Foto Arestides Baptista
Em plena comemoração dos seus 50 anos de escritor, o mais famoso autor brasileiro foi devidamente condecorado pelo governo baiano.
Quando o beijo de Zélia estalou, o rosto de Jorge se iluminou, como sua bela Itapoã banhada em sol da manhã. Paletó, gravata e Cruz da Ordem do Mérito da Bahia no pescoço, ele era o mais feliz dos condecorados. E o menos loquaz de todos os baianos: “Se já há alguma beleza, valor, significado e importância no trabalho que realizei no decorrer destes 50 anos, devo agradecer justamente à Bahia e ao seu povo”.
Na verdade, o tempo passa. Parece que foi ontem, que ele publicou País do Carnaval, seu primeiro romance. Entretanto, era o ano de 1931. Apesar dos entendidos informarem que Mar Morto – escrito em 1936 – é o mais lido de todos, Jorge Amado continua escrevendo.
Agora mesmo termina mais um livro best-seller à vista, como os demais. Para isto ele passou dois meses no exterior, longe dos compromissos, dos amigos e dos curiosos, tentando terminar o novo trabalho em paz.
Um baiano típico, que divide seu tempo entre a casa à beira mar de Itapoã e a fortaleza no bairro do Rio Vermelho, de onde sai, só de vez em quando, em direção a terreiros de candomblés ou ao Mercado Modelo e outros locais onde vivem e passam os personagens de suas histórias.
Alguns querem ver no Jorge, escritor, uma certa mudança, em relação à fase anterior, de Gabriela, Cravo e Canela. Ele sorri largo, quando falam nisso. E se limita a garantir que sua obra é apenas de muita fidelidade ao compromisso com o povo. “Se mudei, então é que o povo mudou também”.
Difícil mesmo é imaginá-lo com o fardão da Academia Brasileira de Letras ( para a qual foi escolhido há exatamente 20 anos) . Comentava-se, na época, que aquilo tinha marcado a doce invasão de um rebelde. Mas, ao que tudo indica – e pelo que se sabe -,tudo estão como antes, ou seja, nem Jorge mudou a Academia, nem a Academia mudou Jorge, homem capaz ainda de se emocionar com deferências como esta, do governo de sua terra abençoada por todos os santos.
E tudo terminou com uma singela homenagem de poetas e cantadores populares, em frente ao Mercado Modelo ( depois da solenidade no foyer do Teatro Castro Alves). Um outro escritor famoso – o peruano Mário Vargas Llosa – estava por lá e tentou abraçar o colega. Não conseguiu porque era muita gente a cercar Jorge Amado.
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