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terça-feira, 5 de junho de 2012

HISTÓRIA DA BAHIA - ONDE ELES REPOUSAM 150 ANOS DEPOIS

HISTÓRIA DA BAHIA
A TARDE TERÇA-FEIRA, 03 DE JULHO DE 1973
Texto Reynivaldo Brito

No transcurso de Sesquicentenário da Independência da Bahia vemos que continuam vivos nas páginas da História e no coração do povo baiano os principais heróis, seus feitos, suas vidas e suas lutas em defesa dos sagrados direitos da Humanidade: O Marechal de Campo do Exército Brasileiro Pedro Labatut, O Capitão de Fragata da Marinha Imperial João Francisco de Oliveira Bottas, mais conhecido por João das Botas, e o Visconde da Torre, Antônio Pires de Carvalho e Albuquerque, o Visconde de Pirajá, Joaquim Pires de Carvalho e Albuquerque e o corneteiro Luís Lopes.
Na Igreja do São Francisco,(Foto ao lado) em frente ao altar de Nossa Senhora da Conceição encontram-se os restos mortais dos Viscondes da Torre e de Pirajá. O General Labatut está sepultado no Panteon da Independência, em Pirajá ( foto ao alto) e João das Botas existem controvérsias sobre a data de seu nascimento, porém todos aceitam o fato de que faleceu em 18 de dezembro de 1833, em Itaparica e perdura ignorado o paradeiro dos seus despojos mortais. O corneteiro Luís Lopes, pouco se escreveu sobre ele.

                                        O MAIS POPULAR

Alguns historiadores e estudiosos afirmam que o herói mais popular da Independência foi João Francisco de Oliveira Bottas, conhecido por João das Botas; Carlos Chicchio, num artigo publicado em 1943, no Jornal da Ala, número VIII afirma que “ninguém sabe, quando, onde, precisamente, nasceu, em Portugal, João Francisco de Oliveira Bottas, o herói mais popular da Independência. Sabe-se que era português e chegado ao Brasil, talvez guardião da Armada Real, que nos trouxe El-Rei Dom João VI, em 1808”.
No entanto o historiador Ubaldo Osório, é de opinião que o herói “provavelmente está enterrado na sacristia da igreja matriz de São Lourenço, em Itaparica, que funcionou naquela época como cemitério do povoado”.
A carreira militar de João das Botas é pontilhada de sucessos. Em 1809 fez-se Contra Mestre no Arsenal da Marinha, no ano seguinte Mestre e em 1816, Ajudante de Patrão.
Dizem os historiadores que a biografia deste herói tinha que ser enriquecida pela obra, porque era pobre em títulos hereditários. Assim o próprio povo encarregou-se de o imortalizar com o apelido de João das Botas, o qual aceitava com muito carinho.
Com a chegada da Europa, principalmente da Universidade de Coimbra, em Portugal, de vários baianos, filhos de famílias ilustres, formariam entre nós uma sociedade com sentimento nativista. E João das Botas, embora português de nascimento tinha um grande amor pelo Brasil. Juntou-se a esses baianos e por isso foi processado, exilado, anistiado, repatria-se, e não “cessa o convívio com esses” até que foi escolhido para organizar a defesa de Itaparica, posição-básica como hoje se afirma, no cenário da Guerra da Independência.

Eis o documento que foi emitido pelo Secretariado Interino de Cachoeira:
 “O Conselho Interino do Governo, desejando armar alguns barcos para afugentar as canhoneiras que ora infestam as nossas costas, manda participar a V.Me, que tem expedido ordens ao Capitão-Mor de Cairú e Comissão de Valença para remeter a essa povoação e entregar a V. Me., para apenar o barco de um emigrado, que se acha no Estaleiro dessa mesma povoação para ser armado competentemente: E que para mais regular, e mais breve prontificação dos sobreditos barcos encarrega a sua armação e arranjos ao 2º Tenente da Marinha Nacional e Imperial João Francisco Oliveira, com que V.Me., se entenderá a respeito deste importante negócio, e a quem fornecerá os cabos, madeira, marinheiros, etcetera que necessário for. O que de ordem do mesmo Conselho participo a V. Mercê para sua inteligência e execução. Deus guarde a V. Me.Sala das Sessões, de 21 novembro de 1822 (as) Miguel Calmon Du Pin e Almeida, Secretário Interino - Sr.Comandante de Itaparica, Antonio de Souza Lima.

