IMPRENSA
Jornal A Tarde - domingo , 15 de outubro de 1978.
Gente jovem faz "A Tarde" mais moça no ano 1966.
OS BACHARÉIS DA CASA
TEXTO: JORGE CALMON
"O ingresso nas Redações de um número predominante de graduados em Jornalismo foi um dos fatos mais significativos ocorridos na imprensa brasileira nestes últimos dez anos. É certo que já anteriormente outros graduados haviam surgido nos jornais, do mesmo modo que antigos profissionais aproveitaram também a criação do curso, para adquirirem o título universitário. Foi, porém, a partir de dezembro de 1969 que os diplomados passaram a ter preferência nas admissões, conforme a garantia que lhes veio trazer a lei daquela data, que regulou o exercício da profissão. Amparados por essa lei, foram preenchendo, no decorrer destes quase dez anos, as vagas que se abriram nos quadros, e hoje devem constituir a maioria
o pessoal de Redação em
qualquer jornal da cidade maior.
Foto ao lado Professor. Junot Silveira, editor geral da edição dominical e Genésio Ramos, editor de esportes.
A esta altura, caberia saber se é ou não benéfico à
imprensa e, por extensão, ao público o privilégio dado por lei aos bacharéis em
Jornalismo.
A indagação decerto modo é antiga: reside na velha pergunta
sobre se o jornalista já nasce feito, ou se uma escola pode produzi-lo.
Antes da lei atual, o recrutamento dos jornalistas, pelos
órgãos da imprensa, era livre, o que permitia aos jornais buscarem, em
quaisquer áreas, rapazes intelectualmente bem dotados. Por ser turno, o fácil
acesso ao trabalho em jornal representa para os jovens de menores recursos o
meio de terem assegurada a subsistência, ou de custearem os estudos, tal como
aconteceu, na Bahia mesmo, com grande número deles.
Foto Reynivaldo Brito, chefe de Reportagem e Marco Antônio, repórter.
Essa situação tinha, porém, aspectos negativos. E um deles, para os próprios jornais, vinha a ser a constante mobilidade do pessoal de redação, já que o Jornalismo era para muitos apenas uma atividade provisória, que abandonavam logo que formados, ou assim conseguiam emprego dentro da carreira escolhida. Na imprensa conservavam-se aqueles poucos que por ela se deixavam seduzir, atraídos pela magistratura da opinião, bem como um ou outro que desejava ingressar na política e via no jornalismo um instrumento em favor de suas ambições. Para os jornais, era um freqüente problema arranjar substitutos para os repórteres que periodicamente se desligavam, revoada habitual nos meses subseqüentes às formaturas nas faculdades.
Essa situação tinha, porém, aspectos negativos. E um deles, para os próprios jornais, vinha a ser a constante mobilidade do pessoal de redação, já que o Jornalismo era para muitos apenas uma atividade provisória, que abandonavam logo que formados, ou assim conseguiam emprego dentro da carreira escolhida. Na imprensa conservavam-se aqueles poucos que por ela se deixavam seduzir, atraídos pela magistratura da opinião, bem como um ou outro que desejava ingressar na política e via no jornalismo um instrumento em favor de suas ambições. Para os jornais, era um freqüente problema arranjar substitutos para os repórteres que periodicamente se desligavam, revoada habitual nos meses subseqüentes às formaturas nas faculdades.
Mas, nem todos iam trabalhar em jornal para atender, puramente, à s necessidades de subsistência, ou por votação, havia também os aventureiros
precoces, que tratavam de somar ao minguado dinheiro recebido quinzenalmente de
Gerência, proventos de outras origens, faturando por debaixo do pano, as mais
das vezes cobrando por notícias de publicação normalmente gratuita.
Foto Eliezer Varjão, repórter Grande Salvador;José Oympio, editor de Suplementos e Antônio José, repórter de Esportes.
Foto Eliezer Varjão, repórter Grande Salvador;José Oympio, editor de Suplementos e Antônio José, repórter de Esportes.
Esse tipo de praga lavrava principalmente entre a
reportagem.
