Objetivo


segunda-feira, 28 de outubro de 2013

GENEROSIDADE DE VINÍCIUS

Dois fatos presenciados por mim atestam a generosidade decantada de Vinícius de Moraes.Gostava de tratar as pessoas no diminutivo e foi assim que testemunhei estes dois fatos.O primeiro foi numa tarde na casa do seu amigo Calasans Neto, no final  do bairro de Itapuã . Após receber um telefonema de Calasans para lá me dirigi com o objetivo de entrevistar Vinícius que havia escrito uma peça de teatro que teria como uma das atrizes a sua então companheira Gessy Gesse.  A peça chama-se As Feras e conta a saga dos nordestinos que foram para o Rio de Janeiro trabalhar na construção civil. A peça é composta de três atos. Lá encontrei Vinícius de bermudas, sentado uma cadeira de de lona, dessas que se caracterizaram como sendo de diretor de cinema. Com um masso de papéis nas mãos ele passou a falar da peça que foi levada num galpão que existia na rua dos Ingleses. A peça não teve qualquer apoio como lembra a querida Gessy Gesse.
Mesmo assim foi montada tendo Álvaro Guimarães como Diretor, Clyde Morgan, fez a coreografia e a música era de Lindemberg Cardoso. Um fato curioso é que o compositor e cantor, o saudoso Batatinha foi um dos atores. Gessy lamenta até hoje a falta de apoio para levar a peça que foi montada com atores baianos.

 Lembro que no momento da entrevista Vinícius falou qualquer brincadeira para Calasans Neto , o qual era muito espontâneo e retrucou  : Porra, Vinícius, já vem você de novo com esta história". Vinícius e Calasans caíram na gargalhada.Fiz a matéria que foi publicada no jornal A Tarde sobre a peça A Feras.
Foto foi feita pouco antes de João iniciar o show
O segundo foi durante o show de João Gilberto no Teatro Castro Alves. O teatro estava lotado e João com seu ouvido afinadíssimo balbuciou por duas vezes reclamando do barulho do ar condicionado que estaria interferindo no seu concerto.Com mais ou menos meia hora de show um espectador deu um assovio. Ele parou de cantar por alguns segundos. Depois continuou. Minutos depois o gaiato deu outro assovio. João parou novamente de tocar e chamou o assoviador de "imbecil". Continuou tocando e quando veio o terceiro assovio João Gilberto parou de cantar, levantou-se e foi para o camarim. Abraçado ao violão dizia que não iria mais cantar. Foi ai que surgiu a figura doce de Vinícius de Moraes, que estava acompanhado de Martita, sua namorada argentina, e juntamente com Miúcha  que  acariciava   João, insistiam para que voltasse ao palco . O pai da Bossa Nova parecendo uma criança mal criada reafirmava que não iria voltar.
Lembro que Vinícius ao lado de Martita encostado na parede com as duas mãos para trás dizia repetidas vezes."João, meu filho, vá cantar. O teatro está cheio de gente que gosta de sua música. Vá, João,Vá meu filho". João sentado abraçado ao violão demorou mais de 20 minutos se negando a voltar. Mas, terminou voltando devido o apelo de Vinícius , sendo aplaudidíssimo no final do show.

VINÍCIUS NO ESPELHO

Gessy  esteve recentemente na Assembléia Legislativa onde foi homenageada e lembrada a sua ligação  e casamento com o grande poeta Vinícius de Moraes. Falando ao telefone com Gessy ela relembrou uma outra história muito curiosa do Vinícius. Quando Carlos Bastos teve que refazer o grande painel que está na Assembléia Legislativa, cuja primeira edição foi completamente destruída durante um incêndio, o poeta estava morando em Salvador. Conversando com Carlos Bastos que afirmara que Gessy Gesse iria participar do painel ,ele disse que também queria estar presente na obra. Carlos Bastos ponderou que o painel era composto só pessoas da Bahia. O poeta não abriu mão, argumentando como é que minha mulher vai estar lá e eu não? Isto preocupou muito o Carlos Bastos que acabou encontrando uma solução genial ,que foi colocar o rosto de Vinícius no espelho que Gessy está se olhando.
Em 1969 eles se casaram no Uruguai, porém, em 1973  lembra Gessy que certo dia foram a Portão, lugarejo no município de Lauro de Freitas,quando Vinícius e ela resolveram casar numa cerimônia num acampamento de ciganos. Ai disseram que tinham casado no candomblé etc. "Nada disto, conta Gessy, foi um casamento cigano. Ele estava completamente apaixonado". Logo depois  resolveu construir a casa no Farol de Itapuã,inclusive com uma banheira que tem vista para o mar.


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