Os orixás mais importantes do candomblé, confeccionados em barro e papelão pelo artista Alecy Azevedo, dezenas de ex-votos recolhidos nos subúrbios de Salvador e cenas típicas da Bahia do século XVIII, reconstituídas pela artista Valdete Cristina, foram reunidos num casarão colonial do Largo do Pelourinho, na capital baiana. Mas, não é apenas o folclore que está ali representando: na ala das damas do I e II Império o visitante passa a conhecer a importância de várias mulheres baianas no processo de formação cultural e social de Salvador. Ao lado das figuras que representam a Marquesa de Abrantes e a Viscondessa da Silva, estão os nomes das sinhás e sinhazinhas que as acompanhavam. A ala mais rica do museu é, entretanto, a dedicada a Castro Alves, onde se encontram peças em porcelana, cadernos de notas e poesias e desenhos feitos pelo poeta dos escravos. Na mesma linha de documentação artística, o museu reúne obras de conhecidos artistas regionais, como os tapeceiros Genaro de Carvalho e Kennedy, os entalhadores Zu Campos e Manuel Bonfim, o escultor Tati Moreno e os pintores Carybé, Janner Augusto, Floriano Teixeira e Rescala. A peça dominadora é, porém, uma estátua da Menininha do Gantois, que surpreendentemente foi depredada há dias, o que obrigará a sua remoção para um local mais seguro.
Santeiros
Mas não são somente os baianos que estão preocupados em cultuar suas tradições. No Recife, foi inaugurada, na semana passada, a I Exposição de Santeiros de Pernambuco, representando o trabalho de treze artistas, alguns dos quais têm suas obras expostas até no Vaticano, como no caso de Benedito Belo da Silva, conhecido artisticamente como Daniel. O interesse dos santeiros é mais artístico que propriamente comercial, pois, se prevalecesse a intenção econômica, Manuel Joaquim da Silva dificilmente voltaria a expor nesse tipo de mostra: uma de suas peças, adquirida por Cr$ 3.800,00 por um livreiro, foi revendida, dias depois, por 12 mil. Algumas obras, como São José (3 metros de altura) e Pietá (1,80m), de Daniel, estão no nível, segundo os críticos, dos melhores momentos da arte sacra.
Flávio Guerra, assessor técnico e cultural do serviço de turismo de Pernambuco, lamenta apenas que os santeiros não tenham condições de negociar os seus trabalhos, entregando-se, para poderem sobreviver, aos marchands. Guerra observa, no entanto: “Como os santeiros poderiam cultivar o seu misticismo interno envolvendo-se com os processos atrozes do sistema econômico da nossa sociedade de consumo?”
(Reynivaldo Brito/Salvador e Ana Cláudia Matos/Recife).
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