A TARDE QUARTA FEIRA, 12 DE DEZEMBRO DE 1973.
Manifestando contentamento por verificar pessoalmente o
estágio de desenvolvimento em que se encontra a Região Cacaueira e por
constatar as suas “excelentes potencialidades” o General Ernesto Geisel
percorreu, ontem, em Ilhéus as fazendas Mucambo e Santa Rita, consideradas
modelo pela Ceplac, depois de ter visitado o Porto de Malhado, quando prometeu
ao Superintendente, Almirante Aurélio Linhares, “todo apoio para a
transformação daquele terminal em pólo de exportação”.
O futuro Presidente da República, que chegou às 7h50m a
Ilhéus, em avião especial da FAB, iniciando sua segunda viagem de estudos pelos
estados brasileiros, pernoitou em Itabuna, nas instalações do Centro de
Pesquisas do Cacau, e hoje percorrerá o campo de experimentação e os
laboratórios daquela unidade da Ceplac. Na foto um técnico da Ceplac explica ao General Geisel o projeto de seringueira na região.
NO PORTO
Durante sua rápida visita ao porto do Malhado, aonde chegou às
8h10m, o General Ernesto Geisel ouviu do Almirante Aurélio Linhares explicações
pormenorizadas das dificuldades que vem enfrentando para transformá-lo em um
pólo de exportação. Ao término das explicações, o futuro Presidente da
República afirmou ao Superintendente do Porto: “Não se preocupe, que dentro de
pouco tempo este porto estará em condições de desempenhar o seu grande papel no
desenvolvimento desta região”.
A comitiva deixou Malhado às 8h35m, depois de visitar os
grandes armazéns, onde o futuro Presidente da República, dirigindo-se a
um caminhão carregado com sacas de cacau, retirou uma baga e formulou algumas
perguntas sobre seu plantio, produção e beneficiamento.
Na foto, acompanhado do Superintendente do Porto de Malhado o General Ernesto Geisel percorreu as instalações e formulou várias perguntas.
Na foto, acompanhado do Superintendente do Porto de Malhado o General Ernesto Geisel percorreu as instalações e formulou várias perguntas.
NA FAZENDA
Em seguida, a comitiva dirigiu-se para a Fazenda Santa Rita,
onde presenciou cinco operários pisoteando bagas de cacau “para separar e
melhorar a aparência”, segundo explicações do proprietário.
O General Ernesto Geisel perguntou: “O que estão fazendo com
a casca do cacau ?”. Todos quase que responderam ao mesmo tempo. “Estamos jogando
fora”. “O pior é que a casca, que pode ser industrializada, está sendo jogada
fora e ainda existe o perigo de transmitir a podridão parda”, acrescentou o
Secretário Geral da Ceplac, Sr. José Haroldo.
O General insistia : “ quantos dias são necessários para o
cacau secar nessas “barcaças”?( local onde se coloca as bagas para a secagem e
pisoteamento) o técnico respondeu-lhe:“Uns cinco dias, tendo sol”.
Ainda na fazenda Santa Rita, o futuro Presidente do Brasil visitou o local onde o cacau é
aberto para retirada das bagas e dirigiu-se após a casa sede, para um ligeiro
descanso. Depois de cerca de 20 minutos, a comitiva deixou a fazenda Santa Rita
com destino ao Instituto de Tecnologia e Química da Escola Média de Agricultura
da Região Cacaueira – Emarc , que funciona no município de Uruçuca.
NA ESCOLA
A Escola Média de Agricultura da Região Cacaueira , mantida
pela Ceplac é um estabelecimento do segundo grau e nela estão agora implantando
a reforma do ensino de acordo com as determinações do Ministério da Educação.
Na Emarc, o General Ernesto Geisel visitou um campo pecuário
de experimentação quando lhe foram apresentados diversos espécimes bovinos
provenientes de inseminação artificial. O General fez questão de saber detalhes
e a idade de todos os garrotes e novilhas expostos.
No Instituto de Tecnologia e Química provou um tablete de
biscoito de mandioca fabricado por aquela unidade da Ceplac. Ouviu explicações
detalhadas de todo o processo de beneficiamento do cacau e outras frutas como
goiaba, laranja, etc. Ali são feitas tortas, geléia de cacau e de goiaba.
Um detalhe que não passou despercebido ao General Geisel foi
o não funcionamento de uma máquina que se assemelha a um grande tacho, com
fundo duplo e que serve para a
concentração de doces. Ele quis saber a razão de não estar funcionando e o
operário respondeu-lhe : ' é porque a máquina custou em torno de Cr$18 mil e são
necessários de Cr$23 mil a Cr$25 mil para colocá-la em funcionamento." O futuro
Presidente acrescentou: “Mas é preciso que ela funcione”.
