Objetivo


sexta-feira, 7 de abril de 2023

HISTÓRIAS EM QUADRINHOS - MICKEY, O TOPO GIGIO, GATO FÉLIX NUM CONGRESSO EM SÃO PAULO

Página original.
  Jornal A Tarde   - sexta-feira, 20 de novembro de 1974
Texto Reynivaldo Brito
As lutas refletem o mundo atual. Elas são consumidas por crianças e adultos, e não adianta os educadores, sociólogos e psicólogos proibi-las, porque elas são encontradas na rua, em todas as bancas de jornais espalhadas pela Cidade. Sabemos, que todos nós ao nascer temos tendências amorosas e agressivas que variam de intensidade de individuo para indivíduo. Mas as revistinhas em quadrinhos podem aumentar, diminuir ou mesmo reforçar estas tendências inatas ao homem. Em alguns casos esta agressividade ou afetividade têm um desenvolvimento normal porém, em outros, uma ou outra se manifesta com anormalidade.

Na escola todos têm um segundo nome: Super-Homem, Fantasma e Tarzan. Eles se consideram mesmo super-heróis e as brincadeiras mais violentas são as preferidas. Os psicólogos aconselham que a solução é chamar atenção dos meninos para outras atividades não violentas. Mas no caso dos adultos que consomem diariamente milhares dessas revistinhas, o problema se apresenta com mais gravidade. Talvez uma frustração na infância sejam as razões encontradas para uma possível explicação. As crianças ainda gostam de Histórias em Quadrinhos. Atualmente muitas trocaram pelos games nos celulares sofisticados que são companheiros inseparáveis.

                                           DIVERTIMENTO


A criadora Maria Perego e seu Topo Gigio
que fez sucesso no mundo inteiro.
Igual a  Erik, milhões de crianças e adultos em todo o mundo se divertem com a leitura das revistinhas em quadrinhos. Um mundo de fantasia os envolve. E isto reflete, de maneira geral, uma dose de insegurança. Alguns acreditam que não se deve culpar unicamente as Histórias em Quadrinhos e os programas violentos de televisão pelo aumento da agressividade das pessoas. A verdade é que atravessamos uma época dos transplantes de órgãos humanos, foguetes e instrumentos mecânicos que passeiam na face da Lua e os super-heróis fazem parte deste mundo.

Cada indivíduo reage diferentemente ao impacto da violência. Mesmo os leitores assíduos, que procuram se divertir com essas histórias terminam envolvidos por elas. As, eles também, são vulneráveis e muitos não resistem à violência sem ajuda de um colega ou amigo. A capacidade de autodefesa que varia de indivíduo a indivíduo, é limitada, e muitos caem por terra em seus sonhos de ser um super-herói invencível. O divertimento procurado traz a consequência do envolvimento e na realidade muitas dessas pessoas ficam desapontadas quando encontram um páreo mais duro e não conseguem quebrar em pedaços o seu adversário.

                                                                 A FUGA

O fator fuga é apontado pelos estudiosos como causa do consumo desenfreado em nossa época, dessas revistas. A criança ou o adulto muitas vezes está atravessando uma fase um pouco difícil e tentam superá-la com a leitura desses livretos, fugindo da realidade. Isto é em decorrência de uma vida familiar ou conjugal embaraçada, cheia de conflitos de um ambiente de trabalho tenso e agitado. Mesmo com a ausência desses problemas que atingem diretamente quase todo indivíduo no mundo atual, a necessidade de violência é explicada como inerente ao homem. Sim, necessidade e até certo ponto natural. Uma gritaria num estádio de futebol ou mesmo um esfregar de mãos pode ser normal...

O  Gato Félix tem muitos fás de suas aventuras.

