Revista Manchete 3 de dezembro de 1977
Fotos Lourival Custódio
Dois elementos da Polícia Militar são submetidos a interrrogatório
Corpo do radialista Noé Oliveira neto, da cidade de Vitória da Conquista, que dista 509 quilômetros de Salvador, foi encontrado no dia 29 de outubro de l977 boiando em estado de putrefação no Rio Caculé. Apresentava na testa um orifício de bala de grosso calibre. Oliveira tinha ainda as duas mãos amarradas numa estaca e estava amordaçado. As versões sobre a morte do radialista são contraditórias: para uns, ele teria sido morto ao cobrar uma dívida ( dias antes ganhara Cr$300 mil na Loteria Esportiva e emprestara o dinheiro a juros). Para outros, teria sido vítima de uma quadrilha de traficantes de tóxicos, cujas atividades denunciara pela rádio. O soldado Ubaldino Marques , de óculos, e o cabo Manoelino prestando depoimento.( foto)
SUSPEITOS
Até aqui, os dois suspeitos são o cabo Manoelino Cardoso de Oliveira e o soldado Ubaldino Sales marques, ambos da Polícia Militar da Bahia, que têm caído em várias contradições no curso dos interrogatórios.A síntese do primeiro interrogatório foi liberada no último fim de semana pela Assessoria de Imprensa da Secretaria de Segurança Pública da Bahia. Marques , diz o documento oficial, embaraçou-se ao reconstituir seus roteiros no dia da morte de Oliveira Neto, além de se mostrar extremamente nervoso. Notou-se , então, que ele enrolava um papel entre os dedos. O pepel foi aprreendido e, para surpresa geral, tratava-se de um bilhete para a menor I.A.S. , que testemunhara o crime. No bilhete estava escrito:
‘Diga que você foi coagida pelas autoridades de Itapetinga para falar. Diga que o delegado prometeu lhe bater se você não falasse o que ele queria”. O bilhete foi imediatamente incorporado ao inquérito policial como uma das provas do crime. Marques reagiu: “A polícia está à procura de um bode expiatório e terminou por encontrar dois, eu e o cabo Oliveira”.
CONTRADIÇÕES
Logo após , os policiais começaram o interrogatório do cabo, que, embora negasse a autoria do crime, revelou em certo momento que emprestara o seu revólver – um Taurus , calibre 38 – ao soldado Ubaldino Marques. Acrescentou que não dormira no mesmo hotel que Marques se hospedara no dia do crime, frisando que passara a noite praticamente em claro. Quando lhe perguntaram se a razão da insônia, era atribuída ao remorso pelo assassinato, não soube explica-la, mas insistiu em que não conhecia o radialista. Diante das negativas e contradições, a polícia decidiu fazer uma série de acareações entre os suspeitos e várias testemunhas, que já se comprometeram a colaborar para o esclarecimento do crime.
VESTÍGIOS
Paralelamente,os testes realizados para verificação de vestígios de pólvora na mão direita do soldado Ubaldino Sales Marques tiveram resultado positivo, o mesmo acontecendo em relação ao exame balístico comparativo entre o projétil retirado da testa do radialista e os existentes no revólver que o cabo Oliveira emprestara ao seu colega de ffarda.
Enquanto mantém os dois militares incomunicáveis, a polícia baiana parece consolidar a impressão de que eles estão realmente comprometidos no assassinato de Oliveira Neto, um crime de ampla repercussão em todo o estado.
Não obstante, em outros círculos, teme-se a repetição do erro judiciário que envolveu, há tempos dois soldados da Polícia Militar da Bahia, Manoelito Almeida e Arnaldo neves, também acusados de um crime que não haviam cometido.
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