REVISTA MANCHETE 03 DE JUNHO DE 1978.
Foto Gildo Lima
Com suas faixas abertas, os estudante levam a greve às ruas de Salvador.
Setenta e duas horas depois de encerrada a greve dos quinze presos políticos da Penitenciária de Itamaracá, PE, deflagrada contra o isolamento carcerário de Rholine Sonde Cavalcanti e Carlos Alberto Soares, outro fato provocou nova greve. Só que desta vez envolvendo mais de oito mil estudantes das Universidades Federal, Católica e Rural de Pernambuco. Tudo começou quando o universitário Edval Nunes da Silva foi preso no dia 12 de maio sob a acusação de estar engajado no trabalho de rearticulação do Partido Comunista Revolucionário. A situação se tornaria tensa na manhã de terça-feira, 16 de maio, quando o advogado Eduardo Pandolfi informou, numa assembléia estudantil, que seu constituinte estava sendo torturado. Os estudantes convocaram, então, uma assembléia e desta vez o movimento atingiu as demais universidades do estado e vários outros cursos da Universidade Federal de Pernambuco. No campus da Cidade Universitária.no bairro do Engenho do Meio, foram colocados cartazes sugestivos, como este:” Cajá ( apelido do estudante preso) está sendo torturado. E você vai à aula?” Os cartazes repercutiram. Na quinta-feira 18 de maio, praticamente não houve aula nas universidades. Só um pequeno número de alunos furou o movimento. À noite, mais de mil alunos se reuniram no pátio da Unicap, tirando uma unânime: a greve seria mantida até que o colega fosse solto. Vinte e quatro horas depois, a polícia emitia nota oficial em que negava as torturas. Silva teria sido ferido apenas no tornozelo, “devido á resistência ocorrido no momento da prisão’. Os alunos não aceitaram plenamente as informações oficiais, decidido que só após se avistarem com o colega poderão votar pela suspensão da greve.
Na Bahia. Enquanto isso em Salvador, os estudantes da Universidade federal da Bahia também entravam em greve exigindo melhores condições de estudo. As manifestações não se circunscreveram ao campus. Cerca de dois mil universitários saíram ás ruas na quinta-feira, 18 de maio, conduzindo faixas e cartazes em que pediam também a restauração do estado de direito ao lado de reivindicações situadas rigorosamente na área de estudo. A certa altura da passeata, entretanto, soldados da Polícia Militar, fortemente armados, impediram que a manifestação prosseguisse. Os estudantes bateram, então, em retirada, deixando no asfalto sapatos, bolsas e muitos panfletos e cartazes. No dia anterior á passeata, o secretário de Segurança, Coronel Luís Artur de Carvalho, fizeram um apelo aos estudantes, aos pais e até à população em geral para que não realizassem e não participassem de qualquer ato público, porque continuava “em vigor o dispositivo de lei proibindo concentrações ou manifestações na via pública que perturbem a paz”. As palavras de Carvalho não foram aceitas e a polícia dissolveu a passeata em poucos minutos.
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