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sexta-feira, 22 de junho de 2012

MEIO AMBIENTE - NOSSAS FLORESTAS SOFREM A FEBRE DA DEVASTAÇÃO

MEIO AMBIENTE
Jornal A Tarde 10 de março de 1973
Texto Reynivaldo Brito
Fotos Google
O brasileiro no início da Primavera dedica uma semana às árvores, e nas escolas infantis, primárias e até às vezes até nas universidades o diretor de entidade ou mesmo uma autoridade é chamada para plantar uma tenra árvore. Finda a chamada “Semana da Árvore” o brasileiro esquece sua importância e as árvores começam a ser cortadas dilaceradas e desfolhadas.
São semanas seguidas de devastação, e não há solução de continuidade nem mesmo na semana que lhe é dedicada. Estima-se que tínhamos em 1500 cerca de 520 milhões de hectares de florestas, que ocupavam 61% da área que deu origem ao Brasil. Hoje temos cerca de 340 a 350 milhões de hectares de área florestada que corresponde aproximadamente a 41% da superfície total do país. E a devastação continua. Foto da abertura da rodovia  Transzamazônica
O Brasil, ainda, que sofrendo toda espécie de devastação, com nossas madeiras de lei sendo exportadas clandestinamente e principalmente sem controle, possui uma das maiores reservas florestais do mundo. O curioso é que alguns países como os Estados Unidos, que possuem relativamente uma regular reserva florestal é um grande exportador de madeiras, tal o seu desenvolvimento no setor. Mas o Brasil continua sendo devastado a todo vapor. No interior do Estado uma tradição herdada dos índios ou seja a “queima das matas” continua acontecendo sem que os autores sofram qualquer sanção. A política de reflorestamento já foi iniciada e existem alguns planos dignos de registro, mas no cômputo geral, pouco  representam.

                                                                  AMAZÔNIA

Em novembro de 1967, o deputado Luiz Braga, da Bahia, pronunciou um discurso na Câmara dos Deputados chamando a atenção das autoridades para o grande problema da devastação. Dizia ele que “restam-nos ainda, a despeito de tanta imprevidência, 41% de nossa superfície recoberta de verde manto vegetal. Mas, se atentarmos em que desta percentagem 36% situam-se na Amazônia e só 5% distribuídos nas demais regiões, espantamo-nos  com paradoxo. O que existe de fato, no Brasil, excluída a Amazônia, é um déficit alarmante de cobertura florestal, cujas conseqüências já começam a se fazer sentir em proporções acentuadas”.
O nosso Estado possui  cerca de 19% de sua área coberta de florestas, em contrapartida, na Bahia, a devastação é consumada criminosamente nas chamadas “derrubadas” e “queima das matas”. É a floresta dando lugar às pastagens.
O policiamento, a renovação de nossas florestas e ainda a racionalização da exploração das madeiras são assuntos de extrema importância para o País. É necessário, em primeiro lugar, educar o brasileiro sobre a importância das árvores. É’ necessário que cada um dos brasileiros plante uma árvore onde houver espaço.
Agora uma grande rodovia corta a Amazônia de fora a fora e outras estão sendo planejadas. A princípio chegam os tratores e os operários e constroem a estrada que é   de vital importância para o desenvolvimento. Porém, é através das estradas que chegarão os devastadores com máquinas, serras e machados. Aí as árvores são derrubadas e incineradas impiedosamente, sem a devida racionalização.
Os técnicos afirmam que “é o preço do progresso”. Sim, é deveras um preço muito caro...
                                                             
DIMINUEM

Baseado ainda nos dados apresentados pelo Deputado Luiz Braga podemos afirmar que, numa ligeira comparação entre a devastação e o reflorestamento, ficamos alarmados.
Vejamos: Existiam em 1967, no Brasil, cerca de 1.500 km2 reflorestados, contra 1,5 milhões de km2 devastados, ou seja 1,25 bilhão de árvores plantadas contra 1,25 trilhões de árvores derrubadas e incineradas. A relação é de uma árvore plantada para cada 1.000 abatidas. É verdade que, devido aos incentivos fiscais recentemente introduzidos para o setor, a situação tende a melhorar, mas ainda é pouco para conter o ritmo da devastação. Até os nossos rios estão ameaçados. Recentemente um técnico alertou o Governo brasileiro sobre o perigo que corria o rio São Francisco devido à grande devastação das florestas localizadas em suas cabeceiras. Chegou a afirmar que seu volume de água dentro de algumas décadas poderá diminuir sensivelmente. Foto da devastação que ocorre ainda hoje na Amazônia.
Sabe-se que a demanda de madeira brasileira para o exterior vem aumentando consideravelmente, mas para se ampliar a exportação serão necessários amplos investimentos, pois 43% das empresas madeireiras do País não têm condições de entrar no mercado exterior. O problema tem preocupado o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal. Além do fortalecimento da política madeireira é necessário maior vigor no reflorestamento e um maior controle de nossas florestas.
Veja-se como é tênue o reflorestamento em comparação com a devastação:

                                                  REFLORESTAMENTO
                                                   NO BRASIL EM 1972
                                                            PLANTIO     N. DE ÁR-                  INVESTI
ESTADOS                 PROJETOS EM HECT       VORES MILHÕES    MENTOS CR$  
                                                                                                                   MILHÕES
______________________________________________________________________ 
                                                                                                                     
SÃO PAULO................ . 429            93.565              170,5                            195,5
PARANÁ.......................   271           41.537              121,4                            110,3
MINAS GERAIS...........   226           55.917              117,4                            141,2    
SANTA CATARINA....   113           17.791                 32,1                             45,0
RIO GRANDE DO SUL.   68           14.090                 29,0                             36,2
MATO GROSSO...........    31           20.972                 49,7                             56,0
ESPÍRITO SANTO........    30           15.599                 25,5                             43,2
GOIÁS.............................   15             3.533                   6,2                               8,1
RIO DE JANEIRO..........   12             1.013                   2,5                               2,4
BAHIA.............................    6             3.084                    6,5                             12,1
PARÁ................................   2                376                    0,5                               0,9
MARANHÃO...................   1                945                    2,3                               2,4

          TOTAL............... 1.204         268.422                563,6                           653,3       

Espera-se que a aplicação de incentivos fiscais em projetos de florestamento e reflorestamento este ano alcance CR$ 800 milhões de cruzeiros, o que corresponderia a um aumento de mais de CR$ 160 milhões em relação ao ano passado. A preocupação dos técnicos do IBDF é atrair os empresários do centro-sul do país a utilizar os incentivos fiscais em projetos de reflorestamento no Nordeste, que é considerada uma região prioritária para o setor, tal a devastação porque vem passando.
Foi celebrado recentemente um convênio entre o IBDF e a SUDENE, para a criação de 20 campos de experimento florestal no Nordeste, onde serão plantados diversos tipos de árvores para posterior seleção daquelas que melhor rendimento apresentarem.
Agora, resta esperar que os órgãos competentes sejam dotados de instrumentos capazes de, pelos menos, diminuir o passo da devastação. Do contrário, dentro de algumas décadas, as nossas florestas desaparecerão.
        


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