Objetivo


sábado, 4 de setembro de 2021

A SAGA DAS IRMÃS FREIRE PELA EDUCAÇÃO

 
Maria Freire exigia muita atenção de seus alunos.
As irmãs Maria e Teresa Freire ensinaram as primeiras letras e  a Tabuada  a cerca de três ou quatro gerações na cidade de Ribeira do Pombal nos anos 40 a 60. Suas aulas , evidente não eram baseadas na didática moderna, e nem tampouco na apregoada por Paulo Freire e dissiminada pela esquerda . Este método contribuiu para colocar o Brasil no 57º lugar, portanto,  entre os mais atrasados no Pisa, que é o índice que mede o nível de educação dos países. ( O Programa Internacional de Avaliação de Alunos - em inglês: Programme for International Student Assessment - PISA- é uma rede mundial de avaliação de desempenho escolar, realizado pela primeira vez em 2000 e repetido a cada dois anos.) Estávamos nos anos 40 e a Cidade não tinha nem  2 mil habitantes . A praça Getúlio Vargas era tomada por um grande areal de cor entre o amarelo e o marron, e durante o verão queimava os pés de quem ousasse andar descalço.

Maria Freire e Francisco
Costa, com Antônio em 1930,
e ela jovem,quando teve um
namorico com Oliveira Britto
.

A escolinha  das irmãs Freire ocupava dois cômodos  da residência das professoras. Este imóvel era localizado na esquina onde hoje funciona a agência do Banco do Brasil, e tinha saída para a rua da Ribeira. Lembro que no quintal havia um coqueiro. A casa era simples , tinha quatro portas e duas janelas de frente , e a escolinha era o sustento nas irmãs Freire. Não lembro exatamente quanto era a mensalidade, mas tenho uma vaga lembrança que era baratinha. Depois elas alugaram a lateral para Miguel Valério e a frente da casa a Antônio Pelanca , que instalou ali um bar e uma mesa de  sinuca , onde os desocupados passavam o tempo jogando,além de conversa fora tomando cachaça.  Ana Ferreira de Brito , conhecida por  d. Sinharinha ,era vizinha onde também ficava  a agência dos Correios, do qual ela era funcionária.
Elas viviam uma vida muito simplória , vestiam vestidos longos e de tecidos baratos,não cuidavam muito da aparência,eram católicas e iam à missa todos os domingos . Quem   mais se destacava  era Maria Freire, uma senhora magrinha, de pulso   forte, e que se fazia respeitar em suas aulas usando uma régua de   madeira ou uma grossa palmatória. Para os que não conhecem a   palmatória é uma peça de madeira de forma circular e tem um cabo   para  segurar. Tem em média de 4 a 5cm de espessura e é feita de   madeira de lei, pesada, e servia para 
A casa das irmãs ,a primeira à direita, tinha duas
janelas e quatro portas. Esta é Lúcia Morais, quando
criança no jardim .
castigar alunos desobedientes,   desatentos, e nas prisões para  quem cometesse  crimes. Quando   alguma  criança não queria estudar, gazeteava aulas na escola   municipal  os pais costumavam apelar para as irmãs Freire. Lá o   traquino tinha que se enquadrar. Muitos fugiam nas primeiras aulas,   porque elas exigiam muita disciplina e atenção.
  Seu nome completo era Maria Souza Freire Filha nasceu em 28 de fevereiro de 1901 e faleceu em 12 de dezembro de 1968, e no jazigo está escrito: "Uma lembrança inesquecível de seu filho adotivo Francisco Costa". Ela na realidade adotou informalmente dois irmãos o Antônio e o Francisco Costa, filhos de Joaquim Costa, que vem a ser seu irmão. Como era muito católica conseguiu através de um bispo de sua época colocar o Antônio no seminário, mas depois de alguns anos ele abandonou , fez concurso para coletor estadual  , casou com uma protestante ( crente).e foi morar no sul do Estado

D. Maria José Pereira
 Outro depoimento é de d. Maria José Pereira de Carvalho  ,68 anos  ."Quando   cheguei em 1963 conheci Aécio Costa , com que me casei, ele me falou de suas tias   Maria e Teresa Freire   que moravam numa casa que tinha quatro portas. Elas   alugaram a Antônio   Pelanca, era um bar, uma espécie de bodega.Foi o   Francisco Costa que negociou   a casa com o Banco do Brasil. Ele alugou uma   casa na Rua da Ribeira onde   colocou Maria Freire. A irmã Teresa já tinha   falecido."
 Segundo me informou Marília Brito, que morava vizinha as irmãs Maria e   Teresa  Freire não se falavam , embora morassem na mesma casa, inclusive cada   uma preparava sua refeição. A Maria Freire num fogão improvisado  e a Teresa   numa trempe no chão. Tia Sinharinha que  criou  Marília, a quem ela  chama de   mãe  proibia dela ir na casa das vizinhas porque não se cuidavam e gostavam de   dar beliscões e cascudos nas crianças, além da palmatória na sabatina da taboada. Todos lembram que elas não cuiidavam bem da aparência e até mesmo da higiene pessoal.

