Objetivo


sábado, 23 de junho de 2012

TURISMO - SUIÇA - A DEMOCRACIA DIRETA EXISTE

SUÍÇA - POLÍTICA / TURISMO 
A TARDE QUINTA-FEIRA, 18 DE OUTUBRO DE 1979
Texto Reynivaldo Brito
Fotos Google

Com apenas 41.293 quilômetros quadrados e uma população de seis milhões e quatro centos mil habitantes a Suíça dá ao mundo um exemplo de prosperidade e harmonia social. Localizada no centro da Europa, atravessou ilesa os últimos conflitos mundiais e sustenta hoje uma política de neutralidade que só tem contribuído para impulsionar o seu desenvolvimento econômico e social. Foi exatamente lá que pude sentir quanto é importante para um povo, o exercício da democracia. Na Suíça quem governa é o povo.
Os Suíços têm em comum a paixão pela liberdade e um profundo sentimento de comunidade, além de respeito às minorias. Se isto não acontecesse, a Suíça desapareceria porque seus cantões são verdadeiros estados independentes, mas que aguardam entre si através uma confederação o respeito mútuo pelos compromissos assumidos.
Foto da cidade de Friburgo que tem um charme especial  e encanta os visitantes.
É muito difícil explicar o impacto que sofre alguém que não conhecia outro país (a não ser através da leitura), e de repente desembarca na calma e bela cidade de Genève (Genebra) onde está localizada a sede européia da Organização das Nações Unidas. Senti uma sensação semelhante àqueles personagens de um seriado de televisão que regridem e avançam no tempo e no espaço quando entram num tal Túnel do Tempo. Foi assim que aconteceu. Em apenas 13 horas de vôo a bordo de DC-10 da Swissair saí de um país que tropeça por caminhos incertos e desembarquei num país que anda velozmente e sem os comuns atropelos e derrapagens.. Senti o primeiro impacto quando fui, juntamente com meus nove companheiros de viagem, recebido no aeroporto por duas funcionárias do Ministério das Relações Exteriores. Daí em diante surgiu um verdadeiro rosário de fatos que vieram superar toda a expectativa que me enchia o coração. Uma expectativa de alegria e ao mesmo tempo cheia de interrogações e pré-julgamentos.

                                              DEMOCRACIA DIRETA

Tem instituições originais que refletem em seu caráter e desconcertam quase sempre o visitante. O povo é cioso de sua soberania e só a delega a representantes respeitados, reservando-se o direito de pronunciar-se sobre todas as questões importantes. Por isto o seu regime político é da democracia direta onde estão ausentes os pacotes de abril ou março, e as famigeradas reformas partidárias a que estamos, obrigados a suportar.
Lá existem duas instituições características que são o referendo e a iniciativa popular que existem desde as pequenas comunas, cantões e no plano federal. E o referendo é obrigatório em matéria constitucional através de votação popular. O voto - este fantasma que os brasileiros ouvem falar através da imprensa - é um instrumento poderoso, basta dizer que o Plano Financeiro do atual governo já foi rejeitado por três vezes, pelos suíços, que não concordam especialmente com o aumento dos impostos. Este exemplo poderia servir para que nossos economistas encastelados em planos de recessão ou milagres econômicos mudassem o passo, que só tem contribuído para aumentar o distanciamento entre a sociedade brasileira, onde os pobres estão cada vez mais pobres e os ricos cada vez mais ricos, e a sofredora classe média está em vias de desaparecimento.
A estabilidade é tão grande que a rejeição do Plano Financeiro do governo em nada abalou a estrutura política. O voto negativo não é uma moção de desconfiança ao governo ou ao parlamento.
Significa que existem divergências e em conseqüência é necessário descobrir uma solução mais adequada à vontade popular.
O povo suíço reserva-se igualmente o direito de iniciativa e basta que 50 mil cidadãos, na esfera federal, ou número menor, variável de um cantão a outro, de uma comuna a outra. Para uma proposição constitucional e em seguida vem a votação popular.
O suíço descobriu há muito tempo que o meio mais seguro é evitar que o poder caia nas mãos de um. Assim acabaram em debaque a maior parte das repúblicas antigas, medievais e modernas.
Com esta prudência o governo é dirigido por sete membros, simples primus interpares. O chefe do Estado é todo o colégio a quem, além disso, o poder Executivo é coletivamente confiado. Seus membros dividem entre si os ministérios mas tomam em comum todas as decisões importantes e são solidariamente responsáveis. São eleitos pelas Câmaras durante um período de quatro anos e não têm poder de dissolvê-las.