Em barco de João das Botas “O Pedro I” a primeira de quilha defensores das águas do recôncavo.
Mas quando foi substituído foi caluniado pela inveja. E coube Tristão Pio tomar o seu lugar. Porém no meio a artigos publicados no jornal o Independente Constitucional, que o provocava, Dom Pedro o condecora de Cavalheiro da Ordem Imperial do Cruzeiro e torna-se efetivo o posto de Capitão de Corveta, que tinha sido antes nomeado por Lord Cochrane . Com o rompimento da guerra Cisplatina eis que João das Botas (Foto) foi convocado pelo Ministro da Marinha, Marquês de Paranaguá, para servir nas águas do Prata sob o comando do Almirante Rodrigo José ferreira Lobo. Recebeu logo depois a patente de Capitão de Fragata em 1826. Terminada a Guerra Cisplatina volta à Bahia e agora a comandar já não o heróico veleiro Pedro I, mas a nau Pedro II ou “Imperador do Brasil”, de bojo fundo e alta quilha armada para mar alto, travessias longas, no próprio arsenal de obras onde fora contra mestre, assim informa Carlos Chiacchio. Assim em 1833 “morria em Itaparica João Francisco de Oliveira Bottas, o Herói mais popular da Independência... Morria cercado dos carinhos da família, mas quase esquecido dos amigos, dos companheiros,dos seus concidadãos”.
Foi na verdade João das Botas um herói um bravo, tendo se salientado em Sedição de 3 de novembro de 1821, por isso foi, com mais 16 companheiros desterrado para Lisboa e encarcerado nas masmorras de S. Jorge, onde pagou com a prisão a ousadia, o heroísmo, a dedicação à nobre causa”.
“Anistiado, retorna à sua terra querida, a Bahia após 34 anos de longa viagem, sendo recebido com efusivas demonstrações de alegria por parte dos amigos que o consideravam como um baluarte para nosso empreendimento, e pela família que via voltar-lhe ao seio o chefe carinhoso e bom”.

                                           PEDRO LABATUT



Pedro Labatut era filho legítimo de Antônio Labatut e D. Genoveva Alegre, nasceu em fins do século XVIII em Cannes, Departamento de Var,na França.
Pouco se escreveu sobre sua vida militar na Europa. Veio ao Brasil desembarcando em 1821 no Rio de Janeiro e a 3 de julho de 1822 ingressa no Exército Brasileiro, com o posto de Brigadeiro.
Em 29 de outubro estabelece seu Quartel General ao Engenho Novo. Procura logo organizar hospitais, trens de guerra e com indizível trabalho consegue reunir 5.000 combatentes. Divide o Exército em duas Brigadas, uma acampa em Pirajá e outra em Armação, abaixo de Itapuã. Em 8 de novembro de 1822, uma semana apenas após sua chegada à Bahia trava um combate em Pirajá, onde os soldados do General Madeira de Melo são batidos. Em 29 de dezembro participa de novas lutas em Conceição, atacando Felisberto Gomes Caldeira e neste mesmo dia os portugueses em Itapuã. Em 7 de Janeiro de 1823 participa da luta em Itaparica contra os portugueses onde no Forte de São Lourenço hasteou a primeira Bandeira Nacional. Em 22 de Janeiro de 1823 é nomeado Governador Militar da Bahia. Devido ao fuzilamento de 3 negros que mataram alguns de seus comandados, indisciplina de alguns de seus oficiais, que foram punidos severamente e outras providências levou muita gente e tê-lo como déspota e tirano.Um detalhe interessante é que Felisberto Gomes Caldeira, planeja assassinar Labatut que, sabendo, manda-o chamar ao Quartel e dá-lhe voz de prisão. Os oficiais de Felisberto sublevam-se, prendem Labatut em 21 de maio de 1823 no Quartel General no Engenho Canguruju. Assume o comando em chefe do Exército Libertador o Coronel José Joaquim de Lima e Silva e Labatut segue preso e humilhado para o Rio de Janeiro, e em 8 de fevereiro de 1824 é julgado e considerado inocente. A 25 de julho de 1825 recebe a medalha de ouro de Restauração da Bahia. Seu inimigo e então Ministro da Marinha do Governo de Pedro I, consegue sua eliminação do Exército e ordena que saía do País em 1829, seguindo para a França e em 1831, quatro dias após a Abdicação volta ao Brasil.
É reintegrado no posto de Brigadeiro. Por decreto em 19 de agosto de 1842 é transferido para a reserva, sendo em 21 de agosto de1845 revertido novamente a 1ª. Classe ativa e em 15 de novembro de 1846 promovido a Marechal de Campo efetivo.
Já está com 71 anos de idade quando é reformado novamente e em, 1848, velho e alquebrado Labatut ( foto) decide voltar à Bahia e vai morar na Rua dos Barris n. 64, hoje Rua General Pedro Labatut. Pobre e sem recursos faleceu em sua residência no dia 4 de setembro de 1843 e seu enterro teve que ser custeado por uma subscrição pública sendo sepultado no Hospício da Piedade.
Sepultado no Hospício da Piedade os seus amigos logo depois resolveram concretizar um de seus sonhos que era de ter seus restos mortais enterrados em Pirajá. Assim não poupando esforços, seus amigos e admiradores em 4 de setembro de 1853, trasladam seus ossos para a Igreja Matriz de Pirajá e os depositam em uma urna de mármore, que foi confeccionada na Europa. Dizem os historiadores que a urna foi encomendada por seu grande amigo José Marcelino dos Santos. Foi uma bonita cerimônia a trasladação de seus restos mortais que contou com a presença de centenas de pessoas, todos trajados de luto.
Em 26 de julho de 1914, são seus ossos mais uma vez transferidos, agora para o Pantheon em Pirajá, monumento erigido pela Liga Baiana de Educação Cívica e nessa mesma ocasião em demonstração de reconhecimento dos baianos é agraciado com um busto sobre a urna de mármore que se acha na Matriz de Pirajá, com esta inscrição:
“Restos Mortais do General Pedro Labatut,Comandante do Exército Pacificador. Fallecido em 4 de setembro de 1849, com 74 anos de d’edade.”