Segundo , Terezinha Ferreira da Costa , conhecida por d. Tela, irmã de Francisco Costa, criado por Maria Freire ela foi estudar com as irmãs Freire, mas o pai ficou contra porque era muito mimada . O pai disse se você chegar aqui chorando vai apanhar. "Ele sabia que Maria e Teresa batiam  nos meninos de palmatória. É importante dizer que ela nunca triscou ( tocou) em Antônio e nem no Chico,nunca bateu neles. Passei uma semana mais ou menos, mas, quando ela quis fazer qualquer coisa comigo eu fugi. Ela usava palmatória estas coisas... Ai meu pai disse: Não vou lhe bater porque você chegou só com o olho grande e não chorou. Por isto que não vou lhe bater". Diz ainda d. Tela que  Maria Freire  namorou quando novinha  com Oliveira Brito, parece que foi o único namorado. Depois não andava mais arrumada..." Ao lado d. Terezinha, a Tela, que foi sua aluna por apenas uma semana. 

Já  d. Alaide Rodrigues, de 85 anos, lembra que a recomendação  da época era: "Coloque em Maria Freire que ele aprende a ler, escrever e somar." Ela confirmou que a palmatória funcionava diariamente. Ao lado esquerdo d. Alaide que tem lembranças da fama da palmatória das irmãs Freire.

Também fui aluno de Maria Freire e minha mãe me colocou lá juntamente com uma menina que  criava chamada de Teresa. Confesso que não sei o paradeiro de Teresa, que depois que ficou moça foi embora para o distrito de Buracos.  Lá ficamos uma temporada e sempre atento aos ensinamentos e muito preocupado, com medo de sua temível palmatória. Depois de estudar as primeiras letras e a Tabuada ela marcava o momento de fazer uma sabatina para testar se realmente a turma tinha aprendido ou não. Colocava os alunos em círculo e ficava com a palmatória na mão. Ai começava a perguntar 2 + 2,  9 +7 e assim por diante, e depois mandava que os colegas fossem perguntando.Quem errasse o que perguntou dava com a palmatória na mão. Doía muito, provocava pequenos tumultos, que ela controlava com gritos fortes. 

Homenagem feita por
Francisco Costa.
Já o  Aurelino Borges, de 70 anos  declarou "fui  aluno de Maria Freire e quando errava levava umas batidas de palmatória. Lá a palmatória comia no centro o dia inteiro. Eu acho que a palmatória hoje não surtiria grande efeito, mas vejo que estão cometendo um grande erro, porque não estão limitando os filhos. Está uma bagunça, os pais não estão sabendo administrar seus filhos". Ao lado direito o Aurelino que também aprendeu a ler e Taboada com as professoras Maria e Teresa Freire.

 Este método das irmãs Freire certamente não é o recomendável, mas funcionava.  Hoje, seria considerado um crime, e assim entraria em ação o Ministério Público, Conselho Tutelar , e outras coisas do exagero de proteção, e o que vemos aí são gerações de mimimi que não estudam, não obedecem,não trabalham, e nem respeitam os pais, idosos, professores , e instituições.
NR - Quero agradecer a Hamilton Rodrigues que colheu  depoimentos e fez a maioria das fotos. 



26 comentários:

BLOG DO REYNIVALDO disse...

Marluce Maria Morais Brito
Acho que quase todos da minha geração passaram, ao menos uns 3 dias na Escola de Maria Freire. Eu me recordo que por um dia, cheguei a sentar diante daquela grande mesa, onde ficavam todos os alunos de todas as séries. Um detalhe que eu achava interessante, era que os alunos liam ou "decoravam A tabuada" em voz alta , uma verdadeira "cantilena" que eu gostava de ouvir. Eu ouvia da casa de vovó Sinharinha, que era sua vizinha de "parede meia". Nós, os netos de vovó Sinharinha a chamávamos "mãe Lilia ", acho que era influência de como Chico a chamava. Muito legal você estar homenageando essas pessoas que marcaram a vida de nós pombalenses.

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Esta palmatória era de da medo. Lembro, que tinha uma sabatina de matemática Quem . não respondia certo tomava bolo .Jesus era terrível ,eu tomei bolo!

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Marília Gama
Amei!!!

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Nirvan Dantas Jacobina Brito
Você está descavando coisas hem!!!

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Edison Etsedron
Esse resgate de memórias é uma maravilha. Me lembrei de muita coisa. A gente aprendia o Abc cantando. Fui pra escola com 10 anos. Mais já sabia tudo. Mesmo assim fiquei no infantil.

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Maria Raimunda Brito Brito
Linda homenagem

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Sônia Soares
Foi da mimha época adorei a homenagem que na época. fez historia Valeo a lembrança.

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Maria Ecy
Eu cheguei a frequentar por pouco tempo meu irmão Moacy ficou mais tempo meu Deus voltei ao tempo l boas lembranças.

