A TARDE SEGUNDA-FEIRA 06 JUNHO 1994
Texto de Reynivaldo Brito e
Ranulfo Bocayuva
Grandes
comemorações marcam hoje o Dia D, do famoso desembarque na Normandia, quando há
50 anos os aliados executaram a maior operação militar de todos os tempos para
derrotar o nazismo e libertar a Europa. Embora a operação militar envolvesse
milhares de homens, embarcações, aviões, blindados e veículos de vários tipos,
o sucesso, na opinião dos historiadores, está diretamente ligado a erros de
lado a lado, acrescido do acaso. Destas comemorações dos vencedores devemos
tirar a mais importante de todas as lições: nada justifica a guerra. Ela é
cruel, destruidora e quase sempre a população civil, desarmada, é quem mais
sofre. Hoje existem focos de guerra na Bósnia, em Angola, no Yêmen e em alguns
países latino-americanos. É preciso que a ONU, a OEA e outros organismos
internacionais exterminem estes focos e que as nações ricas vejam o mundo no
sentido global, porque são as divergências religiosas e ideológicas e
principalmente a má distribuição de renda que causam esses conflitos.
Foram os versos de um poeta
ecoando em todas as estações de rádio da França ocupada a senha para que 48
horas depois a maior concentração do poderio militar de toda a história da humanidade
desembarcasse, nos 80 km
da costa da Normandia. Era o dia 6 de junho, que hoje completa 50 anos, e que
ficou conhecido pelo dia D, marcando a derrocada do nazista que ceifou milhões
de vidas em toda a Europa.
“Os longos soluços dos violinos
de Outono / Ferem meu coração com um langor monótono”, escreveu o poeta Paul
Verlaine. Por trás destas palavras ricas em simbolismo os Aliados detonaram a
avalanche de fogo derrubando a Muralha do Atlântico, orgulho de Adolfo Hitler.
Foram cinco mil navios, 11 mil aviões de transporte, caça e bombardeio e
dezenas de milhares de soldados que lotaram as cinco praias na chamada Operação
Overlod . Meses de planejamento e de muito segredo. Somente revelado na manhã,
dia 6 de junho quando os exércitos de diversos países, mas principalmente dos
Estados Unidos, Inglaterra e Canadá retomaram a Normandia, região da costa
Norte da França. Esta operação era reclamada pelos russos que combatiam os
nazistas no Leste.
COMO FOI
O dia amanhecera cinzento e
chuvoso nas costas da Normandia. Mas tudo parecia um dia como o outro qualquer
com os nazistas desfilando em seus carros de combate e jeeps pela França
ocupada. As sentinelas postadas na Muralha do Atlântico não percebiam qualquer
movimento. Uma ou outra gaivota quebrava o silêncio, juntamente com as ondas
que embalavam os sentinelas. Os franceses dormiam em quase todo o país. Hitler
também dormia em sua mansão de Berchtesgaden. De repente, o cinzento mudou com
a chegada de centenas de embarcações e centenas de soldados desembarcavam para
furar a Muralha do Atlântico. Muitos foram sacrificados e somente nesta
operação calcula-se cerca de 10 mil mortos entre os Aliados.
Foi assim, que após 1.451 dias de
ocupação a França começava a respirar a liberdade. Não podemos esquecer os
heróis anônimos, soldados pára-quedistas escolhidos a dedo para durante, à
noite estabelecerem as cabeças-de-ponte, onde iam ocorrer os desembarques.
Muitos desses heróis anônimos deram ou arriscaram suas vidas para derrotar o
nazismo. O bombardeio pesado foi iniciado por volta das 5 horas da manhã do dia
6 de junho. Tudo isto era fruto de um cuidadoso plano de guerra, cuja decisão
foi tomada na Conferência de Teerã entre Rosevelt, Churchill e Stalin. Logo
depois coube ao general Eisenhower montar durante um ano e meio uma fantástica
máquina de guerra. A Inglaterra transformou-se num estacionamento de aviões e
navios. Qualquer espaço, por menos que fosse abrigava um canhão, uma
metralhadora pesada, enfim, era preciso criar uma estrutura bélica capaz de
fazer frente e vencer um império que se auto- proclamava que iria durar mil
anos.