                               O EXÉRCITO

Se alguém resolvesse de repente percorrer todas as casas e chalés, ficaria impressionado com a presença em todas elas de fuzis, capacetes, mochilas, cartucheiras cheias de munições, botas e uniformes militares. Sim, porque o soldado suíço é o cidadão que deixa a escola de recrutas aos 20 anos e leva consigo todo este aparato militar que fica sob sua guarda e responsabilidade, isto acontece com todos os homens até os 50 anos de idade, quando cessam suas obrigações militares. Com este exército miliciano a Suíça tem condições de em poucas horas mobilizar um grande continente. O seu exército é moderno e equipado. Tive oportunidade de observar a presença do exército nas geleiras dos Alpes, nos vales em diversos acampamentos espalhados por diversos cantões. O exército está constantemente em manobras, treinando os seus novos recrutas.
 Foto de Zurique que é banhada pelo rio Lammat, e tem a Cidade antiga e, a moderna com seus prédios luxuosos.
Nos anos em que não recebem ordens para manobras, o cidadão deve apresentar-se para inspeção, igualmente armado e equipado para controle de todo o material. Se estragar um dos instrumentos será substituído às suas custas. Além disto, está obrigado a fazer anualmente exercícios de tiro até aos 40 anos. Foi por esta razão que encontrei homens passeando nos campos com seus fuzis de guerra e de quando em vez ouvia um tiro ressoando nas montanhas.

                                               AGRICULTURA E ENERGIA

Até meados do século XIX, os suíços eram em sua maioria agricultores. Em 1960, os camponeses representavam mais de 12% da população, e a proporção está agora bem menor, em decorrência do desaparecimento das pequenas explorações. Os suíços aproveitam os pequenos espaços, os jardins, e áreas localizadas no vales e montanhas para plantar. Você encontra nesses pequeninos pedaços de terra, máquinas sendo utilizadas pelos colonos. Tudo devidamente mecanizado e com isto conseguem uma rentabilidade satisfatória. A Suíça é cuidada como um jardim bem cultivado. Dos seus 250 mil hectares de terras cultiváveis os suíços conseguem retirar o seu trigo, óleo, tabaco, batatas, açúcar e legumes em abundância. Seus vinhedos, em particular os da Suíça francesa, dão excelentes vinhos. É auto-suficiente em pecuária e laticínios. Porém, o país importa muito alimento, especialmente frutas tropicais, arroz e outros de importância capital. Daí a necessidade de aumentar a sua produção industrial para compensar esta importação.
O comércio de gasolina é livre e exercido pelas companhias internacionais que compram a maioria do petróleo refinado em países vizinhos. O governo está atualmente desenvolvendo uma campanha de economia de combustível, mas não interfere diretamente no comércio, por ser um país capitalista que respeita o livre comércio, mesmo em tempo de crise.
A indústria é a atividade mais importante do país, principalmente os setores químicos e máquinas. Basiléia, é a metrópole da química suíça e também um dos centros da química mundial. Começou produzindo colorantes, fixadores e gomas e necessários à indústria produtora de bens de consumo.
Porém, o que desejo salientar é que o operário suíço é exemplo de responsabilidade. As grandes corporações de operários, artesãos e de fabricantes vêm florescendo com muito sucesso devido à precisão, ao trabalho minucioso, à perícia das mãos e ao gosto sóbrio. Basta lembrar a ouriversaria e principalmente seus relógios. Há poucos anos foi menosprezada a linha de relógios populares, mais barato como os de quartzo e eletrônicos fartamente fabricados pelos japoneses para dar força aos relógios de qualidade como os Baume e Mercier, Cartier, Rolex, Omega e outras marcas famosas. É impressionante e quase indescritível falar de joalherias suíças.
Uma infinidade e a preços altos são vendidos correntes, brincos, medalhas, relógios e pulseiras. Coisas lindíssimas que enchem os olhos de qualquer pessoa que gosta de jóias.
A indústria de máquinas tem a característica de ser representada por um número muito grande de pequenas e médias empresas espalhadas por todo o país, altamente especializadas, equipadas não para uma produção em grande série como acontece com a indústria americana, mas para construção, sob medida, exatamente daquilo que se encomenda e deseja.
Aliada a esta indústria, outro grande segredo é o de comercializar livremente com o mundo. A Suíça não reconhece governos e sim países. Portanto, não rompe relações comerciais ou diplomáticas se este ou aquele país está sendo governado por um ditador ou um comunista. Esta fórmula visa superar a falta total de recursos naturais, de matérias-primas, em sua maioria importadas. Só assim consegue sobreviver e prosperar e as greves lá não existem. Tudo é feito amigavelmente porque o empresário sabe o quanto vale um operário, que em suma é responsável pelo sucesso da empresa. Do fruto suas mãos virão os dólares de fora e assim a prosperidade é dividida. Lá você entra e sai com os produtos que desejar pagando taxas insignificantes. Aqui, para o indivíduo viajar, tem que pagar CR$23 mil cruzeiros e o protecionismo- que é proibido lá – à empresa nacional só tem contribuído para a fabricação de produtos de baixa qualidade, que o consumidor é obrigado a aceitar porque a importação é dispendiosa e quase impossível. Lembro que ao desembarcar no Aeroporto do Galeão, quase que tive de deixar uma máquina fotográfica para a alfândega tal às imposições tarifárias que me queriam impor.Depois de conversar muito foi que consegui livrar-me do emaranhado primitivo do protecionismo.

