tenho nenhuma lembrança da pensão. Mas lembro-me perfeitamente do colorido no céu nas noites de São João. Eu, adolescente, morava uma rua atrás.
Nossas roupas para a festa de Sta. Tereza, nossa mãe comprava na loja de D. ZOTINHA.
ZEINHO retornou à Terra Natal, então estou sempre conversando com ele.
É muito bom ter estas lembranças. Faz -nos um bem danado!
Obrigada!

José Bomfim disse...

Mais um ótimo texto. E repito: independe de quem nasceu ou conheça Ribeira do Pombal, a descrição das pessoas e do que elas construíram para o município são marcantes, principalmente para quem também é interiorano. As situações são idênticas às ocorridas em outras cidades. E aí vêm as lembranças, a memória trabalha e não há como deixar de se emocionar.

Benival Muniz disse...

Parabéns Meu chefe! Que maravilha essas recordações, principalmente para saudosistas como eu. Abraço e saudades.

Benival

BLOG DO REYNIVALDO disse...

Graça Gama
Donana e suas quadrilhas de São João. Muitas lembranças.

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Antonio Carlos Da Rosa
Como sempre, muito bom Reynivaldo!!

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Iara Brito
Dancei muita quadrilha kkkkkk

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Alice Campos
Mais uma história muito interessante.

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Terezinha Brandão
Parabéns, muito sucesso pra você.

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Maria Antonia Morais Matos
Reynivaldo Brito, parabéns ,boa recordações
Não tem como não emocionar
Donana era como uma avó, sua alegria era.contagiante nos tratava como netos..extensão familiar

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Tereza Gama
Parabéns Rey, Donana foi a maior animadora e organizadora de quadrilha daquele tempo,dancei todas!!!

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Maria Goretti Dantas Costa
Tereza Gama EU participei sempre. Era criança.

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Salette Mendonça
Linda recordação, ela era encantadora quando menina ela ensinava para nós, cantigas de roda, noite de lua cheia na calçada da sua casa, mais logo acabava a festa as meninas não podia ficar na Rua à noite.

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Elisângela Holland
Parabéns👏👏👏 muito linda.

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Domingos Dantas Brito
Esses protagonistas dessas histórias que Rei conta , eu não tive o prazer de conhecer ,eu era criança e depois fomos morar em outras regiões , mas ouvia sempre falar das figuras ilustres de Pombal, pra mim e interessante ficar sabendo.

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Marcia Magno
Reinivaldo, cada vez mais gosto de ver suas ilustrações. Mostram muita sensibilidade!

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Guel Silveira
Dez!

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Doge Carvalho
É meu amigo Reynivaldo, colega de internato no Colégio Antônio Vieira de Salvador. Conheço Ribeira do Pombal superficialmente quando a Marinete de Zé Mendonça que vinha de Paulo Afonso pegando os jovens que iam estudar em Salvador. Quanto às festas juninas com suas belas quadrilhas me faz lembrar é a que saudade que dar, dos mesmos festejos em minha querida Paulo Afonso.

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José Roberto Nascimento de Morais
Creio que muitos pombalense amam esta terra igualmente a você porém fostes o único a
Materializar este amor com textos. Admiro muito a qualidade que só os grandes homens têm: a humildade. Em todos os textos não deixa de mencionar Hamilton Rodrigues.

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Edivalda Gama
Parabéns Reynivaldo , mais um lindo texto , vc expressa com carinho , isso demonstra o ser humano.

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Marília Gama
Lembro muito das quadrilhas de Donana!!!. Parabéns Rey por lembrar de uma personagem marcante de nossa terra.

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Maria Goretti Dantas Costa
Donana era mãe de Zotinha. Organizava São João maravilhoso. Sempre participei!

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Edicarlos Santana
Parabéns seu Reynivaldo

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Nilson Dantas Viana Dantas Viana
Não tem como não gostar dessas crônicas que Rey vem trazendo pra gente. Ele escreve com uma leveza e realismo que encanta todos nós que conhecemos ou até convivemos com esses personagens. Parabéns conterrâneo, já está criando em nós, leitores assíduos do seu blog, uma expectativa da próxima publicação.

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Maria Antonia Morais Matos
Nilson Dantas Viana Dantas Viana e como nos emociona. Todos tem uma passagem em nossa vida ,na nossa terra Natal.

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Ivo Neto
Palmas!

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Antonio José Nunes
Boa Noite meu irmão
Vc deve fazer um livro físico
POMBAL, SAUDADES POMBAL.

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Moema Garcia
Antonio José Nunes , concordo com você! É isso aí, Reynivaldo!

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Jurandy Souza
Parabéns! Vc é um Pombalense que também merece nossas honras.

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Orelana Sturaro
Jurandy Souza
Palmas!

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Sergio Mattos
Bom dia Reynivaldo Brito . O resgate da memória dos tipos populares e pioneiros de sua cidade são ótimas histórias que poderão ser reunidas em livro. Espero que o faça pela memória historica de Ribeira do Pombal . Abraço forte.

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Maria Jose Viterbo
Grandes recordações.

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Beto Santana Santana
Muito bonito!!

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Benjamin Brito Gama Junior
Parabéns Rey .

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Maria Deuzari Costa Magnavita
Cada história é um presente que recebemos de você, meu primo.Lembro - me da casa, de Zotinha e Benedito Borges. As histórias são escritas com tanto realismo que o passado torna -se presente. na nossa memória. Mais uma vez lhe parabenizo e sem esquecer o seu grande colaborador e pesquisador Hamilton
Grande abraço e até a próxima história.

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Angela Lisboa Dabush
Reynivaldo Brito saudades de você...

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Celia Mallett
Que legal.

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Didil Costa
Achava ela linda. Era criança, mas guardo lembranças. Éramos vizinhos do Hotel São José. Em 1958 ela alugou a casa aos meus pais. Nascí lá. Rey você nos leva a uma "Boa Viagem" nos tempos. Parabéns!