Os homens e os bichos convivem nestas Histórias em Quadrinhos, e esses últimos sempre tiveram um lugar de destaque em todas elas. O Gato Félix, criado por Pat Sullivan e o Gato Louco, de Ben Harrison e Mary Gould divertem até hoje milhares de americanos frustrados. Os dois disputam acirradamente a preferência de um imenso público. E foi para complicar esta situação que foi criado um rato de nome Mostimer que nasceu feito e triste. Em pouco tempo foi-se transformando não só na aparência, como na personalidade, e ganhou um novo nome: Mickey. Este ratinho engraçado ficou tão famoso que foi aprovado pela Liga das Nações, que deu origem a ONU, ganhando uma estátua no Museu de Cera. As peripécias desses personagens são vividas e consumidas por um público facilmente identificável...

                                                       AS FOTONOVELAS

Mickey com sua graça é quase impatível.
As fotonovelas são parte de um todo: os quadrinhos. Não devemos esquecer que elas também são consumidas pela classe média e humilde em sua grande parte. O adolescente é o consumidor por excelência. Eles superestimam a sua emotividade, e estão sempre dispostos a se sacrificarem por seu namorado ou namorada, abrindo mão facilmente de sua vida real por outra fictícia em função dos personagens que lhes identificam.

Uma garota de 16 anos, aluna da segunda série ginasial, disse que "amo o Cláudio Marzo. Chorei no dia em que ele se casou. Não sou bonita e os rapazes de Salvador não me dão muita importância, mas se eles fossem inteligentes como Cláudio reconheceriam que beleza não é fundamental”. Marlene vive uma vida de fantasia. Dirão, que é próprio de sua idade. Mas outras moças de mais de vinte e cinco anos vivem o mesmo problema dessa adolescente. As fotonovelas levam essas pessoas a um envolvimento. Muitas chegam a chorar quando esses ou aquele personagem é morto ou sofre qualquer acidente num conto de fotonovela, a depender da vontade do autor, que deseja dar esta ou aquela dramaticidade ao conto.

O ídolo é para a mocinha um objeto raro e amoroso fora do seu alcance. Ela se mantém numa posição "idealizada como se magicamente pudesse receber de um cantor ou ator, por exemplo tudo de bom que eles têm, sem fazer nenhum sacrifício".

                                                             PORNOGRAFIAS

Cuica de Santo Amaro recitando seus versos.
Existem dezenas de revistinhas pornográficas de péssima impressão e com um linguajar de baixo calão. Elas são vendidas às escondidas e com um certo mistério. Esta máscara que envolve o vendedor e o comprador estimula o consumo. A maioria dos compradores são jovens entre 18 a 25 anos e velhos de 55 anos de idade em diante. Talvez a vontade de descobrir o "desconhecido “leve esses jovens a se dedicarem a essas leituras. No caso dos velhos a explicação que se conhece é porque eles estão chegando ao "último canto do cisne".

Raciocinam que não podem perder tempo. A leitura dessas pornografias proporciona um momento de prazer para esses indivíduos que chegam a sonhar praticando certos atos com essa ou aquela garota desejada intensamente. 

Em diversas bancas de jornais vendem-se clandestinamente essas Histórias em Quadrinhos. Já tivemos a oportunidade de ver em mãos de um conhecido uma dessas brochuras. O autor anônimo, sem o mínimo de gosto escreveu um texto grosseiro, irritante e medíocre. O nome de uma mocinha estudante universitária e de família importante de nossa Capital figurava como "atriz". palavras e cenas impublicáveis que qualquer órgão de imprensa enchiam as doze páginas da brochura. O pior de tudo, é que além do nome da moça, o difamador colocou o nome da família e o bairro onde reside. Se a polícia tomasse conhecimento onde estão sendo vendidas essas revistinhas certamente tomaria as providências cabíveis. Mas a verdade é que ninguém sabe, ninguém viu... E a coisa continua enchendo os olhos dos sexualistas frustrados.

