Revista Manchete 12 de agosto de 1978
Cientista baiano Elsimar Coutinho, que tem feito várias experiências no campo de reprodução humana, está convencido de que em pouco tempo haverá também bancos de óvulos (como já existem os de espermatozoides) e que qualquer mulher poderá contratar neles a implantação de um óvulo fecundado para ter um filho com determinadas características – moreno, olhos verdes, 1,75 de altura etc.
Embora ele assegure não haver muitas dificuldades – sob os aspectos técnico e humano – para a fecundação in vitro e posterior implantação no útero, faz questão de alertar que a experiência “tem de ser repetida algumas vezes” até o sucesso absoluto. “Nem sempre o óvulo fecundado que é introduzido na paciente se desenvolve”, afirmou.
O Dr. Elsimar Coutinho acha que se a experiência agora completada com êxito na Inglaterra tivesse sido feita aqui no Brasil, talvez a reação não fosse de imediata aceitação. “Mas como foi feita por um médico estrangeiro, todo brasileiro bate palmas. Não sei se alguém já pensou o que aconteceria se, por uma deficiência hereditária recessiva, a criança nascida em ambiente de laboratório apresentasse alguma deformação física. Certamente o médico seria acusado de fabricar monstrengos e condenado por organismos médicos. Seria crucificado vivo.”
Diz também o cientista que preconceitos e incompreensões impediram que o primeiro bebê de proveta da história nascesse na Bahia, pois sua equipe está preparada tecnicamente e em recursos humanos para realizar a experiência com sucesso. “O que me levou a abandonar o projeto é que estou respondendo injustamente a processos por ter prestado informações à imprensa sobre minhas experiências na área de reprodução humana. Isso porque alguns colegas que ocupam cargos em órgãos de fiscalização do exercício profissional não acompanham como deviam o desenvolvimento da ciência.”
Após lembrar que o Brasil tem “milhares de crianças que precisam ser adotadas”, o Dr. Elsimar admite não saber se seria justo colocar um programa assim como prioritário. Diz também que no momento está desenvolvendo alguns projetos prioritários na área da reprodução humana “que virão beneficiar não apenas uma ou duas pacientes, mas toda a coletividade”.
Para o cientista, o risco da fecundação in vitro e posterior implantação no útero “é relativamente pequeno porque quando se gera um óvulo defeituoso ele não implanta. Os defeitos maiores podem ocorrer depois da implantação, quando através do organismo materno o embrião é atingido por substâncias tóxicas que vêm determinar as deformações físicas. Mas qualquer mulher grávida está sujeita a isso”.
Quando à necessidade de a mulher se sujeitar á repetição da experiência até que ela obtenha êxito, argumenta o Dr. Elsimar que o mesmo ocorre com a inseminação artificial. E alerta: “Os colegas brasileiros que estejam em condições de realizar a experiência devem estar preparados para repeti-la muitas e muitas vezes.”
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