Revista Manchete 4 de março de 1978
Foto Lázaro Torres
A igreja do São Francisco( foto) onde os objetos sacros são danificados por visitantes. O motivo alegado para o fechaamento das igrejas é a falta de segurança, um problema comum, atualmente, a quase todas as grandes cidades brasileiras.
Os turistas que visitam Salvador neste verão não poderão conhecer o interior de algumas de suas principais igrejas, fechadas por absoluta falta de segurança. A primeira a adotar esse procedimento foi a Catedral Basílica, no Largo do Terreiro, que só abre na hora do culto. O vigário Osmar Valeriano foi obrigado a tomar tal atitude porque “grupos de vendedores e turistas com trajes inadequados a um templo religioso, invadiam a catedral, causando transtornos”.
A indústria dos souvenirs também está contribuindo para a providência insólita: Valeriano diz que certos visitantes roubam das igrejas pequenas peças de valor histórico, além de objetos de uso diário dos padres. A igreja de São Francisco, também localizada no Terreiro de Jesus, está com várias imagens e anjos danificados, a exemplo do Forte de São Marcelo, com inscrições de nomes de visitantes em suas paredes.
APELO
Diante da repetição dos abusos, um documento publicado na imprensa sugeriu que a Delegacia de Roubos e Furtos passasse a proteger os templos de Salvador. A sugestão não foi aceita, porém, pelos altos escalões da segurança estadual, sob a alegação de que as igrejas, como outros monumentos, são bens privados e que seus proprietários é que devem zelar pela sua preservação.
O cardeal Primaz do Brasil, Dom Avelar Brandão Vilela, observou, a propósito, que só quando o assunto chegar ao âmbito episcopal procurará manter entendimentos com os órgãos de segurança e do turismo para que fiéis e turistas não fiquem prejudicados.
Enquanto Vilela esperava o momento oportuno para agir, o capelão Válter Guimarães, da igreja de São Pedro dos Clérigos, denunciava o roubo de uma Bíblia que fora deixada pelos padres em cima do altar-mor do templo. “Ninguém sabe dizer quem roubou o livro santo. Nós, aqui, não temos nenhuma segurança. É uma coisa horrível”, afirmou Guimarães, acrescentando que algumas imagens – como as de Santa Luzia, Santo Elói e São Bento – tiveram que ser guardadas.
Na igreja do Corpo Santo, na Cidade Baixa, o vigia, por ordem da irmandade, não deixa entrar estranhos. É a única forma encontrada para evitar os roubos, pois o funcionário, já em idade avançada, não tem condições de vigiar todos os que ali entram com o objetivo aparente de rezar e contemplar obras de arte.
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