Muito embora objeto de suspeitas, os finórios sempre
conseguiam agir sem se deixar surpreender, até que um dia afinal, o excesso de
confiança levava-os a resvalar num passo mais grave, fosse uma tentativa de
extorsão, fosse um ato de impostura, e desse modo forneciam o motivo para a
demissão sumária.
Dessa referência a alguns maus jornalistas do passado não se
deduza que eles formavam mais que um grupelho, em cada Redação ,
representando o anverso da medalha, em oposição aos muitos profissionais
honestos, aos articulistas de talento, aos idealistas intransigentemente fiéis.
Os aproveitadores podiam ingressar com facilidade nas
Redações,naquele tempo, pela razão principal de não existir uma fonte
determinada onde os jornais fossem buscar o pessoal de que careciam.
A criação do Curso de Jornalismo veio atender, em parte, a
esta necessidade, e cerca de duas décadas mais tarde, a lei de dezembro de 1969
deu ao referido Curso a responsabilidade exclusiva de preparar os profissionais
da comunicação.
Aliás, a lei de 1969 é algo contraditória, porque, se por um
lado faz concessões provisórias para a contratação de jornalistas não
graduados, por outro lado revela-se excessivamente abrangente, quando estende
até à função de revisor das provas uma tarefa de simples controle de qualidade
a exigência do diploma universitário. Terá algum dia de ser alterada, nesse
ponto.
O curso de Jornalismo serviu, entre outros fins, para
recolher vocações e, assim, oferecer, desde cedo, preparo profissional àqueles
que desejam fazer vida de imprensa. Por outra parte, o painel de disciplinas
voltadas para os setores do jornal, do aspecto gráfico ao aspecto gerencial,
quis proporcionar uma aprendizagem rápida, variada e ampla, como não a poderiam
obter, em anos e anos de permanência numa redação os jornalistas autodidatas.
Prestigiando o Curso, a lei de 1969 visou, ainda, a afastar
da profissão a concorrência dos não-graduados e, por este meio, assegurar aos
jornalistas militantes mercado certo de trabalho, com a percepção de salários
condizentes conseqüência que, por sinal, já era vislumbrada pelos responsáveis
pela instituição do curso e, na Bahia, anos mais tarde, pelos que o
reorganizaram.
Resta saber se realmente se efetivou o principal objetivo de
lei, isto é, se o Curso satisfez à importante missão que lhe foi entregue, de
abastecer a imprensa de profissionais plenamente capacitados para o trabalho.
A resposta será, que ao menos no caso baiano, ele
correspondeu parcialmente à expectativa, deixando, porém, boa porção de sua
tarefa sem o esperado atendimento.
Não cabe aqui o exame das razões que concorreram e concorrem
para o rendimento deficitário. Haverá quem deva fazer esse exame de
consciência. Registre-se, no entanto, que do Curso de Jornalismo hoje chamado
Curso de Comunicação, porém ainda prisioneiro de uma eclética Escola de
Biblioteconomia e Comunicação tem saído excelentes profissionais, que hoje
ocupam postos-chaves
os diversos veículos, e nos quais, além da competência,
dois atributos podem ser especialmente observados: o espírito profissional, na
inteira dedicação à prática do jornalismo, e a correção com que se conduzem.
Talvez que assim aconteça porque o jornalismo não é para eles um agasalho
transitório, mas uma opção refletida permanente.
De lamentar é que o mesmo Curso, de que provieram elementos
daquele teor, tenha facilitado o diploma a outros que, efetivamente, ainda não
estavam em condições de receber o passaporte profissional. Estes últimos, já
sem a assistência dos seus professores, têm de completar ardualmente a formação
no dia-a-dia na reportagem quando conseguem ser admitidos. Em relação a eles, é
forçoso reconhecer que o Curso foi deploravelmente descuidado.
Para a Redação da “A Tarde”, e também para outros
departamentos deste jornal, têm vindo numerosos graduados.