SERINGUEIRA
Foi também visitado um pequeno campo de experimentação, onde
alguns lavradores estavam recebendo aulas sobre o corte da seringueira, para a
colheita do látex. Este pessoal treina durante duas semanas, num total de 80
horas , e em seguida está apto para trabalhar em fazendas de seringueira. O
General ouviu as explicações e indagou? : “Vocês fornecem algum certificado do
curso a esses rapazes? " Obteve resposta afirmativa.
Além de conhecer as seringueiras cultivadas na Emarc,
foram-lhe mostradas algumas lâminas de
borracha defumada, que são exportadas por produtores da região. O responsável
pelo projeto pediu ao Governador Antônio Carlos Magalhães que segurasse uma
lâmina e esticou a outra extremidade, querendo provar a sua elasticidade e
durabilidade.
PESQUISA
O futuro Presidente da República chamou atenção dos técnicos
da Ceplac para a realização de pesquisas que tenham aplicação imediata. Disse
ele que existe um período muito grande quanto a isto, porque a pesquisa custa
muito dinheiro e por esta razão não pode ser desperdiçada.
Falou, também, sobre a necessidade de se tomar algumas
providências, visando diminuir a praga,que ataca a seringueira: “ como já existe
fungicida, é preciso inventar um aparelho capaz de espalhar este remédio. A
seringueira é uma árvore de grande importância para o desenvolvimento do país”,
frisou.
Ao visitar um barracão da Emarc, onde alguns pedreiros
estavam sendo treinados para a construção de "barcaças” e outros imóveis próprios para o
beneficiamento do cacau, o técnico informou-lhe que existe um “ déficit de 7
mil barcaças na região, todas de 72 metros .Ficamos três anos sem receber financiamento do Banco do
Brasil e isto nos atrapalhou”.
Sobre a mão-de-obra , disse : “ Estamos, atualmente
empregando 80 mil operários e o aumento atual é em torno de 16 mil. Por estas
razões estamos dando especial atenção ao treinamento de mão-de-obra, que atinge
a 12 mil operários por ano”, concluiu o técnico.
ALMOÇO
Depois a comitiva seguiu para o refeitório da Emarc,onde ia
ser servido o almoço. Nessa oportunidade , ofereceram uma dose de uísque ao
General Ernesto Geisel, que não aceitou, porque sua religião não permite. Por
esta razão, poucos aceitaram.
O futuro Presidente almoçou salada, galeto a parmeson e
espaguete a La creme e tomou um chocolate. Às 13 horas, a comitiva deixou a
Emarc e 30 minutos depois estava na Fazenda Mucambo onde foi recebido pelos
industriais do Grupo Joaquim de Carvalho , que lhe convidaram para percorrer as
instalações de uma fábrica de luvas e bolas de soprar. O General mostrou-se
impressionado com o pioneirismo da fábrica, que fica situada dentro de uma
imensa fazenda onde não existe infra-estrutura adequada. A estrada é de barro
batido, o que dificulta o transporte da matéria prima,de operários e dos
produtos. Os industriais queixaram-se da falta de um posto do INPS no município
de , para atendimento dos 550 operários da fábrica Mucambo e seus dependentes.
POLÍTICOS NÃO
Um detalhe que chamou a atenção de todos os presentes foi a
ausência de políticos acompanhando a visita do futuro Presidente à Região
Cacaueira. Apenas algumas autoridades como o Governador Antônio Carlos
Magalhães, o Prefeito de Ilhéus, Sr. Ariston Cardoso, e o Secretário Geral da
Ceplac, Sr. José Haroldo, integravam a comitiva.
Durante a visita aos diversos locais não houve sequer um
discurso ou qualquer formalidade. O próprio General Ernesto Geisel estava
vestido discretamente com uma camisa bege clara, de mangas compridas, e calça
cinza. Quando o sol estava muito quente colocava um, boné para proteger-se.
VISITAS DE HOJE
Hoje, o General Ernesto Geisel visitará os campos de
experimentação da Ceplac e os seus laboratórios de pesquisas e receberá informações
detalhadas dos projetos ali desenvolvidos.
Sua partida para Paulo Afonso está prevista para as 15 horas.
Lá chegando, descansará, para à noite visitará a Cachoeira de Paulo Afonso, irá
também à Petrolina ver o Projeto Bebedouro, de responsabilidade da Superintendência
do Vale do São Francisco, e observará as plantações experimentais de melões e
uvas.
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