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Reprodução da página original |
Texto de Reynivaldo Brito . Fotos de Rubens Magalhães
Há quarenta e quatro anos que Frei Elias Medeiros Ferro,
irmão leigo da Ordem dos Carmelitas Calçados, vive cuidando do Museu do Carmo.
Poeta e devotado batalhador pelo museu que fundou, pede, luta, sofre e quando
não está mostrando aos turistas curiosos as peças de prataria e imagens antigas,
está fazendo versos. Já publicou cinco livros, inclusive um recente com o
título Poesias Escolhidas que ele mesmo vende aos visitantes
no "seu mundo", o Museu do Carmo.
Frei Elias é
humilde e muito comunicativo. Gosta de recitar os versos que compõe deixando
transparecer a vontade imensa de comunicar-se com os seus semelhantes. As
únicas horas de que dispõe é quando está mostrando as raras peças do Museu do
Carmo aos turistas. Conheceu Graciliano Ramos e foi seu auxiliar quando o
escritor de Vidas Secas residia em Palmeiras dos Índios, cidade onde nasceu
Frei Elias. Durante três anos, sentiu de perto a grandeza do escritor e do
homem.
HISTÓRIA
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Frei Elias Medeiros Ferro "canta"as belezas do Museu do Carmo, "seu mundo", mas aproveita para recistar versos de sua lavra. |
"O
Cristo Atado à Coluna é uma das mais belas peças do Museu do Carmo, escultura
em madeira do fim do século XVIII e atribuída ao artista baiano Francisco
Chagas, mais conhecido por O Cabra. Frei Elias não para por aí. "O
Cabra é o autor da imagem de Nossa Senhora do Carmo entronizada no altar mor de
nossa igreja . Segundo depoimento da época, a criança que serviu de modelo ao
escultor faleceu no dia em que a imagem foi benzida. Ele recusou-se a fazer a
cópia desta imagem destinada a Portugal e por isto teria sofrido graves vexames
e perseguição, inclusive foi recolhido na época a uma cadeia pública onde foi
açoitado, terminando louco".
Frei Elias
conheceu o escultor Pedro Ferreira também baiano e autor de grandes imagens.
"Conheci Pedro Ferreira, um mulato comunicativo e criador. A imagem de São
Francisco de Assis, do altar mor, que está abraçado com Cristo na igreja de São
Francisco é de sua autoria, como também , este Senhor Morto que temos em nosso
Museu. Ele residia no Matatu , em Brotas. É uma pena que hoje não conheçamos
escultores de imagens como antigamente".
Enquanto
conversava com Frei Elias, um grupo de quatro turistas aproximava-se para ver
as peças do "seu mundo". Imediatamente ele solicitou do repórter um minuto
e foi mostrar as peças. Repetia com a mesma paciência aquelas mesmas
informações que já foram transmitidas a milhares de visitantes desconhecidos.
Mas não
perde tempo. Vai a uma mesa que tem ao centro da sala onde ficam os objetos de
prata e traz o seu livro e começa a recitar a sua poesia preferida na qual usa
e abusa da aliteração, que é a repetição de fonemas idênticos. "A
tempestade tisna o tempo e torna / Tristonha treva - a tarde transparente. /Terrível
turbilhão tudo transtorna. / Trazendo a tromba túrgida e tremente. / O terror
da tragédia tenebrosa. / Tonteia e traz tremores da tormenta. / Tudo transverte
e turva a temerosa / Torrente, transmutada e turbulenta. / O transeunte trôpego
tropeça. / Temendo a truculência do tornado / E, trêmulo, transfere-se à
travessa./ Transportando-se ao toldo do tablado. / Trêfego, o torvelinho, em
turvação, / Terminou tendo tudo transformado. / Traduzindo a total
transformação: / Tombando o templo as torres e o telhado. / Tardio o temporal
tornou-se, tendo / Trocado a tropelia do tufão. / Tranquiliza-se o tétrico e
tremendo / Troar tonitruante do trovão. / A tarde transmudou-se totalmente, /Em
tom de triunfal tranquilidade / E, tonta, transbordante e transluzente, /
Trovava troçando a torva tempestade".
Os turistas
ouviram com atenção os seus versos, e seguiram pedindo desculpas por não
comprarem o seu livro.
TRABALHO ARTESANAL
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No Museu do Carmo artesanato ajuda muito. É um trabalho cuidadoso mas compensado no valor artístico daspeças em prata ali elaboradas. |
A prata
chega em barras de São Paulo, e ali são derretidas num forno de barro para
serem trabalhadas pelos vinte artesãos - em sua maioria rapazes com idade média
de vinte e cinco a trinta anos - que
passam o dia inteiro trabalhando com pequeninas ferramentas , dando formas aos
balangandãs e outros objetos de arte.
Edvaldo
Santos labuta com cinzelamento e recebe as peças apenas com o formato inicial
e, aí, num trabalho moroso e cuidadoso vai colocando os enfeites. De lá, as
peças seguem para o “mateamento” onde desenhos em formas de chuvisco vão sendo
encrustados nas peças. Agora vão ao forno onde é retirado todo o breu que
serviu para dar consistência às peças para serem trabalhadas. Em seguida, os
artesãos as conduzem para um pequeno tanque de ácido para serem clareadas,
depois são polidas , e em seguida, armadas. As peças, à esta altura, já
estão prontas para serem negociadas.
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