Quando falamos em pornografias na Bahia ligamos o nome do conhecido Cuica de Santo Amaro, que se postava em frente ao Elevador Lacerda vendendo seus "escritos". Além de livrinho de versos com pornografias o Cuica fazia alguns desenhos mal feitos e de péssimo gosto os quais naquela época eram vendidos a preços altos. Os seus clientes eram jovens e velhos.

                                      UMA CRIANÇA ADULTA

O criador Walt Disney
Todos conhecem Walt Disney o criador do Mickey. O homem a que a Enciclopédia Britânica dedicou um capítulo inteiro, "que madame Tussand acolheu no seu Museu de Estátuas de Cera, que os russos interpretaram como um símbolo do proletariado". A influência dos personagens criadores por este homem chegou ao ponto de ser a palavra-código que no dia 5 de junho de 1944 guiou o desembarque na Normandia - |Mickey Mouse. A França do General De Gaulle e a Europa arrasada pelas baterias alemãs, foram libertadas em nome deste "herói" das Histórias em Quadrinhos.

Mas estes homens que até hoje consegue divertir centenas de milhares de crianças e adultos, tinha poucas ilusões. Chegou a afirmar certa vez que não haverá guerras no mundo! Ao contrário. Tenho certeza de que as guerras continuarão existindo enquanto o Planeta for povoado". Talvez é por esta razão que os bichinhos e os homens foram criados por Disney estão em constante luta. A violência é mais ou menos constante a depender do livrinho. Ele acreditava que muito se pode aprender com os animais." A maioria dos animais não mata por gosto de matar; mata para comer. E quando estão satisfeitos, não matam até o momento em que voltam a sentir fome. O que é melhor que matar em nome das ideologias, das religiões, e outras coisas não acha?"

                                            CONGRESSO INTERNACIONAL

Fantasma fez 80 anos e continua apreciado.
Será iniciado no próximo dia 28 um Congresso  Internacional de História em Quadrinhos, onde serão debatidas duas teses principais: a situação do "copyright" no plano internacional e o caso dos direitos autorais no Brasil. Uma exposição de Histórias em Quadrinhos está sendo armada para funcionar ao lado do congresso. Estes conclave contará com a presença dos maiores desenhistas como Burne Hogarth, criador do Tarzan; Lee Falk criador de Mandrake e o Fantasma, e de Jean Forest ,criador de Barbarella.

Na próxima terça-feira esses homens já estarão reunidos em debates. A produção nacional dessas Histórias em Quadrinhos é considerada um dos temas mais importantes. A Estética das História em Quadrinhos como forma idiomática do século XX ser, a abordada numa conferência a ser proferida por Burne Hogarth. Projeções de Histórias em Quadrinhos serão realizadas para os congressistas, principalmente aqueles personagens que influem nas sociedades modernas.Um fato curioso é que a grande tendência para os brasileiros são as histórias de terror. Um de seus criadores em nosso país é o indivíduo conhecido como "Zé do Caixão", radicado em São Paulo.

                                                 AUSENTES

Tarzan, o Rei das
Selvas.
O conclave não contará com a participação de psicólogos, sociólogos, estudiosos de comunicações e educadores. Afirmaram os organizadores que isto deu-se porque "a verba não deu".A verdade é que a presença desses estudiosos é imprescindível para aquilatarmos a influência desses falsos "heróis" e carrascos na formação da personalidade das crianças e nas atitudes de centenas de adultos. O desenvolvimento da mentalidade de crianças pode sofrer uma influência positiva com a leitura dessas revistinhas, mas diversos aspectos negativos devem também ser considerados. Um deles apresentado por quase todos os educadores é que esses leitores ficam acostumados a ler e ver os quadrinhos de tal maneira , que não conseguem ler qualquer outro livro que não contenha desenhos e gravuras. As professoras de Português que lidam com alunos que estão prestes a concorrer ao Vestibular sentem uma dificuldade enorme quando mandam os seus alunos descreverem este ou aquele personagem de um romance qualquer.


Nenhum comentário: