Revista Fatos e Fotos / Gente 14 de maio de 1979
“Na realidade eu sou um cientista. Estudei muito filosofia e agora me dedico à parapsicologia. Já estive envolvido com esoterismo. Já bebi da água de várias ciências”
Quem fala assim? Pode causar espanto, mas é o cantor e compositor Raul Seixas, no momento convalescendo de uma cirrose hepática na Bahia. Apesar das proibições de seu médico, no sentido de dar entrevistas ou fazer qualquer esforço físico, Raul quis desfazer alguns mal-entendidos: “as pessoas acharam que eu tinha pirado e estava internado num hospício”. Bem como comentar o preparo do próximo LP, pela Warner, cujas músicas vêm compondo, durante este “descanso compulsório”. O contato com a gravação, informa Raul, deverá acontecer dentro de uns dois meses, “quando eu tiver colhido os frutos do meu retiro espiritual”.
Sobre Mata Virgem – um trabalho recente – o artista esclarece que o disco foi produzido “em cima de um sentimento bucólico. Passei algum tempo ligado às coisas da fazenda, da roça, com o gado e os lavradores”.
Raul ressalta que o repertório do LP a seguir “é mais transcendental, trata dos estados de consciência. Sabe, estou fazendo um sério esforço para enlouquecer. No bom sentido, é claro, quero alcançar um ponto X”.
E que ponto X será este? Embora Raul Seixas considere difícil pôr em palavras todas as sensações que ocorrem no processo da criação, conta que, todos os dias, durante uma hora, se entrega à meditação.
“Eu entro numa espécie de estado cataléptico, hipnótico, onde a música surge no ar. Primeiro, aparece uma luminosidade a as luzes começam a transforma-se em sons. Cada cor se transforma em vários tons. Daí nasce uma canção, quase que inteira. (Aqui, uma advertência.) Isto, na realidade, é um estado de loucura, porque saio da minha faixa normal para entrar numa paranormal.”
Na escala musical, o cantor garante, cada nota tem a sua cor específica. O lá maior, por exemplo, é vermelho; o mi maior, verde; o ré maior é amarelo-canário, enquanto o si bemol é verde-musgo.
“Olha, é tudo uma questão de opção, sabe? Prefiro controlar minha própria loucura, canalizando-a para as minhas músicas, do que entregar-me a um psiquiatra que seria incapaz de captar meus sentimentos e desejos.”
Foto de Aristides Baptista
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