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Iara Brito
Que bom! Perfeito.Vc e Show meu irmão querid

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Maria Lucia Correia Silva
Mamãe foi aluna de Maria Freire e nos falou a respeito dessa "palmatória", era equivalente ao que hoje chamamos de avaliação processual, pois ocorria logo após a atividade de ensino. Temos que ser gratos, pois muitos dos nossos ilustres, ou não tão ilustres pombalenses receberam delas o "passe mágico" para o conhecimento formal.

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João Oliveira
Ela era temida e respeitada. Todos obedeciam suas ordens. Eu apenas fui um dia e vi uma cena terrivel de um aluno ajoelhado num monte de milho espalhado no piso. Depois deste dia, nunca mais pisei os pés lá. Mas mesmo asim, dou valor pelo seu trabalho de educadora naquela época. É como diz o ditado: Escreveu não leu, o pau comeu. Parabens Rei por estas lembranças de outrora.

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Edna Silva
Tem gente desejando que volte

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Domingos Brito
Muitas historias pra contar heim Rei.

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Lucia Morais
Está mexendo nos baús da nossa cidade. Que bom! A nossa cidade não tem memória você pode resgata‐ĺa.

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Therezinha Carvalho
Geralmente as pessoas que viveram no interior guardam lembranças que valem a pena que sejam resgatadas. Quanta gente lembra da sua primeira professora, e das histórias vividas nas salas de aula, e fora delas à moda antiga onde havia respeito, bons ensinamentos e até a boa lembrança da palmatória de madeira tão temida e tão usada na época, na sabatina da taboada. Daquela época não conheço ninguém que precisou de psicólogo.
Nada que a palmatória e o castigo não resolvesse.
Reynivaldo, você com suas histórias trazidas no seu blog, contadas com tantos detalhes, mesmo quem não é pombalense, mas tem suas raizes no interior, tem interesse em ler, pois, parece que todos nós vivemos um pouco de tudo isto que vc traz aqui. Seus leitores gostam de ler sobre estas passagens.
Hoje as escolas só se interessam em ofertar conteúdo, e a formação do homem atual, com o excesso de liberdade, mudou totalmente o conceito de educação da nossa época, passados pra nós por nossos primeiros professores. Os princípios éticos parece que desapareceram.
Que você continue resgatando e escrevendo as histórias de vida dos personagens que fizeram e deixaram histórias na sua cidade. Povo que não preserva a sua história, se torna um povo sem referências.

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Ivonildo Peixoto
Sou Ivonildo Peixoto Costa filho de Antonio ferreira costa,viagei na história de vó Freire,parabéns.

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Eduardo Frederico
Pombal tem histórias.

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Ivo Neto
Palmas.

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Gilka Maria De A Paixao
Incontestável a educação que nós recebamos,respeito aos professores,aos nossos pais enfim aos nossos semelhantes.

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Gilka Maria De A Paixao
Hoje louvo a educação que recebi da minha mãe ( quando jovem no meu íntimo eu achava excesso) .Minha foi educadora TB.Enfim,imprimiu no meu modo de ser muita responsabilidade,seriedade e força de caráter.

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Ivan Peixoto Costa
Sou Ivan Peixoto Costa, filho de Antonio Costa e "neto de criação" de Maria Freire.
Boas lembranças! No quintal de vó Maria Freire (era assim que eu chamava) tinha um cortiço com abelhas "mandaçaia"; lembro da cozinha com o fogão no chão; da famosa palmatória 😳😳; da praça com areia "escaldante" (em 1957); e da sua irmã Tetê.
Sou "neto de sangue" de Joaquim Costa (alfaiate) e D. Guilhermina.
Lembranças também de Tio Tonho (pelanca) e de seu bar.

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Antônio Andrade
Preparou os grandes cidadãos e cidadãs pombalense

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Nilson Dantas Viana Dantas Viana
Que bom Reynivaldo que você está atualizando e revivendo nossa história nos anos 60 e é impressionante o realismo com você descreve. Eu falo porque convivi com tudo isso que voce conta. Nao fui aluno das irmãs mas conheçi sobre as irmãs bem como o bar de Antonio Pelanca e uma alfaiataria de Se Costa na lateral da casa delas. Esses seus escritos deveriam fazer parte do acervo do museu de Ubiratan para as futuras gerações ou quem sabe transformados em livro. Adoro reviver Pombal.

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Ivana Peixoto Costa
Eu sou filha de Antônio Costa, sou pedagoga e apaixonada pela educação... Creio que vó Freire usou o que lhe foi ensinado, com o intuito de ser a melhor para seus docentes... Fiquei emocionada com a história e saber que levo um pouco dela na minha vida ...

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Paulo Santana
Morei em Pombal até 1969 e, lembro-me bem um pouco destas histórias. Como é gratificante rememorar um passado de muita pureza e felicidades.
Nós fazemos parte da geração de ouro do nosso tempo.
"COMO EU ERA FELIZ E NÃO SABIA ".
Parabéns Reynivaldo Brito pela bela narrativa de um período de ouro da minha infância.

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Carlos Alberto Borges Oliveira
Para quem quiser saber um pouco mais sobre a história da nossa Ribeira do Pombal-Ba.https://youtu.be/YunkMgSKe4M