Objetivo


terça-feira, 4 de abril de 2023

APRENDA COMO VIAJAR DE TREM,ÔNIBUS E TÁXI EM SALVADOR

Página original.

Jornal A Tarde, 02 de janeiro de 1971.

Texto Reynivaldo Brito

Ilustrações  Nicolay Tishchenko (1926-1981)

A informação de qualquer atividade na Cidade do Salvador é uma verdadeira Via Crucis embora existam vários tipos de veículos para transporte individual e coletivo, com grande quantidade de “táxis voadores” à sua disposição para que possa chegar a qualquer ponto da cidade da maneira mais confortável e rápida possível. A verdade é que nem sempre você chega ao seu destino, ou quando consegue está terrivelmente atrasado e nervoso. Mas, você é um passageiro, e como tal, deve ser um “cara” paciente…

Se desejar conhecer algum ponto da Cidade, vamos dizer um subúrbio, é muito fácil. Vá à Estação da Calçada e tome um dos trens suburbanos. É uma condução que oferece o mais alto índice de segurança, rapidez, e principalmente elasticidade. Lá não existe falta de lugar, sempre cabe mais um. Os vagões são tão elásticos que caberiam toda a população da Cidade. A entrada ou acesso aos vagões, é fácil. Além de você entrar pelas portas laterais, poderá ainda utilizar das janelinhas. A saída é mais fácil ainda. Pode pisar nas cabeças dos passageiros e simplesmente “pedir desculpas.” Desta forma você alcança aos poucos e em segundos, a porta de desembarque…

                                                                Os TRENS

Nos trens suburbanos não existe falta de lugar. Eles são
tão elásticos que caberia toda a população da Cidade.
Os "caras"viajam trepados nos estribos, com as pernas
de fora e, dentro dos vagões centenas de passageiros se
comprimem.
Na Estação da Calçada os trens são “ invadidos, “com tanta rapidez e agilidade pelos moradores dos subúrbios, que um malabarista ficaria abismado. É um verdadeiro treino para um circo. Em menos de dois minutos mais de dois minutos, mais de dez vagões já estão superlotados de gente, galinhas, embrulhos, frutas, e coisas inacreditáveis. Uns trepados nos estribos, outros segurando em pequenas saliências. Dentro, centenas se comprimem em meio de sacos, vasilhas e bacias. A presença de um suíno não espanta os passageiros. Quando o trenzinho chega no próximo subúrbio, vem nova invasão. Os “caras “que estavam esperando o trem há algum tempo, investem todos de uma só vez. Em contrapartida, os que já vinham viajando, empurram os que desejam entrar. É um “bafafá dos diabos”. As portas de vez em quando são acionadas pelo maquinista, principalmente quando nota que a invasão está sendo repelida. Este mecanismo das portas quase não falha. Resulta quase sempre em mãos apertadas, narizes quebrados, e outros acidentes sem muita importância. Em poucos minutos o trem começa a bufar e ganha novos metros da linha férrea.

O mecanismo das portas é o maior inimigo dos invasores. Muitas vezes os passageiros inutilizam estes mecanismos. Quando isso não acontece, eles passam a abrir as janelinhas que são muitas, para entrar e sair dos vagões. Ali não existe perigo de acidente com importância. Quando estão dispostos trepam na parte de fora dos vagões. Os atrasados pulam por cima dos demais e pedem a tradicional “desculpa” …Os aproveitadores de quando em vez dão uma beliscada na parte traseira das mocinhas, e recebem de presente um “tapão” ou uma bolachinha no rosto. Mas eles já se acostumaram com esse tipo de retribuição. Passam um lenço na face e passam para outro vagão. Novo beliscão ou um bofetão etc., até o final de linha.

 

                                                                  O ÔNIBUS

 Esta é uma das famosas filas que estamos acostumados a ver.
 Cachos de bananas,sacos,cestas e valises disputam com os
 passageiros alguns centímetros de piso esburacado dos ônibus.
 Isto ocorre com mais frequência nos chamados "bairros
 populares".Quandi o ônibus chega ao ponto de embarque e
 desembarque de passageiros há aquela invasão e muitas vezes
 o capacete do guarda que policiava a fila vira bola...
O ônibus é o transporte coletivo mais concorrido. Ele existe em quase todos os bairros da Cidade. A
sua aparência não deve impressionar o usuário. Sua lataria suja e às vezes esburacada, é prova de sua eficácia no trabalho. Se você ainda não pegou um desses transportes coletivos, experimente. Eles têm cores, tamanhos, itinerários, e preços diferentes. Uns viajam a sessenta quilômetros por hora, outros a oitenta quilômetros por hora. A velocidade depende da responsabilidade do motorista. Agora, em época de festa, eles estão mais ativos, e a velocidade poderá alcançar mais alguns quilômetros por hora...

  O motorista é quem dirige o ônibus. Ele senta-se atrás do volante e o seu nome oficial é “chofer.” Mas, durante o dia, ele e sua família são chamados por um bocado de nomes…Seu companheiro, o cobrador, é um sujeito fantástico. Fica sentadinho não sua cadeira recebendo o dinheiro dos passageiros. Se você tomar um ônibus, trate de levar o seu dinheiro contadinho, para não o aborrecer. A exigência do troco perturba a vida do cobrador…

                                                        DEVERES

Os deveres do “chofer” estão registrados no volante à sua frente. Não pode conversar com passageiros, lotação do ônibus, velocidade, etc., etc. Mas, tudo é “para inglês ver. “Ele é quem faz a sua lei. O itinerário não é obrigatório. Se o ônibus ou lotação está vazio, antes do fim do ramal ele volta de onde quer, burla e deixa os passageiros nos pontos, faz o diabo a quatro, senhoras e velhos reclamam: Seu motorista, vou saltar em tal lugar, e o senhor não vai passar por lá? O ônibus é dele? A resposta nunca vem. Ele está preocupado com o seu novo itinerário, e o negócio é “pé na tábua...  A velocidade sempre está acima do permitido, e o bate papo do motorista com um passageiro amigo ou um colega, continua dentro dos transportes coletivos. Talvez a razão disso seja porque não ficou explícito o que seria o “indispensável”.

As grandes colisões são a tônica no dia a dia do “chofer”. Em média duas pessoas morrem diariamente por colisões e atropelos fatais em Salvador. Mas, quando o nosso herói encontra pela frente um “fusquinha”, o negócio é empurrar o “cara “para fora da pista. Em dois ou três minutos o assunto já vai estar resolvido pelo guarda de trânsito, que exige “respeito à autoridade”. Vai encher o talão de multa, escrevendo tudo errado. Quando o advogado do infrator vai responder na repartição competente pelo ato do seu constituinte, a causa já está ganha, porque alguém conseguiu esconder o que o guarda escreveu...

                                                       LOTAÇÕES

É uma tranquilidade você tomar uma lotação na Cidade. Elas estão na grande maioria na Praça da Sé, na Praça da Inglaterra e no Campo Grande. Quando chegar num desses logradouros públicos e observar uma imensa fila, não desanime. Toma o seu lugar, dentro de uma ou duas horas no máximo você estará sentado numa das poltronas sujas e empoeiradas. Sua calça deve cooperar com a empresa, na preservação do seu patrimônio.

Quando você chegar a seu destino, trate de deixar uma “tirinha” da sua calça de tergal, para ajudar no enchimento do banco. Se por acaso você não conseguir uma poltrona vazia no micro ônibus que acabou de chegar não se preocupe. Saia da fila e ande alguns metros na direção contrária ao itinerário que pretendia seguir, e, quando avistar um deles, dê com a mão com o polegar virado para cima. O “chofer “é um cara legal. Dá um freio instantâneo e um dos passageiros é acionado estrategicamente junto ao motor. Não “titubeie”. Entre mais que depressa e  tome o lugar que acabou de ficar “livre”. Mas, se é uma mocinha que deseja tomar a lotação e esta, está cheia, com apenas uma risadinha, o problema está resolvido.

