Revista Manchete 9 de agosto de 1980
Texto Reynivaldo Brito
Foto Valdir Argolo
Uma tradição violenta nas festas de São João
Este ano, as festividades de São João na Bahia se caracterizaram pela violência. Balanço final: dez mortos e mais de cem vítimas de queimaduras de diferentes graus. Em Cruz das Almas, a 142 quilômetros da capital, apesar dos protestos, registrou-se mais uma vez a ocorrência bárbara das chamadas guerras de espadas. Estas espadas são tubos de bambus de cerca de 30 centímetros de comprimento por 10 de diâmetro, cheios de uma mistura de pólvora com limalha de ferro. Obstruído numa das extremidades, o tubo – que depois de preparado pesa quase meio quilo – acaba se transformando num verdadeiro obus. Quando os supostos adversários se defrontam, os combatentes acedem às espadas e as lançam contra o bando contrário que procura se defender de qualquer maneira. Caso um dos combatentes corra, o artefato o persegue atraído pelo vácuo produzido pelo deslocamento do corpo. Além dos inúmeros casos de queimaduras, dois rapazes perderam a visão, atingidos por estes obuses selvagens.
O mais curioso neste tipo de brincadeira estúpida, é que a maioria da mocidade de Cruz das Almas defende a realização das guerras de espadas como uma das tradições locais. O próprio delegado de polícia, que também aprecia esta tradição violenta, acha que se deveria reservar um bairro especial para estas batalhas, permitindo às crianças, e ao resto da população, participar de manifestações menos violentas, como danças de quadrilha e cantorias. Este ano, a Prefeita de Cruz das Almas havia construído um arraial para divertimento da população. Em poucos minutos, os grupos de combatentes, com suas espadas possantes, cuspindo fogo por todos os lados, tomaram conta do local e expulsaram os folgazões mais pacíficos.
TREZE PRESOS
No dia 24 de junho de 2012 foram presos 13 pessoas que tentaram iniciar a "guerra de espadas" em Cruz das Almas. Foi baixada uma decisão judicial pelo Tribunal de Justiça da Bahia em 2011 proibindo a "guerra de espadas" e, este ano a polícia ficou postada em vários locais para evitar o desrespeito à decisão judicial. O TJ -Ba reconheceu a natureza criminosa da "guerra de espadas", que era comum durante os festejos juninos em algumas cidades baianas, especialmente em Cruz das Almas. Neste período os hospitais da região ficavam lotados de pessoas feridas com queimaduras graves.
Três "espadeiros" já tinham sido presos no dia anterior, acusados de soltar uma "espada" em direção a uma viatura policial. A PM utilizou 65 homens e cinco viaturas para coibir a prática perigosa na cidade.
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