Do lado alemão começou a
inquietação e o general Rommel, tido como vencido várias batalhas no Norte da
África foi encarregado de comandar meio milhão de homens para defender cerca de
1500 quilômetros
de praias.
Este homem abnegado ao trabalho
transformou a tal muralha numa armadilha mortífera aos que tentassem rompê-la.
Mandou espalhar minas nas águas, rios, rochedos e centenas de espigões de aço e
cimento capazes de rasgar os cascos de qualquer embarcação. Montou baterias
poderosas cobrindo todos os imagináveis locais de desembarque de tropas. Por
isto ninguém acreditava ser possível um desembarque na França, especialmente na
Normandia. Os estrategistas de plantão juravam que isto poderia acontecer em
Calais, mais próxima da Inglaterra e alvo de violentos bombardeios. Rommel
estava também com suas preocupações voltadas para Roma que havia caído nas mãos
dos Aliados.
TODOS
ERRARAM
Os historiadores registram que na
Operação Overlod o sucesso está diretamente ligado aos erros e acaso.Escreveu o
general Hans Speidel em seu livro “Invasão 44” que enquanto Hitler esperava um desembarque
inimigo na frente da Mancha ( no Cabo Gris Nex), o marechal Rommel já não
pensava assim, depois de recolher impressões sobre o inimigo, desde o início de
maio. “Na realidade o comando supremo da Wermacht esperava um grande
desembarque na costa belga e no estuário do Escaut. Hitler insistia que seriam
vários desembarques, simultâneos e sucessivos em zonas estrategicamente
conexas.
Assim as tropas alemãs terminaram
sendo deslocadas para a região de Calais, onde Hitler acreditava que seria o
desembarque, calando de vez seu alto-comando. Enquanto isto Erwin Rommel seguia
para a Normandia, com a missão de fortificar a região, de modo que os alemães
agüentassem um “improvável ataque. Das 36 divisões blindadas, apenas uma foi
incorporada ao VII Exército de Rommel, que tinha ainda nove divisões de
infantaria.
A vida prega muita surpresa em
nós mortais. Basta lembrar que Hitler foi um dos últimos a saber que os Aliados
haviam desembarcado no Norte da França. Ele mesmo não acreditou em “Cícero” um
espião nazista que foi mordomo do embaixador inglês Sir Hughe Knatchbull, na
Turquia. No dia D o Reich só foi se recolher por volta das 5 horas da manhã,
deixando ordem para não ser acordado antes do meio-dia. E, já antes das 7 horas
o alto comando da Wermacht chefiado pelo marechal-de-campo Keitel já tinha
notícias do desembarque, o qual não teve coragem de transmitir a Hitler notícia
tão desagradável.
Os estrategistas alemães ainda
sustentavam que aquele ataque era para distrair, para o ataque principal que
aconteceria em
Calais.Enquanto Hitler ressonava, os Aliados maciçamente
desembarcavam e começaram a libertar a França ocupada. Ao acordar, Hitler
continuou insistindo que era uma manobra “diversionista” e recusou-se a atender
os argumentos aflitos de Rummel. Quando algumas praias já estavam quase nas
mãos dos Aliados, os generais alemães ainda insistiam, solicitando esforços.
Dizem que o Reich ouviu calado os apelos de seus generais e disse-“Insisto. A
invasão ainda não começou. O grosso de nossas tropas e das “panzer” continuarão
no setor de Calais”. No dia 28 de junho Hitler convenceu-se de que deveria
deslocar as tropas, mas já era tarde. Foi assim que no dia 25 de agosto o
general Leclerc e sua divisão de soldados franceses entravam em Paris, que
praticamente já fora libertada pela Resistência.
