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quarta-feira, 24 de outubro de 2012

EXCEPCIONAIS CONTRIBUEM COM O ARTISTA BRASILEIRO - 29 DE JUNHO DE 1987

JORNAL A TARDE SALVADOR, SEGUNDA-FEIRA, 29 DE JUNHO DE 1987

EXCEPCIONAIS CONTRIBUEM COM O ARTISTA BRASILEIRO


O Programa de treinamento de excepcionais deficientes mentais que vem sendo mantido por uma empresa de pincéis em conjunto com a APAE de São Paulo acaba de receber da Câmara Americana de Comércio para o Brasil, o Prêmio Eco/86, na área de Educação e Treinamento. A concessão do prêmio, que está sendo feita pela quinta vez, tem para a Câmara Americana de Comércio para o Brasil, o objetivo de divulgar a contribuição da iniciativa privada para a melhoria das condições sociais no País.
O Prêmio Eco foi entregue à diretoria da Tigre e das outras três empresas vencedoras pelo presidente da Federação das Indústrias de São Paulo e presidente do júri do Prêmio Eco de 1986, Dr. Mário Amato, durante um almoço realizado no Maksoud Plaza, em São Paulo.
Iniciado em 1982 em caráter experimental, o programa tem a finalidade de contribuir para a atenuação das limitações de adolescentes e adultos excepcionais através da execução de tarefas manuais relativamente simples, que dentro dessas limitações lhes proporciona um nível de satisfação e felicidade só alcançados pela realização pessoal.
Técnicos do Núcleo de Aprendizagem e Atividades Profissionais da APAE, localizado no bairro da Lapa, selecionaram na empresa as tarefas que mais se adequavam aos objetivos do programa.
As tarefas selecionadas foram as seguintes: formação de “colares” de virolas metálicas (as peças que unem cabo e pelos nos pincéis), para fins de tratamento de suas superfícies e a montagem de cabeças (virola e pelos) de trinchas (pincéis chatos). Os instrutores da APAE são treinados na empresa, que fornece as bancadas, as ferramentas e a matéria-prima utilizada no trabalho.
Os resultados do programa têm sido excelentes, como afirma o diretor-presidente da APAE, Rogério Pinto Coelho Amato: Além do treinamento profissional, os serviços encomendados pela empresa vêm garantindo a ocupação produtiva, remunerada aos deficientes mentais mantidos nesse núcleo pela APAE, em virtude de não apresentarem condições para um emprego normal (...) Desejamos que tal situação seja sentida como importante exemplo de ação cooperativa da iniciativa privada na busca de solução de um problema da responsabilidade de todos nós”. O trabalho é remunerado nas mesmas bases em que a empresa remunera seus funcionários.

DESENHOS DE ÂNGELO ROBERTO SERÃO EXPOSTOS 
NA CAÑIZARES


Uma exposição está sendo aguardada com muita expectativa. Trata-se da mostra dos desenhos de Ângelo Roberto, que faz poesia com seus pontinhos formando imagens cheias de lirismo. São crianças que brincam em meio a borboletas, outras com pássaros e peixinhos, sem faltar da presença forte do vaqueiro cavalgando com possantes animais. Neste mundo de fantasia aliada a presença infantil, gravita este artista que precisa ser mais visto e prestigiado pelo mercado de arte baiano. Todos reconhecem a capacidade artística de Ângelo, mas são poucos os que o incentivam a realizar exposições, a vender os seus trabalhos. A boemia, tão ligada a sua querida figura humana, muitas vezes provoca este marasmo naquelas pessoas que deveriam incentivar o seu trabalho. Fica apenas a unanimidade, sobre a grandiosidade de sua obra.
Mas, isto é muito pouco para o que representa Ângelo Roberto, um dos últimos boêmios desta cidade, que aos poucos está-se desfigurando, trocando os locais românticos por boates barulhentas onde reinam as músicas americanizadas.
É preciso que esta cidade, os intelectuais e o próprio mercado de arte, incluindo aí os donos de galerias, colecionadores, os novos-ricos etc., resgatem esta dívida para com este artista puro e talentoso. Conheço o seu amor pelas crianças externado com toda pureza através de seus filhos, os quais sempre estão por perto acariciando-o.
Lembro inclusive de Lana, que foi minha aluna da Escola de Comunicação, e do seu interesse em apreender, em aproveitar uma aula vaga para indagar sobre coisas do jornalismo. Por trás daquele interesse enxergava o talento de Ângelo Roberto Mascarenhas de Andrade, que vive falando dela e de Marlene, Naia, Enzo e Lezo. Eles ficarão muito contentes com a presença dos amigos que são queridos, de seu pai, na exposição que ele fará em memória de outro grande artista José Maria de Souza ou José Maria. A exposição está sendo preparada por Antônio Franco Barreto, o nosso Franco, do Bar Quintal do Raso da Catarina. A exposição será na Galeria Cañizares, na Escola de Belas Artes, e abrirá no dia 17 de julho, às 17 horas. Prestem atenção para o horário, 17 horas, uma hora que não permite desculpa, tipo: Ah! não pude ir ou esqueci da hora. Certamente quem não for perderá de ver um conjunto de desenhos do mais alto gabarito e é difícil reunir os trabalhos de Ângelo Roberto. Publico seis dos desenhos, que serão expostos, chamando a atenção de vocês para os detalhes de cada um deles.
Quero falar da presença da cor em alguns que não pode ser reproduzida aqui. Neste que mostra uma criança triste, ao lado do gato, de sua estimação, tem um detalhe no original que o galo está com a boca suja de sangue. A cor vermelha indica que ele comeu o passarinho da gaiola. O mesmo ocorre com a garota que brinca com as borboletas, onde seu vestido é feito de retalhos coloridos. A cor na obra de Ângelo contribui para o enriquecimento e a sutileza das formas conjugados, deram mais leveza ainda ao seu trabalho.



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