Um dos mais bonitos e significativos
solares de Salvador foi à leilão para pagamento de uma dívida trabalhista
que a Associação dos Empregados do Comércio tem com ex-funcionários,mas a oferta de R$1,3 milhão,sendo R$500 mil abaixo do mínimo exigido não foi aceita pelo leiloeiro e nova data foi marcada para 4 de outubro. Veja que
parece até piada que uma entidade sindical, entre as mais de 17 mil que existem no
Brasil , não cumpriu com suas obrigações
nem com seus colaboradores.
Este belo exemplar dos tempos da fartura foi construído
pelo português Francisco Mendonça a mando do abastado comerciante de
carne verde e sebo Francisco Amado Bahia. Ele possuía mais de 300 açougues e
muitas fazendas espalhadas por todo o Estado com milhares de cabeças de gado.O construtor era casado com uma tia do comerciante.
Conta seu bisneto Armênio Leitão
Barbosa, hoje com 82 anos e muito lúcido, que o gado para o abate era transportado
através das suas fazendas. O gado ia andando de uma para outra fazenda até
chegar ao local do abate em Salvador. Esta carne em sua grande maioria era transportada
para a Europa através de um porto que ele mandou construir no bairro do Bonfim,
nas imediações da praia da Pedra Furada. Ele também era proprietário do Mercado do Ouro e de vários prédios localizados na zona do Comércio, e em outros pontos da cidade.
Quando Francisco Amado Bahia mandou construir o casarão nos finais dos anos 1800 o comerciante já tinha 13 filhos, e precisava de uma casa ampla e dotada de elementos modernos. Com seu amplo relacionamento na Europa, estabelecido através de suas ligações comerciais com a exportação da carne e sebo foi relativamente fácil encomendar os gradis e colunas ingleses , os espelhos franceses, e mármore de Carrara, na Itália,além de outros elementos necessários para a construção.O solar foi inaugurado em 8 de dezembro de 1904 composto de 52 cômodos,com uma planta retangular,distribuída em dois pavimentos .
A inauguração aconteceu para celebrar os casamentos das filhas mais velhas de Amado Bahia - Clara e Julieta.O majestoso salão especial recebeu também o candidato à Presidência Marechal Hermes da Fonseca , e o seu vice Venceslau Brás, levados por JJ Seabra para um jantar oferecido pelo comerciante Amado Bahia. Dizem que a última vez que o casarão foi usado aconteceu no velório da esposa do comerciante.
Com a morte dos 13 filhos , os herdeiros,
cerca de 60 netos, doaram o Solar em 1956 para a Associação dos Empregados do
Comércio construírem um sanatório ( hospital ) no local. Dez anos depois a Associação desistiu de construí-lo, e a sua diretoria resolveu com anuência dos
herdeiros instalar uma escola o Centro Educacional Amado Bahia, que funcionou
durante alguns anos.
Assim, os quartos, salas e salões
antes ocupados por senhores e senhoras fidalgas ,foram reocupados por sindicalistas
e depois por estudantes.
O SOLAR
O solar tem um sótão,corredor central
e seus quartos estão dispostos transversalmente , como é, segundo os
estudiosos, a maioria das habitações urbanas
brasileiras deste período.
Possui varandas em ferro fundido
vindo da Inglaterra e estruturas em abobadilhas de chapa de aço, que são
sustentadas por colunas em estilo jônico.Os gradis que protegem o solar foram
inspirados no estilo neo-gótico. Já a escada lateral,também em ferro fundido
inglês,tem pisos de mármore da Carrara e dá acesso ao chamado pavimento
nobre,com seu amplo salão de recepção, espelhos franceses,e uma capela em estilo neoclássico.
Lembra Armênio Leitão
Barbosa que as imagens e adereços religiosos desta capela foram vendidos há
cerca de uns 60 anos atrás pelos herdeiros.Já as pinturas do teto do solar é de
autoria do pintor Badaró ( o pai), conhecido por ter pintado muitos tetos de
casarões e até igrejas da Bahia.
O solar contava ainda com materiais de
acabamento importados como os pisos de pastilhas coloridas nas varandas,o
assoalho de pinho de Riga nos salões e nos quartos, vidros franceses grafados e
peças de louça inglesa.
O imóvel tombado pelo Patrimônio
Público Nacional - Iphan ainda pertence à
Associação dos Empregados do Comércio, e atualmente está subutilizado, necessitando de manutenção urgente.
Lá está funcionando desde 2005 o
cine-clube Antônio Short,dirigido por jovens do bairro de Itapagipe.Isto graças
a uma parceria do Grupo Cultural Bagunçaço e a Associação dos Empregados do
Comércio , e funciona também a administração do grupo cultural, o Centro de
Empregabilidade Juvenil, e são realizados ali eventos culturais. Eles desejam
ver o solar transformado num Centro Cultural para o bairro de Itapagipe com uma
gestão composta de jovens.
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