                                          VISCONDE DA TORRE



O Jazigo perpétuo dos Ávilas e Pires de Albuquerque está localizado em frente ao Altar de Nossa Senhora da Conceição, da Igreja de São Francisco, ao Terreiro. Ali estão sepultados os restos mortais dos Viscondes da Torre e de Pirajá, heróis da Independência.
O Visconde da Torre de Garcia D’ávila,(Foto) Antônio Joaquim Pires de Carvalho e Albuquerque nasceu em Salvador e foi batizado na freguesia da Sé em 12 de fevereiro de 1785. Foi Secretário do Estado e Guerra de Brasil, por herança de seu pai em 1808, renunciou o referido cargo em favor de seu irmão Francisco Elesbão Pires de Carvalho e Albuquerque, depois Barão de Jaguaripe.
Inicialmente foi por decreto Imperial de 1º de dezembro de 1822 nomeado o Barão da Torre de Garcia D`ávila e depois Visconde. Foi um grande lutador pela causa da Independência do Brasil, organizando e comandando na Torre de Garcia D’Ávila” a base de operação do Exército Libertador. Foi agraciado com a medalha de ouro da Independência da Bahia.
O Visconde da Torre foi ainda membro do Conselho Geral da Província da Bahia de 1828 a 1830. Foi ele o último senhor e administrador do morgado da lendária “Casa da Torre de Garcia de D`ávila” em virtude de sua extinção pela Lei de 6 de outubro de 1865.
Casou-se em 28 de maio de 1834 com sua sobrinha,D. Ana Maria de São José e Aragão, filha de seu irmão Brigadeiro Joaquim Pires de Carvalho e Albuquerque, Visconde de Pirajá e de D. Maria Luiza Queiroz de Telve e Argolo, Viscondessa do mesmo título.
Segundo consta no livro de assentamento de óbitos da freguesia da Penha, anos de 1842 1866, às folhas 44, ele faleceu neste dia: aos cinco de dezembro de 1852 pela dez horas e meia da manhã,faleceu de uma congestão cerebral, que o privou da fala e por isso não podendo receber os demais sacramentos, apenas foi absolvido e ungido o Exmo Sr. Visconde da Torre, Antonio Joaquim Pires de Carvalho e Albuquerque, de idade de 68 anos, casado com a Exma. Viscondessa do mesmo título, D. Ana Maria de São José e Aragão. Faleceu ad intestato, e foi sepultar-se no Convento dos religiosos de São Francisco desta Cidade, sendo aqui encomendado, Do que para constar fiz este assento e assinei. O vigário João Pinheiro Requião.Nada mais consta. Câmara Eclesiástica da Bahia, 31 de julho de 1841. Padre Moysés Pinho Santos, Sub Secretário”.
A certidão de óbito consta do livro “Família Bahiana”,de Bulcão Sobrinho, I Volume.
A inscrição existente no jazido perpétuo dos Ávilas e P. Albuquerque é esta:
“Aqui jaz o Coronel Garcia de D`ávila Pereyra, Cavaleiro Professo da Ordem de Christo .Fidalgo da Casa de sua Magestade.Faleceu em 12 de julho de 1734. Jazigo dos Ávilas e P. Albuquerque."