Finalmente, ao contemplar com um
binóculo de uma elevação próxima ao seu comando, Rommel viu os Aliados
despejarem toneladas e toneladas de equipamentos e armas. Descongelado,
entregou o binóculo a seu ajudante -de- ordens e disse: “Os pobres nunca
deveriam fazer guerras. É um erro”.
Na foto à esquerda fazendeiro da Normandia oferece uma bebida a soldado inglês.A segunda foto uma base inglesa improvisada um pouco antes do desembarque. Na foto abaixo tropas aliadas desembarcando , com um soldado dando cobertura.
CRONOLOGIA DA II GUERRA
Datas importantes da Segunda Guerra Mundial
1939
1º de setembro: Alemanha ataca a
Polônia
18 de setembro: União Soviética
invade a Polônia
30 de novembro: União Soviética
ataca a Finlândia
1940
9 de abril: Alemanha invade a Dinamarca e a Noruega
10 de maio: Ofensiva alemã na
Bélgica, Holanda, Luxemburgo e França
18 de junho: França assina o
Armistício
12 de agosto: Início da Batalha
da Inglaterra
28 de setembro: Itália invade a
Grécia
1941
6 de abril: Alemanha invade a
Iugoslávia
22 de junho: Alemanha ataca a
URSS
14 de agosto: Carta do Atlântico
(oito pontos definidos por Roosevelt e Churchill)
7 e 8 de dezembro: Peart Harbor
(o Japão em guerra com Estados Unidos e Reino Unido)
O conflito se torna mundial
1942
1º de janeiro: ”A Declaração das
Nações Unidas”
define as bases para uma luta
comum contra o “Eixo”
Maio e junho: ofensiva americana
no Pacífico (Midway)
10 de junho: Batalha de Bir Hakeim
10 de setembro: início da Batalha
de Estalingrado
3 de novembro: vitória decisiva
de Montgomery sobre Rommel na Lbia
8 de novembro: desembarque das
tropas americanas na Argélia
11 de novembro: a zona
não-ocupada na França é invadida pela Alemanha
1943
14-27 de janeiro: Conferência de
Casa Branca (Roosevelt, Churchill, Giraud de Gaulle exigem capitulação
incondicional da Alemanha, Itália e Japão)
31 de janeiro- 2 de fevereiro:
Marechal Von Paulus se rende a Estalingrado
10 de julho: desembarque aliado
na Sicília
11-24 de agosto: Conferência do
Québec: os aliados aprovam o plano de desembarque na Normandia
8 de setembro: os aliados avançam
na Itália .Armistício com a Itália
13 de setembro-4 de outubro: as
tropas francesas liberam a Córsega
13 de outubro: Itália declara
guerra à Alemanha
28 de novembro-2 de dezembro:
primeira Conferência dos “Três Grandes”, em Teerã (Churchill, Roosevelt e Stalin),
que decidem os desembarques na Normandia e Provence
A reviravolta
1944
Janeiro-maio: as batalhas de
Cassino abrem a estrada para a Roma
4 de junho: Os aliados entram em
Roma
6 de junho: desembarque na
Normandia (operação “Overlord”, “Senhor Feudal”)
15 de agosto: desembarque na
Provence (operação “Anvil - Dragoon”, “Cobra”)
25 de agosto: libertação de Paris
12 de setembro: encontro na
França dos exércitos aliados no Oeste e Sul
15 de setembro: Exército
soviético entra em Sófia
3 de outubro: fim da revolta em
Varsóvia
20 de outubro: soviéticos chegam
a Belgrado
16-18 de dezembro:
contra-ofensiva alemã nas Ardennes
1945
4 de fevereiro: saída das últimas
tropas alemãs da Bélgica
4-11 de fevereiro: Conferência de
Ialta: os aliados (Stalin, Churchill Roosevelt) definem o pós-guerra
14 de abril: os soviéticos ocupam
Viena
29 de abril: as forças alemãs na
Itália capitulam
8 de maio: capitulação do III
Reich
17 de julho a 2 de agosto:
Conferência de Potsdam, que define a ocupação da Alemanha
6 de agosto: primeira bomba
atômica cai no Japão (Hiroxima)
8 de agosto: URSS entra em guerra
contra o Japão
9 de agosto: segunda bomba no
Japão (Nagasaki)
2 de setembro: rendição do Japão:
fim da guerra
Fonte: Seção de informação do
Ministério do Exterior da França
OS
COMANDANTES DO DIA D
Londres (UPI) - Notas biográficas sobre os comandantes supremos em
ambos os lados da Normandia em 6 de junho de 1944:
General Dwight D. Eisenhower- supremo comandante aliado apelido “Ike”, Eisenhower
era conhecido por sua personalidade aberta e amistosa, tratava seus soldados
como pessoas, enquanto supervisionava, dirigia e lançava a invasão do Dia D.