Homens e mulheres. Que já formam, atualmente, a maioria da
população redacional. Capazes, ativos, imaginosos, firmes nas opiniões, sua rumorosa
presença confere à redação nova vivacidade. Com seu espírito crítico a sua
mentalidade de mudança, mas respeitando a experiência e o equilíbrio dos mais
antigos, representam a aragem de renovação periodicamente exigidas pelas
instituições que não envelhecem, e que conseguem isto justamente porque
confiadas às gerações que se sucedem: como é o caso deste jornal, quando
atinge,com a mesma vitalidade, 66 anos bem vividos. "
Foto à esquerda dos repórteres Zoraide Vilas Boas, Antônio Alfredo Castro e Tito Lívio.
Foto à direita Pinheiro Cal, editor internacional;Jeremias Macário, repórter de Economia e Heloísa Sampaio, chefe do Setor de Diagramação e Arte do Departamento de Publicidade.
OS QUE VIERAM DO CURSO
Diplomados em Jornalismo, pela UFBA, e outras universidades
brasileiras que mantém aquele curso, pertencem hoje aos quadros de “A TARDE”.
ANA MARIA VIEIRA, MARIA HELENA LEAL
COSTA,
ÂNGELA MARIA BARRETO, MARIA ISABEL DOS SANTOS,
ANTENOR BARRETO, MARIA JOSEFA ALONSO CATELA,
ANTÔNIO JOSÉ DOS SANTOS FILHO, MARIA
LÚCIA BERBERT DE CASTRO
ANTÔNIO RAIMUNDO, MARIA DAPENHA
BENEVENUTO,
AZIMONETE SANTANA, NEUZA SENA
FERREIRA,
CELESTE AÍDA SAMPAIO SILVA, RAIMUNDO MARINHO,
CORA MARIA TAVARES DE LIMA, REBECA SCATRUT,
ELIEZER VARJÃO, REGINA
TESTA,
ELIZETE RODRIGUES DOS SANTOS, REYNIVALDO BRITO,
GENÉSIO RAMOS, RUBENS
NEWTON,
GRÁCIA MARIA NASCIMENTO, SANDRA
VENTURA REGIS,
GUIOVALDO MONTEIRO, SELMA MORAIS,
HELOÍSA SAMPAIO, SONIA
ARAÚJO,
JEREMIAS MACÁRIO, TITO
LÍVIO
JOSALTO ALVES, ZORAIDE
VILASBOAS.
JOSEMÁRIO LUNA, São
estudantes do Curso de
JOSÉ OLYMPIO DA ROCHA,
Comunicação da UFBA:
JUNOT SILVEIRA,
LÍCIO FERREIRA, ADILSON BORGES DOS SANTOS,
LUIZ AUGUSTO GOMES, ADILTON FRANÇA,
LUIZ EDUARDO DÓREA, ANTÔNIO ALFREDO DE
CASTRO,
LUIZ MANOEL GUIMARÃES, ARIEVALDO DONATO
MANOEL PINHEIRO CAL, FERNANDO DAVID SOARES,
MARCO ANTÔNIO B. MOREIRA,
JOSÉ ADROALDO ANTUNES,
MARGARIDA CARDOSO SOARES,
JOSÉ DA PAIXÃO,
MARIA ÂNGELA BOTELHO, JOSÉ WELLINGTON
MARIADAS GRAÇAS FILADELFO,
ROGACIANO MEDEIROS
ROSALVO DO ESPIRITO SANTO
2 comentários:
Professor Reynivaldo, parabéns pelo blog, que preserva a memória do Jornalismo baiano. Uma grande contribuição, embasada em sua experiência de 30 anos nesta profissão que, paradoxalmente, quanto mais se pratica com ética, menos louros ela nos dá.
Professor, obrigado pelo muito ue me ensinou no Jornalismo, nas salas da EBC, na Redação de A TARDE, na Ascom do Tribunal de Justiça, e nas conversas amigáveis que travamos.
Um grande abraço e fique com Deus.
Seu aluno,
Ari Donato
Caro Ari:
Muito obrigado por suas palavras generosas para comigo.
Fiquei emocionado .
Um grande abraço
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