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quinta-feira, 28 de junho de 2012

ECONOMIA INFORMAL - NO COMÉRCIO DE MEDALHÕES HÁ UM ESTILO DE VIDA

ECONOMIA INFORMAL


A TARDE QUINTA-FEIRA, 8 DE FEVEREIRO DE 1973
Texto Reynivaldo Brito

Os pedestres que passam pela Praça Castro Alves com destino à Rua Chile são obrigados a parar ou pelo menos a dar uma olhadela num senhor de cabelos grisalhos que vende medalhões de alumínio.
É o camelô Paulo Prisco, que trabalha em “grande estilo”, sem atrapalhar o tráfego de pedestres e veículos, e que tem três ou mais “olheiros,” encarregados de observar as pessoas que maldosamente querem levar um medalhão sem pagar. Desde cedo Paulo Prisco chega, em seu “Karman-Ghia” azul, chapa de Salvador, acompanhado de seus familiares.
Na foto o camelô Paulo Prisco , de sacola ao ombro, observa seus auxiliares trabalhando na Praça Castro Alves.
- Há vinte anos que exerço a profissão de vendedor avulso (não diz camelô), tenho inscrição na Secretaria da Fazenda e pago meus impostos. Se um freguês exigir a Nota Fiscal, prontamente abro a minha pasta, retiro o talão e lhe forneço o documento.
Afirma Paulo Prisco, que faz questão de salientar que não “vendo gato por lebre”. A qualquer pessoa que se acerca de mim, exibo a minha mercadoria como bijuteria de fina qualidade. Nunca afirmo que é ouro, porque assim estaria mentindo e cometendo contravenção. É este o segredo de minha venda.Acredito naquilo que vendo e tenho consciência e argumento para vender."

                                                                 DIPLOMAS

Disse o camelô Paulo Prisco, que tem cinqüenta anos de idade e cabelos grisalhos que “eu possuo dois diplomas. Um de contador e outro de Psicologia de Vendas. Que tirei no SENAC, na Guanabara.
Nunca exerci a profissão de Contador, mas quanto à Psicologia de Vendas, muito tem me ajudado em meu trabalho diário."
Os medalhões vendidos por Paulo Prisco vêm de São Paulo e são fantasias de alumínio. Ele, em seus pregões em praça pública faz questão de afirmar que é bijuteria e o próprio preço que é Cr$ 2,00, o que não poderia levar ninguém a comprar pensando ser de ouro.

                                                        OS MARRETEIROS

Mas, segundo informa muita gente compra em minha mão ou em mãos de meus auxiliares a Cr$ 2,00 e revendo por Cr$ 10,00 a CR$ 15,00 a pessoas desavisadas, afirmando que estão apertados e que precisam de dinheiro para viajar. Essas pessoas sim, é que estão cometendo contravenção porque estão abusando da ignorância do povo, afirmando que a mercadoria é de ouro, quando na realidade é de alumínio.
O camelô em “em alto estilo”, ficou preocupado quando a reportagem procurou entrevista-lo, dizendo “que uma nota pode me ajudar como pode me destruir. Mas, como afirmei antes, tenho consciência do que eu vendo, conheço a mercadoria e posso assegurar que é bijuteria fina e que não empretece ou “mareia”, como diz o povo”.
Na foto o Francisco ( de óculos) braço direito do camelô Paulo Prisco assessorado por uma moça ( à direita) e um rapaz que finge olhar o medalhão como fosse comprá-lo ,são iscas para os incautos.
Um de seus ajudantes, o Francisco, é um rapaz avermelhado, de pouco mais de 30 anos. É também muito hábil na venda dos medalhões. Quando trabalha, duas moças e um rapaz fazem o papel de “olheiros”, para evitar roubo. Disse o Sr. Paulo Prisco que diariamente “pegamos pessoas que querem levar um medalhão às escondidas, sem pagar. Muitas vezes são senhoras e educadamente eu lhes chamo a atenção e retenho minha mercadoria”.
Os ajudantes ganham em média de Cr$ 7,00 a Cr$ 10,00 cruzeiros por dia . Enfrentam um sol causticante. O trabalho é revezado. Quando os seus auxiliares estão cansados, o “efetivo”, que é ele próprio, assume o posto. Imediatamente a aglomeração torna-se maior e facilmente dezenas de correntões são vendidos.

                                                       PONTOS E SEGREDOS

O camelô Paulo Prisco e sua equipe trabalham em dois locais: na Praça Castro Alves e na Feira de Água de Meninos. Disse ele “que este “ponto” da Praça Castro Alves é o melhor que existe em Salvador, porque é grande o trânsito de pedestres e a maioria vem ao centro da cidade fazer compras e, portanto, trazendo dinheiro. Se este não fosse o melhor, logicamente me estabeleceria em outro.Agora eu  trabalho aqui em determinadas horas para não saturar o mercado."
E continua : "Diariamente nos deslocamos para a Feira de Água de Meninos. Embora este último “ponto” não seja excelente para vender minha mercadoria, dá para quebrar o galho.
- O meu trabalho é um pouco duro. Enfrento um sol terrível durante todo o dia e quando chove a coisa torna-se mais difícil. Não é brincadeira você ficar no meio de uma praça a marcar um objeto sob o sol causticante."
Mas prossegue, " amo a minha profissão. Já fui comerciante estabelecido, já trabalhei em corretagem de imóveis. No entanto o que mais me fascina é estar presente numa praça pública, falando sobre as qualidades de uma mercadoria e uma porção de gente aglomerada em torno de mim.
Falo sem parar e procuro palavras de fácil compreensão e argumentos contundentes. O segredo de minha profissão é o argumento correto e principalmente ter a consciência do que estou vendendo.
Nunca afirmo qualidades inexistentes da mercadoria que vendo. Agora por exemplo que estou vendendo medalhões, falo que é bijuteria fina e nunca de ouro. Sou um comerciante como outro qualquer e tenho realmente vivência e experiência em vender  em praça pública. Considero-me um camelô em “alto estilo”.




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