                                     VISCONDE DE PIRAJÁ

 Primeiro foi nomeado Barão de Pirajá por decreto Imperial de 5 de abril de 1826 e Visconde do mesmo título, com grandeza, por decreto Imperial de 12 de outubro de 1826. Nasceu em Salvador na freguesia da Sé e entrou pata o Exército onde atingiu o mais alto posto de Brigadeiro. Quando se iniciou na Bahia a campanha pela Independência do Brasil foi dos seus maiores pioneiros, e organizou e comandou uma marcha contra as tropas inimigas sediadas na Bahia. Em 1834 foi eleito Suplente de Deputado à Assembléia Provincial da Bahia, ainda ajudou na rebelião dos negros africanos em 1826 e na célebre revolução conhecida por “Sabinada” que ocorreu no ano seguinte. Casou-se primeiramente com D. Josefa Maria Pita e Argolo, em 1806, que era filha de Francisco Antônio de Argolo e D. Ana Teresa de Sá Pita. Quando esta morreu casou-se com D. Maria Luiza de Queiroz Teive e Argolo, 1ª Baronesa de Pirajá e Viscondessa do mesmo título, que faleceu em Santo Amaro, em 19 de abril de 1854.
Consta do livro de assentamento da freguesia da Penha o registro de sua certidão de óbito: Aos 29 de julho de 1848 faleceu a freguesia da Penha de Itapajipe, de moléstia interna, na idade de 60 anos, o Exmo. Sr Visconde de Pirajá, Joaquim Pires de Carvalho e Albuquerque, sendo depositado nesta freguesia, foi no dia 31 do mesmo mês encomendado por mim com o Pluvial Sacristão, e 40 Padres, e vestido com a farda da Casa Imperial, foi conduzido para o Convento de São Francisco.
Seus restos mortais encontram-se no mesmo jazigo do Visconde da Torre, ou seja, em frente ao altar de Nossa Senhora da Conceição, na Igreja de São Francisco. Na foto a igreja de Pirajá, em Salvador, Bahia.

                                          CORNETEIRO LOPES

Pouco se escreveu sobre a figura legendária do corneta Luís Lopes. Diz José A. do Amaral em seu trabalho “Resumo Cronológico e Noticioso da Província da Bahia”, que em 8 de novembro de 1822 tiveram as Armas Brasileiras uma brilhante e honrosa vitória no ataque entre Pirajá e Cabrito contra os Lusitanos, na guerra da Independência do Brasil.
Na foto uma representação do corneteiro Lopes , no Rio de Janeiro.
“Depois de mais de cinco horas de um fogo incessante, avançando os Lusitanos aceleradamente com grandes forças pela direita da Itacaranha, trataram de cortar a retaguarda aos Brasileiros, o que vendo o Major José de Barros Falcão, que comandava a estes e parecendo-lhe ser impossível sustentar-se por mais tempo, mandou tocar a retirada, a fim de impedir o destroço total de seus comandados; porém o Corneta Luís Lopes, invertendo o sinal ordenado tocou avançar a cavalaria, e sucessivamente a degolar, num clarim de que usava, e persuadidos os Lusitanos que eram verdadeiros aqueles sinais, fugiram desordenadamente”.
“Morreram no combate desse dia os bravos Oficiais Brasileiros Cypriano Justino de Siqueira e Pedro Jácome Ferreira”.
O poeta baiano Agrário de Sousa Menezes, sobre o combate de 8 de novembro, em Pirajá escreve estes versos:

“Falcão a valente espada /Jamais empunhou assim / Lopes-nunca a retirada /Soube tocar no clarim! / Labatut - com gládio fala / Ferrão- sorri se da bala /Tota e Thiago- a bater! / Queriam-que eram soldados / Como soldados morrer!/Morrer- a pátria salvando / Das suas cadeias vis, / É um feito memorando / É uma sina feliz./ Morrer no campo da guerra / Pra libertar sua terra, / É ditosa condição./Antes morrer co`a vitória ,/ Que o estandarte da glória, / Ver atirado no chão”.

Diz o historiador Pedro Calmon que “ não é plausível o engano do humilde clarim, como pensam alguns historiadores”, e em outro trecho afirma “ Luís Lopes é de crer, arriscou o estratagema, aliás bem antigo, com as mais variadas formas, na história das batalhas, desde as simulações de Aníbal até ao gênio inventivo de Napoleão”.














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