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quarta-feira, 11 de abril de 2012

CARNAVAL - BAHIA A RUA É DO POVO

Revista Manchete 21 de março de 1981

No melhor carnaval de todos os tempos, os foliões pularam atrás dos trios elétricos e dos afoxés e dos blocos de empolgação

A Explosão popular acontece na Praça Castro Alves, escoadouro natural da animação durante os cinco dias de carnaval em Salvador. Uma explosão de alegria e movimento e principalmente, sem a violência tão temida em muitas capitais. O baiano, mais uma vez , soube brincar vestido em suas mortalhas de várias tonalidades, enchendo mais de cinco quilômetros de avenidas e ruas de uma contagiante descontração. Quem deu show foi o folião que saiu de casa disposto a dançar nas ruas. A organização que dirigiu blocos famosos – como Os Internacionais, Os Corujas, o Traz os Montes, os Milordes e o Dengo – nem sempre conseguiu pôr tudo dentro do regulamento e do horário. Isto porque, como sempre, o carnaval de Salvador é, antes de tudo, um carnaval de liberdade. Os desfiles ocuparam apenas um pequeno espaço em toda a programação do reinado de Mono. Em cada esquina, em cada espaço das calçadas havia centenas de pessoas sentadas em barracas improvisadas, tomando cerveja. O curioso é que essas barracas dançavam com o povo. Elas começam a ser armadas, todos os anos, a partir de novembro e desmontadas na quarta-feira de cinzas, quando são recolhidas, para novamente surgirem em novembro.

Com o correr dos anos, devido à presença atuante do Prefeito Mário Kertesz e da Bahiatursa, vem aumentando o número de blocos de índios e de afoxés, além de cordões e batucadas. E ,a animação cada vez mais se estende a vários bairros. Antes, apenas alguns deles brincavam carnaval; hoje 25 bairros de Salvador participam animadamente da folia, engrossando a alegria geral. Este ano, a administração municipal decorou todos esses bairros, além de colocar trios elétricos fixos, que conseguiram derramar música em grande extensão da capital baiana. Assim, os foliões se esquentavam em seus bairros e depois rumavam para o centro da cidade, onde batia mais forte o coração do carnaval. O número de acidentes, homicídios e outras formas de morte violenta foi insignificante, tendo em vista a grande movimentação de pessoas. E neste ano o policiamento, especialmente organizado pela Polícia Militar, esteve impecável. Quando uma briga qualquer era iniciada, imediatamente outros foliões tentavam conter os exaltados e logo a seguir a polícia estava presente. Nada faltou ao baiano para brincar carnaval, nem mesmo a cerveja – que no último dia alcançou o preço de 80 cruzeiros à unidade – conseguiu diminuir de consumo. Isto porque o carnaval da Bahia é feito com trio, suor e muita cerveja.

Segundo os especialistas em carnaval, está ocorrendo uma mudança nessa festa baiana. É o aparecimento de dezenas de grupos afros – afoxés – que estão ganhando cada vez mais espaço em detrimento do número de blocos de índios. Nos carnavais passados predominavam os blocos de índios e este ano os afros tornaram-se os donos da avenida, deixando gravados no asfalto manifestações e elementos da cultura negra. Sem dúvida, os desfiles desses blocos, especialmente na terça-feira à noite, despertaram a atenção dos foliões e dos que não gostam de brincar, preferindo assistir à festa pela televisão. Os blocos Ilé Aye, Puxada de Axé, Ara Ketu, Acualé, Malé Debalé e Badaué foram destaques – com suas roupas coloridas e a grande quantidade de alegorias e adereços baseados no artesanato africano que traziam. Mas os preferidos da moçada e das garotas foram Os Internacionais e Os Corujas, que arrastaram multidões quando desfilaram pela Avenida Sete de Setembro, seguido pelo bloco Traz os Montes.

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