                                                           PAZ SOCIAL

O plano social é um dos menos estatizados do mundo, e as relações trabalhistas repousam muito mais sobre acordos do Direito Privado, concluídos entre operários, empregados e patrões, no contexto das profissões, que sobre leis e regulamentos estabelecidos pelo Estado.
Existe na Suíça, segundo os manuais, uma rede com mais de mil convenções coletivas de trabalho, que são periodicamente emendadas e revisadas.
Sindicatos trabalhistas e patronais negociam, de maneira quase permanente, e se consideram parceiros iguais. O sucesso do sistema é atestado pelo fato de que as greves não têm lugar na Suíça. Basta dizer que no setor da metalurgia, a paz social entre operários e patrões reina há mais de vinte e cinco anos. Tudo é resolvido com respeito e ambas as partes sabem o que têm direito ou não.
Não diria que é um modelo de Estado social, mas suas instituições, por serem diferentes das maiores partes dos países não são, por isso, menos eficazes. Uma prova, revelam os suíços, é que muitos estrangeiros têm abandonado seus países de origem para trabalhar em seu território, isto porque os salários são compensadores e gozam de muitas vantagens, pois o país é o que apresenta maior renda per capita do mundo.


Quanto à educação, poderia dizer que é o país por excelência pedagogo. As autoridades cantonais, soberana nesta matéria, devotam o maior cuidado à instrução pública e fazem-no com sucesso, e muitos abastados enviam seus filhos para serem educados na Suíça. As universidades, em número de sete: Basiléia, Berna, Friburgo, Genebra, Lausanne, Neuchâtel e Zurique e a Escola de Altos Estudos Econômicos e Sociais, de Saint-Gall, são cantonais e famosos no mundo inteiro. É curioso destacar que a maior parte dos estudantes da Universidade de Genebra é de estrangeiros e que a Confederação só mantém um estabelecimento, mas de grande importância, que é a Escola Politécnica Federal, na cidade de Zurique.

Foto:  a qualidade da mão-de-obra suiça é respeitada em todo o mundo.
Lá os professores têm salários altos e compatíveis com a função, e não dispõem de grandes turmas com mais de 100 alunos, como estamos acostumados a ver em nossas universidades que são carentes de tudo. Os professores conhecem pessoalmente seus alunos que recebem orientação de acordo com as necessidades individuais.


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