A TARDE 17 DE MARÇO DE 1973
Texto de Reynivaldo Brito / Fotos de Reynivaldo Brito e Romualdo Bahiense
Foto ao lado da estátua de Flora , que é talvez seja o monumento que mais mudou de local em nossa cidade.Agora ela está debaixo de uma grande amendoeira numa praça no bairro da Pituba. Para fotografá-la tive que retirar uma lata de extrato de tomate e uma velha correia de coro que estavam sobre ela.
Ainda no Campo Grande, existia
uma pequena estátua de mármore num dos canteiros daquele jardim e que sumiu. Resta
apenas o pedestal que também é de mármore e que certamente dentro em pouco
desaparecerá. Os responsáveis pela urbanização da Cidade, ao que parece, pouca
importância vêm dispensando aos monumentos históricos que são símbolos de nossa
cultura. Basta dizer que o monumento a J. J. Seabra, na Praça da Inglaterra,
que foi edificado em 1949, tem em suas escadarias um velho caixote de cor
amarela onde são guardadas ferramentas de trabalho dos garis.
Além disso, é grande o número de
fotógrafos “lambe-lambe” que guardam seus apetrechos nas escadarias do
monumento. Como se não bastasse numa escultura em homenagem ao sanitarista
Oswaldo Cruz, estão faltando várias letras. Outra, em homenagem aos
ferroviários não tem aspecto diferente.
Para completar o estado de
abandono plantas daninhas acham-se agarradas sem suas paredes laterais. O
monumento é de autoria de A. Caringi.
SUMIRAM
O pior é que alguns monumentos
simplesmente sumiram. É o caso de um que existia em homenagem a Santos Dumont,
no Aeroporto Dois de Julho. Afirmam os freqüentadores do bar do aeroporto que a
estátua de Santos Dumont “voou”. Pra onde, é que ninguém sabe explicar.
Um belo monumento em homenagem ao
médico Dr. Paterson, no Largo da Graça, foi demolido pela Surcap para a
construção de um viaduto que, na opinião de muitos, pouco vai melhorar o
tráfego da Cidade.
No canteiro de obras acha-se a
base do monumento completamente encoberta por ferramentas e materiais
imprestáveis.
O médico Dr. Jonh Ligertwood
Paterson, residiu e clinicou na Bahia por cerca de 40 anos (1842-1883) e o
monumento foi construído por meio de uma subscrição pública promovida pelos
amigos, colegas e clientes e foi inaugurado no dia 13 de dezembro de 1886. É
todo em granito da Escócia, sua pátria, e o pedestal quadrangular (que está
encoberto de materiais imprestáveis) representa uma fonte com torneiras de
bronze e sobre ele erguem-se nos ângulos, quatro pilares, que sustentam uma
abóboda, e por fora destes, quatro elegantes colunas de granito polido. No
centro do pedestal e por baixo da abóboda ficava o busto do Dr. Patterson com o
rosto voltado para o poente.
Laconicamente, um operário que
trabalhava no último sábado nas obras do viaduto informou que “ o monumento
está no almoxarifado da Surcap”. Ele foi todo numerado com letras em amarelo, o
que não deixa de ser uma depredação.
DESCONHECIDOS
Existem ainda monumentos
desconhecidos. Em alguns logradouros públicos, foram erguidos bustos e
obeliscos em homenagem a pessoas ilustres e feitos notáveis. Hoje, esses
monumentos são chamados pelo povo de “monumentos aos desconhecidos”. Um desses
está localizado na Avenida da França, bem em frente ao ponto de ônibus de
Periperi. O monumento constitui-se de um busto de um senhor e tinha uma placa
indicativa no pedestal.
Roubaram há algum tempo a placa
indicativa e a fisionomia do respeitável senhor parece não concordar com o
abandono a que foi relegado. Este monumento foi erguido em 1957 e é de autoria
de J. Barros. Além do que existia no Campo Grande que desapareceu, e o de Santos
Dumont, alguns se acham “guardados” em almoxarifados. Um
que existia em frente ao Teatro Castro Alves, de autoria do escultor Mário
Cravo, todo em madeira em homenagem ao fanático Antonio Conselheiro acha-se
hoje jogado nas dependências do Museu do Unhão.
OS QUE ANDAM
Outros monumentos realizam
verdadeira “via crucis”. Talvez o que mais tenha andado vagando pela cidade
seja o que foi erguido em homenagem aos irmãos Pereira. Este monumento esteve
no Largo da Fonte Nova onde por várias vezes foi encoberto por empanadas de
circos. Foi transferido para as imediações da antiga Faculdade de Direito da
Universidade Federal da Bahia e agora se acha numa pracinha ao lado da Igreja
da Conceição da Praia, na Cidade Baixa. Certamente no futuro ainda dará umas
voltinhas por pontos pitorescos de nossa Cidade.
O que foi erguido em homenagem a
Teixeira de Freitas, um grande jurista baiano, que também foi homenageado com
monumentos até fora de nossas fronteiras, ficava onde hoje funciona a Faculdade
de Administração. Foi transferido para o Vale do Canela onde está solitário,
num pequeno pedestal desproporcional ao tamanho do mesmo.
A estátua da Flora, que ficava em
frente ao Palácio Rio Branco, na Praça Tomé de Souza, foi arrancada de seu
lugar de origem e permaneceu durante meses, jogada ao chão, até que construíram
uma pracinha, no bairro da Pituba e precisaram de uma estátua para embelezá-lo.
Lembraram-se da estátua de Flora e para lá ela foi conduzida e instalada.
Assim nossos monumentos são
depredados, abandonados, esquecidos e transferidos ao bel-prazer dos
responsáveis pela “urbanização” da Cidade.
É preciso maior respeito aos
homens que tanto elevaram o nome da Bahia, e por seus méritos foram homenageados
com estátuas e monumentos.
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