O cobrador transmite imediatamente o seu gesto para a mocinha e a porta lhe será aberta, e você encontrará um lugar, pois, sempre existe um “cavalheiro “dentro destes transportes coletivos.

Quando entrar numa lotação tome posição estratégica. Nela não existe cadeirinha para o cobrador como acontece nos ônibus. Então, o cobrador se utilizará dos seus ombros, principalmente se você é um cara robusto. Durante a viagem ele precisará cobrar as passagens, e assim vai se apoiando nos ombros dos passageiros que estão nas extremidades.

                                                              A FILA

A fila é uma “necessidade”... Se alguém não quiser colaborar com ela, trate de viajar em horários que não existam filas. Aí terá oportunidade de constatar a grande verdade da lei da “oferta e da procura”. Os motoristas e cobradores uns verdadeiros “gentlemans”.A viagem é agradável. O “chofer “vai parando devagarinho em todos os pontos de embarque e desembarque de passageiros. Umas tapinhas na lataria do veículo funcionam como verdadeiros sirenes. Os “caras “vão subindo e cada um toma lugar numa poltrona. Mesmo que você não deseje ir naquele itinerário, tome esta lotação. Depois de alguns metros, faça um sinal para que o motorista pare o veículo, dizendo que “tomei o transporte errado, ou que me esqueci da carteira de cédulas, em casa.”

Dizem os técnicos do DETRAN, que em Salvador existem muitos ônibus, lotações etc.E o que precisamos é de regionalização. Imaginamos que com “tanto” transporte estamos passando vexame, se o número for reduzido!

                                                                   O TÁXI

O cidadão que estiver no meio da rua esperando um táxi para ir para sua residência, e passar um carrinho em alta velocidade com o taxímetro “LIVRE”, não se afobe. Acene com a mão. Se for hora do “rush”, ou seja, quando você necessita mais deste transporte, certamente que este motorista não para. Mas, quando isto acontecer, esteja preparado para responder a esta pergunta: “O senhor vai pra onde”? Se responder diga que deseja ir para Nazaré, Saúde, Tororó ou qualquer outro bairro próximo do centro da Cidade, ele lhe

responderá que o carro está com defeito, que vai almoçar, que vai jantar, ou outra desculpa qualquer. Mas, não se desespere. Volte a seu lugar de origem e continue a acenar para todos os táxis que passam, mesmo para aqueles que estiverem ocupados. Se algum parar, diga ao simpático motorista que deseja ir ao Rio Vermelho ou Pituba. O distinto lhe recebe com uma risadinha e manda você entrar. Depois de viajar alguns metros em direção a estes bairros, diga que volte para Nazaré, seu itinerário anterior, pois esqueceu algo. Assim você conseguirá chegar a sua residência.

O motorista de táxi é um sujeito insatisfeito. Quando pega uma corrida para perto, fica aborrecido. Explica-lhe que desta forma não consegue pagar as letras do banco. Mas, se o seu destino era ir até o Aeroporto 2 de Julho, também ele vai se zangar porque não acha passageiros para voltar, e volta vazio.

A melhor maneira de agradá-lo é perguntar para onde ele deseja ir. Mantenha-se calmo e sereno. Depois de um ou dois minutos de viagem ele resolve  lhe transportar até um ponto qualquer da Cidade, embora não fosse o destino que desejava. Peça-lhe que que volte para a Barra Avenida. Ele lhe pedirá desculpas, mas, não ouse lhe pedir troco.

Seus negócios, portanto, devem ser resolvidos de acordo com o itinerário escolhido e gentilmente aceito pelo motorista do táxi. Se tiver alguma coisa a tratar no centro da Cidade, não arrisque a mandar que se dirija pra lá, porque imediatamente a porta do carrinho será aberta e você será convidado a saltar, pois “ o carro enguiçou”. A verdade é que o motorista do táxi não deseja seguir o seu itinerário, ou melhor, ele não quer ir para onde você vai... Afinal de contas sua vida ou seus negócios não lhe interessam...

 

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