Objetivo
sexta-feira, 6 de abril de 2012
ANTICONCEPCIONAIS - UM ANEL É A ÚLTIMA PALAVRA
Manchete No. 23 de fevereiro de 197 Foto de Arestides Baptista
O cientista baiano Elsimar Coutinho passou os últimos 15 anos dirigindo pesquisas sobre novo método de controle de natalidade e anuncia os progressos
O cientista baiano Elsimar Coutinho, que lidera os trabalhos de cinco grupos de pesquisas sobre reprodução humana espalhados por diferentes países, acaba de anunciar os resultados de um novo método de contracepção testado em várias centenas de mulheres ao longo desses últimos dez anos. Mais conhecido no exterior do que em seu próprio país, Elsimar Coutinho escolheu sua linha de trabalho a partir de pesquisas elaboradas por cientistas americanos e posteriormente por eles mesmos abandonadas.
Tratava-se de um tipo de anel vaginal para cuja fabricação, à época, não se possuía ainda material adequado. Os esteroides fabricados com tal material apresentavam inúmeros inconvenientes graves e eram de manipulação delicada. Com o avanço da tecnologia, Elsimar acabou encontrando material bem mais puro e iniciou então as experiências com grupos de mulheres rigorosamente controladas por ele e seus auxiliares. Cinco núcleos de pesquisas (Universidade Federal da Bahia; Unicamp (Universidade de Campinas-SP); Upsalla, na Suécia; Universidade de Los Angeles, na Califórnia, e uma Universidade da Finlândia) participam desses testes.
Colaboram ainda com essas pesquisas chilenos, austríacos e indianos que, com aqueles outros núcleos, formam o Comitê Internacional de Estudos sobre a Contracepção.
O Comitê é financiado por várias instituições internacionais, entre as quais a Organização Mundial de Saúde, a Fundação Rockefeller, a Fundação Ford e outras instituições, como o governo do Canadá.
O cientista baiano explica as vantagens que o novo método oferece com relação à pílula, por exemplo. Agindo por contato direto nas paredes do aparelho genital feminino, as substâncias que vão impedir a ovulação não passam pelo fígado, evitando assim os efeitos colaterais de quase todos os contraceptivos orais.
“O impacto de alguns desses elementos contraceptivos sobre a célula hepática é forte demais” – explica Elsimar.
“Muitas vezes o fígado cessa a produção de enzimas necessárias ao metabolismo das gorduras que se acumulam no sangue e isto vai provocar alterações cardiovasculares mais ou menos graves, chegando até a certos casos delicados de tromboembolia.”
O médico afirma a seguir que as substâncias contraceptivas alcançam a hipófise sem serem filtradas pelo fígado, e isto diminui a necessidade das doses esteroides, contribuindo assim para reduzir mais ainda a incidência de efeitos colaterais.
O anel vaginal é produzido em dois modelos e o tamanho depende evidentemente das dimensões do canal vaginal da paciente. A instalação do aparelho no corpo da mulher requer o mínimo de tempo e de manipulação, e não apresenta o menor risco de acidente. Esse anel está impregnado de uma determinada quantidade de hormônios esterógenos.
Absorvidos pela parede vaginal, esses hormônios penetram na corrente sanguínea e vão acionar os mecanismos que impedem a ovulação, e, por conseguinte, a própria gravidez.
O material utilizado para a fabricação do anel é um derivado de silicone chamado silastic, que contém um tipo especial de esteroide de 18 carbonos e tem duração garantida de até seis meses. A eficácia do anel, já comprovada cientificamente pelos testes, pode levar até mesmo à suspensão da menstruação. Além disso, o anel é prático, podendo ser retirado quando necessário, e requer uma higiene rápida e fácil.
As pesquisas sobre o anel tiveram início há 15 anos e Elsimar Coutinho só resolveu levá-las mais a fundo porque estava decidido a encontrar um método que não provocasse efeitos colaterais. Hoje o aparelho é fabricado por uma empresa americana e já está sendo produzido em escala razoável, seguindo sempre as alterações e inovações impostas pelos pesquisadores.
Inicialmente, Elsimar limitou seus estudos a um grupo de vinte pacientes. Mas, pouco depois, os testes já alcançavam mais de duzentas mulheres.
Durante os primeiros anos ele não permitiu nenhuma divulgação sobre os resultados das experiências, em parte por causa da resistência de alguns colegas e das próprias pacientes que estavam sendo testadas. Os pesquisadores continuam mantendo grande discrição com as experiências e procuram não aumentar muito o número de pacientes, para poderem garantir um controle absoluto sobre os resultados. Elsimar Coutinho é categórico:
“Tudo já está pronto para que o método possa ser utilizado por qualquer mulher. O aparelho pode ser fabricado em escala industrial, todas as grandes etapas da pesquisa já foram vencidas, os estudos sobre os efeitos colaterais estão concluídos e o desenvolvimento tecnológico permitiu a utilização de um material perfeitamente adequado. Seu preço não deve ser mais elevado do que o de duas caixas de pílulas, cuja duração é consideravelmente inferior. Tudo agora depende das autoridades de saúde para colocar o produto no mercado.”
Interrogado sobre a relação entre o controle da natalidade e o aborto, Elsimar Coutinho procurou colocar o problema em termos muito claros. Disse que, a seu ver, nenhum médico pode ser favorável por princípio à prática do aborto em si. Mas, em alguns casos, é um mal necessário, a única solução.
O cientista criticou duramente a lei antiaborto que vigora no Brasil, por achá-la regressiva demais, e acaba sendo prejudicial às mulheres de condições econômicas inferiores. Basta lembrar que se pratica anualmente no Brasil cerca de um milhão de abortos clandestinos, a preços excessivos e com enormes riscos para as mulheres.
Quanto às novas técnicas de controle da natalidade anunciadas pelo ginecologista inglês Patrick Steptoe, responsável, com seu colega Robert Edwards, pelo primeiro bebê de proveta do mundo, Elsimar se confessou um tanto cético. A determinação do momento exato da ovulação é, para ele, um método muito delicado e pouco seguro, que apenas constata uma ocorrência a partir da qual qualquer medida para evitar a gravidez será ineficaz. Steptoe parece interessado em ajudar as católicas praticantes, a quem a Igreja proíbe terminantemente o uso de contraceptivos artificiais. Mas todos os outros métodos ditos naturais parecem extremamente inseguros e comportam sempre para a mulher uma percentagem de risco muito alta.
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