Ele seguia a norma - “quando tiver sucesso de todo, o crédito aos outros, quando
fracassar, aceite a culpa sozinho”. Escreveu um comunicado à imprensa, para ser
divulgado, caso a invasão fracassasse, assumindo toda a culpa. Foi eleito
presidente dos Estados Unidos em 1952 e 1956.
Na foto o General Dwight Eisenhower, Winston Churchill e o General Omar Bradley atirando numa base na Inglaterra.
Na foto o General Dwight Eisenhower, Winston Churchill e o General Omar Bradley atirando numa base na Inglaterra.
Marechal-de-campo britânico Bernard Law Montgomery - comandante para operações no solo durante a operação Overlord- “Monty” tinha a reputação de ser um líder capaz e popular.Foi uma figura controvertida que inspirou admiração e desprezo dos seus colegas por seus modos arrogantes. Foi feito Visconde depois da guerra.
Brigadeiro-general Theodore Roosevelt Jr.- filho do vigéssimo - sexto presidente dos Estados Unidos, Teddy -, de 57 anos, nasceu raquítico e com a visão ruim, mas seus problemas não o impediram de lutar e ser o único general a desembarcar com a primeira onda de tropas. Por sua performance, na praia de Utah, onde ele carregou apenas uma bengala e uma pistola 45, recebeu a medalha de honra do Congresso norte-americano.
Tenente-General Omar
Nelson Bradley- comandante do Primeiro Exército dos Estados Unidos colega de
classe do general Elsenhower em
West Point , Bradley recebeu o apelido de “general da
infantaria” devido ao seu estilo não carismático, mas firme e decisivo. Os
correspondentes de guerra observaram que ele avaliava os múltiplos fatores que
determinam o sucesso no campo de batalha com a mente de um matemático.
Tenente-General Sir Miles C.
Dempsey- Comandante do segundo Exército Britânico Dempsey recebeu o título de “Cavaleiro”
pelo seu desempenho no Dia-D.
Seus homens empurraram os
exércitos alemães para fora do Norte da
França. Como soldado, aos 19 anos, durante a Primeira Guerra Mundial, ele
recebeu a Cruz Militar por bravura, em 1916, na frente Ocidental. Deixou o
Exército em 1946 para dedicar o resto de sua vida aos seus hobbies, música e
corridas de cavalo.
Marechal de Campo alemão Gerd Von
Rundstedt – Supremo Comandante do Oeste – a carreira militar de Rundstedt teve
altos e baixos. Ele frequentemente era colocado e retirado do comando, liderou
os alemães durante a invasão da Normandia, mas foi destituído depois de sugerir
que a guerra deveria terminar. Depois foi reimpossado para liderar a retirada
para o Reno, e a última ofensiva nas Ardennas durante a Batalha do Bolsão, em
dezembro de 1944. Deixou a carreira militar por sua vontade própria em março de
1945.
Marechal de Campo alemão Erwin Rommel- Grupo B
do Exército- Rommel era adorado pelo povo alemão e respeitado pelos aliados por
suas muitas vitórias no Norte da África. Nomeado marechal de campo em janeiro
de 1944 para a defesa contra a esperada invasão, Rommel estava na Alemanha,
para o aniversário de sua esposa, quando os aliados desembarcaram na Normandia
no dia 6 de junho.
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