Objetivo


sexta-feira, 6 de abril de 2012

RELIGIÃO - OPERÁRIO CARREGA CRUZ E ESPERA VER NOSSA SENHORA APARECIDA

Revista Manchete 1º.agosto de 1978
Foto Lázaro Torres

Carregando nos ombros uma cruz de madeira de cinquenta quilos e uma coroa de espinhos na cabeça, o operário paranaense Gaspar Lima , 28 anos, deixou Aracaju no dia 18 de fevereiro iniciando uma caminhada que deverá estender-se até a cidade de Aparecida do Norte, SP, onde espera colocar a cruz aos pés da imagem de Nossa Senhora da Aparecida. “Trata-se de um problema de ordem familiar e ao mesmo tempo muito pessoal”, diz Lima , sem interromper suas passadas largas e firmes, quando perguntado sobre as razões que o levaram a sair em peregrinação do Nordeste até São Paulo. Mas acaba tornando-se mais descontraído: “Recebi um aviso da santa e pretendo encontrá-la antes mesmo de chegar à cidade de Aparecida do Norte”. Essa descontração também se observa nas relações de Lima com populares e repórteres, aos quais, às refeições nos restaurantes à beira da estrada, chega a oferecer cerveja.
“Não sinto qualquer dor e sinto-me bastante disposto a cumprir a minha jornada até o fim. No início, meus pés ficaram inchados, mas agora está tudo bem e nada temo”. Revela, a seguir, que tem sido bem acolhido nas cidades nordestinas, onde até lhe oferecem abrigo e alimentos. Mas, quando passou por Salvador, alguns garotos lhe jogaram restos de frutas e chegaram a subir na cruz. Isso não abalou minha vontade de prosseguir. Em Amélia Rodrigues, cidade do interior da Bahia, uma senhora me recebeu com extremo carinho e queria que eu descansasse durante três dias, o que não aceitei”, diz o penitente.

Nada perde
Lima anda em média uns trinta quilômetros por dia, sem hora certa para descansar. Acredita que quase não perdeu peso desde que iniciou a jornada. Ele tomou, entretanto, alguns cuidados prévios: “Trago comigo um saco com sabonete, escova e pasta de dentes e uma tolha, até porque tomo banho frequentemente durante a viagem:, diz Lima, que é casado com Mariluce Pontes Lima, com a qual tem três filhos: Charles, 7 anos, Wasghinton, 6 anos, e Lívia, 5,todos residentes em Alagoinhas, no interior da Bahia.
“Não faço pedidos, mas gostaria que os motoristas que trafegam na Rio-Bahia tenham um pouco de atenção, porque não existe acostamento e os carros passam muito perto da cruz que carrego”, diz Lima, que, a seguir, faz uma observação curiosa: não está pagando, com sua peregrinação, qualquer promessa. Ele apenas fez um pedido a Nossa Senhora da Aparecida e, caso seja atendido até chegar à cidade paulista, vai revelar sua natureza. Do contrário, voltará para casa sem dizer nada a ninguém..’’ É um pedido bem especial e espero ser atendido porque ela é uma santa mais milagrosa que existe.” Preocupado com a credibilidade de seu gesto – poderiam pensar que ele não cumpriu todo o trajeto a pé, utilizando-se de meios regulares de transporte em determinados trechos -, Lima diz que comprará um pequeno objeto em cada cidade por onde passar, exigindo uma nota fiscal: Assim poderei comprovar que passei por todos os lugares programados”. Lima visitará também as principais igrejas, onde assistirá missas e rezará, como já fez em Salvador, nas igrejas do Bonfim e do Carmo, e também na cidade de Feira de Santana. “A oração é meu principal alimento e me estimula a caminhar infatigavelmente através de todas as estradas”, afirma o operário paranaense radicado na Bahia.







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