A TARDE QUARTA –FEIRA, 4 DE ABRIL DE 1973.
Texto e fotos Reynivaldo Brito
As praias e outros recantos baianos já estão conhecendo outro tipo de poluição, a das embalagens. Embora não tenha a gravidade de outras mais conhecidas como a poluição sonora, visual e dos leitos dos rios, mares e lagos, essa, também começa a preocupar os naturalistas que sempre estão atentos para esses problemas. A poluição das embalagens está se processando rapidamente. Basta dizer que uma simples sorveteria existente no largo da Ribeira, vem poluindo uma praia existente nas imediações e as ruas adjacentes, onde os consumidores de seus produtos jogam inadvertidamente os copinhos de plástico branco.
Também nas proximidades do Farol da Barra, e no Jardim de Alah onde um clube social lança dezenas de embalagens plásticas de um detergente a poluição das embalagens já se faz sentir.
Foto atual de lixo na praia do Jardim de Alah.
Esses são apenas alguns exemplos desse novo tipo de poluição que ameaça a beleza de nossas praias. Recentemente, a Bahia começou a receber das indústrias as garrafinhas de cervejas “one way” (sem retorno) e as latinhas que durante o carnaval contribuíram em quase 90% para o aumento considerável da quantidade de lixo que foi coletado nas ruas da Cidade.
MUITO LIXO
Durante o último carnaval, o Departamento de Limpeza Pública de Salvador teve que aumentar o número de garis e veículos para fazer face ao grande volume de lixo e, principalmente, de embalagens de cervejas, refrescos e copos de sorvete, além de embalagens de água mineral.Todo esse lixo foi lançado no chamado “aterro sanitário”, que é Alagados.
Essas embalagens são utilizadas há muitos anos nos Estados Unidos e nos países europeus e já se constituem num grande problema ao ponto de algumas indústrias como a de um refrigerante conhecido mundialmente estar exigindo o retorno das embalagens.
Os técnicos consideram que o nosso consumo de embalagem é ainda muito baixo, principalmente se levarmos em consideração os países desenvolvidos.
Mas o consumo de embalagens no Brasil vem aumentando assustadoramente numa média de 12% ao ano e somos autosuficientes em embalagens de madeira, vidro, metal, plástico e tecido.
COMODIDADE
A verdade é que os brasileiros estão se acostumando com a comodidade das embalagens sem retorno. Hoje os Estados Unidos não sabem o que fazer com tantos vasilhames espalhados por seu território e estudam uma fórmula de solucionar o problema. Nós brasileiros ao contrário, estamos contribuindo para o aumento da poluição das embalagens e daqui a alguns anos “copiaremos” as soluções alienígenas que não se aplicam com a mesma eficiência.
Hoje, nos Estados Unidos, pretende-se voltar ao que chamamos de reciclagem, esta terminologia define o aproveitamento de materiais que até agora estão sendo jogados ao lixo.
Afirmou recentemente o Sr. Eduardo Penna Franca, chefe do laboratório de Radioisótopos de Instituto de Biofísica da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que “o consumidor joga a lata fora e ela vai poluir a terra, embora não seja um dos poluentes mais perigosos. Com as garrafas tradicionais o consumidor paga apenas o líquido, devolvendo o casco ao produtor”.
Nos Estados Unidos até as tradicionais garrafas estão tendo exigida a sua devolução, visando diminuir a quantidade de lixo e a poluição da natureza.
Além disso, as indústrias economizam não apenas dinheiro como também a matéria-prima para a confecção de outras embalagens.
A reciclagem também é muito utilizada em nosso país, com relação ao papel. É comum a gente presenciar nas ruas da cidade, “apanhadores de papel”, mal vestidos e com grandes sacos de alinhagem. Aqueles papéis recolhidos nos tonéis de lixo são prensados, pesados e vendidos a intermediários, que por sua vez os revendem às indústrias do setor para sua transformação em papelão e outros produtos.
PROPAGANDA
Como está acontecendo em alguns países a reciclagem do papel em grande escala muitas firmas estão utilizando esse processo para fazer propaganda e marketing.Uma dessas firmas nos Estados Unidos coloca em seus produtos:“Este papel é reciclado. Temos orgulho de informá-lo desse fato, pois a transformação de papel usado em papel novo evita a derrubada de vários pinheiros, preservando assim fontes vitais para a saúde da população e o equilíbrio ecológico”.
Além dos apanhadores de papel nós ainda baianos ainda temos a oportunidade de ouvir em nossa porta os gritos dos compradores de garrafa, de chumbo e alumínio velho. È verdade que essas pessoas buscam ganhar algum dinheiro para a sua subsistência, no entanto, inadvertidamente, estão contribuindo para o aproveitamento de material antes jogado fora.
A embalagem plástica é a mais condenada por naturalistas e ecólogos. Essas embalagens não apodrecem, não sofrem o processo natural de decomposição e nem são eliminadas pela luz. Se forem queimadas em fornos crematórios e usinas de processamento de lixo essas embalagens expelem gases extremamente corrosivos e vão poluir a atmosfera. O pior é que os consumidores pagam caro por essas embalagens poluidoras dos rios, solo e ar.
É preciso que as autoridades atentem para este problema antes que ele se agrave, como já está acontecendo nos países desenvolvidos. As esperanças de providências visando remediar este mal são mínimas e mais uma vez será confirmado àquele dito popular “brasileiro só fecha a porta depois de roubado”. Assim, quando as embalagens já tiverem poluído em grande escala o nosso país, virão as primeiras providências.
Foto atual mostra um barraco na praia doJardim de Alah
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